20 de julho de 2016

Entrevista no ensaio do Grammy - Fevereiro de 2007


John Frusciante é entrevistado no ensaio da 49ª Edição do Grammy,  em fevereiro de 2007, e dá uma lição de humildade quanto o repórter pergunta sobre os lugares onde a música o levou e todo o reconhecimento por isso.



A última vez que falei com você foi durante o vídeo de "Fortune Faded", logo antes dos seus discos solo saírem. Se eu soubesse a genialidade daqueles discos, eu adoraria ter conversado com você antes. 

"Legal."

Eu fiquei impressionado com aqueles discos.

 "Legal, obrigado."  

Vamos falar sobre estar lá no palco. Você faz parecer fácil. O que se passa na sua cabeça quando você está lá em cima, tocando guitarra? 

"Nada. A ideia é desligar sua mente. A música vem pra você quando você não está pensando, e quando você aprende a se render à música. Não é sobre pensar ou planejar alguma coisa, você aprende a desligar sua mente gradualmente através dos seus anos de prática."



E você consegue fazer isso sabendo que tem milhões de pessoas, quando você está em TV internacional, você acha que consegue? 

"Esse é o truque, não pensar pelo ângulo dos outros. Porque você só pode experimentar algo pelo seu próprio ângulo, como uma pessoa individual. Eu não sei o que eu pareço ser para as milhões de pessoas assistindo, então eu não posso me preocupar com isso, eu só tenho que ser eu mesmo."


O que essas nomeações significam pra você a esse ponto, para a banda ter esse tipo de sucesso e prestígio a esse ponto? O que significa pra você e pra banda? 

"Significa que estamos sendo respeitados pela indústria em que trabalhamos. Quero dizer, não é? Não é isso que isso significa?"   

O quanto você está orgulhoso, pessoalmente, desse álbum? Eu sei que você trabalhou muito nesse.

"Eu trabalhei muito nele. É legal ser apreciado, é legal ser recebido pelo mundo e pela indústria da música. Sabe, é legal porque eu dei muito duro nele. Existem várias outras pessoas que também deram muito duro e não tiverem esse prestígio. Eu acho que cada um recebe seu próprio tipo de recompensa. Se fosse alguém que vendesse menos discos e que talvez não fosse tão reconhecido pelo mundo, poderia ter o mesmo prazer por ter dez amigos que amaram o que ele fez. Sabe o que tô falando? É bem relativo. Nesse caso, sim, nós vendemos uma quantia de discos o suficiente para sermos reconhecidos pelo... pelo Grammy's. É o meu lugar no mundo. Fico muito feliz por estar no meu lugar."

Que tipo de conversas... vocês falam sobre o sucesso e o reconhecimento a esse ponto e o que isso significa pra vocês, nessa estrada em que vocês estão? 

"Se nós conversamos sobre isso?"

O que vocês pensam quando... são nomeados ao Grammy's, vendem tantos discos, há um elogio coletivo entre vocês, ou vocês nem falam sobre isso? 

"É só... legal. Nós sempre gostamos de ouvir boas notícias. Eu sou um músico, eu penso em música, eu penso em livros... Eu não me perco muito na forma em que o mundo me enxerga. Não é tão importante. É como eu disse, eu tenho que me preocupar comigo mesmo. Sou uma pessoa com muitos problemas, com muitas coisas para aproveitar na minha vida, com muitas oportunidades para celebrar a alegria de existir. Sabe? Ser reconhecido, como eu disse, pela sociedade e pelo Grammy's é... é uma honra. Eu encaro isso do jeito que é. Não significa que eu atingi o ponto mais alto do meu valor artístico. Eu posso nem ser reconhecido quando eu atingir esse ponto. As duas coisas não são necessariamente relacionadas."

Falando nisso, você está sempre compondo, sempre trabalhando, você está trabalhando em um novo material para o seu trabalho solo, para a banda, isso é algo que está sempre acontecendo? 

"Sim, estou sempre trabalhando. Eu trabalho muito duro. Estou sempre pensando no próximo passo. Estou orgulhoso desse disco, mas, minha mente está sempre focada no que eu estou fazendo agora ou no que estou prestes a fazer. Uma vez que algo está feito e lançado, está fora das minhas mãos, e eu meio que... eu me desprendo dele. É legal ele ser recebido, mas eu sou meio que indiferente à ele, porque, se ele não fosse recebido, eu espero que eu ainda pudesse tão feliz comigo mesmo como pessoa como estou agora. Entende o que eu falo? Então, eu acho legal. Estou feliz com tudo isso, mas eu tenho que admitir que já virei a página."

Falando em próximo passo, o que você está fazendo? Trabalhando num disco solo de novo, trabalhando em alguma coisa com a banda, vocês ainda estão fazendo turnê?

"É, estamos em turnê, e isso já é muito trabalho para a banda se concentrar. Sim, estou fazendo um novo disco solo, e praticando muito guitarra."

O que você acha de dividir esse espaço com pessoas como Ornette Coleman? Eu sei que alguns ídolos da banda estarão aqui. É incrível.

"Eu tenho muito respeito por muitas das pessoas que estão aqui. Eu gosto muito do Justin Timberlake, eu gosto muito da Beyoncé, mas, Ornette Coleman, eu amo Ornette Coleman, ele sempre foi um dos meus favoritos, então estou muito excitado em estar aqui. Steve Vai está aqui, eu fiquei muito empolgado em ver as pessoas que estarão aqui. Muitas pessoas - Joan Baez -, muitas pessoas que eu respeito estarão aqui. Estou empolgado com isso. Vai ser legal. Eu escuto... meu tipo de música favorito é Aphex, AFX. É meu tipo de música favorito. Eu acho que ele é a melhor coisa que surgiu há muito tempo."

E quando você for tocar no Grammy's, você dá um gás novo na sua performance, você usa mais suas habilidades de showman, esse tipo de coisa? Num palco normal, você faz o show, mas quando é o Grammy's, você se apresenta de uma forma especial?

"Eu acho que geralmente nessas situações, você é mais auto-consciente, sabe. Espero que não seja assim, espero que eu consiga me deixar levar do mesmo jeito que nos nossos shows ao vivo. Mas essa música - Snow ((Hey Oh)) - não é... essa música não tem muito espaço para improvisações ou algo assim. Então só vamos subir lá e tocar a música. Não é nada demais. Pensar muito não ajuda, e exigir demais que seja "incrível" também não ajuda. Você só tem que se deixar levar e se render para as energias que estiverem no ar. E é isso que vai sair na música. Eu não tenho controle sobre isso. A música sai quando quer sair, e não sai quando não quer sair. E essa é a beleza em estar numa banda que toca ao vivo, contrário de alguém que apenas toca acompanhando as fitas e coisas assim. Nós estamos nos arriscando sempre que tocamos. Realmente tem a chance de ser algo muito bom ou muito ruim, todas as vezes que tocamos. É legal sermos consistentes o suficiente para que pessoas como os do Grammy's confiem em nós para subir no palco e tomar essa chance. Mas, não existem tantas maneiras diferentes dessa música sair. Só vamos subir e tocá-la. Não vai ser uma grande jam ou algo assim."

Por último, eles precisam que você volte, o que significaria para a banda ganhar esses Grammy's? Para o próximo passo?

"Nós ficaríamos felizes com isso, não iria significar nada para o próximo passo. Nosso próximo passo será qualquer música que tivermos vontade de fazer, quando fizermos. Eu acho que algumas pessoas ganham o prêmio, vendem muitos discos e eles decidem que "eu tenho que repetir isso, eu tenho que fazer a mesma coisa", e isso não é para nós. Você tem que seguir sua visão artística, onde quer que ela te leve. É ótimo ganhar Grammy's, te faz se sentir encorajado pelo mundo ao seu redor. É isso que me faria sentir, que o mundo... Quer dizer, eu já me sinto assim. Se não ganhassemos nenhum Grammy's, eu também sentiria que o mundo está me encorajando, nós fomos nomeados ao Grammy's. Isso é legal, sabe. Se ganharmos, será ótimo. Se não ganharmos, também será ótimo."

Tradução e Legenda: Pedro Tavares

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