5 de março de 2017

A FORÇA QUE NOS CRIOU SE EXPRESSA SOZINHA ATRAVÉS DA NOSSA EXISTÊNCIA - CAPÍTULO 1: A PRIMEIRA EXPRESSÃO

A FORÇA QUE NOS CRIOU SE EXPRESSA SOZINHA ATRAVÉS DA NOSSA EXISTÊNCIA

CAPITULO 1: A PRIMEIRA EXPRESSÃO


"Não existe muito de uma pessoa em mim. Nunca houve. Eu me imagino como um tipo de não-pessoa. Olhando pra minha vida, eu quase sempre estive em casa com a arte e a criatividade. Da perspectiva de outra pessoa pode parecer egoísmo ou que eu esteja tentando escapar do mundo real, mas pra mim, o mundo da arte e da música é o mundo real e o resto é um lugar que eu não entendo de verdade."

NOTA

A FORÇA QUE NOS CRIOU SE EXPRESSA SOZINHA ATRAVÉS DA NOSSA EXISTÊNCIA é baseado em entrevistas, fatos noticiados e citações de John Frusciante e pessoas próximas a ele. O texto base foi criado por Cidimar Lima no Universo Frusciante - com a colaboração de Dragão Frusciante e Felipe Freitas. Citado isso, esse texto passou por revisões, adições e modificações realizadas por mim - contando com a ajuda de Pedro Tavares. As fontes das citações foram removidas para a melhor atenção e compreensão de texto - uma rápida busca em nosso site irá expor a fonte dos trechos. Em momento algum há interesses além dos quais informar os admiradores de John Frusciante, com fatos públicos, sobre a sua história.
- Raphael Romanelli Andrade de Oliveira

Família Frusciante

A família Frusciante habitava a região de Nápoles, na Itália. Mais precisamente na pequena cidade de Benevento, na região da Campânia, localizada na Itália meridional.

Com a Primeira Guerra Mundial destruindo a Europa aos poucos, muitas famílias começaram a migrar para outros continentes, como forma de se proteger e ter paz. Generoso Frusciante (avô de John) não pensava diferente. Mas ele pensava diferente de um jeito diferente. Contrariando o que consideravam o correto, o italiano deixou mulher e filhos, e foi sozinho para os EUA com apenas uma mala para fugir da guerra, e ao mesmo tempo, construir uma nova família e vencer na vida. Chegando nos EUA, Generoso pegou o caminho para Nova York, onde as coisas realmente aconteciam no país naquela época. Lá teve uma nova família e um filho batizado de John Frusciante, o pai de John. 

O pai de John, inspirado pelo amor de sua família pela música, tocava piano e estudava na Juilliard School Of Music, umas das maiores escolas de música do mundo, localizada em Manhattan. Mas com o passar dos anos, John foi se interessando pelo direito e acabou deixando a escola para seguir seu novo interesse profissional. Isso acabaria por fazer ele se tornar um dos mais respeitados juízes da Flórida no futuro.

John conheceu Gail, uma mulher que cantava em corais religiosos e que tinha uma bela voz. Os dois se casaram e foram morar no bairro do Queens, ainda em Nova York. Lá nasceu o filho do casal, John Anthony Frusciante, no dia 05 Março de 1970, mesmo dia da música clássica.

"A música sempre significou mais pra mim do que para as outras pessoas. Para os outros, era algo a se usar no braço, mas ela me completava de uma maneira que não pode ser realmente explicada. Eu escutava músicas dentro da minha cabeça mesmo sem ainda saber tocar um instrumento. Eu escutava canções que eu nunca tinha escutado antes e elas eram muito boas, e eu tinha uns oito anos, andando pela rua escutando essa música maravilhosa na minha cabeça. Eu pensava, "Uau, se eu soubesse cantar o que eu escuto na minha cabeça ou como tocar num instrumento, eu poderia fazer esses sons. Eu poderia fazer músicas muito boas!". Eu comecei a andar de skate e pensei em ser skatista. Eu lembro de estar na escola escrevendo que eu queria ser um ator. Mas todas as vezes que eu fazia isso, uma voz vinha na minha cabeça dizendo algo tipo, "Bem, você adoraria fazer essas coisas, mas você não vai fazê-las - você vai ser um rockstar." 
Minha primeira memória de escutar uma música e realmente senti-la com meus próprios sentimentos e não os da minha mãe ou do meu pai foi na casa de um vizinho - as luzes estavam apagadas na sala de estar dele e era um disco de Cat Stevens que estava tocando. Eu só tinha quatro anos, mas eu pude sentir que aquela música se conectava comigo, minha alma e a minha vida de uma maneira muito direta e profunda. Eu sempre tinha escutado como se fosse algo soando fora de mim - dessa vez era como se a música estivesse tocando na minha cabeça, dentro de mim."
Infância e Adolescência

"Eu realmente não acho que eu viva no mundo real que muitas pessoas vivem. Eu entrei na indústria da música aos 18 anos, e eu nunca tive que trabalhar a não ser colhendo ervas para o meu avô, varrendo as pedras da garagem, alimentando os cavalos e coisas assim. Esse foi o único emprego que eu tive na minha vida antes de estar no Red Hot Chili Peppers. O que seria uma fuga para outras pessoas é simplesmente o meu habitat natural."
John Frusciante era uma criança muito esperta e criativa, a música sempre despertava nele boas vibrações e sensações. 
"Eu me lembro como soava quando eu costumava ouvir KISS quando eu era um garoto e soava como vindo do ar e eu não tinha idéia de como tudo era feito e o que eram as relações tonais e rítmicas. Tudo soava como vindo do ar e era uma boa sensação."
Sua família lhe deu seu primeiro violão quando ele tinha seis anos, então John, influenciado por ouvir seu avô tocando músicas folks italianas, começou a aprender violão tendo aula. 
"Quando eu era criança, parecia claro que se eu aprendesse a tocar um instrumento, eu seria capaz de tocar a música que eu ouvia na minha cabeça, música que eu nunca tinha ouvido no mundo real. Meus pais não me dariam uma guitarra, no entanto. Tentei começar a tocar quando tinha 7 anos, mas eu achava o violão chato – não era o som que eu queria ouvir." 
Por ser um violão, o pequeno John se sentia limitado em tocar os clássicos tocados por seus heróis em guitarras elétricas.
"Bem, a primeira guitarra que eu tive era uma que eu não dava a minima. Era um violão que não conseguia fazer nada do que queria, eu queria tocar como Ace Frehley, e aquilo era só um violão comum. Eu tinha sete anos, então eu não toquei por uns cinco anos. [...] Eu lembro da época em que eu comecei a tocar, eu tinha sete anos, alguém me ensinou o começo de 'Stairway to Heaven' mas, não me ensinaram o solo que era o que eu queria aprender, e foi por isso que eu desisti de tocar guitarra na época." 
"No dia que eu comecei a tocar guitarra eu escrevi trinta canções punk uma atrás da outra - a música já estava lá dentro. Eu só precisava aprender a tocar um instrumento. O punk não era intimidante como Jimmy Page ou quem fosse. Qualquer um podia fazer. Assim que eu comecei a escutar esse tipo de música, eu peguei um violão - eu nem me importava se não era uma guitarra. No começo eu queria tocar guitarra - mas meus pais não quiseram me comprar uma. Eles não achavam que eu iria gostar. Eu precisava tanto fazer aquilo que eu nem me importava em ser forçado a tocar punk rock num violão."
Logo depois seus pais mudaram para Tucson, no Arizona, e depois para Broward County, na Flórida. O pai de John entrou para o juizado local e Gail continuava pensando em se tornar uma grande cantora, mas seu marido queria uma dona de casa vivendo com ele e não uma cantora de sucesso. Esses e outros motivos fizeram John e Gail se separarem um ano depois de terem ido para a Flórida em 1977.
"Meu pai tinha o álbum Fragile na prateleira quando eu era criança, então eu estava ouvindo Yes quando eu tinha tipo uns 7 anos, então ouvi Steve Howe e gostei dele. E sim, eu amo ele tocando no primeiro álbum solo do Lou Reed. Mas por alguma razão, a progressão de acordes em que é baseada a música “Ride Into the Sun” é muito significante pra mim. Tem alguma coisa na tonalidade daquela música que eu identifiquei como um excelente negócio."
Como não havia mais clima para os dois morarem na mesma casa, Gail resolve se mudar para a Califórnia e levar o pequeno Frusciante junto com ela. O pai de John continuou na Flórida investindo em sua carreira judicial. Depois disso, John casou-se novamente e teve mais 3 filhos: Michael, Anne e Lilly.

John Frusciante junto ao seu pai e seus três meio-irmãos em 2009.

Gail e Eric Berkley.
Gail, recém chegada na Califórnia, vai morar em Santa Monica, perto de Los Angeles. Lá conhece Lawrence Berkley, um lutador de artes marciais, amante de filosofia e ouvinte de música clássica e R&B dos anos 50. Gail casa-se com Lawrence em 1979, o casal vai morar no bairro de Vista Mar e assim tiveram um filho, Erik. O novo padrasto de John definitivamente o colocou no mundo da música.
"Eu descobri o punk quando eu tinha uns nove anos. Eu gostava de Devo, dos Ramones, de B-52's, e depois eu consegui um álbum do The Germs em 79 quando foi lançado. Daí em diante, eu gradualmente comecei a focar num punk mais radical, das primeiras bandas de skatecore da costa oeste. Até aí, Devo era a minha banda favorita, mas isso mudou para The Germs, X, Black Flag, Circle Jerks, Wasted Youth, Adolescents e mais e mais. Eu escutava o programa de rádio de Rodney [Bingenheimer] todos os sábados e domingos na KROQ-FM - eu gravava o programa e sentava na cama escutando tudo de novo depois que acabava. Às vezes o Rodney tocava até demos em fita cassete! Isso inspirava mais jovens a acharem que eles também podiam fazer aquilo. O hardcore da costa oeste era música feita por adolescentes e para adolescentes - esse era o sentido daquilo.
Antes de eu me mudar para Mar Vista, nós morávamos em Santa Monica e eu ia para o Marina Skate Park todo fim de semana. Eu tinha cabelo curto e eu o deixava espetado. Eu escutava as pessoas mais velhas falando alguma coisa sobre essa banda ou aquela. Dos nove até os onze, eu andava de skate. Era assim que eu descobria músicas novas. Se eu pudesse fazer o que quisesse, eu teria ficado ali o dia todo, todos os dias, logo depois da escola, mas minha mãe não deixava. Eu andava até à loja Mrs. Gooch em Mar Vista porque eu tinha amigos mais velhos que trabalhavam lá, de vinte e três anos ou que seja. Eu conheci meu primeiro amigo punk lá. Quando eu comecei a gostar de punk, alguns amigos não quiseram mais ser meus amigos. Definitivamente tinham algumas crianças que não gostavam de mim. Eu não podia ir para shows quando eu gostava de punk - minha mãe não deixava. Ficar pulando dentro da rodinha de porrada e enlouquecer e dançar - parecia ser algo muito bonito para mim, mas não para ela. Esse cara chamado Craig que trabalhava na Mrs. Gooch e seu melhor amigo tinha um irmão mais novo, da minha idade, que também gostava de punk. Nossa primeira conversa foi, "Então, cara, eu ouvi dizer que você gosta de [The Black] Flag?" e eu respondi, "Completamente."
Eu enchi alguns jarros de moedas para poder comprar discos de vinil - na época você conseguia comprá-los por $3,99. Eu estava nessa loja de discos em Santa Monica comprando um disco do Ramones quando eu conheci essa garota, provavelmente com uns dezoito anos, e ela me falou que conhecia Darby Crash e que ela gostava de The Doors - e que Darby e Jim Morrison eram grandes poetas. Ela falou que eu devia comprar um disco do The Doors, então na outra vez eu comprei essa compilação muito boa, um álbum de maiores sucessos, eu acho. Punk agora parecia algo como Darby e Jim Morrison com Iggy e Bowie no meio. Eu também tinha livros em casa. Meu pai gostava muito de filosofia, um assunto que estava sempre sendo discutido em casa, então, felizmente, eu tinha ele ou alguns amigos com quem eu podia falar sobre isso. Minhas novas descobertas - Eno, Byrne, tinham uma inclinação intelectual a tudo que eles faziam e assim, estudar a natureza da mente tornou-se cada vez mais importante."
John o considerava uma boa pessoa para viver enquanto estava crescendo. John disse certa vez: "Ele realmente me apoiou e me fez sentir bem em ser um artista."
"Meu padrasto, Lawrence, era um cara muito bom de se ter por perto enquanto eu estava crescendo. Na escola, a cada dia havia novas reclamações ao meu respeito - com meus colegas, com os professores. Com meus colegas, era porque eu me divertia com coisas que eles não gostavam e que nunca tinham ouvido falar, como King Crimson. Com os professores, era quando eles não me deixavam fazer uma dissertação sobre o livro O Anti-Cristo, de Nietzsche. Lawrence e eu sempre discutíamos essas coisas quando eu chegava em casa, e ele sempre me fazia sentir como se eu estivesse certo. Eu tinha nele alguém que acreditava em mim. Isso significa muito para você quando você é uma criança. Ter um adulto que realmente acredita em você e vê algo em você.
Eu me lembro de um professor Amed Hughes, da minha escola secundária. Ele foi responsável por segurar a classe de uma suspensão, e as crianças o amavam ou odiavam. Ele era muito engraçado, mas também muito rígido. Uma vez que você o conhece, você também começa a perceber o quão engraçado era o seu rigor. Quando eu estava na oitava série, ele mandou a garota mais bonita da classe ir me buscar em outra classe, para ir conversar com ele - normalmente quando ele fazia isso, você sabia que estava em apuros. Quando cheguei a sua sala, ele disse: "John, eu quero que você se sente e escreva uma carta explicando o que você pensa sobre mim como professor e assine-a, assim quando você for famoso, eu posso mostrar para meus alunos". Aquilo me fez sentir bem. Eu sempre soube que eu estava indo para uma vida onde eu seria um músico, mas ninguém acreditou em mim. Talvez outras pessoas acreditaram, uma vez que começaram a me ouvir, mas não naquele momento, com certeza. O Sr. Hughes estava dizendo aquilo baseado em nada, mas minha atitude para com a música, ele viu nos meus olhos. Eu realmente apreciei aquilo".
John ia visitar seu pai nos feriados e férias escolares, mas ele amava mesmo era a Califórnia. Como os outros jovens do local, John tornou-se intimamente envolvido com a cena punk rock de Los Angeles.
"Eu amo esse estilo de guitarra rítmica [como em "Under The Bridge"], e eu sempre o associei a Jimi Hendrix. Eu aprendi a tocar desse jeito escutando canções do Hendrix como "Little Wing", que eu escutei pela primeira vez quando era criança. 
Eu lembro de quando eu era muito novo e ir a um tipo de festa numa reserva indígena na Flórida, e eu vi uma banda indígena nativo americana tocando "Little Wing". Naquele ponto, eu já tinha pensado muito naquela canção e tinha decidido que ninguém conseguiria aprender a tocá-la. Estava na categoria de "impossível ser tocada!". Mas aquele guitarrista estava tocando-a, e eu não pude acreditar nos meus olhos. Me parecia que ele estava fazendo o impossível. 
Me levou um bom tempo para conseguir tocar nesse estilo, porque existem tantos elementos acontecendo ao mesmo tempo: você tem acordes, mas algumas partes "soladas" acontecendo ao mesmo tempo por cima dos acordes. E você também tem as notas sobressalentes que soam naturalmente pelo fato do dedo estar geralmente encostando em algumas cordas ao mesmo tempo. Para o ouvido de alguém que está nos níveis iniciantes, isso soa como duas ou três guitarras. Por isso "Little Wing" me confundiu tanto: eu pensei, como isso pode ser só uma guitarra? 
Eu descobri mais tarde que Hendrix tinha aprendido sobre esse estilo de guitarra rítmica escutando Curtis Mayfield. Curtis fez coisas bem inovadoras em seus discos solo e em seu trabalho com o The Impressions, que eu sei que influenciaram muito Hendrix."
Como qualquer garoto de 9 anos, ele gostava de esportes e jogava baseball. Ele nunca imaginaria que o fato de jogar baseball o faria escrever sua primeira letra. John, por ser pequeno e magro, era sempre zoado pelos outros garotos mais velhos e maiores do time, o que normalmente o fazia se sentir acuado. Com essa situação acontecendo várias vezes, John começou a ir a locais distantes do treino, e ficava sozinho escrevendo letras de como aqueles garotos deveriam morrer. Então a primeira letra de John foi batizada de "Fuck You To José" ("Vá se foder, José"). 
"Desde que eu tinha nove anos. A primeira vez que eu fiquei muito bravo com um garoto, foi na última vez que eu fiz algum esporte, baseball. E eu achava aquele garoto um grande idiota. E num campo afastado eu escrevi como ele tinha que morrer. Fui para casa e enchi 45 minutos de música na fita. E desde então, eu tenho escrito músicas, especialmente nos últimos tempos. E gasto um caderno em duas semanas. E eu escrevo tudo: roteiros de filmes, idéias... Só o que está se passando pela minha cabeça: Matemáticas, todas essas coisas."
John era apaixonado pelo The Germs, chegando a comprar várias cópias do mesmo álbum, GI (1979). Aos 10 anos, ele já tinha aprendido sozinho a tocar a maioria das músicas do álbum.
"Pat tem um estilo de guitarra rítmica incrível. A maioria dos guitarristas do punk baseiam seu ritmo em toques para baixo. Pat tem uma interessante combinação de toques para cima e para baixo. Eu não consigo descrevê-lo. Mas as cores e os sentimentos no que ele fez foram significativos para mim como uma criança. Elas falaram com o meu cérebro."
A música foi um meio de John interagir com e tentar entender o resto do mundo.
"Quando criança, com uns 11 anos, eu comecei a achar que estava enlouquecendo. Eu comecei a achar que eu seria alguém que acabaria assassinando uma pessoa sem ter a habilidade de impedir a mim mesmo. Minhas interações com seres humanos eram tão difíceis que estava começando a me parecer que eu estava perdendo o controle da minha mente. E foi aí que eu comecei a tocar guitarra. Eu passei a ser um cara que gostava estritamente de punk rock para alguém que amava a música dos anos 60 e todos aqueles ideais. Então eu não conseguia mais me imaginar matando alguém ou nada desse tipo. 
Era isso que estava acontecendo dentro de mim. Era isso que o mundo estava criando dentro de mim sem aquele recurso de criação. Eu consigo liberar muita coisa ao fazer música que eu acho que a única outra maneira de liberar seria fazendo coisas que são destrutivas para outras pessoas ou destrutivas para mim. Definitivamente existe uma parte de mim que precisa ser deixada sozinha e escondida do resto do mundo."
Ainda aos 12 anos, ele ganhou sua primeira guitarra, dada pelo seu padrasto Lawrence, que apesar de gostar de música clássica, entendia o sentido do punk rock e motivava John a se tornar um artista. Então os heróis de John se tornaram Greg Ginn, do Black Flag, Pat Smear do The Germs e Joe Strummer e Mick Jones do The Clash. O que mais deixou John louco foi a forma de tocar dos punk rockers, principalmente de Pat Smear, que misturava palhetadas pra baixo e pra cima de um jeito totalmente novo. Aquilo o deixou maravilhado.
"Eventualmente, minha família concordou em me comprar uma Strat, porque eu tinha aprendido o disco inteiro do Sex Pistols no violão, para mostrar a eles que eu iria me dedicar. Então eu ganhei uma Strat, sabe. Não, eu nunca dei nome a ela, mas essa Strat de 1982 foi a primeira guitarra em que eu realmente depositei meu amor." 
"Eu consegui arrumar uma guitarra com 12 anos. Para um garoto em Santa Monica, Led Zeppelin e Kiss eram as grandes coisas. Eu ouvia Jimmy Page e queria saber como as mãos de uma pessoa poderiam fazer aqueles sons. Guitarra para mim sempre foi sobre o som do instrumento, não sobre a física dele. A física é apenas uma coisa entre a sua imaginação e o som que sai."
Com a guitarra em mãos e sem um estudo formal, John se dedicou a aprender tocar o catálogo musical de Jimi Hendrix - que é sua base principal no instrumento. John costumava ir em lojas de instrumentos musicais para demonstrar sua técnica em tocar as músicas do que é considerado melhor guitarrista do mundo.
"Eu costumava ir em lojas de música quando estava na sétima série, e todo mundo ficava olhando aquele garoto incrível desse tamanho que podia tocar todas as musicas do Hendrix. [...] Sua música é mais importante do que a música de qualquer outra pessoa. E eu acho que...eu acho que Jimi Hendrix...eu acho que a vida dele, o estilo de vida dele e as mulheres na vida dele influenciaram em sua música mais do que as de outros músicos. Por causa de como ele falava livremente de seus planos e quando você ouve Jimi Hendrix tocando é a pura expressão de ver uma pessoa em cima de um palco e completamente sem separação entre ele e sua guitarra. Eles são completamente um só, porquê ele põe, em cada notinha, toda a sua mente e cada parte do seu corpo no seu estilo de tocar."
John estava estudando na Mar Vista School e a música começou a tomar conta de grande parte de sua rotina. Ele passava horas estudando e indo a shows. Ele também começou a evoluir musicalmente, cada vez mais influenciado por guitarristas como Jeff Beck, Jimmy Page, Eric Clapton e Jimi Hendrix. Quando dominava a escala de blues, seguiu ladeira acima com o rock progressivo de Yes, King Crimson e Genesis cuja as obras ele iria estudar por horas. Outros guitarristas que merecem destaque na formação musical de John são Ricky Wilson do B-52s, Mathew Ashman do Bow Wow Wow, Bernard Summer do Joy Division, Keith Levene do PIL e Daniel Ash do Bauhaus.
 "Os estilos que me levaram à guitarra foram o new wave, de bandas como Devo e B-52's, e o punk, como The Germs e Black Flag. Esses estilos não vieram do blues, foram criados a partir de uma energia que havia no ar em meados dos anos 70. Quero capturar o que há de melhor desse feeling, pois creio que um estilo de guitarra, vindo do punk e do new wave que são tão brilhantes quanto o blues, possa ser criado. É o que estou tentando fazer hoje em dia. Passo muito tempo com minha guitarra tocando junto com trechos de sintetizadores do Kraftwerk, por exemplo, com lances que não se originaram no blues e que buscam novos significados para as notas. Para muitos guitarristas, a b3 é sempre a de blues b3, e eu quero fazer a new wave b3."
"Bem, eu cresci me dedicando à guitarra, então estudei todos os guitarristas rápidos quando eu era um garoto. E acho que cresci com uma concepção errada (o que é perfeitamente normal para uma pessoa que toca qualquer instrumento, especialmente a guitarra) em que o ato físico de tocar tinha uma importância sobre o instrumento muito maior do que deveria ter. É uma coisa complexa, fazer música, e eu sinto que quando os guitarristas rápidos se tornam realmente bons nisso, muitas vezes perdem de vista o fato de que as notas mais simples e lentas, justamente por cair em um lugar estranho, podem criar vários tipos de espaços com os outros instrumentos. As pessoas tem os seus truques que fazem (eles tem suas pequenas técnicas e riffs) e acabam se esquecendo de formatar a música em algo que retrata um desenho com energia, um desenho dentro do som que desperta todos esses sentimentos dentro de você. Com guitarristas rápidos a coisa gira mais em torno de uma demonstração de algo. 
Então, você sabe, eu perdi o interesse nisso quando era um adolescente, e me tornei fascinado por pessoas como o guitarrista do B-52s (Ricky Wilson). Eu comecei a achar mais sentido em pessoas que tocavam de maneira mais simples, porque essas pessoas pareciam ter uma melhor compreensão da complexidade disso, sabe? Muitas das pessoas que são muito boas tecnicamente não dão esse mesmo tipo de atenção para cada nota. Pessoas se prendem em padrões estando em alta velocidade, quando deveriam realmente ter um pensamento musical limpo - é o tipo de pensamento musical que faz uma melodia funcionar - nosso cérebro simplesmente não consegue pensar tão rápido assim. Chega certo ponto que você se torna automático. Quando se resume a isso, quando ouço alguém tocando muito rápido, na minha mente isso não soa nem um pouco complicado. O que fazem pessoas como Mathew Ashman do Bow Wow Wow ou Bernard Summer do Joy Division soa complexo, porque cada nota te leva para uma direção diferente. 
Eu gosto de todos os tipos de guitarristas, mas são pessoas como as que eu acabei de mencionar que realmente me maravilham, e isso por causa das suas ideias, por causa do que eles pensam. É porque eles abordaram o instrumento de forma diferente de qualquer outra pessoa. São pessoas como Keith Levene do PIL e Daniel Ash do Bauhaus que exploram as possibilidades do que você pode fazer com a guitarra, considerando que outras pessoas estão apenas explorando o que você pode fazer fisicamente com a guitarra, e isso não tem mais o menor interesse pra mim. Eu tinha interesse nisso quando eu tinha 15 anos (risos), mas agora não mais. Isso não me interessa desde que eu tinha 21 anos." 
Com Jimi Hendrix sendo sua base principal, o alicerce de John com certeza foi Frank Zappa. Grande parte do estudo dele foi focado na música de Zappa.
"Meus gostos se encaminharam para sons mais artísticos - Eno, David Byrne, Talking Heads, Laurie Anderson, e King Crimson. Rock progressivo e rock artístico. Eu gostava de Bowie e de Yes, e eu escutava muito Frank Zappa, o dia todo, todo dia, estudando a música dele e tocando acompanhando os seus discos. Quando eu tinha quinze ou dezesseis anos eu sabia uns bons noventa minutos de repertório de canções bem complicadas do Zappa. A maioria sendo dos seus trabalhos solos dos anos 70. Algo tipo "The Black Page". Eu sabia tocar as músicas dele muito bem na guitarra. Era uma maneira de eu ganhar confiança, porque eu achava que se eu conseguia tocar isso, eu poderia fazer o que eu quisesse."
"Quando eu era adolescente, me dediquei a aprender as músicas de Frank Zappa. Eu pensava nele como o ser humano perfeito, ele poderia fazer e dizer tudo, mas nada estaria errado. Eu sabia que queria ser o melhor guitarrista que eu poderia ser. E eu gostava de aprender as músicas complexas que ele havia escrito. Eu imaginava ele em pé na minha frente com seu brilho. Eu gostaria de tocar ao nível técnico que eu imaginava que ele exigia de seus músicos. Mas algo em mim me acalmou quando eu tinha quinze ou dezesseis anos, foi quando eu treinava mais do que em qualquer outro momento. Se você estiver com uma certa quantidade de dor ou confuso quando você está crescendo, é bom ter alguém que sempre te faz rir ou sorrir. Quando você não tem alguém assim, você é deixado com a sua própria tristeza ou dor. Eu sempre tive pessoas assim."
As tendências psicodélicas e experimentais de Syd Barrett e Captain Beefheart também despertaram bastante o interesse do pequeno guitarrista.
"Quando eu tinha 15 anos eu fiz uma viagem de 4 dias para New Jersey e fiquei com um amigo fanático em Zappa e Beefheart, Joey Psychotic. Ele era obcessivo em Barrett. Nós escutávamos Syd por 90% do tempo que eu estava ali. Syd é um dos compositores mais originais que eu já ouvi. Eu comprei tudo que tinha para comprar dele." 
John já tinha um gosto musical amplo, ouvia tanto musicas que tocavam na rádio, como Donna Summer, Elton John e Cat Stevens, quanto músicas de bandas undergrounds de Los Angeles. Ele gravava todas essas musicas da rádio e ficava ouvindo o mais baixo possível em seu quarto no meio da noite.
"Antes de me tornar tão bom tocando guitarra, eu realmente me interesava muito tocar 6, 8 ou 10 horas por dia, não havia muitas coisas que eu tinha que fazer. Portanto o tempo gasto principalmente em jogos de vídeo-game (risos), mais ou menos com 12 ou 13 anos de idade. Quando eu tinha 14 anos, ganhei um gravador cassete de quatro canais, tornando melhor as coisas que eu ouvia. Outros interesses: Eu via muitos filmes, muitas vezes eu via "Blue Velvet", "Eraserhead" ("che cleaning"), filmes de Woody Allen, John Waters. O que mais gosto ... "Clockwork Orange". Eu também leio livros de filosofia de Nietzsche, Christian Emerte, Schopenhauer, mas de outra forma era apenas uma guitarra..."
Red Hot Chili Peppers com Alan Thicke no programa Thicke of the Night.
Aos 14 anos, John vê pela primeira vez os Red Hot Chili Peppers no programa Thicke of the Night tocando a música "Get Up And Jump" - incrivelmente essa foi a primeira vez que a banda se apresentou na televisão. Já aos 16 anos, ele assiste ao seu primeiro show dos Red Hot Chili Peppers, no Variety Arts Center em Los Angeles, mudando a vida dele para sempre.
"Eu vi o Red Hot Chili Peppers pela primeira vez no programa do Alan Thicke [Thicke of the Night], de onde eu tinha um vídeo deles. Meu amigo Gerald me fez uma coletânea de vídeos com muito The Residents, Sun Ra e outras coisas estranhas. O primeiro vídeo que eu vi não tinha nem o Hillel, mas depois o Gerald me fez uma coletânea em fita cassete do Captain Beefheart e mais algumas outras coisas que eu nunca tinha ouvido, como "Yertle the Turtle" do Freaky Styley. Eu gostei muito da guitarra nessa música.

A primeira vez que eu vi o Red Hot Chili Peppers ao vivo foi no Variety Arts Center, e foi realmente incrível. Eles tinham um som muito diferente - foi antes do Uplift Mofo sair. Eles tocavam esse som bem pesado. Eles ficavam bem psicodélicos usando pintura corporal luminosa e tudo mais. Hillel fazia uns feedbacks incríveis e coisas assim. Foi a experiência mais mágica que eu já tive na plateia de um show. Com a luz negra, parecia que a banda e o público eram uma coisa só. Depois disso eu comecei a vê-los o máximo que eu podia, todas as vezes que eles tocavam em LA ou por perto. E eu sempre senti como se eu fosse parte daquilo. O mesmo tipo de coisa de quando eu ouvi Cat Stevens aos quatro anos - a música estava dentro de mim, e não era como se eu me sentisse particularmente conectado com o público, mas simplesmente sentia como se tudo ali fosse uma coisa só. Não parecia que a música estava sendo tocada para uma plateia - era como se todo mundo que estivesse lá fosse a música."

Eram caras loucos que tocavam apenas com meias nos paus e que faziam uma mistura insana de funk, punk, rock psicodélico, entre outros gêneros e artistas que ele era totalmente apaixonado. Não teve como o Red Hot Chili Peppers não se tornar a banda preferida de John. Ele gastava todo seu dinheiro indo a shows pagando sua entrada e a entrada de seus amigos, fazendo-os se tornarem fãs do Red Hot Chili Peppers também.  

John via em Hillel Slovak, guitarrista da banda, o jeito perfeito de tocar guitarra, ele o idolatrava. E indo a todos os shows da banda, ele tinha que conhecer Hillel e o resto da banda, o que aconteceu pouco tempo depois quando a banda estava fazendo um show no Perkins Palace em Pasadena. Anthony Kiedis estava estacionando o carro para tocar no clube quando John e Bill (amigo de John) o viram e ficaram conversando com ele por um tempo. 

John já conhecia praticamente todas partes de guitarra e baixo dos três primeiros álbuns dos Chili Peppers, The Red Hot Chili Peppers de 1984, Freaky Styley de 1985 e The Uplift Mofo Party Plan de 1987.

Escolha Musical

Na escola, John era um fracasso, fazendo com que sua mãe o transferisse pra uma escola diferente das outras. John se matriculou na Musician’s Institute of Technology, uma famosa escola de música em Los Angeles e também arrumou um emprego, dando independência pra ele ir morar com seu amigo Bill. Foi nessa época que John praticava guitarra 15 horas por dia. Dormia nas aulas matinais e gastava o resto do dia estudando sozinho. Então podemos dizer que estudar nessa escola de música não ajudou muito John no seu desenvolvimento como músico.

"Quando eu tinha 14 anos tomei a decisão de que eu estava indo encontrar e comprar todos os álbuns de Frank Zappa. Em 1984, havia um problema desde que todos os seus discos dos anos 60 e 70 estavam fora de catálogo. Eu queria pegar um ônibus e rodar por toda Los Angeles e Valley pra conseguir esses álbuns, cada um dos quais tinha um efeito enorme e poderoso sobre mim. Cada um, a medida que eu ia encontrando, parecia com o mais perfeito microcosmo de sentimento para mim. Tudo sobre cada um, o cheiro, a capa, o encarte e especialmente a música foram pura magia à minha mente. Eu também logo comecei a comprar regularmente seus produtos 818 PUMPKIN, comprando os materiais sempre que eu tinha dinheiro. Isto incluiu a "Old Masters box" (que continha remasters dos seus 5 primeiros discos), o filme "Baby Snakes" e um vídeo chamado "The Dub Room Special". Vi estes dois vídeos cada vez mais, sempre mostrando eles para quem quisesse assistir. Na época eu tinha 15 anos, tinha todos os discos e estava gastando cerca de 70% da minha vida musical estudando e aprendendo a sua música. Para mim, me esforçando parar chegar a perfeição, ele ser conhecido por exigir muito de seus músicos foi uma forte motivação e força por trás da enorme quantidade de exercício que eu fazia na época. Eu me ensinei a ler música, comparando as notas escritas em "The Frank Zappa Guitar Book" para as gravações dessas músicas. Poli-ritmos naquele livro (brilhantemente transcritos por Steve Vai), bem como as suas composições instrumentais, abriram minha mente de forma muito grande. Acredito que isso tudo me instigou a abrir minha cabeça, fazendo eu ter infinitas possibilidades de criação com toda forma de música."
Aos 16 anos, John larga a escola com a permissão de seus pais e pela realização de um teste de proficiência.
"Ele detestava ir para a escola. Música era o que ele queria fazer e foi o que ele fez."  - John Frusciante Pai
O juiz, que já presidiu a corte familiar e doméstica, sabia que o melhor a se fazer era não pressionar o filho. 
"Eu não sou alguém que vai dizer para o meu filho que ele deveria fazer isso ou aquilo." - John Frusciante Pai
Matriculado na Musician’s Institute of Technology, e embora posteriormente ele não tenha se formado em 1987, ele estava longe de ser um fracasso.
"Quando eu tinha uns quinze ou dezesseis anos, eu sabia que a música que eu estava compondo era boa. Eu simplesmente sabia que eu iria fazer aquilo para viver. Mesmo que meu pai não acreditasse em mim tanto quanto eu, ele enxergou que eu acreditava em mim mesmo quando eu lhe falei que eu tinha certeza que iria ser músico. Eu pedi pra fazer um teste de proficiência para que eu não tivesse que ir para o ensino médio. Ele concordou, e quando eu passei, eu quis sair de casa.
Meu pai concordou em pagar meu aluguel e me dar dinheiro para alimentação todo mês mas só se eu tomasse aulas de música na UCLA, ou SMC, ou Valley College ou sei lá. Eu fui pra cada uma dessas escolas por alguns dias, mas eu não estava interessado em como eles estavam tentando moldar meu cérebro. Meu amigo se inscreveu no Musicians Institute e eu percebi que lá você podia só passar o cartão e eles não faziam lista de presença nas aulas de manhã. Contanto que você passasse o cartão, você recebia a presença. Eu supus que eu já sabia muito dos assuntos e que eu podia me virar indo só para algumas aulas de vez em quando e fazendo a prova trimestral. Eu consegui passar no primeiro teste assim. Eu poderia ter passado no segundo - mas na época eu já estava começando a me dar mal. Eu entrei no nível mais alto que a escola oferecia, e provavelmente teria sido mais fácil se eu tivesse fingido ser horrível quando fiz a audição. Assim eu teria ficado em matérias mais fáceis, com provas mais fáceis. Mas na verdade, eu me exibi e me destaquei. No segundo ou terceiro teste eu não consegui passar. Eu estava indo para poucas aulas só pra ver o que eles estavam fazendo, mas após alguns meses eu nem estava mais indo. Essa escola estava ajudando a minha música a sair um pouco mais para o mundo, e me ajudando a estar perto das pessoas. O principal motivo de eu ir aquela escola era pra fazer jams. Salas de ensaio grátis, as baterias já estavam lá, e você podia trabalhar numa canção, mas eles também tinham uma aula de performance onde você tocava para os alunos.
Robert Hayes foi o primeiro músico com quem eu realmente me conectei, o primeiro que estava no mesmo nível que eu na minha idade. Nós costumávamos tocar músicas do Hendrix, dos Chili Peppers e do Fishbone. Robert e eu fazíamos muitas jams, ambos gostávamos de jazz, qualquer coisa com uma boa musicalidade, mas também gostávamos de um hardcore mais pesado. Éramos considerados estranhos no MI, não só por gostar de punk - não havia mais ninguém ali que gostasse ao menos de Jimi Hendrix. Os jovens achavam que Hendrix era muito simples - que era coisa velha. Robert e eu éramos os únicos estudantes que pensavam da maneira como pensávamos. Eu admito que gostávamos de escutar alguém tocando rápido, mas não as custas da alma, do espírito emocional daquilo - a essência de Hendrix, nós pensávamos, mas isso estava muito distante do pensamento dos nossos colegas. As crianças eram treinadas como robôs mecânicos sem cérebro para julgar uma música pela velocidade que alguém a tocava, por quantas técnicas eles faziam ao mesmo tempo.
Quando eu escuto guitarristas rápidos, o que eles fazem em termos de ritmo e acento não é muito complexo em relação à estrutura que a natureza oferece. Os possíveis lugares em que as notas podem ir. E quando eles tocam rápido, eles costumam tocar notas que são próximas uma das outras. Você escuta a maioria dos guitarristas rápidos dos anos 80, e as notas são próximas e não há muito pensamento em onde colocá-las - é só encaixar o máximo de notas no menor espaço possível, sendo na maioria das vezes usadas as escalas e vários exercícios. O que eles fazem não tem valor musical em termos de opções rítmicas e tonais disponíveis. Aprender teoria e a ler bem música são muito importantes no MI. Eles tem aulas feitas especificamente para ensinar a tocar rápido, mas eles também tem aulas de harmonia, se você não se importasse em aprender e fazer símbolos musicais e termos teóricos. Se era isso que você queria se concentrar em fazer - então era um ótimo lugar para se estar. Eu tinha passado tanto tempo praticando no meu quarto, que eu estava mais interessado em caminhar pela Hollywood Boulevard cheirando cocaína, saindo com as pessoas.
Ei, eu era um desses jovens da Hollywood Boulevard que ficavam se olhando nas janelas, levando a guitarra por aí fora do case. Esse era eu! Eu saía andando pelas ruas praticando guitarra o tempo todo. Eu passava muito pouco tempo ao redor de pessoas. Eu tinha apenas alguns amigos que eu gostava e que não pareciam sentir inveja de mim da maneira que as crianças sentiam quando eu era jovem. Eu não ligava se eu iria ser um rockstar rico e famoso, ou se eu seria um músico de estúdio anônimo. Tudo que eu sabia era que eu era bom na guitarra. Eu não iria conseguir um emprego normal, eu não iria procurar trabalho em lugar nenhum. Eu tinha confiança que iria me dar bem fazendo música."
Em algum momento nesse período, John e Robert Hayes formam a banda IKE com mais um amigo na bateria, mas por algum motivo a banda não foi pra frente e são raros os relatos sobre ela. Robert Hayes, o baixista da banda é o primeiro músico que John disse que realmente se conectou, faleceu em um acidente de carro no Alabama em 19 de abril de 1991. Em "Untitled #13" do Usually Just A T-Shirt, John disse que os gritos são como se ele estivesse com Hayes quando aconteceu esse acidente - ele também foi lembrado por John em 1995 como o seu "baixista favorito".

IKE: John Frusciante e seus parceiros de banda em 1987.

"Eu gosto de ver a música através do prisma da cor, e para mim saber teoria, é como nomear as cores. Uma vez que você conseguir capturá-las você pode ver todas as outras maneiras pelas quais você pode quebrar as regras. Eu acho que isso ajuda muito e eu estou contente, porque aprendi muitas destas coisas quando eu era adolescente."
Naquele mesmo ano, Steve Vai, até então um talentoso e desconhecido guitarrista que fazia parte da banda de Frank Zappa, inclusive que John também era fã, assim como Randy Rhoads e Eddie Van Halen por suas técnicas, deixou o músico e foi investir somente em sua carreira solo e entrar na banda Whitesnake. Zappa decidiu então fazer testes para ter um novo guitarrista. John ficou sabendo e imediatamente se inscreveu para concorrer. Mas John desistiu de concorrer ao descobrir que o músico não aceitava que os membros de sua banda usassem drogas durante a turnê.
"Eu percebi que eu queria ser uma estrela do rock, usar drogas e conseguir garotas, eu não seria capaz de fazer isso se eu estivesse na banda do Zappa."
Nesse período, John começou a escrever e gravar suas próprias canções como "A Fall Thru The Ground", entre outras. Aos 17 anos, John, já fumante viciado, recebe a notícia que o guitarrista dos Peppers, Hillel Slovak, teve uma overdose de heroína e havia falecido. Isso o abalou profundamente.
"Nada se compara a perder Hillel no seu auge. Sabe, nós éramos jovens e estávamos vivendo loucamente, e perdemos o coração e a alma do Red Hot Chili Peppers justamente na época que ele estava se preparando para mudar o mundo com sua música. 
Hillel Slovak era um amigo e um guitarrista engraçado, lindo, estiloso, e ele nos deixou algo. Uma banda com amor e desejo para continuar, e tudo que fizermos, ele sempre estará conosco. Ele está aqui agora. Muitas coisas bonitas nascem de desastres, e o que nasceu disso, foi a entrada de John Frusciante."
- Anthony Kiedis
CONTINUA...
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Texto base: Cidimar Lima, originalmente postado no Universo Frusciante.
Revisão, adição e modificação de texto: Raphael Romanelli Andrade de Oliveira
Agradecimentos: Pedro Tavares, Dragão Frusciante e Felipe Freitas

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