Olá a todos! Hoje começa uma maratona de episódios que vai até ao longo deste mês para celebrar o lançamento do novo álbum dos Red Hot Chili Peppers, Unlimited Love, vocês irão ouvir Rick Rubin conversando com os quatros membros da banda.
É fascinante e às vezes até
hilário o quão próximos esses caras são e como isso foi perceptível durante
essa rodada de entrevista. Todos os altos e baixos que eles já passaram nos
últimos 30 anos, e se vocês são fãs de verdade sabem por que esse lançamento é
tão empolgante. Unlimited Love é o
primeiro álbum após o retorno do guitarrista John Frusciante depois de 16 anos.
John é a parte fundamental dentre
os quatro capaz de desbloquear e marcar o som que eles têm construído desde Blood Sugar Sex Magic, neste episódio,
você ouvirá John conversando com Rick Rubin, retornando ao posto de produtor
nesse álbum, John conta a Rick sobre sua profunda exploração musical como um
jovem guitarrista, como ele se apaixonou pelos Chili Peppers na adolescência e
como foi ingressar na banda que era fã com apenas 18 anos, então no final da
conversa Rick e John recebem um convidado muito especial.
Isso é um encarte para a era
digital broken record eu sou Justin
Richmond é agora Rick Rubin e John Frusciante:
R: Vamos voltar no tempo e me conte sobre a primeira vez que você viu ou ouviu os Chili Peppers, a primeira vez que você ouviu o nome da banda?
J: A primeira vez que lembro de ter ouvido o nome da banda foi
quando eu tinha um professor de guitarra chamado Mark Nine ele foi o único
professor de guitarra que me empolgava, o único que peguei algumas boas
inspirações. Na época comecei a tocar guitarra e ouvia muito punk, e todo
professor de guitarra que eu tinha falava mal do punk logo de cara, mesmo eu
dizendo a eles que era meu estilo de música favorito e eles respondiam que
aquilo não era música e toda aquela baboseira, então esse cara chamado Mark
Nine apareceu, ele tocava com Nina Hagen
ele tocava na banda dela de tempos em tempos e o Pat Smear era o outro
guitarrista, Mark foi o guitarrista principal e Pat foi o guitarrista rítmico
por um tempo.
Ele achava Pat Smear um grande
guitarrista e Pat Smear foi a principal razão que eu comecei a tocar guitarra para
aprender a tocar as músicas do The Germs. O fato de ter encontrado um professor
de guitarra que achava Pat Smear um grande guitarrista foi realmente
emocionante para mim, além dele gostar de todas aquelas músicas psicodélicas
dos anos 60. Ele tocava várias coisas, ele tinha uma banda chamada Underworld e tocava com um cara chamado
Randall Kennedy no Reconstruction. Era um tipo de poesia e ele também tinha um grupo de Ska chamado Scotch cha-cha e eu gostava de tudo que
fazia, eu tinha fitas cassete de tudo, em algum momento, ele veio e disse que
havia uma banda chamada Red Hot Chili
Peppers e ele estava fazendo testes e tinha expectativa de entrar. Ele
tocava guitarra e baixo, e ficou na minha cabeça que ele estava fazendo testes
para o baixo, provavelmente, seis meses a um ano depois disso, eu vi o
clipe True Man Don't Kill Coyotes na MTV e pensei que ele não seria um
bom substituto para esse baixista, era nítido que ninguém poderia substituir
aquele cara, depois descobrir na verdade era para ser o guitarra que ele estava
fazendo audições, algumas semanas depois
eu me lembro dele falando que estava torcendo para ser contratado mas na
época eles estavam entre Jack Sherman e Mark Nine e eles acabaram escolhendo
Jack Sherman.
R: Quantos anos você tinha nessa época, você se recorda?
J: Sim, eu tinha 13 ou 14 na época quando ele estava fazendo testes porque Hillel e Jack, integrantes originais da banda, ficaram por apenas seis meses e em seguida eles saíram, foi quando Anthony e Flea começaram a procurar novos caras, a banda tinha começado em 83 não tenho certeza qual mês.
R: Quantos anos tinha quando entrou para a banda?
J: 18.
R: Então você já conhecia a banda por quatro ou cinco anos antes de você fazer o teste...
J: Veja bem, não foi logo no momento quando descobri eles que subitamente me tornei um fã.
R: Sim, você apenas estava ciente deles.
J: Sim, eu os conhecia... próximo passo foi ter um amigo chamado
Jerry que trabalhou para a Frank Zappa Family e eu costumava passar muito tempo na casa dele ouvindo um monte de
fitas do Frank Zappa ao vivo. E em um
ponto Jerry me deu uma fita compilada do
tipo esotérico da vanguarda como Meredith Monk , tinha Funkadelic ele foi
a primeira pessoa que mencionou Funkadelic para mim e umas das coisas que tinha
naquela fita cassete foi a música "Yertle The Turtle" do segundo álbum
deles, Freaky Styley, e eu achei ela
muito boa, eu adorei tudo nela, a
bateria me lembrava uma versão funk da batida de Captain Beefheart e o pedal wah wah
foi uma coisa tão inteligente como a guitarra foi incorporada, essa canção tem esta grande
forma em cada elemento, por isso, você realmente aprecia o quão boa a parte da
guitarra é, o quão boa é a batida da bateria. porque você ouve cada instrumento
um complementando o outro. Naquele ponto eles não eram tão diferentes para mim
do que The Residents, o baterista
deles tinha tocado com Captain Beefheart.
E naquele tempo eu estava ouvindo muito Frank
Zappa e Steve Vai.
Eu tinha passado por muitas outras fases, mas naquele período eu estava tentando apenas chegar a um ponto em que ninguém poderia me dizer que eu não era um bom guitarrista. E o que as pessoas achassem difícil de tocar, eu me desafiaria a tocar, e os Chili Peppers era uma banda interessante que os vídeos clipes eram divertidos de assistir.
E eu comprei o primeiro álbum deles quando eu estava na Flórida eu
tenho essa estranha memória de ter comprado então eu fui até minha
madrasta, a quem eu iria frequentemente
apenas para dizer coisas estranhas como um dia que fui até ela e disse:
“Decidi que The Rise and Fall of Ziggy Stardust
do David Bowie possui minha melhor parte final de um álbum.”, eu só dizia coisas que ela não
dava a mínima, mas eu me lembro de ter ouvido esse álbum dos Chili Peppers e
disse: “Eu nunca poderia estar em uma banda como essa, eu nunca conseguiria
estar nessa banda porque eu não tenho variedade musical suficiente.”
Risos…
J: Era uma coisa estranha para se falar e ela respondia "Sério, você nunca vai tocar nessa banda, tá legal?" parecia a coisa mais distante do mundo, um álbum qualquer que comprei em uma loja de discos e falar "Não posso estar nessa banda", ainda tenho isso gravado na memória.
Eu tinha um amigo no ensino médio quem gostava
muito dos Chili Peppers, ele tinha
ido vê-los pelo menos algumas vezes eu me lembro dele ter ido ver eles no Fenders Ballroom, isso foi antes de eu ir
vê-los com Fishbone e Faith no More (a melhor da tour do oeste)
ele também gostava do álbum Licensed Tale.
Ele me fez gostar de música que
estava fora do espectro que eu estava ouvindo ultimamente, pois estava curtindo
música que era mais sobre diversão e tinha entrado em um estado de espírito
muito técnico. Então eu fui com ele
assistir uma apresentação dos Chili
Peppers no Variety Arts Center no
centro da cidade, eu já estava muito feliz com shows anteriores como Adrian
Belew e Stanley Clarke eu já tinha
sentido essa sensação de alegria em shows que tinha indo mas isso não chegou
nem ao pés da sensação de poder ver essa banda, foi quando a formação
original voltou, eles não haviam lançado ainda seu terceiro disco e tudo o que
eu já tinha ouvido sobre eles, tudo o que eu tinha visto em fita de vídeo não
me preparou para a intensidade daquele show tão psicodélico, todos tinham tinta
fluorescente em todos os lugares em seus corpos você não conseguia vê-los e as
luzes pretas parecia tão sobrenaturais me sentia como se eu e as milhares de
pessoas que estavam naquele lugar sentissem como se estivéssemos apenas em um
sonho coletivo, não pareceria ser real.
Eu vi dois shows que eles fizeram
a mesma coisa, eles usavam a pintura e eu nunca tinha experimentado nada onde o
público e os artistas fossemos uma só coisa que estávamos todos no mesmo lugar
juntos e o resto do mundo não existia.
R: Nossa…
J: Todos estavam completamente felizes, todos pulando e fora de si. O Punk foi uns dos primeiros estilos de música que eu comecei a curtir mas eu era muito jovem tipo uns 9, 10 e 11 e eu não podia ir aos shows, e naquele show dos Peppers parecia que eu estive sentindo a mesma energia de como eu imaginava ser um show de punk, hoje as pessoas chamam de “Mosh Pit” (roda punk), antes chamávamos de "Slam Pit”.
R: Então Punk Rock foi o primeiro estilo de música que você abraçou?
J: Bem, antes eu curtia coisas que todos os outros garotos de Santa
Mônica curtiam, como Aerosmith, Alice
Cooper, Van Halen e Kiss. Eram
apenas bandas que qualquer skatista ou crianças da vizinhança gostavam, em um
ponto eu mudei de Santa Monica para Mar Vista e nesse ponto, descobri a estação
de rádio Cairo e um show de Rodney Bingenheimer foi lá onde eu ouvi o punk pela
primeira vez, e foi bem gradual, me lembro de gostar de The Devo e dos The B52s em seguida então descobriu The Germs e Sex Pistols. Havia uma garota que foi minha vizinha por
alguns meses, ela me levava para uma loja de discos e me deixava fazer cópias
das fitas. Lembro de ter ido ao apartamento dela e gravado Never Mind the Bollocks dos The
Sex Pistols e More Songs About
Buildings and Food dos The Talking Heads. Eu estava em uma nova onda de
punk rock e gradualmente se transformou em punk hardcore.
R: Desse ponto em diante você passou a curtir coisas mais técnicas, esse foi o próximo passo?
J: Sim, foram muitas fases pequenas. Punk foi o que me fez
tirar o violão do armário e começar tocar mesmo não sendo uma guitarra
elétrica, instrumento que eu já queria tocar a muito tempo, mas ninguém me deu
e eu não gostava do som acústico, então tive que esperar. Aí pensei, “Está
certo! Se eu aprender um monte de canções punk, talvez meu pai perceberá que eu
sou dedicado e ele comprará uma guitarra para mim”. Então eu aprendi tocar todo
o álbum dos Sex Pistols e muitas
outras canções Black Flag e The Germs enfim e ele comprou uma
Stratocaster. Em seguida comecei a ler revistas de guitarristas e eu tinha um
amigo na escola que realmente gostava de Jimi Hendrix antes disso e eu sempre
enchia o saco dele dizendo que o Sex
Pistols era muito mais importante para a música do que Jimi Hendrix.
Nós mostrávamos fita cassete um para outro e
assim que ganhei minha guitarra passei a ficar obcecado por Jimi Hendrix e isso
me levou a gostar de Jeff Beck e Cream. Havia essa violência no punk,
e com todo esse estigma, faziam que as pessoas assim que descobrissem que eu
gostava de punk, elas deixavam de ser meus amigos, os pais delas não
permitiam que a gente fosse mais amigo. Isso aconteceu comigo várias vezes e,
por isso, o Punk deixou de ser meu
estilo de música principal e passei a gostar de coisas dos anos 60 apenas pela
tranquilidade dos ideais e pela tentativa de me livrar do tipo irritado e
violento da mente dentro de mim de alguma forma me atraia.
R: Havia definitivamente um momento quando do punk rock recebeu novos grupos punks como os The Dead Kennedys que escreveu a canção Nazi Punks Fuck Off, o movimento Punk tinha começado como este belo e tranquilo movimento de alta energia se tornou escuro por um período quando esses novos grupos se envolveram apenas para lutar.
J: Sim, havia muita briga e eu senti a violência em mim e eu
gostava desse sentimento que o Punk trazia, mas isso também me assustou
pois tinha essa outra parte de mim que eu não tinha certeza do que era capaz e
sempre tive preocupações se eu era completamente são ou não.
Eu passei muito tempo da minha
vida preocupado se eu poderia ser louco. A violência parecia uma coisa maluca
para eu estar brincando e alimentando essa parte de mim, gradualmente então
passei a ouvir música dos anos 60 de lá fui para música dos anos 70 como Brian
Eno, Roxy Music e David Bowie rock progressivo como Genesis, Yes
e King Crimson, eles se tornaram minhas bandas favoritas.
Fiquei obcecado pelo estilo de
tocar de Adrian Belew. E tudo isso aconteceu quando eu tinha 13 anos de idade,
todos os estágios passaram muito rápidos e não é como se eu tivesse parado de
gosto de algo, só ficava muito animado com as coisas novas e quando fiz 15 anos
fiquei obcecado por Frank Zappa e
qualquer guitarrista que estava ligado a ele como Warren Cuccurullo, Steve Vai
e Adrian Blue que esteve em sua banda por um tempo mas eu já gostava dele antes
disso.
E os Red Hot Chili Peppers assim como os The Beastie Boys eram essas bandas que tinham essa música divertida
que eu gostava. Isso graças a este garoto da escola, quando eu mudei para
Hollywood aos 17 anos percebi que era hora de mudar, até então eu gostava de
todas essas músicas pois elas iriam me fazer ser um guitarrista cada dia
melhor. Desta vez apenas comecei a ouvir música que me fizesse bem, coloquei de
lado o tecnicamente bom e passei a ouvir música que me dava sentimentos
internos mais fortes, naquela época eram New
York Dolls, Siouxsie and the
Banshees, David Bowie e The X
para ser honesto comigo mesmo eram essas as bandas que eu mais gostava.
E os Red Hot Chili Peppers
também eram parte disso e no caso deles era uma banda que eu podia ver ao vivo
o tempo todo, antes de entrar para a banda, provavelmente vi eles cerca de seis
ou sete vezes ao longo de um ano e meio.
R: E ao longo desse um ano e meio, eles mudaram de alguma coisa? Como fã, você viu se eles estavam mudando, ficando melhor ou pior?
J: Não que eu possa me lembrar, eles pareciam bastante consistentes para mim.
R: Ótimo.
J: Houve uns shows que foram
encerrados no meio, logo após algumas músicas. Os shows deles eram bem loucos
mas sim, eles eram sempre ótimos na
verdade não tinha como saber detalhes, porque cada vez que eu ia, após a
primeira vez, eu dizia: “tá certo, desta vez, vou só assistir ao show”, mas
toda vez quando começavam a tocar eu começava a pular como um louco e eu mal via eles, eram só
pequenos vislumbres quando olhava para palco ou quando eu chegava perto, Deus
sabe lá como, e por alguns segundo e eu olhava para cima e via
Hillel, essa memória vai ficar gravada
na minha memória para sempre.
As pessoas que iam comigo para ver eles, eram as que realmente assistiram ao show, elas eram o que tinham alguns comentários profundos sobre o show, para mim era só aquele estado de sonho que descrevi no primeiro show e foi sempre assim em cada show que eu vi porque eu me sentia tão parte da experiência que eu não podia resistir à tentação de apenas pular como um louco.
R: Impressionante.
J: Não tinha muita crítica
no sentido do que estava acontecendo lá, porque eu os via entre as músicas
quando eles estavam conversando e eram tão engraçados, sempre diziam coisas
engraçadas.
R: A forma que você descreve o show dos Chili Peppers de ser elevado de plano, é mesma experiência que eu tenho quando eu vejo vocês tocar no estúdio ou nos ensaios parece que estamos entrando em uma dimensão diferente e a música, de alguma forma, nos faz termos essa experiência transcendente, e quando está acontecendo, parece que nada mais está acontecendo no mundo só a música que está sendo reproduzida no momento e é diferente sempre, uma outra parte disso é tão estruturado e a ordem da canção pode ser a mesma, mas os picos energéticos e a viagem musical que isso nos leva, sempre sinto uma coisa completamente nova, é surpreendente, é uma experiência de cair o queixo até mesmo nos dias de hoje, então entendo exatamente o que você está falando.
J: Foi realmente importante
manter a energia fluindo quando entrei para a banda pois queria que as pessoas
sentissem o que eu sentia nos shows e foi definitivamente uma coisa que me chamou
minha atenção em comparação com outros os artistas, eles pareciam ter mais
convicção do que outras bandas foi a coisa que me fez jogar fora meus álbuns do
Kiss e ficar obcecado pelo The Germs e Black Flag pois tinha uma
importância muito grande para estas pessoas.
Percebi bem cedo que eu tinha
confiança neles, mas não tinha certeza se eles sentiam confiança neles mesmos
ou sobre qualquer tipo de conexão que poderiam ter com uma pessoa como eu. Sentir
que estávamos respirando o mesmo ar que estávamos vendo a música do mesmo
ângulo e não dois ângulos opostos, não era o vendedor e o consumidor, todos nós
estávamos conectados como uma coisa que nos salvaria de toda a confusão da
vida.
Vi essa mesma convicção e eu
sempre tive esse sentimento que a música realmente importava para aquela banda
e queria que isso fosse o centro do que fazemos e do que sentíamos sobre a
música e uma melhor conexão uns com os outros.
R: Como você descobriu que eles estavam procurando por um guitarrista, como você acabou entrando para a banda, como isso aconteceu?
J: Quando tinha 17 eu estava morando em Yucca Argyle, Hollywood e me tornei amigo de uma garota chamada Sarah Cox que era de Nova York ela me apresentou a D.H. Peligro dos Dead Kennedys e então eu comecei a tocar com ele e um amigo baixista chamado Robert e começamos a fazer uma banda bastante inspirada nos Chili Peppers - a música "Stone Cold Bush" foi originalmente escrita para essa banda.
R: Nossa!
J: Nunca tocamos ela nos
shows, mas a tocamos algumas vezes. Um dia D.H. me chamou e disse que Flea
tinha acabado de voltar de sua última turnê europeia, ele sabia que eu amava o
Flea. Então ele perguntou se eu queria fazer um jam com eles. Fui lá e nós
tocamos a canção Alice in My
Fantasies do Funkadelic e até tentamos fazer um verão cover de Higher Ground o que acabamos fazendo em Mother's Milk. Flea já tinha essa ideia desde daquele tempo de fazer
uma versão heavy metal de Higher Ground. Fizemos um jam, acho que Flea gostou muito de fazer um jam comigo pois ele me
deu seu telefone e disse que adoraria
tocar mais comigo e algumas semanas depois criei coragem e liguei para
ele para fazermos um jam e ele estava chorando e disse que não poderia falar
agora porque seu guitarrista tinha acabado de morrer e desligou o telefone bem
rapidamente, acredito que ele deve ter me ligado em algum momento depois disso
dizendo que estava tentando voltar para o estado de espírito de fazer música
novamente não tinha certeza se a banda iria continuar mas queria eu fosse lá
fazer um jam com ele na garagem, foi apenas nós dois, sem bateria.
Ele me disse que não sabia se a banda iria continuar e se sim definitivamente me chamaria para fazer um teste. Em seguida ele me ligou e me disse que havia este cara chamado Blackbird, ele ficou na banda por uma semana quando Hillel tinha saído e então tiveram de demiti-lo quando Hillel decidiu voltar eles sentiam meio culpados por isso, e decidiram dar esta chance a ele, então, Blackbird ficou na banda por vários meses, mas eu tinha uma sensação de que eu iria acabar indo para banda o que acabou acontecendo.
R: O que você lembra das duas primeiras jams, era você, Peligro e Flea o que você se lembra dessa experiência quanto tempo durou a jam?
J: Foi em uma garagem em uma
casa onde D.H e Walter do Fishbone moravam,
eu já tinha passado por frente dessa garagem muitas vezes, mas sim, tocamos por
algumas horas. Flea tocou Alice in My Fantasies e Higher Ground, eu me lembro com certeza, para falar a verdade eu não
tenho muita memória, eu estava tão nervoso, de novo, esse estado de espírito
foi tudo muito rápido, e minhas memórias são meio inconsequentes mas lembro de
coisas como Flea indo até D.H enquanto estávamos tocando e sussurrando algo e
eu ficava pensava: "Será que ele está dizendo algo bom sobre mim "
Risos
J: “Ou será que é algo negativo sobre mim" quem vai saber... Eu sentia que ele estava dizendo coisas boas, mas poderia ter sido algo totalmente não relacionado, mas eu lembro desse momento de pensar o que ele estava sussurrando no ouvido do D.H.
R: Você se lembra de pensar que ele estava tocando muito como se você estivesse impressionado com ele?
J: Com certeza, ele é o meu baixista favorito, é incrível poder tocar com ele.
R: Você não ficou decepcionado com a experiência, foi tudo o que você imaginou que seria?
J: Sim.
R: Impressionante!
J: Eu me senti muito bem!
R: Incrível e, em seguida, a segunda vez, foi só você e ele, o que se lembra desse dia?
J: Foi apenas uma espécie de energia baixa, na primeira vez usávamos
correias e mandamos ver mas na segunda
vez estávamos apenas sentado lá e o clima era definitivamente sombrio me lembro
de sentir um pouco desconectado mesmo sendo bom um guitarrista como eu pensei
que era na época, mas acho que eu tinha
um longo caminho a percorrer em termos de realmente entender como fazer jam com
ele porque de várias maneiras eu estava receoso por tocar simples, havia muita
dessa contaminação dos anos 80 nas cabeças das pessoas e eu era uma vítima
disso e, se eu não tocasse algo sofisticado, eu não estaria dando o suficiente ou as pessoas não iriam gostar do que estava
tocando.
Depois de estar na banda por algum tempo percebi que a maneira de saudar alguém como Flea não tem nada com se exibir, pois parece que ele está querendo se exibir, mas ele não está. As pessoas ficam impressionadas com o sofisticado naturalmente quando se ouve o baixo dele se pensa: "nossa ele realmente é muito bom", mas da perspectiva do Flea vindo do jazz e sabendo tocar trompete. O jazz foi a principal música que o seu cérebro formou o estilo dele acaba sendo uma simplificação de uma grande simplificação de seu gosto natural em sua própria maneira e todo seu estilo é uma simplificação do seu baixo, do seu conceito mental básico de música e para mim, simplificar para a mesma quantidade, significava tocar com menos do que eu imaginava, então eu acho provavelmente eu poderia ter tocado muito nesse dia sombrio depois de perceber como eu poderia ter sido mais solidário.
R: Qual foi a primeira vez que você tocou com a banda completa? Ou
melhor, me fale sobre a experiência de aparecer para fazer a audição! Imagino
que este tenha sido o passo seguinte...?
J: Bem, era mais ou menos como eu estava falando. Quando Flea ligou
para me avisar que eles tinham contratado (DeWayne) Blackbird, eu não tinha
feito a audição. Ele me disse que eu poderia fazer o teste, e depois voltou
atrás. O teste nunca existiu.
R: E o que houve logo depois?
J: Houve uma audição, mas eu não fiquei sabendo quando isso
aconteceu. Flea veio com essa ideia. Então um dia ele me ligou – nós já
tínhamos uma amizade nessa época, frequentamos as mesmas festas, ou ele vinha
para o aniversário da minha namorada, ou qualquer coisa do tipo – e disse:
“cara, estou gravando esse cassete de quatro faixas com uma drum machine.
Tá a fim de aparecer aqui e gravar a guitarra?” Obviamente eu aceitei e fui ao
seu apartamento. Ele tinha três faixas d’ele tocando baixo acompanhado da drum
machine, e eu inventei algumas partes de guitarras ali mesmo, plugado
direto no gravador. Nos divertimos ali por um tempo, assistimos a alguns vídeos
do Funkadelic e saímos com a esposa de Flea, Loesha.
Acontece que – e eu só soube
disso muito tempo depois – o que o Flea fez foi gravar (DeWayne) Blackbird
tocando guitarra em cima daquelas mesmas faixas, e depois apagou e gravou as
minhas partes! De forma que ele tinha mixagem de ambas as gravações e podia
comparar quais linhas de guitarra eram melhores.
Mal eu sabia que naquela noite,
depois que eu saí, Loesha disse ao Flea: “aquele é o guitarrista do Red Hot
Chili Peppers. Ele tem que ser". Por parte do Flea, ele estava se sentindo
muito culpado em ter que se livrar de Blackbird. Então acho que, mesmo que eu
tenha ganhado aquela “disputa” ou qualquer coisa do tipo, algumas semanas se
passaram e mais nada aconteceu.
Eis que um dia Flea me liga me
dizendo: “Bob Forrest, do Thelonious Monster, está procurando um
guitarrista, e as coisas não vão bem com Blackbird. Eu disse a Bob que ele
poderia ficar com o seu número, mas eu também lhe disse que estava de olho
nesse cara. Se nós decidirmos ter esse cara nos Chili Peppers, eu estava de
olho antes e você não pode ficar chateado de termos pego ele de você!” [John e
Rick riem]. Eu conversei com Bob, fiz uma audição com o Thelonious e
eles me contrataram na hora. Mas acontece que durante esse teste Anthony estava
lá, provavelmente porque o Flea havia comentado com ele a meu respeito. Então
eles me ligaram praticamente ao mesmo tempo (Anthony e Flea) e disseram “bem,
nós conversamos e queríamos que você fosse nosso guitarrista. Você quer?” e eu
respondi “sim, é o que eu mais quero no mundo”. Enquanto eles lidavam com a dor
de cabeça de conversar com Blackbird a respeito da decisão, eu falei com Bob e
o avisei que tocaria nos shows que já estivessem marcados e “continuo tocando
com vocês por enquanto, mas eles me pediram para ser o guitarrista dos Chili
Peppers.” E Bob concluiu: “é, eu imaginei que isso iria acontecer”.
Ao longo das semanas que vieram,
eu toquei algumas vezes com o Thelonious Monster, mas já comecei a
participar de alguns ensaios com os Chili Peppers. E neste momento – eu
não sei se já mencionei isso – D.H. Peligro (Dead Kennedys), com quem eu
tocava e me apresentou ao Flea, ele era o baterista do RHCP naquele
período.
R: Então você entrou na banda antes de Chad?
J: Sim.
R: Eu não sabia disso. Por alguma razão eu achava que você tinha
sido o último a chegar na banda, mas talvez eu pensasse isso simplesmente
porque você era mais jovem. Enfim, você entrou, e o que aconteceu depois?
J: A banda fez algumas turnês pequenas (com D.H Peligro na
formação), como uma cujo nome era Turd Town Tour ao redor do centro
oeste, que não foi tão boa assim... [Rick ri]. Foi inconsistente. D.H era um
ótimo baterista, mas ele não era tão dedicado ao conceito da banda como o
restante de nós éramos. Para mim, eu encarava tudo aquilo como se fosse minha
vida, mantendo em mente “se eu falhar nisso, minha vida já era”, e com D.H. o
negócio era diferente. Foi uma turnê estranha: às vezes os shows estavam
cheios, mas lembro por exemplo de uma noite em que tocamos num bar cowboy, e as
únicas pessoas que estavam lá, eram aquelas que certamente iam toda noite lá
beber. Anthony ficou furioso por o nosso empresário ter nos colocado lá para
tocar. Foi confuso, tivemos de recomeçar músicas várias vezes. Tivemos alguns
momentos baixos como esse.
Mas nós éramos grandes amigos.
Recentemente, eu vi uma foto de nós quatro juntos, e dá para perceber que temos
essa amizade. Quando Chad chegou à banda, ele parecia um estrangeiro. Ele era
de Detroit, era mais de hard-rock, e certamente chegou em Los Angeles esperando
entrar numa banda tipo Guns N’ Roses ou algo do tipo. Nós tínhamos
aquela coisa de incompatibilidade com Chad, enquanto com D.H. era nítido que
vínhamos todos dos mesmos caminhos da vida, ou algo do tipo. Nós despedimos
Peligro e fizemos testes com inúmeros bateristas, e Chad apareceu. A história
é: Denise Zoom, que foi esposa de Billy Zoom, do The X, ela veio
até mim num show do Fishbone e do Public Enemy no Santa Monica Civic
– que acabou sendo um show bem violento, com notícia de armas e coisas do tipo
– e disse: “John, eu tenho um novo baterista para você! Ele come bateria no
café da manhã!”. Eu comentei com os outros depois: “bateria no café da manhã?
Que frase brega!” [ri].
Ele apareceu no teste e acabou que
ele fez a frente o tempo inteiro! Geralmente D.H. seguia o que estávamos
fazendo, e eis que Chad chega e começa a conduzir tudo. Começava numa batida de
slow funk e terminava num speed metal. Houve outros vários bons
bateristas, mas parecia que Chad poderia ser a força motriz da banda do seu
próprio jeito. Depois que ele saiu da audiência, Flea disse “acho que ele
realmente come bateria no café da manhã!” [ambos riem]. Porque além da energia
que ele aplicava ao tocar, quando ele começou Anthony caiu numa crise de riso –
e você sabe, as crises do Anthony duram por volta de dez minutos – e ela é
contagiante. Eu comecei a rir, e no fim a gente rolava no chão, tamanha
intensidade daquele momento.
Então ao longo de alguns meses
nós ensaiamos com Chad, dando espaço a ele para inserir suas partes de bateria
para as faixas que já tínhamos escrito. Nós oferecemos a ele a chance de gravar
uma faixa conosco, a música "Taste The
Pain", que era para uma trilha sonora de um filme. Lembro que isso foi em
dezembro de 1988, antes de decidirmos efetivamente contratá-lo, e pensamos que
seria uma boa oportunidade de ver como as coisas sairiam, mas acabou que Chad
disse: “eu não posso, eu tenho que ir para Detroit para passar o Natal com a
minha família”. E nós pensamos, tipo “o que há de errado com esse cara? Ele não
se ligou da chance que ele tem aqui?” [John ri]. Da minha perspectiva, parecia
que ele não valorizava o quanto deveria a chance que ele estava tendo, enquanto
eu estava todo amedrontado pensando que se eu desse um passo errado eu estaria
fora da banda. Chad parecia mais desapegado.
Acabamos de gravar com Fish (Philip Fisher) do Fishbone para
aquela sessão. Mas no fim decidimos que Chad seria o baterista.
R: Vocês fizeram algum show com Chad antes da gravação do disco?
J: Tocamos com ele durante a gravação do disco, mas não antes. Não
lembro exatamente como foi o primeiro show com Chad, mas tocamos em faculdades
e em lugares pequenos algumas vezes, para fazer um dinheiro extra. Mas sei que
foi já durante a gravação do disco (Mother’s
Milk).
R: Certamente ele era fundamental para fazer os shows serem sólidos
como deveriam ser. Fale sobre o processo de gravação do seu primeiro disco. Foi
a primeira vez que você gravou num estúdio propriamente dito?
J: Sim, foi. Na verdade, tínhamos gravado aquele som, "Taste The Pain", e lembro do processo,
que inclusive foi tão bom quanto eu pensei que poderia ser. Mas quando fizemos
o Mother’s Milk, Michael Beinhorn
(produtor do disco) tinha aquele conceito de sublinhar exageradamente o aspecto
heavy metal funk que a banda tinha, e ele queria que tudo fosse rápido,
acelerado. Para quem não sabe, no estúdio se fala sobre o tempo de a música
acelerar ou diminuir, e geralmente quando se diz que alguém está acelerando o
tempo, significa que se deveria regravar no tempo adequado, mais lento. Mas no
caso de Michael Beinhorn, ele queria que tudo fosse acelerado. Eu nem sequer
tinha ouvido esses termos antes, e eu nem tinha certeza do que eles
significavam. Eu achava que tinha que tocar no tempo certo, e esse era o
objetivo final. Quando ouço o disco eu sinto que tocamos 10 ou 15 BPM mais
rápido do que quando tocamos ao vivo. Ele nos fazia regravar takes que julgava
não estar acelerado o suficiente. Ele entrava no estúdio e pulava, agitava as
mãos, suava, tentando fazer-nos acelerar o máximo que desse. Eu conheço pessoas
que vem do jungle drum and bass e do breakcore e amam aquele disco justamente
porque é essa versão acelerada do funk, que não é tão diferente de quando você
acelera um breakbeat. Eu não sabia o
que era aquilo e parecia que Flea e Chad entendiam o que estava sendo exigido,
enquanto eu não conseguia fazer porque não entendia, até chegar num ponto que
eu não os acompanhava e interpretar isso como fracasso da minha parte e
vendo-me como o pior da banda. A maior parte do que está naquele disco são overdubs meus porque eu não conseguia
encaixar naquele groove.
R: Então não foi natural?
J: Não, não foi natural. Toda essa coisa de acelerar os grooves soavam não-naturais para mim.
Foi um disco difícil para mim, não sabendo nada sobre gravações e tendo Michael
sentado do meu lado vendo-me tocar, desconfortável pensando no que ele acharia
do meu jeito de tocar. Acho que era um conceito de pensamento avançado em que
várias pessoas foram influenciadas por diferentes formas. Parecia-me que ele
estava convicto e se apropriou inclusive do projeto na etapa de mixagem e
finalização. Nós nem sequer ouvimos a versão final, a não ser quando as cópias
já estavam prontas. Músicas foram reeditadas de formas totalmente opostas ao
que tínhamos planejado e coisas do tipo. Foi uma experiência intensa.
R: E vocês saíram para turnê depois disso?
J: Sim, fizemos uma turnê de um ano e meio. Ah, Anthony! [Nesse
momento, Anthony entra na conversa].
AK: Oi, John! Oi, Rick! Espero não estar interrompendo nada.
R: Tudo bem! Eu estava tendo uma aula de história fascinante.
Inclusive, acho que você gostaria de ouvir também. Talvez você não conheça os
bastidores da história em que você não estava envolvido.
AK: Os bastidores da história do John?
R: Sim, o John de antes de entrar
na banda. É interessante!
AK: Eu conheci John... (não completa a frase)
J: Ah, é! Eu nem contei essa história. Existem algumas histórias
envolvendo-me e o Anthony que eu não mencionei. [John ri]
R: Anthony, qual é sua versão de como conheceu John?
AK: É macabra! Cheia de nós! Não é uma... (não completa a frase).
Os Chili Peppers tinham um show em Pasadena
(cidade da Califórnia), no Perkins Palace,
que era um local célebre – inclusive vi grandes shows lá, incluindo King
Crimson, quando Flea desmaiou. Mas tínhamos um show marcado lá, e nessa época
eu passava por um período extremamente nebuloso da minha vida, regado a
narcóticos. E às vezes eu chegava atrasado para os shows, ou até mesmo
esquecia-os, afinal, eu estava perdido numa confusão. Nesse caso em particular,
me atrasei porque estava no centro de Los Angeles comprando drogas. Ao chegar
lá – estava escuro e havia um estacionamento em frente ao local – eu procurei
um lugar escondido nesse estacionamento para usar o que eu tinha comprado e
anestesiar essa parte ruim em mim. E ali eu vi dois fãs animadíssimos,
vibrantes para o show que ia começar! Ao menos do meu ponto de vista, porque
essas pessoas eram John e um cara chamado Matt. Eles chegaram em mim no tom de
“Cara, estamos aqui para o show! Não podemos esperar! Quais músicas vamos
tocar?” E eu reagi no estilo “Ah, prazer em conhecê-los! Estarei lá em um
minuto, vejo vocês lá dentro”. [Anthony ri].
J: Ele mal desconversou! Matt perguntou “Anthony, o que você está
fazendo?” e Anthony respondeu “Ah, estou dando uma caminhada contemplativa”. [Todos riem]
AK: Contemplativa até demais, sinceramente. [riem]. Em todo caso,
tivemos nossos primeiros contatos e eu fiquei, de verdade, impressionado com o
seu entusiasmo, e me senti até desmoralizado, por ver tamanho entusiasmo
perante a esse meu período tão estranho que estava passando, que eu sabia que não
me permitiria dar o meu melhor. E isso importava muito para mim! Mas eu estava
passando por essa fase de vício.
Então eu encontrei uma escadaria
e, sozinho, sentei-me lá para acertar as contas comigo mesmo, e ficar bom o
suficiente para conseguir ao menos fazer o show acontecer. O que acontece é
que, passados alguns instantes, eu me dei conta que eu estava sentado na
escadaria no departamento de polícia de Pasadena! [todos riem]. Foi justamente
esse lugar escolhido para eu fazer esse trabalho sujo comigo mesmo! Eu estava
obnubilado.
Entrei, fiquei no backstage, com todas aquelas luzes
partindo a escuridão. Minha namorada, minha banda irritada comigo, e em meio a
tudo isso fizemos o melhor que podíamos fazer. Mas foi abaixo da média, do meu
ponto de vista. Eu não estava em chamas. Acho que essa foi a primeira vez que
encontrei John. Ou foi a segunda?
J: Há uma coisa engraçada aí. Acredito que em 1986, meu padrasto
chegou em casa e me contou uma história, dizendo que ele estava dirigindo na
autoestrada e havia um congestionamento enorme. Ele comia uma banana enquanto
dirigia e, ao jogar a casca da banana pela janela, repentinamente pulou para
fora de outro carro um cara, pegou a casca de banana, jogou no meu padrasto de
volta, e fez uma puta dum discurso a respeito de jogar lixo na rua! Acontece
que, uns dois anos depois, enquanto eu andava de carro com o Anthony, ele me
contou exatamente a mesma história. Mas na história, ele era o cara que saía do
carro para pegar a casca de banana e jogar em quem a havia descartado! [Rick ri
muito].
R: Incrível!
J: Sim, isso é muito louco. (rindo)
AK: Sim. Sim. Foi um pouco hipócrita da minha parte. Eu lembro que
em La Brea uma vez, bem antes disso tudo, eu vi alguém jogar um saco do
McDonald's pela janela – batatas fritas, guardanapos, copos – e eu fiz
exatamente a mesma coisa: juntei tudo aquilo e arremessei de volta direto a
quem havia jogado. E ele acabou me perseguindo pelo norte de La Brea
arremessando hambúrgueres como se fossem armas, enquanto eu desviava ou
arremessava de novo. Quando eu era criança, eu fazia a mesma coisa. Via pessoas jogando embalagens de doces em
arbustos e eu reagia tipo “Não, não, não, não. Isso é um arbusto. Você não pode
fazer mal a um arbusto”.
Houve então essa época que Hillel
Slovak morre, Jack Irons sai da banda, e Flea e eu estávamos naquele estado de
espírito cuja sensação era "Nós amamos essas pessoas, mas temos que
continuar fazendo música, temos que continuar tocando juntos”. E é difícil
encontrar pessoas certas para tocar junto. É química. Você pode encontrar as
pessoas mais brilhantes da Terra, mas a questão é conseguir encontrar aquela
estranha gutural conexão espiritual. Nós tentamos tocar com Blackbird como
guitarrista e com D.H. Peligro como baterista, e aquilo não funcionou direito.
Flea foi quem disse que havia um jovem prodígio que supostamente era uma real
sensação de ouvi-lo tocar guitarra. Fiquei intrigado.
Foi Bob Forrest quem disse “eu
tenho um novo guitarrista, cujo nome é John Frusciante”. Conversei com Flea
nessa época e ela me reiterou: “Sim, fiz umas jams com esse jovem e ele tem
algo diferente”. Eu vi a audição do John para o Thelonious Monster numa
garagem, e enquanto eles tocavam eu pensei “Eu tenho que intervir. Eu não posso
deixar isso acontecer. Ele é muito perfeito para o que nós estamos fazendo”.
Certamente foi uma fase punk egoísta da minha parte. Lembro de conversar com
John após esse episódio e dizer: “Foi uma baita de uma audição, mas você
consideraria entrar na nossa banda ao invés daquela que você fez audição?”.
Essa é a minha memória enevoada; John deve ter uma lembrança mais clara.
J: Sim, eu mencionei isso mais cedo.
R: Sim, basicamente os mesmos eventos em série.
AK: Sim... Como eu disse, encontrar essas pessoas certas para se conectar
num nível invisível em que você consegue ouvi-los e eles ouvem-lhe, de alguma
forma, acabam colocando suas energias musicais juntas para fazer sons e
músicas, e viver a vida conjuntamente, parece uma espécie de intervenção divina
quando isso acontece. Eu vi isso algumas vezes. É um encaixe difícil de
acontecer.
R: Sem dúvidas. O que você lembra sobre aquele ensaio do Thelonious
Monster?
AK: Eu lembro de ficar hipnotizado com a personalidade e destreza
do John. Ele havia subido no palco com todos aqueles músicos mais velhos e mais
experientes, e ele acabava sendo a força dominante naquele instante. Era cheio
de energia. Ele era jovem, e ninguém havia frustrado seu amor e entusiasmo e
todos esses fatores a respeito de música e sobre se estar num palco. E ele
sabia tocar! Ele aprendia músicas muito rápido e eu gostava dele como pessoa.
Ficamos bem próximos naquela época.
R: Você se lembra da primeira vez que tocou ao vivo junto com John?
AK: Eu lembro de a gente tocar no Holy Gully Stage bem
vividamente. John estava tocando numa Ibanez, não estava?
J: Sim, estava. [indo]
AK: Isso era novo e diferente para nós. E ela tinha... adesivos?
J: Eu tinha duas guitarras. Uma delas tinha mulheres peladas coladas. Talvez na época eu não tivesse ainda a Ibanez, mas lembro de ter essa com os adesivos com as mulheres quando entrei na banda.
AK: Qual era?
J: Era uma Performance, feita no norte de Hollywood.
AK: Agora estou tentando pensar no nosso primeiríssimo show.
J: Phoenix, no Arizona.
AK: É? Tipo... um só?
J: Sim, fizemos este e depois tocamos no John Anson Ford (teatro
localizado em Los Angeles). Esse foi o segundo.
AK: Uau! [ri surpreso] Eu lembro pouco do show em Phoenix, mas
lembro bem desse no John Anson Ford, porque nós decidimos usar uma fantasia.
J: Sim, fantasias de super-herói.
AK: Sim, com exceção do nosso baterista, D.H. Peligro, que usou uma
fantasia de abelha, para seu desgosto. Ele odiou. E nós ficamos pensando “Como
assim? Como ele odiou a fantasia de abelha? Ele está ótimo! É uma puta duma abelha
tocando bateria!”. John Belushi também usava uma fantasia de abelha no Saturday
Night Live, e ele também a detestava muito.
R: Você se lembra do primeiro show com Chad?
AK: Oh, espera aí sim sim sim, foi em Roxy.
J: É isso mesmo?
AK: Bem, foi o primeiro ou o segundo.
J: Você está certo, acho que sim.
AK: E ele estava atrasado, muito atrasado.
R: Oh meu Deus!
AK: Chad, é uma força da natureza a audição dele para entrar na banda foi com John e Flea no Holy Gully e foi tão profundo e inesquecível, já tínhamos tocaram com vários bateristas, eles eram interessantes mas só conseguiam fazer certas coisas... bem, então Denise Zoom a antiga namorada de Billy Zoom tinha sugerido este cara de Detroit Michigan e Chad entrou no estúdio muito despreocupado, não estava nem aí para o que nós achávamos quem nós éramos, e naquele momento nós achávamos que éramos muita coisa, então ele se senta e simplesmente explodiu nossas cabeças com seu poder e seu ataque, Flea normalmente era o que liderava a dança e de repente nós tínhamos esse baterista Chad Smith que comia bateria no café da manhã.
[Risos]
AK: E de repente ele assumiu a dança e todos nós estávamos rindo
histericamente tentando acompanhá-lo.
Chad tinha esse cabelo longos e
nós dissemos: “Raspe sua cabeça e você tem uma vaga na banda” então ele disse,
“Acho que vou deixar passar” então eu disse: "você não entendeu, você conseguiu
a vaga só terá que raspar a cabeça” e ele: “Então está certo obrigado mesmo
assim”.
Naquele momento pensamos “Este
cara é forte o suficiente em sua própria convicção e não iria raspar a cabeça
para entrar para a banda", isso talvez nos tenha feito gostar dele ainda mais,
em seguida, ele estava atrasado para seu primeiro show.
[Risos]
J: Eu fiquei tão bravo com ele.
AK: Por não raspar ou por estar atrasado?
J: Por estar atrasado, porque eu já tinha esse sentimento talvez ele
não tivesse percebido que era uma banda excelente era uma ótima oportunidade e
ele não estava dando valor. E então ele aparece tarde, aí pensei: “O que há de
errado com este cara.”
R: Que engraçado!
AK: É sim, é sim.
J: Me lembro que ele iria continuar... ele tinha se matriculado na
escola de bateria e no primeiro ensaio após sua entrada na banda eu disse:
“você vai sair da escola de música, não é?” e ele: “Na verdade não, meus pais é
quem pagaram por isso vou continuar indo” eu respondi: “você ainda não entendeu
que esta é a banda mais famosa do mundo”
[Risos]
J: “Você pode ganhar a vida fazendo isso, não vai precisar ir a uma escola de música”. Ele era realmente difícil de convencer.
R: Vamos falar sobre sua reflexão de que estava na melhor banda do mundo, mas na realidade neste momento os Chili Peppers já eram a banda mais popular de LA?
AK: Eu diria que éramos mundialmente famosos em Hollywood.
[Risos]
AK: Quero dizer, isso realmente vai depender para quem você pergunta, pois no nosso primeiro show em 1983 nós tocamos uma música porque era a única música que nós tínhamos e depois dessa apresentação, se você tivesse perguntado para mim qual banda era mais popular em LA, eu teria dito que seríamos nós obviamente.
[Risos]
AK: Tínhamos um sentimento inflado ao nosso respeito, mas não era
puramente de um ponto de vista narcisista pois em nosso mundo podíamos sentir
que estávamos fazendo algo especial e dava para sentir isso dentro de nós.
Então, quando John entrou, tivemos verdadeiros altos e baixos, mas nós certamente estávamos no radar de popularidade em LA. Não estávamos John?
J: Sim, eu diria que as outras bandas naquele momento que pareciam ter um semelhante nível de popularidade eram Jane's Addiction e Fishbone pelo menos na nossa cena pois tinha bandas de heavy metal, mas esse era um mundo completamente diferente que muitas vezes tocavam em locais completamente diferentes, no que se trata das coisas que estão enraizadas no punk, foram com certeza essas três bandas que tocavam nos mesmos lugares.
AK: Nós não éramos mundialmente famosos naquele momento.
J: A banda ainda não tinha tocado em todo lugar do mundo, mas acho que a banda poderia encher um clube onde quer que fossemos com certeza.
AK: Poderíamos tocar no Dingwalls no Reino Unido.
Narrador: Obrigado John Frusciante e Anthony Kiedis por falar sobre os primeiros dias da banda certifique-se de conferir o show da próxima semana em que Rick continuará esta conversa com Anthony e John vamos ouvir sobre como John se juntou à banda, bem como as histórias por trás das canções do seu novo álbum Unlimited Love você pode ouvir Unlimited Love e todas as nossas canções favoritas Red Hot Chili Peppers.
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