12 de abril de 2022

De volta ao Chili Peppers e com um novo plano - Abril de 2022


John Frusciante de volta ao Chili Peppers e com um novo plano

"Eu quero ser a ponte entre Eddie Van Halen & Kurt Cobain!"

Tradução: Amanda Colombo - RHCP Brasil

Após sair do Red Hot Chili Peppers, John Frusciante se manteve em forma tocando solos de jazz e aprendendo progressões de acorde de rock progressivo.

Agora, de volta a banda, ele foi ainda mais a fundo no treino musical e artístico inspirado no blues elétrico e no rock dos anos 50. Além disso, ele está muito feliz em juntar o grupo novamente. “É um sentimento mágico”, diz ele.

No fim das contas foi uma razão simples que levou John Frusciante a voltar para o Red Hot Chili Peppers.

“Eu queria muito esse desafio de trabalhar numa banda democrática”, diz ele, “com pessoas que respeito e tenho uma química. Eu senti que para seguir em frente em espírito e como ser humano, eu precisava aceitar esse desafio. Eu senti que seria bom para mim tentar trabalhar de forma harmoniosa com eles, e não ser o meu ego a me levar adiante, mas ter amor e respeito por eles. Esse era o objetivo: tentar ser parte de um todo.”

Frusciante conversa com a Total Guitar direto de sua casa em Los Angeles, a cidade onde o Red Hot Chili Peppers se formou em 1983. Com o seu cabelo longo solto debaixo de uma touca de lã, barba por fazer, usando óculos tortoise pretos e seu físico magro vestindo uma camiseta larga amarela, o guitarrista tem a mesma aparência de 16 anos atrás, quando  o álbum duplo Stadium Arcadium conquistou a posição número um nos Estados Unidos. Porém, John deixou a banda logo em seguida – essa foi a segunda vez, ele também deixou a banda em 1992, ambas as saídas causadas pelo seu incômodo com as pressões da fama.

Após sua saída em 2009, os Chili Peppers seguiram em frente no lançamento de dois álbuns com outro guitarrista talentoso, Josh Klinghoffer. Enquanto isso, Frusciante foi em busca do seu amor pela música eletrônica e módulos sintetizadores, em um empenho de compor músicas diferentes das quais ele ficou famoso com a banda, e com aspirações totalmente pessoais e não-comerciais.

Então foi uma surpresa quando os Chili Peppers publicaram uma nota na rede social no fim de 2019 anunciando a volta de Frusciante, e com isso, o potencial para um novo álbum – o primeiro com John desde Stadium Arcadium. Os frutos do trabalho deles, Unlimited Love, diante do reencontro com o grande produtor Rick Rubin , apresentando 17 faixas que engloba a gama de influências, de um funk animado ao rock progressivo e punk hardcore. Em suma, a química entre John, o baixista Flea, o baterista Chad Smith e o vocalista Anthony Kiedis ressurgiu intacto, uma formação musical inabalada durante os mais de dez anos de pausa e ainda um surto pandêmico.

Claramente há muito a ser dito e o John está com vontade de conversar, tanto que o papo com a Total Guitar se prolongou além dos 45 minutos alinhados para mais de duas horas. Ele adora falar sobre os assuntos mais profundos – a arte de fazer música, o equipamento que utiliza, a ansiedade de retornar aos palcos. Ele também abre o jogo sobre o motivo de sair da banda mais dez anos atrás, e o que eventualmente o trouxe volta para o seus irmãos de música.

“Eu refleti muito sobre os motivos pelos quais saí da banda da última vez e dos quais eu não tinha cabeça para pensar sobre naquela época” ele disse, “Eu não quero viver nesse mundo de fama e publicidade; eu só quero focar em produzir música eletrônica e fazer música apenas por fazer, sem fazer música para agradar as pessoas ou ficar famoso. E isso era exatamente o que eu precisava naquele momento”

“Mas eu olhei para trás e percebi que em alguns problemas entre eu e os outros membros da banda, eu consegui enxergar o meu lado da coisa mais do que eu conseguia em 2009. E apesar de acreditar que ninguém é culpado quando alguém sai da banda, eu amadureci o suficiente como pessoa para ver o meu lado, ao invés de me fazer de vítima.”

Um novo começo

É difícil estimar o impacto que John Frusciante teve em gerações de guitarristas. Com as suas linhas esparsas e emotivas no álbum de referência dos Chili Peppers de 1991, Blood Sugar Sex Magik, ele apresentou ao jovens guitarristas dos anos 90 uma tênue e empolgante mistura de funk e post-punk. E na sua segunda fase com a banda, um período de 3 álbuns diversificados, expansivos e bem vendidos – Californication, By The Way e Stadium Arcadium – ele manteve texturas audaciosas e solos de guitarra no topo das paradas de rock, numa época em que o pop-punk e o nu-metal dominavam as rádios.

Para essa terceira fase, a banda reunida deu seus primeiros passos na sala de ensaios. Ao invés de começar a compor logo de cara, eles tocaram músicas dos primeiros álbuns dos Chili Peppers – lançados quando John era apenas um fã da banda – na tentativa de se reconectar com a raiz do grupo. Enquanto isso, integrantes da banda sugeriram covers de faixas clássicas – Some Other Guy de Richie Barret, Trash de New York Dolls, Hot Little Mama de Johnny Watson e Waterloo Sunset de The Kinks, todas foram tocadas – o que gerou uma dose nova de energia nos ensaios.

“Eu não queria me sentir pressionado a compor porque isso me deixaria sobrecarregado” se lembra John. “Então durante um mês ou dois, nós estávamos apenas tocando música de outras pessoas e as mais antigas dos Chili Peppers. Foi muito divertido. E felizmente essa animação se manteve conosco durante todo o processo de composição, mesmo após essa fase ser substituída pelos ensaios diários e a empolgação das novas coisas que estávamos criando, ou as jams que estavam virando músicas.”

E acredite, eles criaram muitas músicas. Quando a banda chegou ao estúdio de Rubin, Shangri-la, em 2021, eles tinham 45 faixas prontas mais 3 adicionais escritas durante as sessões. Todas elas foram gravadas, deixando material mais do que suficiente para um novo álbum. “Eu definitivamente sinto que nós guardamos algumas das melhores para um potencial próximo álbum”, brinca John. Mas ele acrescenta que nunca teve intenção de escrever tantas músicas.

“Eu estava pronto para parar quando tínhamos 20 – era o suficiente para mim” ele ri. “Mas uma coisa levou a outra alguém me incentivou a continuar compondo. Então quando nos demos conta, nós tínhamos mais músicas do que algum dia criamos para um único álbum.”

Para a sua parte, John teve que reajustar sua forma de tocar para compor rock novamente. Durante sua selvageria com a música eletrônica, toda vez que tinha uma guitarra no colo estava mais apreciando música do que compondo. Ele aprendeu todos os solos do ícone do jazz, Charlie Christian e se inspirou nas progressões de acorde de álbuns memoráveis dos anos 70 através da lenda do rock progressivo, Genesis. Isso o ajudou a se reconectar com seu amor pelo instrumento.

“Eu desenvolvi um verdadeira relação de fã com os diferentes gêneros do rock, sem que tenha a ver com a minha identidade” explica ele. “Então quando eu voltei a tocar na banda, eu sabia que afetaria minha composição”

Portanto, o guitarrista teve uma visão de onde queria levar suas composições e isso remontou a ele voltar para as raízes do gênero.

Conforme ele explica; “Eu queria focar onde eu enxergava ser o início do rock na história – o rock ‘n’ roll do fim dos anos 50 e o blues elétrico que se originou durante os anos 40 e 50. Eu queria imaginar que fosse um cara surgindo na mesma época dos Beatles, ou Cream ou Jimi Hendrix e poder visualizar; “O que eu teria feito para aprimorar aquela fundação? Eu sinto que como já estou voltando a compor rock, vamos até a raíz dele”

“Eu passei tanto tempo com outros álbuns, focando especialmente no Jimmy Page, Jimi Hendrix e Cream. Ao invés de fazer tudo isso de novo, eu pensei “Vamos focar no Elvis, Clarence Gatemouth Brown, Freddie e Albert King, Buddy Holly, Gene Vincent e Ricky Nelson – e então, ok, como eu vou tentar criar algo além disso?”

Aqueles planos mudariam de forma assim que John começassem a trabalhar com a banda. Para se aquecer antes da gravação todo dia, ele tocava os álbuns clássicos de Jeff Beck, Truth, Blow by Blow e Wired. Mas ele também estava se reemergindo na visão de textura de John McGeoch da Siouxsie and the Banshees, assim como os riffs abrasivos de Greg Ginn do Black Flag. Sua perspectiva se tornou uma consolidação de todas as influências, com uma pequena parcela de ícones da guitarra dos anos 80 para compor o cenário.

“Eu adoro guitarristas como Randy Rhoads e Eddie Van Halen pelo jeito como conseguem fazer o instrumento explodir na mão através de técnicas com a alavanca” ele diz, “Mas eu também gosto muito do jeito que pessoas como Greg Ginn e Kurt Cobain tocam sem ser algo técnico – ainda que hajam muitas técnicas não convencionais ali – mas o foco é definitivamente em algo mais visceral. No fim das contas, enquanto estávamos gravando, meu objetivo era encontrar uma ponte entre esses dois conceitos do instrumento: a ideia de fazer ele explodir com eletricidade da energia humana que vem das cordas. E também utilizando todo o instrumento em termos de tipos de técnicas que, enquanto Eddie Van Halen e Randy Rhoads desenvolveram muito nelas, eu vejo como algo enraizado no que Jeff Beck fez em Blow by Blow e Wired.”

Alongando

Por fim, Unlimited Love se tornou uma destilação dos ícones da guitarra que Frusciante empregou no bombástico Stadium Arcadium, em conjunto com o som ambiente encontrado nos momentos mais experimentais de By The Way, tudo isso enquanto incorporava uma influência punk mais aberta. A ampla gama de sua abordagem se extende do rock alternativo de Black Summer até o acalorado funk de Poster Child e o hardcore feroz de These Are The Ways, que oferece os riffs mais pesados do álbum – apesar do conceito dessa faixa ser muito diferente do monstro do rock em que ela se tornou no álbum.

“Antes de eu compor These Are The Ways, eu estava tocando o álbum Propaganda de Sparks” ele recorda, “Eu estava impressionado em como as progressões de acorde pareciam simples e imaginativas. Mas assim que eu trouxe isso para a banda, nós transformamos em um trabalho pesado onde a bateria vai de Keith Moon ao Black Sabbath e Metallica. O final parece speed metal para mim. Com a força da banda, ela realmente se tornou algo a mais.”

Uma outra abordagem diferente de estilo apareceu em White Braids & Pillow Chair, um acorde de meio tempo que termina em um completo rockabilly excitante. Foi uma das primeiras músicas que John trouxe e uma de suas favoritas pelo jeito que “mistura algumas coisas importantes para mim”, incorporando uma progressão vocal inspirada no tecladista do Genesis, Tony Banks com o final de um estilo do início dos anos 60.

A abordagem mais estrutural de John, em contrapartida, surge gradualmente no groove de Not The One e It’s Only Natural, que combinam o padrão gótico de seis cordas dos anos 80  com técnicas inspiradas por ícones da guitarra. A inspiração prévia no controle de volume impecável de Adrian Belew e Eddie Van Halen veio de encontro com expansivos delays digitais. Esse último apresentando um leve delay reverso – característico dos anos 80 – em seu solo psicodélico, mas a atmosfera simples dos versos fez John se voltar novamente a Jeff Beck como inspiração.

“Parece que tem um eco em It’s Only Natural” diz ele, “Mas eu estou fazendo isso com as minhas mãos. Não é um eco. Sou com minha mão direita sendo apenas intenso, intenso, intenso, suave, suave, suave, suave. Eu estive fazendo muito isso porque em Blow By Blow de Jeff Becks tem uma música chamada Constipated Duck, e eu acho que ele provavelmente tinha um eco na guitarra, mas para tocar com isso você precisa fazer: tocar alto, suave, suave, suave, suave, para ficar em sintonia com a gravação. O Flea teve a ideia de It’s Only Natural no piano. E quando ele foi para o baixo, eu imaginei ser legal se eu tentasse fazer isso como faço em Constipated Duck, mas tornando isso parte da música.”

Velhos Amigos

Enquanto John buscava novas bases em Unlimited Love com sua composição e filosofia técnica, seu estilo instrumental característico viu ele se reunir com ferramentais familiares que ele usou para gravar seu nome no coração de milhares de jovens guitarristas.

“A principal guitarra que toquei foi a minha Stratocaster de 1962, que é a mesma que tive quando voltei para a banda em 1998” diz ele sobre sua guitarra mais usada, e que ainda possui as marcas na madeira, mas agora com um sistema de cancelamento de ruído ILITCH. “Em 1998 eu não tinha dinheiro para uma Stratocaster, eu disse a eles que tudo o que tinha era uma Fender Jaguar e achava que devia ter uma Strat para a banda soar como deveria. Anthony e eu fomos ao Guitar Center e ele me emprestou dinheiro para comprar uma Strat e essa foi a que me chamou a atenção assim que vi na parede. E desde então eu tive muitas outras Strats – todas geralmente da mesma época  – e essa que encontrei naquele dia nunca mais achei outra melhor.”

Outras antigas famosas também fizeram uma aparição: sua Strat de madeira maple de 1955 – das quais seus captadores Seymour Duncans foram recentemente substituidos por outro mais forte e mais adequado, cortesia do criador senior de guitarras Fender, Paul Waller – assim como sua Strat Fiesta vermelha de 1961 e mais uma ou duas Jaguar. Os acústicos – como os da eletro-folk Bastards of Light e a delicada Tangelo – eram todos Martin: dois modelos de mogno 0-15, uma Dreadnought D-28 e uma uma de 12 cordas. Mas houve novas adições ao Chili Peppers também, através de uma Yamaha SG do fim dos anos 70/começo dos anos 80. Esses potentes captadores se tornaram o principal parceiro de John em seu tempo longe da banda, mas se provaram ser as guitarras perfeitas para sobreposições durante os momentos mais pesados do álbum.

Ele explica: “Quando há uma seção pesada com acordes distorcidos e esse tipo de coisa, na maior parte do tempo a Strat era o que eu tocava na faixa demo, mas em conjunto com a Yamaha SG diretamente para a Marshall sem distorção de pedal nem nada disso, só fazendo a distorção no amplificador. Na maior parte do tempo é a Yamaha no alto falante da esquerda, por exemplo, e a Strat Fender através do pedal de distorção na direita. E ainda há toques suaves onde está a SG.”

E se tratando de amplificador, o Marshall Silver Jubilee e backing do guitarrista dos Chili Peppers em seus maiores shows foram tirados do baú e da aposentadoria para a expansão da sonoridade, enquanto que uma Roland Jazz Chorus foi usada em algumas sobreposições. Mas a leitura que John fez no isolamento também o inspirou a buscar uma clássica (Strat de 1962) – que tinha uma conexão inesperada com a banda.

“Eu também tive uma Ampeg B-15” ele revela. “Eu amava o som e a engenharia de Greg Sage do Wipers. Ele tem um dos melhores sons de guitarra já gravados. Ele disse que para ele o B-15 era o melhor amplificador já feito. Então eu comprei um quando gravamos o álbum para ter uma diferença de sonoridade em certos momentos. Quando eu comprei, Flea deu uma olhada e disse ‘Esse é o mesmo amplificador que meu padrasto usava!’ O padrasto dele tocava baixo e contrabaixo e era o que ele usava no contrabaixo. Foi uma coincidência engraçada.”

Mas seria o Marshall que iria estruturar alguns dos pontos mais fortes do álbum, em particular esse feedback visceral e intenso dos solos de The Great Apes e The Heavy Wing.

“O feedback é uma das melhores partes de se fazer música para mim” ele frisa. “A abordagem é sobre o volume, ter os quatro gabinetes dos dois amplificadores ligados ao mesmo tempo e ir descobrindo as diferentes formas de compor, onde o feedback vai ser bom, e ficar andando de lá para cá enquanto toco os solos e recebo os diferentes feedbacks. E sendo extremamento barulhento – tanto que se eu não tivesse meus fones, eu não conseguiria ficar de pé ali. Os fones eram a única coisa impedindo que meus ouvidos estourassem.”

A intensidade significava que enquanto a maioria do ritmo das faixas foi gravada ao vivo no estúdio, John foi forçado a gravar a maioria dos seus solos como sobreposições para evitar que os amplificadores ressoassem muito forte na som da bateria. Mas essas gravações da banda foram de encontro ao som mais profundo e exemplar do guitarrista, fazendo apenas um ajuste significativo na Strat e nos amplificadores em comparação com outros álbuns dos Chili Peppers.

“Os captadores do braço estão em praticamente tudo” ele revela. “Durante um tempo, como em By The Way ou Californication, eu estive usando mais o captador da ponte. Então eu percebi quando estávamos gravando, meu agudo estava em 3 nos dois Marshalls – nos tempos antigos, meu agudo estava sempre em 0.”


Como resultado, o guitarrista ainda está aprendendo com sua pedaleira para os próximos shows dos Chili Peppers e desejando um pedal EQ para equalizar seus agudos nos captadores da ponte e do braço. Naturalmente, o estúdio estava preparado para experimentar diferente efeitos: modular e os racks de estúdio tinham maior uso, em conjunto com pedais mais convencionais.

“Eu definitivamente usei mais delays nesse álbum do que em qualquer outro” diz ele, “Principalmente por eu estar inspirado pela música dos anos 50 – coisas como Gene Vincent ou Elvis, onde na maior parte do tempo, há um eco de delay , não só na guitarra, mas também na bateria, no vocal, no baixo e em tudo. Então eu tive alguns: um MXR analógico, um DeltaLab Effectron II digital. Alguém sugeriu que eu pegasse um desses delay de fita que estão fazendo agora, o Fulltone Tube Tape Echo. Essa é última coisa que você consegue ouvir no álbum no final de Tangelo, quando do nada começa um delay e se transforma em um tipo de feedback e depois é apenas barulho.”

Uma nova descoberta foi o Boss SD-1 Super Overdrive para um som mais estruturado do que agressivo, assim como o MXR Super Badass Variac Fuzz para solos mais complexos e sobreposições substanciais. Mas ainda é uma incógnita quais estarão com eles na estrada e se a pedaleira do John vai alcançar a grandeza de Slane Castle.

“Eu nunca usei muitos” ele ri ao mencionar a quantidade pedaleiras que ele tinha durante o famoso show de 2003. “Na maior parte do tempo, um pedal era para apenas uma música em particular então eu precisava tê-lo ali caso nós tocássemos aquela música. E também porque de um longo período de turnê, às vezes eu fica entediado com o mesmo som toda noite. Eu gosto de ter pedais que estão ali só para eu fazer algo diferente se sentir vontade.”

Around The World”

Claro que haverão muitas oportunidades para John se aperfeiçoar na próxima turnê mundial dos Chili Peppers. Como é esperado, a setlist provavelmente terá os maiores hits dele com a banda, assim como muito material novo. Durante a entrevista com a Total Guitar, a banda estava exclusivamente ensaiando as 48 faixas que compuseram para esse álbum e para um outro futuramente. Enquanto que a chance de ouvir Unlimited Love e outros materiais ainda a serem lançados seja excitante para os fãs, John ressalta o quanto está gostando de revisitar as antigas e acrescentar algumas mudanças improvisadas.

“É muito bom tocar as músicas antigas de novo” ele diz, “ Houve um sentimento mágico quando voltamos nesse material. E você sabe que eu gosto de improvisar no palco, então eu estou ansioso para tocar e criar solos diferentes a cada dia. Existe essa reciprocidade com o público quando a energia dele e a pressão de estar tocando para eles e não ser capaz de começar a música do zero, isso cria algo em você como um músico que não é possível recriar como um simples guitarrista gravando num estúdio sozinho, como eu era no passado.”

“Estou ansioso para tocar sob essa pressão e me deixar levar por qualquer espírito que estiver conosco no momento, e tentar alcançar esse sentimento que é gerado entre a banda e o público” ele pausa, “Sabe…eu não toco para um público há cerca de 12 anos. Então é tão novidade para mim quanto compor rock foi quando eu voltei para a banda.”

Ainda assim, Frusciante mais do que se estabeleceu em seu papel antigo, é como se ele nunca tivesse saído. E apesar de trazer consigo novas técnicas de um ponto de vista de engenharia – citando suas explorações com delay reverso e sobreposição e guitarra modular – é descobrindo essa conexão da música crua e o simples prazer de tocar com músicos que pensam da mesma forma, foi o que manteve as coisas excitantes e frescas. No geral isso define um cenário otimista da terceira fase de John com o Red Hot Chili Peppers.

“Existe uma apreciação dessa química que não posso dizer que tive nos meus últimos momentos com banda da última vez” ele admite, “Uma apreciação do que realmente somos capazes – quando você se acostuma com algo, você geralmente não valoriza.

Em muitos momentos eu estive fazendo música do jeito que eu queria e isso foi ótimo. E eu continuo fazendo isso. Mas pareceu ser uma boa decisão para mim como ser humano tentar tocar com a banda de novo. Mais do que tudo, eu me divirto tocando com eles”.

I Like Dirt



John apresenta um guia dos elementos-chave de sua atual pedaleira, cheia de pedais usados no novo álbum dos Chili, Unlimited Love.

Ibanez WH10 e BOSS CE-1 CHORUS ESEMBLE

“Eu usei muito das mesmas coisas – o mesmo pedal wah wah Ibanez, o antigo. E o mesmo pedal Boss, o Chorus Esemble”

BOSS DS-2 TURBO DISTORTION e SD-1 SUPER OVERDRIVE

“Normalmente eu usaria o DS-2. Mas eu também usei o SD-1 – é menos distorcido. Não é uma distorção extrema, mas te proporciona um som poderoso.”

MXR SUPER BADASS VARIAC FUZZ e CUSTOM BADASS ’78 DISTORTION

“Houve muito uso do MXR no álbum. Me deram um monte de pedais. Eu utilizei bastante o som distorcido deles, não apenas nos solos. E um pedal de distorção deles também.”

MXR REVERBS

“Ele esteve ligado quase o tempo todo nos ensaios – o álbum engloba a reverberação real do estúdio. É uma das coisas que eu agreguei como engenheiro – Eu não acho que era muito consciente do som na sala, mas agora ele é muito importante para mim para me dar um senso de espaço. É bem sutil. É um som bem curto, mas eu gosto de ouvir a guitarra assim. O outro pedal serviu para uma reverberação mais longa.”

MXR DYNA COMP

“Às vezes o Dyna Comp era exatamente o que eu precisava em termos de obter a quantidade exata de sustentação. Eu amo o Dyna Comp desde pequeno. Eu era um grande fã de Adrian Belew quando jovem e ele tinha um desse ligado o tempo todo no ínicio dos anos 80.”

“Realmente não importa quanta técnica você tem”

John Frusciante compartilha suas lições aprendidas ao longo de uma carreira marcante na guitarra – e revela suas dicas de como se tornar o guitarrista que você sempre quis ser…

Nunca pare de se esforçar

Nos primeiros anos com os Chili Peppers, eu não estava exatamente no caminho certo. Eu pensei que poderia ser como o Flea que, naquela época, costumava ensair meia hora por dia, e em alguns dias nem ensaiava. E toda vez que ele pegava o baixo, algo incrível saía disso. E então quando eu entrei na banda, eu pensei “Eu posso ser assim!”. E no fim das conta, eu não posso ser assim – se eu tivesse feito isso, não teria criado nada original, eu não me sentiria bem com o que criei, eu não me divirtiria no palco, eu não conseguiria compor músicas ou alcançar o nível de criatividade dele. Para eu ser igual ao Flea, eu preciso me esforçar vinte vezes mais. Eu preciso tocar música de outras pessoas o tempo todo, eu preciso estar escrevendo mais ideias do que eu compartilho com os outros. Eu preciso lutar para entender coisas que não compreendo, e que talvez nunca vá compreender.

Não mude quem você é

Quando eu tinha 18 anos, e no começo dos meus 19 anos, eu estava tentando impressionar, porque eu conseguia tocar músicas complexas ou porque conseguia ser intenso. Isso nunca mudou, mas eu reconheci bem rápido que eu não poderia confiar na habilidade de ser intenso e na minha técnica – a música não significa nada para as pessoas a menos que você esteja entregando algo de si e se colocando numa posição vulnerável. Não é para tentar mostrar às pessoas “Olhe como eu sou bom!”, mas para entregar às pessoas um pedaço do seu coração. Isso me ocorreu bem na época que iniciamos a turnê do álbum Mother’s Milk em 1989. Eu percebi que se continuasse do mesmo jeito, eu nunca estaria feliz com nada do que fizesse, então eu preciso me livrar das ideias do que eu acredito ser bom e tentar ser eu mesmo, descobrir o que isso significa – e parar de tentar ser o que eu acho que as pessoas querem que eu seja ou o que eu acho que os Chili devem ser. Eu preciso tentar descobrir: “Quem sou eu?”

Não tente impressionar

Geralmente quando eu me livro dessas ideias de tentar ser “bom” ou tentar impressionar as pessoas, algo que não posso explicar surge da minha alma quando toco – e as pessoas começaram a gostar muito mais do meu estilo nesse momento; eu comecei a significar algo para as pessoas. Foi uma decisão difícil porque eu parei de me importar: Eu vou ser apenas eu mesmo, não importa o que aconteça, eu vou parar de tentar impressionar. E foi exatamente isso que fez as pessoas começarem a gostar do que eu estava fazendo.

Se mantenha simples e seus colegas banda vão brilhar

Quando eu comecei a tirar todas essas ideias imaturas da minha cabeça e comecei a simplificar tudo e tocar com o coração ao invés de tentar deixar as pessoas impressionadas, o Flea começou a soar muito melhor. Eu percebi isso indo ao ensaio e utilizando um feedback ou segurando uma nota por um tempo, ao invés de tocar. Eu percebi que isso fazia o Flea soar de forma incrível! Eu vi como isso afetou a química na banda e também fez os outros soarem melhor porque eu estava dando a eles o quadro para pintarem, ao invés de passar por cima e pintar eu mesmo. Eu pensei “Eu vou deixar eles fazerem tudo e apenas oferecer uma atmosfera para fazer isso” e eu vi que isso teve um bom resultado em todos.

O verdadeiro talento de um guitarrista está na sua relação com a banda

As pessoas costumam pensar que o talento de um guitarrista vem da habilidade de chamar a atenção. E há ótimos guitarristas que também são bons em chamar a atenção. Mas para mim, a parte fundamental que eles possuem, – que outras pessoas que não chama a atenção, como Bernard Summer do Joy Division ou o Syd Barret, ou Johnny Thunders ou Matthew Ashman do Bow Wow Wow, ou John McGeoth do Siouxsie and The Banshees – o que eles tem em comum com Eddie Van Halen e Randy Rhoads, e Jimi Hendrix é que eles sabiam como ser um integrante de uma banda e fazer todos os outros soarem melhor.Eles sabiam trabalhar em equipe.

“Sim, Eddie Van Halen tinha um estilo glamuroso, mas ele era um ótimo guitarrista e ele fez com que a bateria soasse ótima. Ele fez o baixo ficar ótimo. Ele fez o vocalista ficar ótimo. Para mim não importa realmente quanta técnica você possui, o verdadeiro talento de ser um guitarrista é fazer o resto da banda soar bem. E para algumas pessoas, isso é sobre quem você é como pessoa. Para outras isso significa tocar de forma impecável também. Já para outras pessoas isso significa não fazer nenhum solo, um tipo bem simples de solo. Eu sinto que é através disso que eu mensuro o talento de um guitarrista: em como ele contribui com o resto da banda para criar um bom som juntos. Uma banda de rock não é sobre quatro pessoas em sua bolha individual;  uma banda de rock são três ou quatro ou cinco pessoas que criam música juntas. E o talento de cada um pode ser julgado por como ele está soando – e não pelo que ele está fazendo individualmente, ou pelo que parece ser ou se é difícil ou não fisicamente. Eu percebi isso quando tinha 19 anos, vinte anos e nunca mudou.

Melhore sua dinâmica

Utilizando sotaques ou não, eu acredito ser essa a coisa mais importante em termos de soar expressivo como guitarrista. Isso é algo do qual você não tem controle quando começar a tocar e você pensa “O que faz essas pessoas nesses discos soarem tão melhor que eu se eu estou tocando a mesma coisa?” São os sotaques e tudo o mais no meio disso. Minha rotina de ensaio tem tudo a ver com tocar em escalas de formas diferentes, alternando com sotaques. Eu estou sempre extremamente ciente disso – Estou muito focado na ideia geral do volume que sai quando tocamos notas de forma mais intensa e mais rápida, ou mais suave e devagar.

Desligue sua mente e sinta a química

Quando você desliga sua mente (enquanto toca) é quando percebe coisas engraçadas acontecendo – como por exemplo quando o Flea e eu tocamos o mesmo riff ao mesmo tempo sem que tivéssemos tocado antes nenhuma vez. É muito melhor desligar sua mente e só ouvir e sentir qualquer sentimento que os outros estão te proporcionando. É muito importante escutar os outros, mas você também deve estar estar gostando do que sai do seu instrumento. E isso é outra coisa que eu gosto sobre o feedback; você não sabe o que vai acontecer depois. Você ouve o que sai do alto falante e toca com aquilo.

“Às vezes alguns guitarristas, especialmente quando estão preocupados se o que vai sair deles é algo bom ou não, se apressam antes das notas saírem. E eu sei que é algo natural de acontecer, do jeito que nossa mente é presa no momento presente. Mas se você não consegue se desligar e ouvir o que aconteceu e responder à isso, não importa o quanto você precise se atrasar para isso, eu ainda sinto que esse é o melhor e mais produtivo ângulo de se ouvir. Porque se você se preocupa com o que vai acontecer antes de acontecer, você pode perder o barco todo, mas se você prestar atenção no que acabou de acontecer e como isso interfere no todo, isso se torna um processo regenerativo.

Do mesmo jeito que o feedback é algo que, ao mesmo tempo em que está vindo de você, também volta para você, eu sinto que é do mesmo jeito com qualquer instrumento: toque algumas notas e espere cinco segundos antes de tocar mais. Sinta como isso afeta os outros instrumentos e depois toque qualquer coisa que vier de você sem pensar duas vezes. Essa foi uma das várias maneiras em que meu pensamento mudou, quando eu senti que havia encontrado meu estilo: antes disso, eu ficava preso naquele momento antes de começar a tocar. E depois disso eu me encontrei mais habituado no momento após ter tocado algo.

John Frusciante lista os quatro novos guitarristas que moldaram seu estilo

Enquanto que no seu período afastado do Red Hot Chili Peppers, John Frusciante escutava mais música eletrônica, nas gravações de Unlimited Love ele começou a buscar novas abordagens de guitarristas de rock. Por fim, ele estava gravitando num estilo que ele chama de “música moderna e psicodélica da Califórnia”.

“Eles pegam uma parte do progressivo e levam a uma direção diferente” ele diz, “É muito prazeroso para mim ouvir pessoas tocando rock sem tentar criar um hit ou algo popular.

Eles meio que jogam essa ideia pela janela e só querem fazer música que seja divertida. E eu sinto esse espírito divertido na música.”

A partir disso, John compartilha suas opiniões sobre quatro dos seus guitarristas contemporâneos favoritos, todos os quais levam a guitarra a perspectivas novas e excitantes.

TY SEGALL

“Ty Segall é um grande músico. Um dos meus álbuns favoritos dele, o Twins, é simplesmente ele tocando tudo. Manipulator é outro dos meus favoritos. Eu amo o seu estilo porque ele se envolve e coloca sua energia e magnetismo nisso. Ele é muito bom em fazer o instrumento e a amplificação responderem aos seus sentimentos – você nunca sabe como vai soar depois. Seu estilo tem aquele tom de indiferença que só é alcançado pelas pessoas intensas de alma que, quando não estão nem aí, você consegue ouvir convicção e sinceridade. Através dessa indiferença dele, o que acontece é que ele se importa muito.

JOHN DWYER – Osees

“John Dwyer é um grande líder e conceitualista. Todos os álbuns deles são tão únicos – alguns dos meus favoritos são Protean Threat, Orc e Smote Reverser. Eu adoro a direção em que ele está levando a música – eles continuam mudando e amadurecendo de formas inesperadas. Existe um senso de humor na música deles – o que é uma emoção rara – mas também há uma sensação de conforto e frieza. É lindo quando a música junta contradições como essa.

Ele é bem criativo na guitarra, ele usa o espaço vertical e horizontal de forma incrível e sua guitarra contribui para o cenário geral da banda, o que significa que ele consegue se expressar muito tocando pouco. Parece que ele se importa mais com a afirmação geral da banda do que em se destacar. E ele é outra dessas pessoas em que a energia é como um trem expresso no instrumento.”

CORY HANSON – Wand

“Eu fico tão feliz que Cory Hanson exista. O que ele faz é exatamente o que eu quero ouvir do instrumento. Ele tem uma abordagem artística em conjunto com emoção – é um equilíbrio perfeito. E ele é um ótimo vocalista e compositor também. Ele realmente se coloca de forma emotiva e embarca em viagens criativas em diversar direções. Meus álbuns preferidos deles são provavelmente Perfume, Plum e Golem. Os solos são tão criativos e cativantes – ele sabe como fazer o instrumento falar mesmo que o tom seja alto ou baixo.Eu amo quando a música entrega vulnerabilidade que faz você sentir que tem ali um amigo. Ele é uma dessas pessoas que pode ser tão poderosa criando música acústica quanto eletrônica.”

ZACH IRONS – Irontom

“Zach Irons é muito criativo e pouco ortodóxo. Ele está sempre encontrando novas maneiras de abordagem: técnicas com as mãos que eu nunca vi antes e formas de usar efeitos únicos. Ele está tão profundamente enraizado na essência do rock que ele está encontrando novas maneiras de manter esse sentimento ao mesmto tempo em muda completamente o uso do instrumento.Ultimamente, ele vem recriando seu estilo, eu só sei disso porque somos amigos – a primeira vez que tocamos juntos ele tinha 17 anos, era ele, seu pai (o baterista original do RHCP) Jack Irons, o  Flea e eu. Nós tocamos todo o álbum Presence do Led Zeppelin – foi muito divertido. Desde então somos próximos. Nós nos entendemos e nos apoiamos de uma forma única. Ele nasceu no dia do aniversário do Hillel Slovak (guitarrista original do RHCP), o que é algo doido.”

Tradução: Amanda Colombo - RHCP Brasil

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