6 de maio de 2019

John Frusciante fala sobre suas bandas favoritas - Meados de 2003


Entrevista concedida por John Frusciante no backstage de um show dos Red Hot Chili Peppers na turnê de By The Way, em 2003. Patrick Kendall faz perguntas a Frusciante sobre os Red Hot Chili Peppers e sobre algumas das bandas favoritas do músico - The Cure, Nirvana, Nine Inch Nails, Radiohead e REM.







Por que você acha que os Red Hot Chili Pepers são uma das maiores bandas na atualidade?

"Eu não sei, acho que é popular e estamos fazendo alguma coisa com nossos corações, pelas razões certas. Hoje existe muita música. E sempre teve gente entrando na música por que considera um bom negócio e tem gente que faz por que se importa com a música que está tocando; e a maioria dos grupos que sente-se assim geralmente não atinge esse nível de popularidade, em que se é ouvido e admirado dessa forma. Mas para mim, aqueles são mais, você sabe, se eu provavelmente achar mais grupos que para mim valem a pena seguir pela história, nunca atingiram aquele nível de sucesso, mas eu acho que é por que todas as pessoas na minha banda são fãs de bandas que não estavam naquele nível de sucesso. Nós estamos fazendo coisas por mais razões relacionadas ao amor a musica do que por causa do negocio.




Eu acho que a ideia de ter um cantor como Anthony é que muita gente o vê como não músico e isso vem de uma premissa de um ponto de vista de alguém que os sentimentos pela música são muito concisos mas ele tem uma grande capacidade de sentir a musica, apesar de não saber nada sobre música, ou notas ou qualquer uma dessas coisas. E isso faz uma interessante justaposição contra Flea ou Hillel, que era o guitarrista antes de mim, que são muito devotos aos seus instrumentos. E faz um bom equilíbrio. Durante o tempo em que estive, ele mudou seus vocais de basicamente melodias faladas, não exatamente notas melódicas mas um tipo de movimento de rap, que não é melódico. Ele foi disso para agora que é quase sempre exclusivamente melódico.

Para mim ele esta crescendo, como um escritor de canções maduro, e originalmente ele estava saindo daquele lugar de não fazer melodias. Para mim tem sido tudo intuição da parte dele, ele ainda não sabe nada, ele não consegue se encontrar no piano, então é tudo inspiração.




Para mim é inspirador por que eu gosto de ouvir, você sabe, gosto de dar a ele uma progressão de acordes, uma série de acordes e ver o que ele faz, as notas que ele escolhe desses acordes, por que muitas vezes ele escolhe uma nota estranha do acorde que eu não esperava que alguém que não toca um instrumento soubesse que aquela nota estava lá.

Ok, mas eu vou falar apenas da minha banda a entrevista toda? Isso vai tomar todos os 15 minutos."




Ok, sobre The Cure, o que faz The Cure uma das maiores?

"Eu não posso responder perguntas como essa, eu posso dizer o que aquele grupo significa para mim. Não posso dizer por que essas pessoas são as maiores, está fora do meu alcance.




Durante Californication, The Cure foi uma das minhas bandas favoritas. Especialmente na canção 'Californication', eu estava deitado ouvindo The Cure e Anthony teve essa ideia de vocal que estava rondando, que eu não conseguia conceber o que colocar por trás nos acordes, e eu estava ouvindo essa musica, esqueci como se chama [aparentemente "Carnage Visors"], que dura meia hora e são 25 minutos de instrumental que eles fizeram na mesma época do terceiro álbum, não consigo lembrar o nome mas se você ouvir, soa como 'Californication' (cantarola algumas notas). São notas diferentes mas o mesmo ritmo, o mesmo sentimento. Para mim, 'Californication' foi muito influenciado por The Cure, e nenhuma critica foi feita quanto a isso, nunca ouvi fãs mencionarem isso para mim, mas de meu ponto de vista, do ponto de vista de Flea... talvez seja por que é um período especifico do The Cure, Seventeen Seconds e Faith, aqueles dois álbuns influenciaram muito Flea e eu na período de Californication. Se eu escuto Californication eu escuto muito aqueles dois álbuns. E eu gosto do jeito que Robert Smith tocava guitarra naquela época, bem minimalista e escolhendo notas interessantes; algumas pessoas são minimalistas mas as notas que escolhem parecem obvias. Eu sentia na época, apesar de não saber, que ele estava envolvido com Captain Beefheart, apesar de não ter nada na música que lembre Captain Beefheart. Você percebe que a pessoa que está ouvindo está em um lugar estranho e eu gosto muito."




E Nirvana, o que significa para você?

"Eu os vi em 1988 ou 89, um pouco antes de Bleach ser lançado, em um pequeno clube em LA chamado Raji’s e eu acho que foi a primeira vez que eles tocaram em LA, tem uma foto minha no livro de música lncesticide onde você pode me ver sentado na frente, vestindo uma camiseta do T-Rex e vendo Kurt, colocando a guitarra acima da cabeça ou coisa do gênero.





Naquele época eu achava que eles eram legais, com um nome como Nirvana eles deviam ser mais, deviam estar tocando de uma forma, ao invés de, você sabe. E eu achei sua voz incrível, naquela época estávamos tocando, éramos populares in LA, tocávamos para milhares de pessoas, 1500 pessoas; nós e Jane’s Addiction éramos vistos como duas bandas populares de LA naquela época; e eu achei que Nirvana podia ser tão popular quanto nós naquela época e foi o que eu disse para Anthony quando estávamos saindo. Mas depois eu não ouvi a respeito, eu não prestei atenção ao que estavam fazendo. Eu não liguei muito para Nevermind, muita gente me odeia por dizer isso, mas eu estou no punk desde os 9 anos de idade e não sou muito a favor de punk para massas e é isso que aquele álbum foi, punk para crianças de colégio; tem algumas músicas que eu gosto. O álbum que me fez amar Nirvana foi In Utero, quando eu ouvi aquele álbum me surpreendi, fiquei tão feliz de ouvir alguém gritando daquele jeito. Obvio que em Nevermind eu amava sua voz, sua voz é incrivelmente gritada, mas In Utero eu amo a intensidade e a realidade, não soa como uma ideia de produtor, parece eles tocando a musica que querem e é por isso que para mim é de longe o melhor álbum; sou fã do lado b daquele álbum, que não saiu, 'Moist Vagine' e 'Sappy'. Do Nirvana eu tenho todos os bootlegs , eu sou um super fã, eu tenho tudo que se pode ter, uma grande coleção, ele tem sido inspirador para mim como compositor, cantor, guitarrista, eu gosto desse jeito de tocar guitarra, parece uma grande explosão."




Nice, Nine Inch Nails

"Nine Inch Nails, quando eles surgiram eu não era um fã deles, mas alguns meses antes de entrar nos Chili Peppers eu comecei a ouvir, antes dessa ultima vez que voltei, e eu comecei a notar como Downward Spiral era brilhante e o EP Broken. Eu estava me envolvendo com música industrial que eu penso que igualmente vale a pena que as pessoas escutem, as coisas anteriores de Ministry, e Skinny Poppy e coisas como essas são igualmente válidas. Para mim Nine Inch Nails é a versão comercial daquela música, que é um pouco mais sonoro que Skinny Poppy ou Ministry. Eu acho que Trent Reznor é um grande artista, e provavelmente uma pessoa muito infeliz e eu acho que ele faz bom uso de sua infelicidade, e sua música é boa de se relacionar quando está sentindo-se para baixo. Tem uma música deles, qual o nome daquela música, trilha de Natural Born Killers, eu não consigo me lembrar o nome  [provavelmente se referindo à "Burn"] mas realmente é uma musica bem peculiar, uma música que soa muito pesada para mim; é um sentimento que tenho com alguns grupos, Nirvana é outro por exemplo que me traz esse sentimento, mas Nine Inch Nails definitivamente tem daqueles momentos que você pensa que nada pode ser mais pesado."




Radiohead

"Eu não gostava de Radiohead, e você pode perceber um padrão aqui, eu nem gostava de Okay Computer, eu não gostava daquele jeito de tocar guitarra que eles faziam na época. Quando Kid A foi lançado eu fiquei animado, e me lembrou do sentimento que eu costumava ter quando era criança, os álbum de Laurie Andreson e Talking Heads e foi disso que me lembrei. Eu nunca perguntei ao Talking Heads se algum deles gosta de Laurie Anderson mas, foi isso que me lembrou e eu fiquei muito animado. Eu fiquei muito feliz de ouvi-los usando a guitarra de uma maneira mais sutil; apesar de não ter muita guitarra eu achei brilhante, as cinco notas que tocaram no álbum todo, o jeito que tocaram.




Depois que me encantei com Kid A eu comecei a ouvir Okay Computer e eu gostei muito; eu gostei de apenas uma música de The Bends; eu amei o novo álbum [Hail To The Thief], mas não vamos falar sobre, não quero promover mais do que já foi. Mas Kid A e Amnesiac e o álbum ao vivo, são álbuns brilhantes e sua voz é tão bonita e a guitarra é muito legal. Guitarra daquele jeito que não tem conexão com Jimmy Page, Jimi Hendrix ou Van Halen eu considero um ótimo jeito de tocar guitarra. Apesar de adorar essas pessoas que mencionei eu adoro ouvir gente que parece ter outro estilo que não se ouve muito, por exemplo John McGee e Siouxsie & The Banshees, pessoas que tocam de um jeito com mais textura, que não estão tentado ser heróis da guitarra mas tentando fazer música interessante, é isso que vejo que estão fazendo no Radiohead com a guitarra, e é onde também estou tentando chegar no momento."




E REM?

"Me deixa falar sobre REM [se dirigindo a uma terceira pessoa que entra na sala para encerrar a entrevista].

A música do REM significa muito para mim, especialmente na época antes de voltar para a banda, quando eu era um viciado em droga por algum tempo e gradualmente todos os meus amigos desapareceram, eu basicamente não tinha amigos. E quando eu ouvia a sua música eu me sentia como se tivesse um amigo. Para mim eu sempre estarei em débito com eles por me proporcionarem aquela sensação. Eu penso que naquele momento eu estava tão perto de morrer a qualquer momento, eu estava perdendo contato com o mundo, naquele ponto que parecia não haver mais lugar para mim no mundo; eu não achava que o mundo me queria, não parecia que eu tinha qualquer razão para estar aqui, parecia que eu ia morrer muito rápido, e a principal razão disso é que as pessoas não gostavam mais de ficar perto de mim e eu não gostava de ficar perto das pessoas. Mas quando eu ouvia a sua música eu sentia como se tivesse um amigo ali, e é algo que minha imaginação me concedeu. Eu sou muito grato a eles. A música deles é muito amigável e eu os amo muito ."





Entrevista e vídeo: Patrick Kendall
Tradução: Eloá Otrenti - Frusciante Brazil

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