Em novembro de 2013, o Universo Frusciante entrevistou Bram Van Splunteren, ninguém mais ninguém menos que o maior documentarista da história do Red Hot Chili Peppers. Ele documentou o antes e o depois de John Frusciante.
Bram Van Splunteren foi por anos editor chefe e diretor de programas e documentários do canal holandês VPRO. Como diretor de programas, ele conseguiu uma grande notoriedade com o programa Lola da Musica. Ele foi o responsável pela estréia na televisão holandesa de artistas como Nirvana, Pixies, Tori Amos, Insane Clown Posse, Public Enemy, Bjork, George Clinton, Urban Dance Squad, Black Crowes, Beck e Lenny Kravitz. Também foi o editor de TV em vários anos do Pinkpop Festival. Bram também fez documentários aclamados, incluindo Big Fun In The Big Town, e já entrevistou artistas como John Hiatt, Iggy Pop, Nick Cave, Ice Cube, Lou Reed, Ice-T, Bob Marley, Red Hot Chili Peppers, John Frusciante, entre outros. Confira a entrevista que o Universo Frusciante realizou com este que é um dos maiores documentaristas musicais do mundo:
Bram Van Splunteren foi por anos editor chefe e diretor de programas e documentários do canal holandês VPRO. Como diretor de programas, ele conseguiu uma grande notoriedade com o programa Lola da Musica. Ele foi o responsável pela estréia na televisão holandesa de artistas como Nirvana, Pixies, Tori Amos, Insane Clown Posse, Public Enemy, Bjork, George Clinton, Urban Dance Squad, Black Crowes, Beck e Lenny Kravitz. Também foi o editor de TV em vários anos do Pinkpop Festival. Bram também fez documentários aclamados, incluindo Big Fun In The Big Town, e já entrevistou artistas como John Hiatt, Iggy Pop, Nick Cave, Ice Cube, Lou Reed, Ice-T, Bob Marley, Red Hot Chili Peppers, John Frusciante, entre outros. Confira a entrevista que o Universo Frusciante realizou com este que é um dos maiores documentaristas musicais do mundo:
Nossa primeira pergunta é sobre seu mais recente documentário Tussen bitch & Bambi, o que pode nos falar sobre ele e como surgiu esse tema?
Sim, é sobre a "bitch" e a "bambi". "Bambi" é uma garota inocente, baseada no Bambi da Disney. Então fala sobre a distância entre a "bitch" (puta) e a garota fofa. Fala sobre a dificuldade em encontrar um homem por terem sido bem educadas.
Você acha que homens são intimidados por garotas poderosas?
Sim, com certeza. Eu apenas queria descobrir por que várias garotas bem educadas tem problemas em encontrar um parceiro, sabe? Várias são solteiras e tem esse problema. Foi como uma busca, uma descoberta. Então conversei com elas e descobri que isso era sério. Homens se sentem intimidados com alguém que é inteligente, essa é uma coisa. Outra coisa era...hmm...escapa quando eu quero falar sobre isso...me deixe lembrar...
Poder, talvez?
Não, isso seria a mesma coisa. Tem a ver com isso. A outra coisa seria que elas querem pessoas para cuidar delas, e há tão poucos homens assim quando elas são inteligentes. Não há tantos homens para cuidarem delas, sabe? Uma mulher me disse que no processo de se tornar uma mulher de carreira, ela descobriu que tinha perdido um pouco de sua feminilidade, sabe? Elas ficam mais duras, menos suaves. Algumas até me disseram que se arrependem disso. Mas isso é parte do processo e é também um problema para essas moças. Há poucos homens. E nas grandes cidades, como Amsterdam, onde há várias pessoas que estudam, há mais mulheres estudando do que homens, e isso já é um grande problema para elas, no topo disso tudo vem esse fato. Então achei interessante fazer um documentário sobre esse assunto.
Isso é bastante comum atualmente, certo?
Sim, deve ser a mesma coisa em vários lugares. Não sei sobre o Brasil. Para mim, que nunca estive no Brasil, à distância, me parece que as mulheres no Brasil são mais femininas do que as mulheres daqui. Você concorda?
Sim, eu não sei o motivo. Creio que seja por causa da cultura. Mulheres aqui são como... Todos os homens aqui as seguem e as cultuam como se fossem deusas, sabe? Creio que na Europa as pessoas sejam mais frias, certo?
Sim, e acho que aqui há mais influência do feminismo. O movimento de dar poder a mulher. E o preço para a mulher é se tornar menos feminina e mais...tentando ser como homens ou estar no mesmo nível que homens. Toda essa coisa do feminismo no começo foi bom porque elas eram deixadas para trás na sociedade, recebiam menos dinheiro, eram maltratadas em trabalhos, essas coisas. Mas o preço do feminismo é esse: as mulheres ficam mais duras tentando ser como homens. Acho que o desenvolvimento da sociedade foi muito rápido para o feminismo. Hoje as coisas estão mais niveladas, sabe? O homem tem que ser forte, a mulher tem que ser doce. Isso vem do instinto, ou da natureza, mas o desenvolvimento do feminismo fez isso aparecer rápido demais.
Recentemente, o DVD do seu documentário Big Fun in the Big Town (Grande Diversão na Cidade Grande) foi lançado. Como você analisa os momentos do hip-hop de 1986 e o atual? Você acredita que o movimento hip-hop de hoje nos EUA perdeu um pouco de sua identidade?
Sim, claro. É engraçado, porque recentemente recebi uma proposta de uma empresa de fazer uma sequência para este meu documentário e voltar para os EUA, em Nova Iorque e ver o que está acontecendo por lá hoje, depois de mais de 25 anos, e eles me sugeriram um título muito bom. Eles me disseram: “Por que não chamamos este novo filme de 'Big Bucks in the Big Town'?". "Bucks" é uma gíria para dinheiro. Achei um ótimo título e isso diz tudo, sabe? O hip-hop se tornou muito grande hoje e é engraçado, pois eu estava ouvindo uma nova música do Jay-Z chamada "Holy Grail" com participação de Justin Timberlake, uma música muito boa, aliás, mas ela fala sobre ele lutando não contra a pobreza, mas sim contra a fama, o dinheiro, sabe? Isso é típico. Para mim isso é como uma decadência. Quando eu estava gravando em Nova Iorque, o hip-hop já tinha alguma coisa desse tipo, mas nada comparado a hoje. Hoje você tem estrelas que não estão falando dos problemas dos bairros e sim sobre como eles lidam com a fama, riquezas, grandes carros, garotas, etc. Então vejo isso como uma decadência, sabe? Considero Jay-Z um grande músico, ou rapper, mas essa música diz bastante coisa sobre o que está se rimando hoje.
Sim, mudou totalmente. É o que o rapper Schoolly D diz no final do Big Fun: "Eu espero que o rap não siga o mesmo caminho que o rock n' roll seguiu". O rock surgiu leve e rebelde. Mas isso é um desenvolvimento natural, eu acho. Há uma hora de coisas novas aparecerem para as pessoas jovens de hoje terem algo diferente, talvez. O hip-hop parece bem forte atualmente. Mas se parece mais com Dance Music, uma coisa menos rebelde, assim como outros estilos que foram crescendo, crescendo, crescendo...Eu não sou contra isso, é apenas o jeito que é. É uma condição "psicológica" que um movimento musical tem que passar quando fica popular. É muito bom ver meu filme, que tem garotos puros tentando fazer suas músicas, sabe? A música é importante para eles. Era uma saída da pobreza quando o movimento começou, tendo inclusive apoio de estrelas do basquete. Então era como escapar da pobreza e do crime.
Analisando seus programas e documentários dentro do contexto da história da música, você poderia dizer por que os artistas devem documentar o seu legado musical e visual?
Bem, não sei por que eles deveriam. Acho que é uma coisa para você conversar depois e entender, sabe? Você é um estudante de História, certo?
Sim. É sobre o passado, não é?
Sim, para entender a sociedade é bom saber a História, como as coisas se desenvolveram, todos os ciclos da vida. Há coisas universais que sempre existiram e coisas que se desenvolvem. É sempre bom para pessoas que gostam de algum tipo de artista ou música querer saber mais daquilo, sobre como exatamente aquilo surgiu, como as idéias aconteceram, como o hip-hop começou em Nova Iorque, o que fez Nova Iorque ser a pioneira, é sempre interessante documentar isso. E por diferentes motivos. Às vezes por razões sociológicas, às vezes por razões históricas, às vezes apenas por você achar tal artista interessante e querer descobrir coisas, etc. Mas atualmente as pessoas estão mais preocupadas na imagem que possuem para o público, a "imagem pública". Eles querem escolher como são representados em público, sabe? Então às vezes você não sabe se aquela pessoa que está falando é ela mesma, pois fazem por publicidade, como Miley Cirus, por exemplo. Você não sabe se ela faz aquilo por ela ou se faz para aparecer, para vender mais discos. Então sempre tento retratar as pessoas do jeito que elas são, como elas se sentem, o que elas esperam da vida. Hoje, quando a fama entra no jogo, as pessoas ficam mais gananciosas, querem mais dinheiro, etc. Então quando escolho pessoas para conversar, procuro falar com pessoas que ainda não possuem toda essa fama, para ver exatamente como elas são, o que as motivou a fazer música, esse tipo de coisa.
Sabemos que foi você quem documentou a primeira turnê europeia dos Red Hot Chili Peppers em 1987, no documentário Europe by Storm. Como ocorreu esse documentário e o que você pode nos falar sobre aquela época?
Tive a chance de fazer um documentário com eles em 1986, na verdade. Eu tinha entrevistado grandes estrelas como Iggy Pop e Nick Cave, pessoas do hip-hop, então pensei que seria legal filmar uma banda jovem e que estivesse começando. Então rondei lojas de discos procurando novas bandas, aí achei uma banda nova: Red Hot Chili Peppers. Eu ouvi aquilo, eles estavam em seu segundo álbum, eu acho. E eu pensei: "Ei, essa música é bem diferente", porque eles combinavam punk, coisas de funk, metal com funk, sabe? Eles faziam rap e tudo mais, então fiquei interessado naquela mistura. Foi muito antes deles ficarem populares e mais orientados em "canções". Eles eram uma banda ao vivo bem animada e bem visual, o que tornava interessante. Então decidi ver se eu poderia fazer um filme sobre eles. Descobri que eles estavam vindo até a Europa pela primeira vez, então pedimos a gravadora da banda para os acompanharmos durante uma semana. O que foi feito. Fomos em três: câmera, som e eu, e viajamos com eles por uma semana, ficando no mesmo hotel, filmando os shows, conversando com eles entre os compromissos, tudo dentro de uma semana. Viajamos pela Alemanha, Suíça, França, Bélgica e Holanda. E foi interessante, pois isso se tornou a base da minha amizade com Flea. Nos conhecemos a bastante tempo. Fiz uma entrevista com ele num quarto de hotel em que ele foi muito honesto e aberto sobre a banda, muito sério falando sobre progresso, sobre mudanças, pois eles já estavam fazendo aquilo por cinco anos, sobre dar novos passos, etc. Também houve outro momento legal para mim que foi quando assistimos aos heróis deles na TV: Bootsy Collins, George Clinton, todas essas pessoas, sabe? Eles sempre estavam fazendo piada de tudo, sempre brincando, e quando assistiram seus ídolos, não conseguiram mascarar o "Uau, esses caras são fantásticos". Flea disse o quanto Bootsy Collins o influenciou por tanto tempo, o quanto ele copiou todas as merdas que ele fazia. Então foi um momento muito importante para eu me conectar com eles, estar no mesmo nível e não ser mais um jornalista que eles faziam piadas e brincavam. O vídeo mostra que a maioria do tempo era de piadas e brincadeiras, mas me dei bem com eles, então essa foi a base da minha amizade com eles pelos próximos dez anos ou mais.
(Pergunta cedida gentilmente por Shalhevet Dvir, do site Chili Source, que também entrevistou Bram em 2011) Qual é a lembrança mais forte que você tem de Hillel Slovak?
As lembranças mais fortes que tenho de Hillel estão no documentário. Há algumas cenas com ele nesse filme que realmente o mostram. Eu sentia que ele era definitivamente um cara com um segredo. Quando eu o entrevistei, não sabia que ele estava usando drogas. Mas ao mesmo tempo ele era um cara super doce, meio misterioso.
Você os entrevistou várias vezes desde essa primeira vez. Então podemos dizer que você se tornou amigo da banda, certo?
Sim. Especialmente Flea. Mais tarde, nos anos 90, fui a Los Angeles muitas vezes filmar para um programa de TV que eu tinha. E Flea sempre era um bom contato. Eu fazia um programa sobre cineastas, roteiristas, artistas de vídeo, pintores, e ele me ajudava a encontrar um monte de pessoas em LA, pois ele morava lá e sabia onde estavam essas pessoas. Um dia liguei para Flea para perguntar como ele estava e se a gente podia sair e se encontrar. Ele me levou para uma festa, ele costumava me levar para um estacionamento de um lugar que vendia...como se chama? Tortilla...não...Burritos! Um lugar que vendia burritos! Tinha apenas um cara numa tenda vendendo burritos, então ele me levava lá, era bem funky, mas comíamos os burritos e nos divertíamos. Então era alguém que eu sempre podia ligar, sabe? Um dia eu tinha duas horas de material que eu tinha gravado com ele, talvez em 1991, e perguntei a ele: "Por que não passamos todo esse material na sua casa?". Então fizemos. Passamos, fiz uma fita de duas horas com o primeiro documentário com eles mais as coisas que gravei depois daquilo. Passei o material na casa dele e foi bem legal, pois ele convidou um monte de amigos. Acho que River Phoenix estava lá também. Foi lá que conheci River Phoenix, sei que você irá me perguntar sobre ele depois. Ele gostou muito do que eu fiz, especialmente o documentário da Europa, que ele gostou muito. Todo mundo estava vestido de branco, como aqueles gurus, essas coisas (risos). Então havia todos aqueles amigos assistindo e se divertindo muito. Flea abriu portas para os meus documentários. Ele me levou a várias casas dos Chili Peppers. Ele me levou até onde John morava antes de comprar sua casa. Flea era um bom amigo. Sobre Anthony é engraçado, pois me lembro de estar na casa de Flea passando o material e ele estar meio mal-humorado e irritado comigo, pois uma vez fui conversar com eles e filmá-los e ele não estava nem aí, eu estava apenas filmando e ele achava que eu não dava o meu melhor para cobri-los. Então ele estava meio desapontado comigo ao estar incluído naquele evento. Depois nesse mesmo dia, estávamos numa sala de ensaio e eles ficaram tirando sarro de Anthony, brincando com coisas do tipo: "Anthony está trilhando os caminhos da fama", uma piada sobre Anthony cantando. Eles não sabiam muito o que fazer quando Anthony não estava nem aí, ele não gostava muito daquilo. Então Anthony e eu sempre fomos meio...resguardados, sabe? Mas tudo corria bem, digo, Flea era definitivamente quem eu tive melhor contato. Flea e John também. Com John sempre rolava uma boa vibração.
Você realmente acreditava que eles iriam se tornar tão bem sucedidos comercialmente?
Não. Eu tinha passado três anos filmando-os, e quando Flea falava que algo iria acontecer, eu também acreditava, mas pensava que eles deveriam ter mais músicas pop para se tornarem populares. Então veio Blood Sugar Sex Magik e havia músicas pop. Me lembro que Flea tinha uma demo do álbum antes dele ser lançado que ele me deu e disse: "Dá uma ouvida nisso". Eles tinham acabado de gravar. Ouvi apenas algumas músicas, não era nem uma seleção ainda. Não ouvi "Under the Bridge", não estava lá. Ouvi outras músicas e pensei: “Hum, hum, hum”. Tinha “Breaking the Girl”, então pensei: "Ok, essa é pop, eles podem fazer um hit com essa". Eu pensava que para eles serem grandes, precisavam ter músicas mais amigáveis. E assim aconteceu. Eles falavam que Anthony tinha que começar a cantar, sabe? Ele fez isso em algumas músicas daquele álbum. Mas, não, eu nunca esperava que eles fossem se tornar tão grandes, ninguém esperava, tenho certeza. Embora houvesse gravadoras atrás deles, então por isso eles assinaram, gravadoras começaram a se gladiar quando eles saíram da EMI. Flea me disse que gravadoras lutavam por eles e que eles foram convidados para as casas de todos os donos, sabe?
Você ficou surpreso, mesmo depois de tê-lo entrevistado um ano antes em Amsterdam, com a primeira saída de John depois da explosão de sucesso do Blood Sugar Sex Magik?
Sim, fiquei. Não sei se você já viu, mas tem algo em um documentário meu, uma coisa de meia hora, um dia irei encontrá-lo e colocá-lo online, que é um quiz com Flea e Anthony chamado Hit of Shit, onde eu passava alguns vídeos de outros artistas e eles tinham que responder o que achavam. Tem um pouco dele em algum documentário, mas há o programa inteiro de meia hora em algum lugar, é bem engraçado. Eu queria que John participasse também, mas ele não estava muito bem, ouvi dizer. Ele estava com sua namorada, o que era contra o código da banda sobre namoradas, então soube que estava acontecendo algo, mas não soube direito o que era, não sabia que ele estava pensando em sair da banda. Então foi algo bem inesperado, especialmente por ele ser tão importante para eles, sabe? Pelos discos que ele participou e tudo. Eu sabia que ele era o cara que tinha mudado a banda, dando mais composições para Anthony e Flea, uma coisa além dos mesmos grooves de hip-hop, rap ou funk de sempre. Fiquei surpreso, sim. Sabia que estava acontecendo algo, mas não entendi.
Como foi filmar John em 1994? Acho que todos que assistiram aquele programa ficaram chocados ao vê-lo daquele jeito...
Sim, foi bem chocante para mim, bem chocante. Tudo começou quando ele abriu a porta, eu ainda não tinha o visto. Ficaríamos lá por três horas, uma tarde. Ele abriu a porta e de cara notei seus dentes. Estavam bem mal, sabe? Os dentes dele eram ótimos. Foi chocante vê-lo daquele jeito, eu não esperava que ele estivesse como estava. Eu tinha ligado para um amigo em LA que era fã da banda, Dick Rude, e disse: "Ei, você sabe o que John está fazendo?", pois naquela época os Chili Peppers tinham ficado muito famosos, estavam na MTV direto, virando até os queridinhos deles, pois eram engraçados, visuais, etc. Então não era mais tão interessante para mim segui-los, porque eles já apareciam em todos os lugares, sabe, principalmente na MTV. Então pensei em fazer algo diferente com aquilo e me perguntei por que não ver o que John estava fazendo e perguntar por que ele tinha saído da banda. Então liguei para esse meu amigo e perguntei se ele poderia contatar John, pois eu não tinha mais seu número de telefone. Meu amigo ligou e disse que eu gostaria de entrevistá-lo, ele disse "ok, tudo bem", então fui para lá e fizemos tudo. Eu não sabia o que esperar. Quando o vi, fui um grande choque. Me lembro que, antes de gravarmos, estávamos do lado de fora da casa que ficava em Venice Beach, ou perto de Venice, novamente três caras: câmera, som e eu, olhando um para o outro tipo "Que porra é essa?". Mas estávamos com pena dele também, pois vimos que ele estava em péssima forma, sabe? Foi muito chocante, me lembro bem disso. Mas, ao mesmo tempo, eu soube que o que eu tinha para filmar era algo muito interessante, pois ele não estava totalmente louco. Ele estava meio louco, mas ainda era um cara inteligente, tinha coisas bem interessantes para falar, uma mistura estranha de alguém que fala coisas bem interessantes e ao mesmo tempo está devastado, fodido, sem voz, com um violão desafinado, foi uma experiência bizarra. Ele parecia tão mal, mas falava todas aquelas coisas inteligentes. Foi uma experiência louca e chocante.
Sim, é bem chocante.
Sim, e me lembro quando fui transmitir alguns meses depois. Transmiti e algumas pessoas, não todas, começaram uma discussão sobre se eu tinha que protegê-lo e não colocar aquilo na televisão. Achei aquilo interessante, pois era um cara junkie, uma coisa que acontece muito com músicos e pessoas dentro do rock, e também era uma pessoa que queria falar daquilo, então era superinteressante e sempre estive convencido de que o tratei sempre com respeito. Nunca pensei "quem é esse junkie?". Sempre gostei de mostrar as pessoas como elas são para as pessoas, nunca pensei sobre julgamentos a uma pessoa, sabe? Achei que estava tudo bem e deixei para as pessoas terem uma decisão sobre o que achavam daquilo, apenas filmei aquilo e coloquei lá. Depois descobri que fui o único a filmá-lo naquela situação e naquele período de sua vida.
(Pergunta de Jonathan Augusto) John estava diferente naquela entrevista? Ele aparentemente tinha usado alguma coisa ou estava bêbado?
Sim, ele tinha injetado. Depois da primeira fita (a entrevista foi feita em várias gravações de 40 minutos) tivemos que mudar de fita. Paramos a câmera e falamos que iríamos trocar a fita. Então ele foi para outro quarto, voltou dez minutos depois, acho que ele estava com uma camisa diferente, e seus braços estavam sangrando, sabe? Ele tinha enfiado uma agulha no braço. Ele parecia não se importar sobre o sangue em sua camisa, sabe, de tentar achar a veia. Eu não sei muito sobre drogas, mas posso te dizer que durante tudo ele estava num estado bem alterado. Com certeza estava influenciado. Ele também estava fazendo aqueles alongamentos demais. Estalando seus ossos. Ele fazia aqueles movimentos e, em certo momento, se tornou uma combinação estranha, sabe?
Sim, era meio assustador, certo?
Sim, assustador. Ele estava chapado, fazia aquilo, se alongava, era estranho. Definitivamente ele tinha injetado heroína durante a entrevista. Ele foi ao outro quarto para usar.
Não. Definitivamente foi a entrevista mais chocante que já fiz. Eu fiz algumas. Não fiz apenas documentários sobre pop e rock. Também fiz, pelos últimos dez anos, documentários mais sobre pessoas "normais", seus problemas na vida, o que chamam de "human interests" (assuntos humanos). Já entrevistei pessoas que choraram em frente as câmeras porque...me lembro de uma mulher que era mãe e suas duas filhas, de 16 e 17 anos, ficaram grávidas e seriam mães precoces, seria um problema para a família, sabe? Com certeza filmei cenas emocionantes com pessoas, mas essa com o John, em especial, foi um grande choque, para mim e para pessoas que o viram daquele jeito. É uma daquelas entrevistas que as pessoas ainda comentam atualmente. Quando encontro pessoas, elas falam: "Oh, eu te vi com aquele cara, John Frusciante. Foi incrível!". As pessoas me falam que ficaram muito impressionadas, ou melhor, não impressionadas, mas quando viram aquilo na televisão, em casa, em 1994, sofreram um grande impacto em suas vidas. Como um tapa na cara, sabe, ou um soco no estômago. Com certeza é um dos documentários que fiz que tem mais impacto nas pessoas, é muito especial.
(Pergunta de Nillbert Soares) Depois da entrevista e de ver o estado em que John Frusciante se encontrava, você acreditava que ele sobreviveria? Você chegou a dar conselhos para ele?
Não, ele tinha sua namorada e pessoas mais próximas a ele. Eu não iria dizer: "Faça isso, faça aquilo", sabe? Acho que não era meu dever. Eu não era um amigo muito próximo. Sei que o RHCP tentou colocá-lo numa reabilitação, mas não conseguiram, Flea me disse isso mais tarde, que eles tentaram não desistir dele. Pelo que eu ouvi, parece que eles viram um pedaço, Flea viu um pedaço do filme, não sei como ele conseguiu. Alguém mandou para ele e só sei que ele ficou bem chocado, também chegou a me falar que não era necessário transmitir aquilo, mas eu nunca achei que eu não deveria ter feito aquilo, sabe? Mas acho que ver aquele pedaço foi um alerta para ele olhar para o amigo. John não estava mais tão próximo a ele, sabe? Então ele e outros amigos se empenharam para mandá-lo para a reabilitação. Então tenho esperanças de que ter visto aquilo tenha sido parcialmente uma influência sobre ele para não desistir de John e ajudá-lo forçando-o a ir se tratar.
(Pergunta de Júlio César de Lima) Você já teve oportunidade ou desejo de comentar com John sobre essa entrevista?
Sim, eu tenho. Porque eu sei que aconteceu uma pequena coisa na última vez que encontrei John, em 2007, eu acho, num show em Nijmegen. Eu ia entrevistá-lo e ele disse ok para dez minutos. Foi logo antes do show. Eles não estavam dando nenhuma entrevista oficialmente, mas Flea aceitou fazer uma entrevista para mim por 20 minutos. Então vi John e perguntei se poderíamos realizar a entrevista e ele confirmou. Mas, por algum motivo, antes do show ele disse: "Bem, não, está ficando tarde" e disse que não daria uma entrevista pessoal. Acho que ele associou falar comigo a algo pessoal. Acho que ele teve medo de eu perguntar algo sobre aquela entrevista e também acho que ele não estava no clima para falar daquilo. Com certeza é algo que ele não gosta de ser lembrado. Mas, sim, há alguns anos tentei falar com o advogado dele pelo Facebook. Achei seu advogado e perguntei se algum dia poderia fazer outra entrevista com John, perguntar como andam as coisas. Eu gostaria muito de fazer um filme sobre como ele cria música, sobre o jeito que ele grava álbuns, sabe? Ele é um "maníaco" falando musicalmente, seria interessante ver alguém tão dedicado à música e ver como ele grava seria legal, mas ele disse que John não estava interessado. Não tentei de novo depois disso. É algo que eu gostaria de fazer, sabe, depois de fazer todas as coisas com o RHCP. Gostaria de gravá-lo gravando um álbum. Se eu tivesse tempo, eu investiria mais nisso. Mas eu tenho vários outros assuntos, não penso só nisso, embora eu tenha ouvido seus últimos álbuns e não tenha gostado muito daquela música eletrônica, para ser honesto (risos). Não é para mim. Mas ainda acho que ele é um guitarrista incrível, ele fez muita coisa que não está na internet, que ele me mostrou na entrevista. Aqueles dias eram dias diferentes, não havia tanta coisa na internet ainda, então o que fiz foi bastante único, não havia Youtube na época, e você mal conseguia aparecer na MTV, então foi algo único o que eu filmei, mas num tempo diferente, claro.
(Pergunta de Arnold Rockstein Lima) John pensou em retornar ao RHCP durante 92-98? Ele falou com você algo sobre isso?
Não, eu só me encontrei com ele naquela tarde de 94.
Não. Ele disse apenas que tinha deixado a banda havia um ano e meio. Não falou sobre voltar. Eu não o vi durante esse período. Se eu morasse em LA, poderia acontecer, mas eu morava aqui em Amsterdam, 12 horas de vôo, bem distante de LA (risos), então não.
Além de entrevistar John Frusciante naquela época, você também entrevistou Bob Forrest e River Phoenix, dois grandes amigos de John. O que você pode falar dessas entrevistas?
A primeira foi com River Phoenix. Ele estava lançando seu filme My Own Private Idaho no Chateau Marmont Hotel, em LA, e foi engraçado, pois o filme tinha sido lançado, River Phoenix estava lá e houve uma apresentação do filme em LA com vários jornalistas em todo lugar, então ouvi que River não dava nenhuma entrevista para TV ou filmes. Então consegui fazer alguém mandar uma mensagem para ele e a resposta foi que ele queria falar comigo, que ele tinha gostado de mim quando me conheceu na casa de Flea, como te disse. Acho que fiz uma entrevista bem única com ele, pois ele não gostava de ser entrevistado para a televisão. Suas frases na entrevista são sobre ele não gostar de ser filmado como ele mesmo. Como um ator, sim. Há um momento em que ele tira os óculos e diz que não gosta. Eu pergunto por que e ele diz que agora eu poderia ver sua alma, quando eu olhava para seus olhos, então ele manteve seus óculos escuros no rosto. É evidente que ele estava bem nervoso ao ser entrevistado, desconfortável de estar ali sendo ele. As pessoas dizem que ele também estava drogado na entrevista. Pode ser. Foi muito engraçado, nós rimos muito, fizemos piada, ele estava vivendo um ótimo momento, foi bem divertido. E com o Bob Forrest aconteceu umas das minhas entrevistas favoritas, porque foi totalmente improvisada. Ele saiu do palco do Pinkpop Festival em que estava escalando alturas, todo mundo dizia sobre ele escalando, que era perigoso ele cair, essas coisas, mas eu fui até ele com a câmera e ele saiu do casco. Ele me conhecia porque era próximo dos Chili Peppers. Ele nunca tinha me visto, mas sabia quem eu era. Foi uma entrevista de dez minutos, acho que foi sem cortes ou quase sem, mas foi algo mágico em dez minutos. Ele me falou basicamente a história de sua vida, suas influências, quem ele admirava, sobre todos seus ídolos, sabe? Ele também disse que não tinha medo de morrer. Foi algo muito intenso, muito intenso. Foi no meio do dia, ao lado do festival que estava rolando, dá pra ouvir o barulho, a música, e para mim foi muito especial por haver uma boa vibração vinda de alguém e por ser muito rápido: pergunta-resposta, pergunta-resposta, pergunta-resposta. É uma das minhas favoritas, pois é uma entrevista curta e direta ao ponto.
Sim, toda a entrevista foi em dez minutos?
Sim, e ele foi muito aberto. Havia uma ótima vibração. Ele se abriu e me falou tudo. Houve alguns momentos que se falou: "Oh, essa é uma pergunta bem profunda", ou algo do tipo, mas então ele decidiu falar tudo, o que foi bem legal.
Sim, é uma entrevista bem intensa.
Sim, fico feliz por você gostar dela. Pouca gente a viu, mas acho que é muito boa.
É uma entrevista muito boa mesmo.
Obrigado.
Ano passado, entrevistamos a ex-namorada de John Frusciante em 1994, Toni Oswald. Ela nos disse: "John toma todas as suas decisões, tem uma determinação muito grande e sempre vive a vida que quer viver". Como você vê essa segunda saída dele dos Red Hot Chili Peppers?
Eu tenho que ser honesto com você. Eu não tenho seguido muito os Chili Peppers pelos últimos cinco anos ou mais. Não soube muito bem o que esteve acontecendo. Eu estava com um sentimento diferente para fazer filmes e documentários, então não sei realmente o motivo de sua saída, para ser honesto, não sei. Com certeza fãs sabem mais sobre isso, mas eu não sei. Não sei o que pensar disso, sabe? Tudo que sei é que esse é o John que conhecemos. É um artista que gosta de fazer arte. Ele sempre foi interessado em fazer arte, ele nunca foi interessado em fazer fama, sabe, dinheiro é bom, com certeza, te compra uma boa casa, mas talvez ele tenha buscado a liberdade, eu não sei. Ele é uma pessoa artística, não só com a música, mas quando você fala com ele sobre música é bem intenso. Eu achei que eu era bom nisso, mas ele é demais (risos). Nós conversamos uma vez quando ele veio a Amsterdam fazer um show no Paradiso, que é um clube de rock da cidade, ele fez um show solo num pequeno espaço, tocando suas próprias músicas, aí conversamos um pouco. Eu não filmei isso, me arrependo, mas não filmei. Eu estava indo ao show como um fã, sabe, e também para dar um oi para ele. Eu disse a ele: "De alguma forma, você me lembra, pelo jeito que você trabalha, que é sempre bem espontâneo e não fabricado, um cineasta que eu admiro de Nova Iorque dos anos 60. O nome dele é John Cassavetes". E foi muito engraçado porque ele disse: "Oh, John Cassavetes!? É um dos meus cineastas-herois!". Ele tinha um estilo bem espontâneo de dirigir, sempre focava na história e não na luz certinha da cena, seus filmes parecem mais um documentário, ele é um cineasta bem intuitivo, sabe? E isso interessou John porque John Cassavetes era um heroi para ele e quando falei dele John ficou "Sim, sim!". Então esse é o John, totalmente dedicado e é aquele cara que só tem um lado, uma coisa, esse é ele. O melhor jeito de descrevê-lo é "um verdadeiro artista". É como um artista deveria ser, sabe, sem se preocupar com dinheiro, ou com o que outras pessoas dizem para você fazer. Para mim esse é o melhor jeito de fazer arte, sabe? Uma coisa que me lembro daquela entrevista que ele deu num barco em Amsterdam (1991) tocando "Under the Bridge" junto com Anthony, ele disse que se rodeava por vários tipos de arte para se inspirar. Ele citou vários nomes de grandes artistas como Da Vinci, por exemplo. Ele se rodeava com esse tipo de arte para se inspirar. Isso é coisa de gente muito dedicada a fazer coisas bonitas. É algo para se admirar.
(Pergunta de Dennis Lucas) Com que palavras você descreveria John Frusciante? Vocês ainda mantêm contato hoje?
Não, não temos contato hoje. Como eu disse, tentei falar com seu advogado no Facebook para alcançá-lo, mas não deu e desisti para me focar em outras coisas, sabe? Então não tenho mais contato com ele, embora eu gostasse de fazer um filme com ele, mas não sei o que acontecerá no futuro, vamos ver. Sobre como eu o descreveria seria novamente “um verdadeiro artista”, como eu disse.
(Pergunta de Dennis Lucas) Qual foi seu momento mais divertido com o Red Hot Chili Peppers?
Oh, me lembro disso. É uma coisa pequena que para mim é bem divertida. Talvez você se lembre da cena que eles estão sentados numa sala de ensaio em LA e estão ensaiando para o Blood Sugar Sex Magik. Anthony não estava lá, então só havia três deles: John, Chad e Flea. Eles estavam fazendo piada de mim. Eles sabiam que eu era um grande fã de Little Feat, que era uma banda dos anos 70 que também era de LA, e eles começaram a fazer piada porque havia um retrato de Lowell George, que era meu heroi, tinha uma foto dele no estúdio e Flea começou com "Sim, sim, bambi igual ao Lowell George" e depois começaram a brincar que o fantasma de Lowell George estava percorrendo o prédio. Era tudo brincadeira e houve muita risada, foi muito engraçado. Havia sempre um bom humor sobre fazer piada sobre mim, sobre as gravações, sobre Anthony. Essa é uma coisa específica que eu lembro que foi muito engraçada, principalmente porque é uma coisa pessoal. Eles ficavam me provocando. Esse definitivamente foi um dos momentos mais engraçados que tive com eles e que eu adorei. Mas vários momentos foram engraçados e relaxados, parecia que não havia câmera, essas coisas. (Nota do UF: este momento está registrado neste vídeo)
(Pergunta de Phillipe Corrente de Andrade) Você foi de algum modo influenciado pela banda, principalmente por John? Há algo que você aprendeu no tempo que os seguiu?
Sim, se você estudar a carreira deles, vai ver que é uma carreira de uma banda de muito sucesso. Eles começaram a fazer a coisa deles, sabe? Não o que as outras pessoas faziam e sim a coisa deles. Então, em algum momento, se você é bom e se você mantém o que você faz...Eu não sei. É como Flea disse numa entrevista em Bruxelas: "Você tem que manter sua originalidade, mas ao mesmo tempo ouvir o que as outras pessoas fazem de sucesso". É uma combinação. Várias bandas de sucesso começaram únicas e depois atravessaram algo para fazer suas músicas terem sucesso com uma audiência maior. É assim que acontece. É algo consciente, um movimento consciente. Uma vez falei com Flea sobre a necessidade de mudar, sabe? Assim como foi quando eles fizeram Stadium Arcadium. Eles decidiram fazer músicas pop de 3 minutos. Foi isso que eles fizeram. Impuseram-se um limite para fazer a música de 3 minutos mais melódica possível, salvo raras exceções. Então isso está longe quando você pensa em como eles começaram, há uma grande diferença, é como uma anarquia, sabe? De certo modo, esse é um bom desenvolvimento. Você não consegue fazer o mesmo do que você já fez, você tem que se desenvolver também. Acho que quanto mais dura o seu trabalho, maior é o desafio, porque o trabalho é seu, mas você o compartilha com várias pessoas, sabe? Acho que eles fizeram um excelente trabalho. Fizeram uma total anarquia dos primeiros discos. E eu só posso admirá-los por fazerem isso, principalmente depois deles aguentarem, passarem e sangrarem por vários momentos onde pensaram em acabar com a banda. Mas Flea e Anthony seguraram firme e continuaram. Disseram: "Vamos passar por isso". Essa perseverança é elogiável e admirável, de não desistir, seguir em frente, desenvolver seu talento. Eles são um exemplo para jovens músicos. A carreira deles foi muito bem administrada.
Acho que eles tiveram vários altos e baixos.
Sim, vários altos e baixos e não desistiram. Especialmente Flea, ele é uma pessoa muito dedicada, assim como John é muito dedicado a sua arte. Flea é um cara muito sério. Eles são exemplos para qualquer um.
Há algum álbum de John Frusciante que seja seu favorito?
Não sei. Apenas ouvi algumas músicas aqui e ali. Gosto de algumas músicas e tem uma que eu não lembro o nome que gosto muito. É de um álbum com uma capa azul com letras laranjas.
To Record Only Water For Ten Days?
Quais são as músicas mais conhecidas dele? Acho que já ouvi.
"The First Season", "Going Inside"…
Talvez seja essa. Espere um pouco, vou buscá-lo...Sim, "Going Inside", eu acho. Gosto muito dessa. Na verdade, eu não ouvi todos os seus álbuns solo, embora eu estivesse aberto para isso, só ouvi algumas músicas deles.
É meu favorito também (risos).
Engraçado. Isso é bom!
(Pergunta cedida gentilmente por Shalhevet Dvir, do site Chili Source, que também entrevistou Bram em 2011) Qual é o seu álbum/música favorita do RHCP?
Há várias. A minha favorita ao vivo seria "Me and my Friends" (na versão do meu próprio filme). Também gosto dessa música no último álbum, "Wet Sand". Às vezes, gosto de “Turn it Again”, porque John, finalmente, manda ver totalmente nessa (acho que ele deveria ter feito isso muito mais). Esse álbum soa como um esforço muito consciente para fazer algum tipo de perfeito álbum pop "beatlezado". Gosto de coisas um pouco mais grosseiras e desalinhadas. Minha banda favorita não é o RHCP, mas sim o Black Crowes.
Você conhece alguma coisa sobre a música brasileira?
Sim, eu já entrevistei o Sepultura uma vez. Fiz um pequeno filme com eles quando estive na América. Foi um filme de dez minutos no Arizona. Vi eles tocarem também no Pinkpop, um famoso festival daqui. E claro, conheço Gilberto Gil, esse tipo de coisa, sabe? (risos). Talvez você pudesse me indicar um ou dois. Esses são os que eu conheço.
Há algo que gostaria de dizer para quem está lendo essa entrevista?
Agradeço e fico muito honrado que você tenha me ligado do Brasil e tenha descoberto meu trabalho, isso é incrível. Graças ao Youtube isso acontece. Há alguns anos atrás meu filme sobre hip-hop foi descoberto por uma empresa americana e você está me entrevistando sobre meu trabalho e pessoas de outros países também. Fico feliz de ser uma ajuda te contando sobre meu trabalho. Aliás, vou te contar uma história engraçada. Fui até a Austrália ano passado, em Melbourne. Lá, antes de eu ir, eles estavam passando meu filme de hip-hop, então eu perguntei para os caras: "Por que vocês não me convidam para ir a Melbourne? Eu nunca estive aí. É um vôo de 24 horas, mas eu gostaria de ir". Então eles se deram bem com o Big Fun in the Big Town, conseguiram um patrocínio e puderam pagar minha passagem e três noites num hotel, o que foi bem legal. Foi o mesmo no último verão em Nova Iorque. Lá passaram esse mesmo filme em um evento musical, ou algo assim. Se você puder arrumar um patrocínio, podemos ver todos meus filmes juntos aí no Brasil, eu levaria fitas, DVDs, o que vocês quiserem. Fico aqui em Amsterdam vendo minhas coisas e é bem legal de assistir e conversar. As pessoas de Melbourne adoraram conversar sobre o filme. Fico feliz dessas coisas ainda serem vistas hoje. É muito bom saber que as pessoas ainda estão curtindo o que foi feito há tanto tempo atrás. Se você puder me convidar para o Brasil, cara, vou na hora (risos).
Claro que convido, com certeza! (risos). É muito bonito. Várias pessoas da Europa gostam bastante.
Sim, já ouvi falar. Quero ver todas as garotas bonitas daí também (risos).
(Risos) Ok, Bram. Muito obrigado pela entrevista.
Claro, quando estiver tudo pronto me avise que quero publicá-la em meu Facebook.
Com certeza. Quando você tiver algum material novo, é só nos mandar que postamos no blog ou na fanpage também.
Ok. Há pouco tempo achei um vídeo sobre Lenny Kravitz que pouquíssima gente viu e um sobre Nick Cave também. Assim que colocá-los online, te aviso! No mais, foi uma ótima conversa. Obrigado pelas boas perguntas e boa sorte.
Obrigado. Boa sorte com seu trabalho também.
Obrigado. Até mais.
Entrevista realizada pelo Universo Frusciante - publicada por Cidimar Lima em 15 de novembro de 2014.
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