12 de março de 2017

Sanidade mental: música, escrita e meditação


John Frusciante é estingado a falar sobre os benefícios da música, da escrita e da meditação para a sanidade mental - em entrevista ao site Hillingdon Mind da Inglaterra, publicada em outubro de 2008. Além da entrevista, Frusciante concedeu ao site as letras manuscritas de "Today" [bonus track no Japão] e "Ah Yom" [bonus track no Japão e no iTunes Store dos Estados Unidos] do álbum The Empyrean que seria lançado em 20 de janeiro de 2009. 



Existe um nível de compreensão que vem com a habilidade de olhar interiormente. Realizações vem do conflito interno da consciência, e trazendo pensamentos inconscientes para os conscientes, que assim acorda a mente e muda nossa perspectiva de vida. John Frusciante é um homem que ativamente explora esta compreensão. Ele afirma que existem alguns aspectos chaves para manter uma boa saúde mental: Meditar, ler e escrever.



Eu conversei com John sobre esses elementos e como a inclusão da música pode trazer um enorme benefício para nossa saúde mental e bem estar. Primeiro, eu perguntei a John sobre escrever pensamentos:

"Tem sido realmente bom para mim. Eu acho que eu estou podendo ver a mente de uma forma exterior. Isso é outro dos assuntos que surgem especialmente com as pessoas que tem desequilíbrios mentais: Que você está preso em sua mente; Não existe nenhuma fuga. É como ir pra cadeia. Você está dentro de você mesmo, você está dentro do seu corpo, seus pensamentos são de dentro da sua mente - você não pode escapar. Seus pensamentos não ficam vagando por alguma órbita cósmica, eles são determinados por seu ambiente e sua condição. A realização da inabilidade de escapar disso, de não ser capaz de escapar da sua mente - quanto mais você pensa nisso, mais opressivo você pode se tornar - especialmente quando você não tiver muito prazer com os pensamentos da sua mente, com o seu ambiente, e não tiver muito prazer com o modo que as pessoas trataram você.

O pensamento que você não consegue escapar de você mesmo, é realmente assustador. Ser capaz de examinar seus pensamentos quando você escreve é realmente iluminante porque você pode ler eles de volta para você mesmo 5 minutos mais tarde, e ter uma reação completamente diferente para ele do que você teve quando estava com aquilo na cabeça. Se torna muito mais fácil naquele momento de olhar para o que escreveu e dizer: 'Bem, isto é verdade de um ângulo, mas eu também posso ver isso desta posição.' Suas emoções estão totalmente amarradas em seus pensamentos e você não teve nenhuma habilidade para poder separá-los. Então você lê isso uns dias depois quando você está com um humor diferente, e olhando para isso dessa posição exterior, você pode mentalmente, colocar esse lugar num modo claro. Assistir aquilo pelo cérebro, mas com um contexto sentimental completamente diferente, você pode estabelecer um pequeno tipo de separação entre seus pensamentos e suas emoções: Se você não escreve e nunca olha pra dentro de você de uma forma exterior, você é incapaz de fazer.

Eu solucionei tantos assuntos da minha infância escrevendo página após páginas, quando eu era elétrico a respeito deles. Escrevendo sobre eles e lendo eles de volta para eu mesmo, de alguma maneira eu realizei muitas das mesmas coisas que potencialmente poderiam ser realizadas indo a um terapeuta toda semana por anos. Eu achei isso dentro de mim mesmo para perdoar as pessoas que eu sempre me ressentia, e eu sempre me sentia uma vítima por causa disso, e escrevendo eles eu podia ver o equilíbrio disso tudo, e não culpar as pessoas por suas ações, mas para descobrir que o modo que ela trata as pessoas é o modo que trataram ela. Não existe um ponto de ressentimento de outras pessoas por algo que elas fizeram, mas sim o ressentimento da vida propriamente que para mim, realmente, não faz nenhum sentido. O cérebro que está fazendo aquela declaração de: 'Eu me ressinto da vida propriamente.' Aquilo é só uma virtude do cérebro, então quem é o 'eu' que conversa? O 'eu' que conversa é a própria natureza. Se você está se prendendo na opinião que a vida é fodida, você automaticamente está dando crença para a vida, pois a vida é quem está conversando e dizendo o que você pensa. Algo é construído em nossos personagens, todos nós pensamos muito em o que nós mesmos pensamos. Cada pessoa pensa que suas opiniões são muito verdadeiras e válidas. É uma coisa embutida do nosso caráter. Mas eu acho que fazer isso com seus pensamentos é realmente importante (escrever). É realmente ruim se perder dentro de você mesmo."




Eu falei com John sobre ficar preso em um espaço mental retorcido com uma tecedura de pensamentos ao redor...

"É uma tendencia realmente interessante por parte das pessoas - é que elas gostam de serem chacoalhadas. Existe uma parte de você que fica confortável lá e você que não quer ser lançado. Eu consigo assim que eu fico de mau humor por causa de alguma coisa ou alguém e tento me alegrar, mas eu não quero que eles me alegrem.

É como eu estar feliz miseravelmente do que estar feliz. Existem certas situações onde alguém que prefere ficar na miséria poderia ser superior em sua relação com a vida do que alguém que constantemente está tentando manter uma posição de felicidade nisto, lá potencialmente poderia ser uma espécie de vazio. As vezes as pessoas que possuem uma vida triste, são as mais profundas.

Eu não posso imaginar isso (escrever) não servindo pra ninguém. Eu costumava ser supersticioso sobre escrever meus pensamentos, eu só escrevia poesia. Quando eu comecei a escrever pensamentos ordinários, eu não poderia imaginar a diferença que iria fazer. As vezes você podia escrever a mesma coisa o dia todo: 'Sou tão triste, sou tão miserável...' Eu escrevi aquelas mesmas entradas em meu caderno tantas vezes essas mesmas palavras. Existe um sentimento de fuga. Existem horas de só em você escrever, isso te propicia uma nova perspectiva. As vezes não é nem lendo isso de volta; Como você está escrevendo, o trem de pensamentos está mais moderado. Quando você estiver pensando coisas, seus pensamentos tem a habilidade de ir nesse passo incrivelmente rápido, muito mais rápido que nossa fala ou nossa escrita, então o processo da escrita é um processo para diminuir a velocidade do fluxo de pensamento para onde você está pensando em um modo mais lento. Você tem conclusões pensando devagar, que você nunca teria pensando rápido."




Eu conversei com John a respeito da influência da música em um estado mental:

"Tudo que acontece tem uma grande influência sobre o estado de espírito. Os nossos sentidos são constantemente bombardeados com todos os tipos de coisas que estão fazendo uma constante mudança para o que se passa dentro de nós. Temos tantas tendências que têm sido postas em prática pelas coisas que aconteceram para nós na vida, e tudo o que acontece a nós, de certo modo afeta nossas tendências para o futuro e afeta o nosso estado de espírito. Para mim, aquilo que eu estou percebendo com mais música-que separa-se de incidentes que acontecem que alguém altere o estado de espírito, é o que parece vir de um outro canal além dos cinco sentidos. Quando a música está sendo criada, as ideias surgem para o músico por uma fonte desconhecida, através de um canal que não há um nome médico, biológico ou psicológico. Há um canal por onde as idéias e o senso de equilíbrio musical que o músico emprega, a fim de organizar as idéias entram. Isso é algo que também não há nenhuma palavra para denominar. É tudo desconhecido, e uma pessoa que tem um bom senso de organização musical não tem idéia de onde veio esse sentimento. Parcialmente, isso pode vir de um amor ou ouvir música e realmente apreciar o equilíbrio e a organização da música que é tão cósmico, mas há um monte de pessoas que apreciam isso que não têm esse senso, de como manipular a organização, de como manter o controle.

Eu diria que, na criação da música, onde as idéias vem de 'Por que uma idéia significa tanto pra mim e outra não significa nada?', e que há algum tipo de critério mental para distinguir essas duas coisas; não é algo que ninguém soube aproveitar de forma alguma. E, em seguida, na recepção da música, eu acredito que não são só as notas, acordes ou melodias em si (embora há muito a refletir por aquelas - 'porque é que afetam as pessoas na maneira de fazer?').

Além disso, acho que o que está subestimado quando as pessoas estão julgando música é que você está ouvindo a intenção de um músico, banda, ou o que quer que seja. Creio que existe uma espécie de sexto sentido quando estamos ouvindo música, e algumas pessoas tem isso. Para algumas pessoas essa sensação é mais clara que para outros.

Você pode ouvir quando alguém está fazendo alguma coisa por razões pessoais, como ganhos ou alimentação do ego, e quando a intenção é puramente para explorar esta coisa maravilhosa que é a natureza da música como ele é apresentado a nós pelas leis do cosmos. Se você colocar alguma bobagem, alguma banda comercial que só está fazendo isso porque é como eles fazem as suas condições de vida e que tem uma certa quantidade de alimentação do ego se essa mesma banda toca uma musica do Fugazi, ela não significaria a mesma coisa para alguem que precisa ouvir Fugazi para se sentir bem. Não é uma questão da música, que não importa o quão bem ela foi tocada, nós estamos ouvindo algo atrás da música. Ouvimos o estado psicológico das pessoas que estão tocando ou compondo, e eu sinto que há uma outra coisa dentro do ouvinte, além da aparência dos sentidos. Sinto-me realmente certo disso.

Eu realmente sinto que quando você está falando sobre a recepção ou a música em sí ou a criação da música. As partes mais importantes não podem ser quantificado ou medido, e não há maneira de colocar o dedo sobre elas. Sinto-me como o amor que qualquer pessoa tem por uma coisa especial, como se houvesse um homem obcecado por mecânica ou se houvesse um cara obcecado por plantas ou algo assim. Essas coisas produzem uma emoção nas pessoas que não podem ser medidos por apenas as virtudes próprias do sujeito. Há algum tipo de conexão entre as almas das pessoas e qualquer coisa é o que eles realmente amam, e parece com a música que tem conexão direta para animar um grupo de pessoas muito maior do que a maioria das disciplinas isoladas.

Acho que parte da razão para isso tinha que estar com fato de pensar que há mensagens que chegam em toda a música. Existem mensagens que a música está transmitindo, existem verdades sobre a natureza da existência. Na natureza, você tem as suas coisas como árvores e flores, grama, os seres humanos e o cérebro, a água e o ar. Lá estão essas outras coisas que fazem parte da fabrica da existência que existe, como por exemplo números existem como uma parte da natureza independentemente da existência ou não da compreensão humana deles.

Em outras palavras, a compreensão de um número humano é mais um símbolo da coisa. Não temos nenhuma maneira de realmente compreender, em números de si próprios, nem pensaram que eles fossem uma parte incontornável da existência. Com a música, você tem sua mente bolando coisas com números. A verdade sobre os números é que eles existem como uma coisa em comum. Eles são todos dependentes uns dos outros. Não há existência de 4 sem a existência de 3. Não há 1 bilhão, sem a existência de 2 milhões. Todos os números são interdependentes e dependem de outro para existir, e assim eles são uma coisa. Mas a natureza da mente humana percebe estas diferenças a partir de uma coisa à outra. Não creio que essas diferenças existem, não só com números, mas não me parece que uma árvore é diferente de qualquer pessoa, diferente do ar, de todas as águas. Acho que fomos abençoados com esta aptidão psicológica para poder diferenciar entre uma coisa e outra. Tudo existente vive em harmonia uns com os outros. Para mim, isso expressa que nada é diferente de qualquer outra coisa. Com números, cada um precisa absolutamente de outro pra existir, e assim, cada um é um número. Ou você poderia dizer que os números são todos uma coisa só."




Eu conversei com John sobre sua pratica de meditação:

"Em sua vida cotidiana, se você tiver um pensamento que é motivado por insegurança ou medo, (ou um monte de lixo que seu cérebro produz, que você se encontra pegando) - é a natureza de nossas mentes que, uma vez que um pensamento surge, torna-se outro e outro, fazendo com que nosso dia passe com este comboio de pensamento. Este comboio acaba sendo interrompido por algo circunstancial: Você vai até uma pessoa e começar a conversar e os pensamentos vão embora por um segundo, ou você se senta em frente à TV e isso bloqueia seus pensamentos. Em sua vida cotidiana você geralmente é consumido por esses pensamentos, quando não há distrações. Muita das vezes você está preocupado se isso ou aquilo vai acontecer, ou se aquela pessoa me acha louco, ou se eu não sou bonito o suficiente, ou eu não sou sexy o suficiente, o que for. Estes tipos de pensamentos acabam produzindo estas barreiras em nossos cérebros que são incontornáveis, porque a coisa toda está sendo conduzida pelas emoções. Os pensamentos e as emoções são vinculados um ao outro.

Com a meditação, muita gente tem esta idéia errada de que o objetivo é de não pensar em nada, mas para mim a parte mais valiosa disso é estabelecer um tipo de descolamento entre os seus pensamentos, em que suas emoções e seus pensamentos sejam separados um do outro. O propósito, quando você está sentado com uma técnica Vipassana é observar os seus pensamentos e não se envolver com eles. Deixá-los passarem como uma nuvem.

E para mim as partes mais valiosas dos efeitos que eu tenho notado são: Antes de meditar, pode haver algumas coisas que eu esteja preocupado, que eu estou pensando o tempo todo. Estou inutilmente pensando na possibilidade do que vai acontecer se isto não acontecer, me preocupando com as coisas.Você se senta para meditar e digamos que você está fazendo algum tipo de meditação baseado num mantra, por exemplo, o pensamento dessa coisa que você está pensando vem em sua direção, mas você traz de volta sua atenção para o mantra. Ou de alguma forma a Vipassana traz de volta sua atenção para o seu corpo e você apenas observa o pensamento, mas não pula para o próximo pensamento. E o que acontece é, que no momento em que você toma essa decisão, embora o pensamento exista, estou trazendo minha atenção novamente para o mantra. É como se você desamarrasse a corda que você está amarrado. Um segundo você está amarrado a um prédio e no outro, você desamarra a corda, e você vai embora.

E assim, numa situação como aquela em que tinha algo me incomodando, eu me sento com a meditação e os mesmos pensamentos vêm; eu continuamente aplico a técnica de centrar o meu cérebro, fazendo a técnica de meditação. Os pensamentos entram em meu cérebro e produzem o segundo ou o terceiro pensamento. Eu estabelecer uma desconexão entre eles é quase como se os pensamentos estivessem com medo de mim, em vez de eu ter medo dos pensamentos. Você acaba descobrindo que o pensamento não tem o mesmo poder sobre você porque você desliga esse pensamento de sua emoção. O pensamento ocorreu em sua cabeça, mas não ocorreu em um estado emocional. Ela ocorreu quando você estava apenas aplicando a técnica e a coisa que você fica sabendo é que o pensamento não tem tanto poder sobre você.

Para mim não importa se você estava pensando o tempo todo quando você estava meditando. Enquanto você estava fazendo esse esforço para fazer aquilo que a técnica consiste, você estava fazendo algo muito poderoso, não deixando o seu ritmo mental interior ser determinado por suas emoções e encontrando outro ponto de convergência para que você não se relacione com o emocional. Isso pode aborrecer algumas pessoas, mas esse é o ponto. Ter meia hora pra cotar o tédio é realmente muito valioso quando estiver preocupado e inseguro; estiver sendo consumido por isso.

Pessoas com problemas, as suas vidas são realmente emocionantes. Pessoas que criam drama em cerca de si, suas vidas são realmente cheias de emoção, o tempo todo. Isso não é o que estou procurando na vida. Você desenvolve essa relação com o que inicialmente parece ser tédio, e então você vê que era mais como emoções adicionadas ao medo, insegurança e preocupação, e pode-se gradualmente através desse processo, aprender a desligar-se (as suas partes que você realmente acha que tem medo ou insegurança para encontrar algum tipo de emoção). Ao desligar as emoções daqueles pensamentos, você acaba criando outros para encontrar animação em outras áreas, e mais pensamentos bons que podem realmente lhe fazer se sentir bem com estar com bons amigos, ouvir boa música ou ler bons livros."




As letras manuscritas por Frusciante de "Today" e "Ah Yom" - bonus tracks do álbum The Empyrean, lançado em 20 de janeiro de 2009.























Postado originalmente por Dragão Frusciante no Universo Frusciante em junho de 2011.

2 comentários:

  1. onde posso encontrar a entrevista original ?

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  2. Here's the interview: https://finnannie.tumblr.com/post/160266673853/john-frusciante-hillingdon-mind-interview-oct

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