26 de março de 2017

Trickfinger: Deixando-se levar - Maio de 2015



TRICKFINGER: DEIXANDO-SE LEVAR

Matt McDermott ouve como o guitarrista do Red Hot Chili Peppers encontrou uma nova vida nas máquinas

Algo estranho acontece quando John Frusciante é mencionado na internet. Centenas de alertas do Google aparecem e editores de fanpages ficam em alerta vermelho com qualquer notícia dos movimentos de seu ídolo. Frusciante construiu este culto voraz como artista solo e membro da banda de rock essencialmente californiano, os Red Hot Chili Peppers. Após um período obscuro e drogado (dolorosamente documentado em detalhes no documentário Stuff, que foi dirigido por Johnny Depp em 1993), que o viu deixar o Chili Peppers, ficar sóbrio e, eventualmente, voltar, Frusciante deixou a banda pela segunda vez, com a integridade artística improvavelmente intacta.

Frusciante lançou-se em máquinas clássicas de dance music. Depois de formar um projeto com Venetian Snares chamado Speed Dealer Moms e liberar um fluxo constante de trabalhos solos e colaborativos, ele anunciou sua maior virada à esquerda até hoje: um álbum de dance music analógica pela Acid Test, uma marca inebriante anteriormente dedicada a tiozões do techno como Tin Man e Donato Dozzy.

Chamado de Trickfinger, o projeto nunca foi concebido para ver a luz do dia. “A versão original das canções eram parte de um presente de Natal dado para amigos próximos de John em 2008”, explica Oliver Bristow, que é dono da Acid Test. Isso desmente o virtuosismo incomum da coisa, que o veterano produtor de Los Angeles John Tejada coloca desta forma: “O que eu acho que muitas pessoas não percebem é que Trickfinger foi puramente feito nas máquinas Roland sem computadores. São múltiplas 303s e 606s, todas sincronizadas do que o acid clássico era, mas nenhum daqueles álbuns tiveram tamanho arranjo desse nível, com várias camadas. É uma conquista bem impressionante”. Em uma sala ensolarada não muito longe da praia em Los Angeles, rodeado por discos, sintetizadores e cigarros, Frusciante explicou a virada improvável de sua carreira.

Gostei muito da nota que você escreveu com o álbum. Achei realmente interessante em termos de metodologia.
"Passei três anos fazendo música antes de decidir começar a lançar música novamente, e a primeira coisa que saiu, eu meio que dei uma explicação sobre a mudança que tinha acontecido naqueles anos. [A Absurd Recordings] apenas pegou um trecho do texto e reimprimiu como o encarte para o álbum."

Você deixou sua antiga banda e se interessou por diferentes modos de comunicação musical. Acho que você também disse que, naquela época, a ideia de começar do zero era muito atraente para você.
"Acho que por um tempo eu tive um tipo de doença na minha cabeça que é o padrão da música pop/rock, em que, como um músico, você não se sente como...Você nunca pode realmente ser um engenheiro. Você nunca pode fazer um disco com um ótimo som sem empregar uma equipe de profissionais e sem estar em um grande estúdio. Um estúdio em casa nunca pode soar tão bom como um grande estúdio caro.

Eu tinha todos esses equívocos sobre a relação entre musicalidade e engenharia. Acho que em todos os tipos de áreas eu estava vendo que a bateria estava sendo levada adiante mais por programadores do que por bateristas. Eu estava vendo novos tipos de melodias que você só pensaria se estivesse programando alguma coisa, em vez de tocar algo com os dedos. E a engenharia...Acabei vendo que pessoas como Autechre e Squarepusher estão levando a engenharia a um nível de expressão artístico que simplesmente não existe para os profissionais da indústria. Eu trabalhei com grandes engenheiros que eram engenheiros profissionais, mas não artistas. Eram apenas caras treinados para não cometerem erros, e “não estragar tudo”, era basicamente a filosofia deles.

Você não pode ser um artista com esse tipo de configuração. Eu vi o que aconteceu na música eletrônica como realmente um progresso e um passo para a frente, da mesma maneira que sinto que a musicalidade fez nos anos 60 e final dos anos 70.

Eventualmente percebi que eu estava ouvindo música na minha cabeça que não tinha ideia de como criar. Eu ouvia na minha cabeça riffs lentos estilo Black Sabbath que soariam muito bem com breakbeats bem rápidos sobre eles, e eu nunca tinha ouvido ninguém combinar super devagar com super rápido dessa forma. Eu ouvia na minha cabeça como aquilo iria funcionar, mas sabia que iria durar um longo tempo até eu ser capaz de fazer algo assim. Eu achava que já tinha alcançado uma espécie de pico com o que eu tinha feito com o rock tradicional, e queria aprender a começar a pensar como eles [os produtores eletrônicos] e realmente fazer o que estava na minha cabeça. Estes princípios musicais que eu estava ouvindo na minha cabeça.

Acid foi um começo para aprender a começar a pensar em números ao invés de movimentos físicos. Números já era um grande jeito que eu pensava em termos de guitarra, mas sim, usar números para o ritmo era uma maneira diferente de pensar para mim. O acid foi o início para eu aprender a pensar de uma maneira completamente diferente, mas foi cerca de três anos após isso que eu fui ser capaz de fazer os breakbeats rápidos com a coisa estilo Black Sabbath. Parece que isso aconteceu uns bons dois anos antes de eu começar a usar samples, na verdade. Senti que eu precisava de alguns anos de treinamento em programação antes de saltar para mandar breakbeats."


"PERDI INTERESSE EM COMPOSIÇÃO TRADICIONAL E FIQUEI ANIMADO SOBRE ENCONTRAR NOVOS MÉTODOS DE CRIAR MÚSICA"


A última faixa do Trickfinger tem um sample vocal sutil que soa como uma antiga faixa de rave de Armand Van Helden.
"Aquilo eram passos de bebê. Em certo ponto simplesmente me forcei. Eu tive um sonho que eu estava ouvindo uma música que era completamente feita por samples de bandas de rock, uma banda de rock após a outra, mas foi totalmente abstrato.

Me expressar completamente sem máquinas e com apenas samples foi um objetivo meu por um tempo. No rock, ao tocar um instrumento tradicional, sua mente diz para você fazer algo e você comanda as mãos para fazer. Mas com samples e as velhas máquinas da Roland, você pode realmente não ter ideia para onde está indo e não ter nenhuma ideia pré-concebida. Eu prefiro isso, mas inicialmente é bastante assustador. Eu nem sequer me preocupo com o resultado, só faço o trabalho e tenho desenvolvido suficientemente um processo em que eu posso confiar nisso. Como as coisas vão acabar não é uma grande preocupação para mim."

Vindo de uma banda muito popular, há um nível de querer colocar o ego fora da equação completamente para entregar o controle e torná-lo o menor possível?
"O objetivo é aprender, não é fazer parte de uma cena, impressionar as pessoas ou qualquer coisa assim. Me educar é uma coisa que sou viciado em desde os 12 anos de idade e sempre vi a aprendizagem como sua própria recompensa. Algumas coisas ocorreram ao longo de muitos anos, a forma como a minha mente funciona. Passei toda a minha vida memorizando músicas de discos e CDs. Nos últimos anos, toda a minha vida tem sido concentrada no departamento de aprendizagem da música eletrônica, em fazer essas coisas de acid e fazer esse material todo de samples. Estou gradualmente adquirindo todas essas armas em meu arsenal. Hoje é a coisa mais natural do mundo trabalhar com samples, enquanto que antes que era uma ideia assustadora para mim, e gradualmente aprender como combinar diferentes estilos de música que eu nunca ouvi combinados antes e abrir minha mente para aprender música a partir deste ângulo, gradualmente de samples, aprendi música dessa maneira porque é correlativo a isso. Com samples, você começa a analisar os microrritmos e notas entre-música que são difíceis de entender de outra forma.

A irregularidade que acaba criando um groove tem sido um ponto de estudo para mim, além de coisas como aceleração e desaceleração de tempos – coisas que você realmente não pode fazer como um músico normal. A maioria de tudo que eu fiz no ano passado, eu começava com samples de música clássica. Eu pegava cinco minutos de música clássica, picotava em 150 pequenas fatias e fazia música disso e, em seguida, aprendia o que estava lá com meus sintetizadores ou guitarra para fazer uma linha de baixo. Não estou fazendo minha própria linha de baixo, estou fazendo uma com o que eu programei de Chopin. Mas é a minha progressão de acordes, não a dele [Chopin].

Estou usando a minha porção compositora quando estou escrevendo música. É essencialmente o que eu faço quando pego minha guitarra e toco junto com alguma música. Não estou pensando em novas partes, estou aprendendo delas. Sou capaz de escrever coisas que um cara nunca iria escrever porque seu cérebro não iria memorizá-las. É uma espécie de engenharia reversa de escrever música. Eu gradualmente venho vendo o trabalho que faço como alguém que se senta e toca guitarra com discos como sendo o outro lado do que eu faço quando crio música, a ideia de que meu cérebro iria um dia trabalhar dessa forma era um sonho mágico para mim que eu lentamente transformei em realidade."


É uma verdadeira música experimental, porque, até certo ponto, você não está fazendo um juízo de valor sobre se você vai conseguir um resultado bom ou um resultado ruim, você tem fé no processo.
"Eu acho que o talento é algo que as pessoas nascem com ele, e, se você trabalhar em auto-educação o tempo todo, isso dá ao seu talento a capacidade de florescer. E se você não praticar, estudar, aprender, mudar e crescer, você pode ser cheio de talento, mas se você está apenas correndo atrás disso: "Eu quero que as pessoas gostem disso ou espero que eu possa me pendurar no fãs que eu já tenho", ou seja o que for, acho que isso sufoca o talento. Essa é uma das coisas tristes que vi acontecendo ao meu redor no rock, pessoas sendo tão preocupadas apenas em se promover, agradar seu público e competir com outras bandas populares. É tipo: “Caralho! Quando é que você vai ter tempo para ficar melhor no que faz e cultivar os seus talentos?”.  Mesmo no underground quando alguém se torna popular em uma determinada cena, o público se torna a sua autoridade de alguma coisa, você faz uma espécie de pré-edição de você mesmo.

Eu fiz isso quando estava na minha banda, e esse era o meu trabalho. Até certo ponto, você obviamente quer fazer música que você gosta, mas você faz isso dentro dos limites do que o seu público está pronto para aceitar. Chegou um momento que eu me cansei de fazer isso, e eu tinha feito isso por um tempo longo o suficiente para ter feito uma vida para mim. E assim, nos últimos sete anos, tenho aproveitado isso. Eu nunca fiz música para fazer uma platéia feliz, eu não faço música para tentar agradar as pessoas. Eu faço música com o propósito expresso de ter certeza que eu estou sempre aprendendo algo, e estou sempre tentando coisas que eu não tentei antes. Seria muito triste para mim se, de repente, eu falasse: “O pessoal do acid house gosta de mim agora, então vou fazer só acid house”. Eu nunca poderia fazer isso, tenho que estar sempre avançando e mudando. Não acho que a nossa indústria tem realmente um lugar para as pessoas que pensam dessa maneira, por isso foi tudo uma questão de abandonar qualquer noção de ser um músico popular. O desejo deles é, na verdade, o oposto do que um músico que é dedicado à música quer, porque eles querem ouvir algo familiar, e um músico dedicado à música quer fazer algo que não foi feito antes.

Isso é uma das coisas que eu admiro em Aphex Twin, Venetian Snares e Squarepusher. Em comparação com músicos de rock, parece que a música é o guia deles, ao contrário de se ter uma base de fãs e tentar se fazer o mais popular possível. Eu queria ter essa mesma liberdade intelectual para mim."

Conte-me sobre como você montou seu setup.
"Chegou a um ponto que havia tantas máquinas a minha volta que os meus gatos não podiam chegar até mim, eles ficavam miando atrás delas, então tive que começar a deixar um pouco de espaço onde eles poderiam passar. O álbum foi gravado em um gravador de CD, sem computador. A 909 foi a mestra, todas as outras máquinas foram escravas dela.

Tive o meu estúdio de rock em casa configurado mais como um estúdio de rock tradicional, onde a mesa ficava em uma sala e os instrumentos em outra. Comecei a tirar materiais do estúdio de rock e integrá-los em meu estúdio de eletrônica. Pensei em deixar tudo separado, mas, eventualmente, percebi que eu não queria fazer aquilo nunca mais – eu não queria contratar um engenheiro de novo. Terminei o álbum que eu estava fazendo, mas meu estúdio eletrônico agora ocupa metade das salas. Hoje é tudo configurado bem diferente. Toco minha bateria no computador, sintetizadores polifônicos no computador, eu nem sei se usei algum sintetizador polifônico no material de acid. Certas coisas são as mesmas – eu ainda programo a [Elektron] Monomachine, ou a Machinedrum, ou a [Roland TR-] 606. Eu tenho uma [desta última] onde cada saída foi convertida em um trig-out. Eu programo certas drum machines, mas a maior parte do tempo eu tenho uma parede de drum machines atrás de mim que eu programo a partir do computador sozinho. Então, hoje o meu setup é bem organizado, cada música [no álbum] foi um setup diferente, que seria demolido depois de cada música."


Algumas das programações de bateria e preenchimentos de “Sain” tem um nível quase IDM (Intelligence Dance Music) de complexidade.
"A música em “Sain” me levou umas duas semanas para programar a bateria. O resto da música eu fiz em um dia. Fiz toda aquela bateria na [Roland] R-8. Quando escuto esse acid, acho que ela faz parte disso, tive que trabalhar muito duro para fazer ela ser parte dele. Foi uma luta para mim os primeiros três anos fazendo música eletrônica, por isso que eu não estava liberando músicas. Eu gosto de lutar, e queria desafiar meu cérebro dessa forma. Mas eu tinha esperança de que um dia fazer música seria tão fácil para mim como era para Aaron Funk [Venetian Snares] e outros caras. No nosso trabalho juntos, ele era bem mais rápido do que eu."

No que você gasta, digamos, duas semanas agora?
"Não há realmente nada que eu gaste duas semanas agora [risos]. Naquela época, poderia ser qualquer coisa: uma parte com a Monomachine, uma parte com a Machinedrum ou com a R-8. Agora acho que consigo obter resultados muito mais rapidamente. É bom ser capaz de fazer música rapidamente."

Você e Aaron Funk possuem 40 ou 50 horas de material. Como você acabou ligando-se a ele?
"Uma coisa boa foi fazer amizades com pessoas que cresceram em torno de techno, industrial e jungle. Quando eu fiz esse material de acid, meus amigos ainda eram pessoas do rock. Foi um calmante ter amigos que não pensavam dessa forma e que cresceram indo para raves; isso se estabeleceu em mim de uma determinada maneira, fazer música em que eles não se preocupam sobre liberá-las ou se faz sentido para as pessoas. Fizemos tanta música que falamos: “Eu não sei como essa porra soaria para alguém além de nós”. É bom ter um colaborador assim. É raro. Com a maioria das pessoas, a segunda coisa fica boa, eles começam dizendo o que as outras pessoas vão achar daquilo, e isso é uma verdadeira distração para mim, então isso tem sido bom.

Estou acostumado a colaborações com pessoas que tenho um propósito em comum, vocês estão fazendo um disco juntos, você aparece no lugar que você deve aparecer no momento certo. Eu sempre fico até mais tarde. Ter alguém que queira trabalhar por 14 horas seguidas, 15 horas seguidas – você não encontra profissionais que queiram ficar no estúdio por tanto tempo. Mas com Aaron, o nosso horário de sono fica para mais tarde e mais tarde. Ficamos acordados até 8 da manhã. Morávamos juntos por duas semanas cada vez que fazíamos uma sessão, então a música acaba sendo uma consequência de realmente viver junto em vez de viver e fazer música sendo duas coisas distintas. Isso tem sido muito renovador para mim. Especialmente quando é o seu próprio álbum, você se sente como se estivesse impondo-se sobre as pessoas. Você está mantendo-as longe de suas vidas ou do limite que elas querem chegar ou algo assim.

Hoje em dia e nesta era as coisas para mim são assim: se as pessoas realmente adoram fazer música juntas, elas deveriam também realmente adorar estarem perto umas das outras como pessoas, e a música deve vir da amizade. A amizade não deve surgir da colaboração musical. Para mim, isso parece andar para trás, mas era isso que acontecia na minha antiga banda – nós não nos sentávamos, relaxávamos, ouvíamos discos ou qualquer coisa assim."


O aspecto comunitário da performance ao vivo algo que você está interessado?
"Já estive em shows do Autechre onde as pessoas estavam dançando, mas também estive em shows onde elas estavam sentadas no chão, com a cabeça em suas mãos. Eu tenho amigos aqui na cidade que tocam em raves e coisas assim, mas nunca fui atraído por fazer isso. Acho que é porque eu toquei muito ao vivo por um longo tempo, parece muito estranho para mim subir no palco e fazer isso. Aaron e eu tentamos fazer isso algumas vezes, e foi como se o universo fosse contra isso acontecendo. Tocar ao vivo é algo que eu não tenho nenhum interesse. Definitivamente cheguei ao meu limite sobre isso. Performances para mim são repugnantes. Eu aprecio a ideia de estar no palco e as pessoas responderem com seus corpos. Eu gosto de ser uma parte disso a partir da perspectiva público.

O ATP que Autechre se apresentou, onde Aphex Twin foi a atração principal da coisa toda –  havia a sensação de que cada pessoa naquele lugar tinha usado êxtase, você sentia uma pessoa ligada a outra no local. Ele foi o mestre no palco; nós éramos todos os seus súditos. Eu tive essa sensação em clubes de jungle e em raves, mas eu realmente prefiro estar do outro lado da coisa."

Você parece atraído por tipos de gênios solitários que estão funcionando em seu próprio espaço. Ao mesmo tempo, a colaboração parece muito importante para você.
"Quando comecei a fazer esse acid, achei que eu iria parar de fazer música com as pessoas. Não achei que eu iria acabar com uma amizade como a que eu fiz com Aaron – apenas pensei que tinha terminado de trabalhar com pessoas. Eu não sabia que poderia haver colaborações onde vocês dois podem responder à suas imaginações e serem confiantes o suficiente nelas para não terem que falar: “O que você acha? Isso é bom o suficiente?”.

Acho que, em geral, as maiores idéias, as mais importantes que já ocorreram na humanidade, vieram de indivíduos, pessoas que não estavam preocupadas com o que os outros pensavam, mas tiveram algum tipo de orientação interna de sua imaginação, que fez o objetivo de fazer sua vontade, independentemente do perigo que aquilo poderia colocá-los, ou independentemente de as pessoas poderem querer matá-los ou discordar deles. Acho que é muito importante para as pessoas confiar em sua orientação interior e não deixar que o mundo exterior seja o seu guia. Para mim, deixar o mundo exterior ser seu guia é como ser um escravo, e acho que quem realmente temos que agradecer por qualquer progresso já feito na humanidade são líderes, pessoas que eram intransigentes, que passavam tempo cultivando suas imaginações, que não tinham medo de ficar sozinho e que não tinham medo de ser diferente.

Quando fiz essa transição para fazer música eletrônica, eu estava lendo bastante Aleister Crowley e li todos aqueles livros de Thelema. É tudo sobre fazer a sua vontade. E vi pessoas como Aaron, Autechre e Richard D. James – musicalmente parecia que a vida deles e filosofia eram totalmente correlativas ao que eu estava lendo nos livros de Thelema. As pessoas ao meu redor achavam que eu estava fazendo a minha vontade, porque as pessoas estavam gritando e eu estava tocando minha guitarra, mas eu sabia que eu não estava.


Eu vi essa habilidade em música eletrônica para, como uma única pessoa, criar uma peça inteira de música. Esses são os tipos de líderes que tínhamos quando tivemos compositores clássicos. Voltando quando compositores eram, na verdade, os líderes de música, havia um homem que teria 150 pessoas para fazer o que o que eles dissessem. Agora isso seria possível sem ter alguém para fazer o que eles dissessem, porque eu não gosto de dizer às pessoas o que fazer, e definitivamente não gosto de pessoas me dizendo o que fazer. Dizer às pessoas o que fazer parece ser a pior coisa que você poderia fazer para si mesmo, mas com as máquinas, você não perde nada por comandá-las, você não tem desapontamentos como um compositor pode ter com os músicos não tocando do jeito que ele ouve a música em sua cabeça.

Em geral, na sociedade, está ficando cada vez mais difícil para as pessoas descobrir como ser líder, e eu vejo a música eletrônica como esta área onde você está livre para ser mestre e líder e não tem esses tipos de complicações que surgem quando são seres humanos reais que você tem para liderar."
Fonte: Resident Advisor - 05 de maio de 2015

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