TRICKFINGER: DEIXANDO-SE LEVAR
Matt McDermott ouve como o guitarrista do Red Hot Chili Peppers encontrou uma nova vida nas máquinas
Algo estranho acontece quando
John Frusciante é mencionado na internet. Centenas de alertas do Google
aparecem e editores de fanpages ficam em alerta vermelho com qualquer notícia
dos movimentos de seu ídolo. Frusciante construiu este culto voraz como artista
solo e membro da banda de rock essencialmente californiano, os Red Hot Chili Peppers.
Após um período obscuro e drogado (dolorosamente documentado em detalhes no
documentário Stuff, que foi dirigido
por Johnny Depp em 1993), que o viu deixar o Chili Peppers, ficar sóbrio e,
eventualmente, voltar, Frusciante deixou a banda pela segunda vez, com a
integridade artística improvavelmente intacta.
Frusciante lançou-se em máquinas clássicas
de dance music. Depois de formar um projeto com Venetian Snares chamado Speed
Dealer Moms e liberar um fluxo constante de trabalhos solos e colaborativos,
ele anunciou sua maior virada à esquerda até hoje: um álbum de dance music
analógica pela Acid Test, uma marca inebriante anteriormente dedicada a tiozões
do techno como Tin Man e Donato Dozzy.
Chamado de Trickfinger, o projeto nunca foi concebido para ver a luz do dia. “A
versão original das canções eram parte de um presente de Natal dado para amigos
próximos de John em 2008”, explica Oliver Bristow, que é dono da Acid Test.
Isso desmente o virtuosismo incomum da coisa, que o veterano produtor de Los
Angeles John Tejada coloca desta forma: “O que eu acho que muitas pessoas não percebem
é que Trickfinger foi puramente feito
nas máquinas Roland sem computadores. São múltiplas 303s e 606s, todas
sincronizadas do que o acid clássico era, mas nenhum daqueles álbuns
tiveram tamanho arranjo desse nível, com várias camadas. É uma conquista bem
impressionante”. Em uma sala ensolarada não muito longe da praia em Los
Angeles, rodeado por discos, sintetizadores e cigarros, Frusciante explicou a
virada improvável de sua carreira.
Gostei muito da nota que você escreveu com o álbum. Achei realmente
interessante em termos de metodologia.
"Passei três anos fazendo música
antes de decidir começar a lançar música novamente, e a primeira coisa que
saiu, eu meio que dei uma explicação sobre a mudança que tinha acontecido naqueles
anos. [A Absurd Recordings] apenas pegou um trecho do texto e reimprimiu como o
encarte para o álbum."
Você deixou sua antiga banda e se interessou por diferentes modos
de comunicação musical. Acho que você também disse que, naquela época, a ideia de começar do zero era muito atraente para você.
"Acho que por um tempo eu tive um tipo
de doença na minha cabeça que é o padrão da música pop/rock, em que, como um
músico, você não se sente como...Você nunca pode realmente ser um engenheiro.
Você nunca pode fazer um disco com um ótimo som sem empregar uma equipe de
profissionais e sem estar em um grande estúdio. Um estúdio em casa nunca pode soar
tão bom como um grande estúdio caro.
Eu tinha todos esses equívocos
sobre a relação entre musicalidade e engenharia. Acho que em todos os tipos de
áreas eu estava vendo que a bateria estava sendo levada adiante mais por
programadores do que por bateristas. Eu estava vendo novos tipos de melodias
que você só pensaria se estivesse programando alguma coisa, em vez de tocar algo
com os dedos. E a engenharia...Acabei vendo que pessoas como Autechre e
Squarepusher estão levando a engenharia a um nível de expressão artístico que
simplesmente não existe para os profissionais da indústria. Eu trabalhei com
grandes engenheiros que eram engenheiros profissionais, mas não artistas. Eram
apenas caras treinados para não cometerem erros, e “não estragar tudo”, era
basicamente a filosofia deles.
Você não pode ser um artista com
esse tipo de configuração. Eu vi o que aconteceu na música eletrônica como
realmente um progresso e um passo para a frente, da mesma maneira que sinto que
a musicalidade fez nos anos 60 e final dos anos 70.
Eventualmente percebi que eu
estava ouvindo música na minha cabeça que não tinha ideia de como criar. Eu
ouvia na minha cabeça riffs lentos estilo Black Sabbath que soariam muito bem
com breakbeats bem rápidos sobre eles, e eu nunca tinha ouvido ninguém combinar
super devagar com super rápido dessa forma. Eu ouvia na minha cabeça como
aquilo iria funcionar, mas sabia que iria durar um longo tempo até eu ser capaz
de fazer algo assim. Eu achava que já tinha alcançado uma espécie de pico com o
que eu tinha feito com o rock tradicional, e queria aprender a começar a pensar
como eles [os produtores eletrônicos] e realmente fazer o que estava na minha
cabeça. Estes princípios musicais que eu estava ouvindo na minha cabeça.
Acid foi um começo para aprender
a começar a pensar em números ao invés de movimentos físicos. Números já era um
grande jeito que eu pensava em termos de guitarra, mas sim, usar números para o
ritmo era uma maneira diferente de pensar para mim. O acid foi o início para eu
aprender a pensar de uma maneira completamente diferente, mas foi cerca de três
anos após isso que eu fui ser capaz de fazer os breakbeats rápidos com a coisa
estilo Black Sabbath. Parece que isso aconteceu uns bons dois anos antes de eu
começar a usar samples, na verdade. Senti que eu precisava de alguns anos de
treinamento em programação antes de saltar para mandar breakbeats."
"PERDI INTERESSE EM COMPOSIÇÃO
TRADICIONAL E FIQUEI ANIMADO SOBRE ENCONTRAR NOVOS MÉTODOS DE CRIAR MÚSICA"
A última faixa do Trickfinger
tem um sample vocal sutil que soa como uma antiga faixa de rave de Armand Van
Helden.
"Aquilo eram passos de bebê. Em
certo ponto simplesmente me forcei. Eu tive um sonho que eu estava ouvindo uma
música que era completamente feita por samples de bandas de rock, uma banda de
rock após a outra, mas foi totalmente abstrato.
Me expressar completamente sem
máquinas e com apenas samples foi um objetivo meu por um tempo. No rock, ao
tocar um instrumento tradicional, sua mente diz para você fazer algo e você
comanda as mãos para fazer. Mas com samples e as velhas máquinas da Roland,
você pode realmente não ter ideia para onde está indo e não ter nenhuma ideia
pré-concebida. Eu prefiro isso, mas inicialmente é bastante assustador. Eu nem
sequer me preocupo com o resultado, só faço o trabalho e tenho desenvolvido
suficientemente um processo em que eu posso confiar nisso. Como as coisas vão
acabar não é uma grande preocupação para mim."
Vindo de uma banda muito popular, há um nível de querer colocar o ego
fora da equação completamente para entregar o controle e torná-lo o menor
possível?
"O objetivo é aprender, não é fazer
parte de uma cena, impressionar as pessoas ou qualquer coisa assim. Me educar é
uma coisa que sou viciado em desde os 12 anos de idade e sempre vi a
aprendizagem como sua própria recompensa. Algumas coisas ocorreram ao longo de
muitos anos, a forma como a minha mente funciona. Passei toda a minha vida
memorizando músicas de discos e CDs. Nos últimos anos, toda a minha vida tem
sido concentrada no departamento de aprendizagem da música eletrônica, em fazer
essas coisas de acid e fazer esse material todo de samples. Estou gradualmente adquirindo
todas essas armas em meu arsenal. Hoje é a coisa mais natural do mundo
trabalhar com samples, enquanto que antes que era uma ideia assustadora para
mim, e gradualmente aprender como combinar diferentes estilos de música que eu
nunca ouvi combinados antes e abrir minha mente para aprender música a partir
deste ângulo, gradualmente de samples, aprendi música dessa maneira porque é correlativo
a isso. Com samples, você começa a analisar os microrritmos e notas
entre-música que são difíceis de entender de outra forma.
A irregularidade que acaba
criando um groove tem sido um ponto de estudo para mim, além de coisas como
aceleração e desaceleração de tempos – coisas que você realmente não pode fazer
como um músico normal. A maioria de tudo que eu fiz no ano passado, eu começava
com samples de música clássica. Eu pegava cinco minutos de música clássica, picotava em 150 pequenas fatias e fazia música disso e, em seguida, aprendia o
que estava lá com meus sintetizadores ou guitarra para fazer uma linha de baixo.
Não estou fazendo minha própria linha de baixo, estou fazendo uma com o que eu programei
de Chopin. Mas é a minha progressão de acordes, não a dele [Chopin].
Estou usando a minha porção
compositora quando estou escrevendo música. É essencialmente o que eu faço
quando pego minha guitarra e toco junto com alguma música. Não estou pensando
em novas partes, estou aprendendo delas. Sou capaz de escrever coisas que um
cara nunca iria escrever porque seu cérebro não iria memorizá-las. É uma espécie
de engenharia reversa de escrever música. Eu gradualmente venho vendo o
trabalho que faço como alguém que se senta e toca guitarra com discos como
sendo o outro lado do que eu faço quando crio música, a ideia de que meu cérebro
iria um dia trabalhar dessa forma era um sonho mágico para mim que eu lentamente
transformei em realidade."
É uma verdadeira música experimental, porque, até certo ponto, você não
está fazendo um juízo de valor sobre se você vai conseguir um resultado bom ou
um resultado ruim, você tem fé no processo.
"Eu acho que o talento é algo que as
pessoas nascem com ele, e, se você trabalhar em auto-educação o tempo todo, isso
dá ao seu talento a capacidade de florescer. E se você não praticar, estudar, aprender,
mudar e crescer, você pode ser cheio de talento, mas se você está apenas correndo
atrás disso: "Eu quero que as pessoas gostem disso ou espero que eu possa me
pendurar no fãs que eu já tenho", ou seja o que for, acho que isso sufoca o
talento. Essa é uma das coisas tristes que vi acontecendo ao meu redor no rock,
pessoas sendo tão preocupadas apenas em se promover, agradar seu público e
competir com outras bandas populares. É tipo: “Caralho! Quando é que você vai
ter tempo para ficar melhor no que faz e cultivar os seus talentos?”. Mesmo no underground quando alguém se torna
popular em uma determinada cena, o público se torna a sua autoridade de alguma
coisa, você faz uma espécie de pré-edição de você mesmo.
Eu fiz isso quando estava na
minha banda, e esse era o meu trabalho. Até certo ponto, você obviamente quer
fazer música que você gosta, mas você faz isso dentro dos limites do que o seu
público está pronto para aceitar. Chegou um momento que eu me cansei de fazer
isso, e eu tinha feito isso por um tempo longo o suficiente para ter feito uma
vida para mim. E assim, nos últimos sete anos, tenho aproveitado isso. Eu nunca
fiz música para fazer uma platéia feliz, eu não faço música para tentar agradar
as pessoas. Eu faço música com o propósito expresso de ter certeza que eu estou
sempre aprendendo algo, e estou sempre tentando coisas que eu não tentei antes.
Seria muito triste para mim se, de repente, eu falasse: “O pessoal do acid
house gosta de mim agora, então vou fazer só acid house”. Eu nunca poderia
fazer isso, tenho que estar sempre avançando e mudando. Não acho que a nossa
indústria tem realmente um lugar para as pessoas que pensam dessa maneira, por
isso foi tudo uma questão de abandonar qualquer noção de ser um músico popular.
O desejo deles é, na verdade, o oposto do que um músico que é dedicado à música
quer, porque eles querem ouvir algo familiar, e um músico dedicado à música quer
fazer algo que não foi feito antes.
Isso é uma das coisas que eu
admiro em Aphex Twin, Venetian Snares e Squarepusher. Em comparação com músicos
de rock, parece que a música é o guia deles, ao contrário de se ter uma base de
fãs e tentar se fazer o mais popular possível. Eu queria ter essa mesma
liberdade intelectual para mim."
Conte-me sobre como você montou seu setup.
"Chegou a um ponto que havia
tantas máquinas a minha volta que os meus gatos não podiam chegar até mim, eles
ficavam miando atrás delas, então tive que começar a deixar um pouco de espaço
onde eles poderiam passar. O álbum foi gravado em um gravador de CD, sem
computador. A 909 foi a mestra, todas as outras máquinas foram escravas
dela.
Tive o meu estúdio de rock em
casa configurado mais como um estúdio de rock tradicional, onde a mesa ficava
em uma sala e os instrumentos em outra. Comecei a tirar materiais do estúdio de
rock e integrá-los em meu estúdio de eletrônica. Pensei em deixar tudo separado,
mas, eventualmente, percebi que eu não queria fazer aquilo nunca mais – eu não
queria contratar um engenheiro de novo. Terminei o álbum que eu estava fazendo,
mas meu estúdio eletrônico agora ocupa metade das salas. Hoje é tudo
configurado bem diferente. Toco minha bateria no computador, sintetizadores polifônicos
no computador, eu nem sei se usei algum sintetizador polifônico no material de
acid. Certas coisas são as mesmas – eu ainda programo a [Elektron] Monomachine,
ou a Machinedrum, ou a [Roland TR-] 606. Eu tenho uma [desta última] onde cada saída
foi convertida em um trig-out. Eu programo certas drum machines, mas a maior
parte do tempo eu tenho uma parede de drum machines atrás de mim que eu
programo a partir do computador sozinho. Então, hoje o meu setup é bem
organizado, cada música [no álbum] foi um setup diferente, que seria demolido
depois de cada música."
Algumas das programações de bateria
e preenchimentos de “Sain” tem um nível quase IDM (Intelligence Dance Music) de
complexidade.
"A música em “Sain” me levou umas
duas semanas para programar a bateria. O resto da música eu fiz em um dia. Fiz
toda aquela bateria na [Roland] R-8. Quando escuto esse acid, acho que ela faz
parte disso, tive que trabalhar muito duro para fazer ela ser parte dele. Foi
uma luta para mim os primeiros três anos fazendo música eletrônica, por isso
que eu não estava liberando músicas. Eu gosto de lutar, e queria desafiar meu
cérebro dessa forma. Mas eu tinha esperança de que um dia fazer música seria
tão fácil para mim como era para Aaron Funk [Venetian Snares] e outros caras. No
nosso trabalho juntos, ele era bem mais rápido do que eu."
No que você gasta, digamos, duas semanas agora?
"Não há realmente nada que eu
gaste duas semanas agora [risos]. Naquela época, poderia ser qualquer coisa:
uma parte com a Monomachine, uma parte com a Machinedrum ou com a R-8. Agora
acho que consigo obter resultados muito mais rapidamente. É bom ser capaz de
fazer música rapidamente."
Você e Aaron Funk possuem 40 ou 50 horas de material. Como você acabou
ligando-se a ele?
"Uma coisa boa foi fazer amizades
com pessoas que cresceram em torno de techno, industrial e jungle. Quando eu
fiz esse material de acid, meus amigos ainda eram pessoas do rock. Foi um
calmante ter amigos que não pensavam dessa forma e que cresceram indo para
raves; isso se estabeleceu em mim de uma determinada maneira, fazer música
em que eles não se preocupam sobre liberá-las ou se faz sentido para as
pessoas. Fizemos tanta música que falamos: “Eu não sei como essa porra soaria
para alguém além de nós”. É bom ter um colaborador assim. É raro. Com a maioria
das pessoas, a segunda coisa fica boa, eles começam dizendo o que as outras pessoas
vão achar daquilo, e isso é uma verdadeira distração para mim, então isso tem
sido bom.
Estou acostumado a colaborações
com pessoas que tenho um propósito em comum, vocês estão fazendo um disco
juntos, você aparece no lugar que você deve aparecer no momento certo. Eu sempre
fico até mais tarde. Ter alguém que queira trabalhar por 14 horas seguidas, 15
horas seguidas – você não encontra profissionais que queiram ficar no estúdio
por tanto tempo. Mas com Aaron, o nosso horário de sono fica para mais tarde e
mais tarde. Ficamos acordados até 8 da manhã. Morávamos juntos por duas semanas
cada vez que fazíamos uma sessão, então a música acaba sendo uma consequência de
realmente viver junto em vez de viver e fazer música sendo duas coisas
distintas. Isso tem sido muito renovador para mim. Especialmente quando é o seu
próprio álbum, você se sente como se estivesse impondo-se sobre as pessoas.
Você está mantendo-as longe de suas vidas ou do limite que elas querem chegar
ou algo assim.
Hoje em dia e nesta era as coisas
para mim são assim: se as pessoas realmente adoram fazer música juntas, elas
deveriam também realmente adorar estarem perto umas das outras como pessoas, e a
música deve vir da amizade. A amizade não deve surgir da colaboração musical.
Para mim, isso parece andar para trás, mas era isso que acontecia na minha
antiga banda – nós não nos sentávamos, relaxávamos, ouvíamos discos ou qualquer
coisa assim."
O aspecto comunitário da performance ao vivo algo que você está
interessado?
"Já estive em shows do Autechre onde
as pessoas estavam dançando, mas também estive em shows onde elas estavam
sentadas no chão, com a cabeça em suas mãos. Eu tenho amigos aqui na cidade que
tocam em raves e coisas assim, mas nunca fui atraído por fazer isso. Acho que é
porque eu toquei muito ao vivo por um longo tempo, parece muito estranho para
mim subir no palco e fazer isso. Aaron e eu tentamos fazer isso algumas vezes,
e foi como se o universo fosse contra isso acontecendo. Tocar ao vivo é algo
que eu não tenho nenhum interesse. Definitivamente cheguei ao meu limite sobre
isso. Performances para mim são repugnantes. Eu aprecio a ideia de estar no
palco e as pessoas responderem com seus corpos. Eu gosto de ser uma parte disso
a partir da perspectiva público.
O ATP que Autechre se apresentou,
onde Aphex Twin foi a atração principal da coisa toda – havia a sensação de que cada pessoa naquele
lugar tinha usado êxtase, você sentia uma pessoa ligada a outra no local. Ele
foi o mestre no palco; nós éramos todos os seus súditos. Eu tive essa sensação
em clubes de jungle e em raves, mas eu realmente prefiro estar do outro lado da
coisa."
Você parece atraído por tipos de gênios solitários que estão
funcionando em seu próprio espaço. Ao mesmo tempo, a colaboração parece muito
importante para você.
"Quando comecei a fazer esse acid,
achei que eu iria parar de fazer música com as pessoas. Não achei que eu iria
acabar com uma amizade como a que eu fiz com Aaron – apenas pensei que tinha
terminado de trabalhar com pessoas. Eu não sabia que poderia haver colaborações
onde vocês dois podem responder à suas imaginações e serem confiantes o
suficiente nelas para não terem que falar: “O que você acha? Isso é
bom o suficiente?”.
Acho que, em geral, as maiores
idéias, as mais importantes que já ocorreram na humanidade, vieram de indivíduos,
pessoas que não estavam preocupadas com o que os outros pensavam, mas tiveram
algum tipo de orientação interna de sua imaginação, que fez o objetivo de fazer
sua vontade, independentemente do perigo que aquilo poderia colocá-los, ou
independentemente de as pessoas poderem querer matá-los ou discordar deles.
Acho que é muito importante para as pessoas confiar em sua orientação interior
e não deixar que o mundo exterior seja o seu guia. Para mim, deixar o mundo
exterior ser seu guia é como ser um escravo, e acho que quem realmente temos
que agradecer por qualquer progresso já feito na humanidade são líderes, pessoas
que eram intransigentes, que passavam tempo cultivando suas imaginações, que não
tinham medo de ficar sozinho e que não tinham medo de ser diferente.
Quando fiz essa transição para
fazer música eletrônica, eu estava lendo bastante Aleister Crowley e li todos
aqueles livros de Thelema. É tudo sobre fazer a sua vontade. E vi pessoas como
Aaron, Autechre e Richard D. James – musicalmente parecia que a vida deles e
filosofia eram totalmente correlativas ao que eu estava lendo nos livros de
Thelema. As pessoas ao meu redor achavam que eu estava fazendo a minha vontade,
porque as pessoas estavam gritando e eu estava tocando minha guitarra, mas eu
sabia que eu não estava.
Eu vi essa habilidade em música eletrônica para, como uma única pessoa, criar uma peça inteira de música. Esses são os tipos de líderes que tínhamos quando tivemos compositores clássicos. Voltando quando compositores eram, na verdade, os líderes de música, havia um homem que teria 150 pessoas para fazer o que o que eles dissessem. Agora isso seria possível sem ter alguém para fazer o que eles dissessem, porque eu não gosto de dizer às pessoas o que fazer, e definitivamente não gosto de pessoas me dizendo o que fazer. Dizer às pessoas o que fazer parece ser a pior coisa que você poderia fazer para si mesmo, mas com as máquinas, você não perde nada por comandá-las, você não tem desapontamentos como um compositor pode ter com os músicos não tocando do jeito que ele ouve a música em sua cabeça.
Em geral, na sociedade, está
ficando cada vez mais difícil para as pessoas descobrir como ser líder, e eu
vejo a música eletrônica como esta área onde você está livre para ser mestre e
líder e não tem esses tipos de complicações que surgem quando são seres humanos
reais que você tem para liderar."
Fonte: Resident Advisor - 05 de maio de 2015
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