25 de dezembro de 2016

JF EFFECTS ENTREVISTA: DAVE LEE (GUITAR TECH) (2016)

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Dave Lee durante um show do Red Hot Chili Peppers na Iglaterra em março de 2003.

A John Frusciante effects teve o privilegio de entrevistar Dave Lee, o técnico de guitarra de Frusciante. Dave começou a trabalhar com os Red Hot Chili Peppers ainda no One Hot Minute - sendo técnico de guitarra de Dave Navarro - e com o retorno de John Frusciante permaneceu com a banda até o hiato em 2007. Somado a isso, acompanhou Frusciante além da banda - participando das gravações de álbuns solos e apresentações. Se há uma pessoa com propriedade e de fundamental importância para tratar desse assunto - a não ser o próprio Frusciante - 'esse é Dave Lee, o cara do John'. Atualmente, Dave presta serviços a Adam Levine do Maroon 5, entretanto guarda um enorme respeito e boas recordações do antigo companheiro. Essa entrevista reflete o talento e generosidade do sabatinado - um grande profissional que, apesar do tempo decorrido, colaborou da melhor forma e disposição à sua realização. 




Dave, antes de tudo, nós estamos muito agradecidos por essa oportunidade e gostaríamos de lhe parabenizar por todo o seu trabalho. Após mais de 10 anos seguindo John Frusciante, como era trabalhar e viver com ele? Ele era mais como um chefe ou um amigo?

"Antes de tudo, obrigado a você. John é uma pessoa muito gentil com um enorme coração. Tendo dito isso, às vezes ele era meio 'difícil'. Ele se frustra muito facilmente e às vezes fica muito sobrecarregado. Ele é muito emocional. E seu humor pode ser mudado com o menor toque. Então eu diria que, mesmo eu amando-o muito como pessoa, eu achei melhor manter a nossa relação mais como uma relação 'de trabalho' do que de amizade."


Equipe dos Chili Peppers em 2006.
Como era fazer turnês com os Chili Peppers? Qual era a rotina, o que acontecia em um dia de trabalho?
"Os Chili Peppers são uma ótima organização para se trabalhar. A equipe é bem cuidada e deixada o mais confortável possível (bons hotéis e planejamentos de viagens). Fora isso, é praticamente a mesma coisa que fazer turnês com qualquer outra banda. Levar as coisas. Fazer o show. Trazer as coisas. Ir pro ônibus. A equipe do Chili Peppers tem algumas das melhores pessoas com quem já trabalhei. Uma atmosfera muito divertida e agradável."


Existe alguma canção ou álbum do John que você goste mais que os outros? 
"Pra ser sincero, as músicas solo do John foram gravadas tão próximas uma da outra, e tão rapidamente, que é tudo meio confuso pra mim. Eu me lembro de curtir mais o material do Ataxia. Joe Lally é a pessoa mais legal do mundo."




Dave checando o som com a Strat de 1962 em 2006.
Na Guitarist Magazine, de junho de 2003, você disse que tentou convencer John a tocar as réplicas que a Fender fazia dos seus modelos antigos, mas ele gostava da “vida” que seus instrumentos antigos tinham. Além das tarraxas originais (substituídas por tarraxas Kluson) e dos straplocks (substituídos por Schallers), há alguma outra modificação que você fez nas guitarras? Ele falou numa entrevista que tinha substituído os captadores da sua Strat de ’62 por Seymour Duncans SSL-1 (como os usados em sua Strat de ’55). Exista alguma coisa além disso? Quando isso ocorreu? 
"Eu me lembro de ler isso e de perceber que o John estava errado nessa entrevista (eu nunca disse isso a ele). Nós estávamos experimentando com um número de captadores diferentes na época. E ele deve ter se confundido. Os captadores que colocamos (e John nunca soube disso) eram captadores Fender de Stratocaster, novos e originais de fábrica. Os mesmos que a Fender estavam colocando em suas novas American Fender Strats, na época (aposto que você não estava esperando isso)."


Você disse uma vez que tinha tirado algumas fotos da Stratocaster de ’62 para um cara chamado Jake, que iria encomendar uma guitarra exatamente igual na Fender Custom Shop. Você ainda tem essas fotos? Você as disponibilizaria para o público? 
"Sinto muito. Eu não tenho a mínima ideia do que aconteceu com essas fotos. E a Fender Custom Shop nunca realmente chegou a produzir a 'réplica da Strat do John'."


Fender Stratocaster '59
Em 2004, ele obteve duas Strats de ’61, uma Fiesta Red e uma Olympic White, ambas usadas na turnê do Stadium Arcadium. No começo da turnê (AOL – março de 2006 e La Cigale – abril de 2006), ele é visto tocando uma Strat em sunburst, aparentemente de 1959. Existem rumores que, como pedido por Frusciante, você pediu a Ned Evett para trocar o braço original da guitarra por um braço fretless recoberto com vidro, mas nas fotos tiradas pela Vintage Guitar em 2009, essa guitarra não aparece. Isso é verdade? Se sim, o que você achou da modificação? Frusciante a manteve? 
"Isso é verdade. Essa que foi modificada era uma guitarra com hard-tail. Eu não me lembro dele ter usado ela na turnê. Ned achou que estávamos loucos por querer modificar uma Strat velha como aquela. Mas nós lhe enviamos a guitarra, e aconteceu que Ned nem conseguiu modificar o braço, porque a treliça era embutida no braço original. Então o Ned colocou um braço construído por ele mesmo (com o fingerboard de vidro) naquela guitarra. Pelo que eu saiba, John ainda tem ela."




Em vários fóruns da Internet, a ordem na qual John Frusciante usava seus pedais na turnê do Stadium Arcadium é debatida. Com um pouco de pesquisa e discussão, nós tentamos elaborar essa ordem, antevendo que todos os pedais eram usados em série [e todos no mesmo período, como: as substituições do Big Muff – English Muff’n, Metal Muff, Foxx Fuzz Wah; o Electro-Harmonix POG (usado apenas no começo da turnê); e o Digitech Whammy (usado de março a junho de 2007)]. Primeiramente, eles eram mesmo usados em série (todos juntos)? E em segundo lugar, essa ordem elaborada pela nossa página está correta? Quais as correções? 
"Pelo que eu me lembro, a página está bem correta. Às vezes ele ligava todos juntos."








Outro fator importante é: o sinal era dividido em estéreo pelo Boss CE-1 (como dito na sua entrevista para a Guitarist Magazine de 2003), presumidamente entre um Marshall Silver Jubilee e um Major. No entanto, havia outro Silver Jubilee. Quando ele era usado? A Gretsch White Falcon e a Les Paul eram ligadas nele? Havia algum pedal nesse possível canal separado? 
"O Boss CE-1 era dividido para um Marshall Major e um Marshall Silver Jubilee. O segundo Silver Jubilee era um amp que ficava sozinho. Normalmente sem nenhum efeito. E configurado com um timbre de overdrive. Quase sempre usado com a Les Paul preta. Nós o chamávamos de 'Rig do Slash'. Eu me lembro de um show em LA, John tocando com esse rig, e o Slash bem na frente dele, assistindo da plateia. Eu me lembro de pensar 'Imagino se o Slash sabe que foi ele quem inspirou esse rig'. Irônico."


Além do equipamento visível, havia algum rack de tratamento e modificação de som usado? 
"Não. Só um rack sem fio."




John Frusciante e Dave Lee em 2004.
A partir da turnê do By The Way, John Frusciante começou a usar o sistema sem fio da Shure em suas guitarras. Como podemos ver em vídeos dos shows, cada guitarra tinha um transmissor. Como a recepção do sinal funcionava, cada guitarra com um transmissor e um único receptor? Você controlava a recepção do sinal, silenciando-o durante as trocas de guitarra e selecionando a frequência de cada guitarra usada? 
"Eu prefiro deixar todas as guitarras em um único canal. E ligar e desligar o transmissor durante a troca de guitarras. Ainda faço desse jeito."


O que era usado quando John usava seu violão ao vivo? O sinal era enviado para qual amp?  
"Nenhum dos dois. Nós instalamos um sistema de captadores de violão em estéreo nos violões dele com o Bill Asher. O sinal ia direto para as DI boxes. Era um sistema de captadores Amulet. Tinha um som incrível."


Em algumas entrevistas, John chama o processo de gravação do álbum Shadows Collide With People “frustrante”, devido a sua incansável busca pela perfeição. Você concorda com ele? As sessões de gravação eram cansativas ou algo assim? 
"Sinceramente, nós gravamos tantos discos solo dele em tão pouco tempo, que eu não consigo diferenciar uma sessão da outra."


Dave deixando os equipamentos prontos para o show.



Você prefere trabalhar no estúdio ou em shows ao vivo? Quais as diferenças? 
"Eu não aguento trabalhar no estúdio. Me deixa louco. Passo muito tempo sentado, achando que estou atrapalhando. Eu prefiro muito, muito mais fazer shows."


No álbum gravado ao vivo no Hyde Park, a guitarra está um pouco mais saturada do que o timbre que Frusciante vinha usando. Foi ele quem quis esse timbre, e como ele conseguiu? Ou aconteceu durante o processo de pós-gravação? 
"Eu nunca tinha notado que soava mais saturado. Esses shows no Hyde Park foram bem divertidos. Eu conheci vários dos meus heróis musicais naqueles dias."


No Rock in Rio 2001, a guitarra do John também está bem saturada. Você se lembra de como eles conseguiram esse timbre? Foi intencional? 
"Ok, existe uma história por trás disso. Na passagem de som um dia antes do show, alguém no backstage apertou algum botão na energia e queimou todos os amps que estavam no palco, e a mesa de som. Os contratantes tiveram correr atrás de amps alugados para nós. Foi uma bagunça."




John Frusciante usando seu WH-10 em 2007.
Muitos guitarristas estão numa busca sem fim pelo timbre de guitarra do John. Em 2010, a Ibanez fez uma reedição do WH-10, “o timbre de wah dos Chili Peppers”. No entanto, essa versão V2 teve muitos problemas para alguns de seus usuários. Frusciante usava a primeira versão do pedal [o V1 cinza, feito entre 1987 e 1993, e um preto (que eu chamo de V1/2) feito entre 1993 e 1996]. Ele teve algum problema com esse pedal além da carcaça de plástico? Existe alguma grande diferença entre essas duas versões que ele usava?
"Esses WH-10 eram o meu maior problema. O principal problema era que o plástico sempre quebrava. Ele simplesmente não gostava do som da versão nova com uma carcaça de metal."


The Empyrean é sempre um dos favoritos entre os fãs do John, e considerado uma obra-prima de estúdio. Como foi gravar esse disco? 
"Honestamente, eu não me lembro da gravação dele ser diferente das outras. As minhas favoritas do seu trabalho solo sempre foram as músicas acústicas."


Você ainda trabalha com John? Ou mantém contato? 
"Eu não trabalho mais com John. Pelos últimos 6 anos eu estive trabalhando com Adam Levine do Maroon 5. Eu amo ele. Ele é uma ótima pessoa. Eu tinha praticamente perdido o contato com John. Mas há alguns anos, Adam ia tocar uma música do Queen no The Voice. Eu sabia que o John tinha uma guitarra no modelo de Brian May que nós queríamos para ter aquele som do Queen. Eu liguei pro John pra ver se eu poderia pegar a guitarra emprestada. Nós tivemos uma ótima conversa. Eu nunca tinha visto ele tão feliz. Nós conversamos por mais ou menos uma hora. Ele ficou feliz em nos emprestar a guitarra. E Adam ficou empolgado por estar tocando com uma das guitarras do John. Foi ótimo."

Blake Shelton junto a Adam Levine que empunha a guitarra de John Frusciante no The Voice dos EUA em junho de 2011.

Você tem ouvido seu trabalho eletrônico? O que você acha?
"Preciso ser honesto. Não sou muito fã de música eletrônica. Fico feliz que isso o faça feliz. Mas eu não entendo (risadas)."



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Novamente a JFeffects agradece a Dave Lee - e em breve tem mais!

Entrevista realizada por:
- Raphael Romanelli A. de Oliveira
- Pedro Tavares

www.jfeffects.com.br

12 comentários:

  1. Incrível, entrevista incrível! Obrigado jfeffects por nos proporcionar este maravilhoso presente de natal e parabéns por serem a melhor fonte de informações sobre JF de toda a internet.

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  2. Ótima matéria! Eu não entendo desses termos de guitarra e tals, mas me deu um grande prazer ler sobre. Obrigada por isso!!

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  3. botaram pra fuder na entrevista! valeu!!!

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  4. O que fosse de nós sem a jfeffects?!

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  5. Entrevista sensacional! Parabéns, senhores!

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  6. Parabéns Jfeffects! sensacional entrevista.

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  7. Entrevista de muito bom gosto.
    Parabéns, sensacional.

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  8. Descobri só agora essa pagina eu to amando , amei a entrevista esse cara teve muita sorte de conviver tanto tempo com John , pra mim ele pegou a melhor fase de John. E obrigada por deixar os fans de John sempre atualizados com que acontece com ele .

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  9. Ele não tá nem aí pro trabalho solo do John

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