25 de junho de 2019

A mais nova prole dos Chili Peppers - Junho de 2002


Entrevista concedida por John Frusciante, na Alemanha, no dia 08 de junho de 2002, no dia posterior ao show no terraço do Saturn em Hamburgo. Frusciante fala sobre sua relação com By The Way, influências, matemática, The Brown Bunny, seus novos álbuns e a parceria com Josh Klinghoffer.



Você deu muitas entrevistas antes, isso tudo te incomoda? De alguma forma?

"Não, é divertido."

E foi todo mundo legal?

"Sim."

Ótimo então parabéns aos Alemães.

"Sim."

Fico feliz. Como foi ontem para você tocar naquela cobertura?

"Foi legal, eu estava curtindo muito o céu cinza. Na noite anterior eu sai para andar e o céu estava bem bonito, e eu estava ouvindo Peter Gabriel nos meus fones. E eu estava apenas apreciando o céu e estava muito feliz e desejando que tivesse aquela beleza na noite seguinte que tocaríamos, e estava."



Eu fico imaginando como o camarim de vocês é.

"É do mesmo jeito que um camarim sempre é, por que temos essa mesma garota, Lisa, que sempre arruma o camarim para ficar bonito e ela coloca esse material nas paredes e tapetes. E ela tem esse material que ela espalha nos sofás. Então sempre fica familiar independente de onde estamos por que ela sempre faz a mesma coisa."

Que ideia brilhante!

"Sim, as vezes é terrível. Normalmente os espaços são frios e brancos e ela faz parecer como a nossa sala de estar. Fica acolhedor e confortável."

E desde quando vocês têm isso?

"Acho que desde que começamos, foi em algum momento durante a turnê de Californication. É uma das coisas que ajuda a ser tão prazeroso fazer um show, uma turnê, por que tem alguém bom fazendo o que ela faz para ficar legal."

Eu ouvi o disco novo e as primeiras impressões que tive foram que parece bem maduro e relaxante, o que você acha que é responsável por isso?

"Eu não sei. Eu acho que estávamos trabalhando para ter músicas melhores. Quero dizer tínhamos as melhores músicas que acabaram indo para o álbum.

O que você escuta no álbum não é representativo do que ensaiamos por que nos ensaios soa mais barulhento. Mas quando o cantor coloca as letras do vocal e o produtor ajuda a escolher as melhores músicas que acabam ficando no álbum. O objetivo é ter músicas bonitas.

É diferente dos dias de Mother’s Milk que nosso objetivo era ser duro e forte. E agora a ideia e ter beleza e boas melodias e melhores mudanças de acordes, uma química interessante entre os instrumentos que estão sendo tocados, tentando colocar instrumentos que não usamos antes, esse tipo de coisa.

Eu acho que no passado estávamos comparando tudo com Bad Brains e Funkadelic. E agora estamos mais Phil Spector e Beatles."

Eu conversei com todos os seus colegas de banda e todos disseram que uma coisa que fez esse álbum ser tão especial e bonito são os vocais por trás da musica, e isso é seu trabalho, por que você estudou Phil Spector e outras coisas como matemática, é verdade?

"Sim tem muito de matemática quando se trata de harmonias de vocais. É o mesmo principio que usamos para entender acordes e harmonias. São muitos números mas por sorte são números simples de entender, são sempre números abaixo de 13. Então você só precisa ser capaz de contar até 13. A parte técnica é algo que sempre entendi, eu sempre tive a habilidade de entender a maneira como a harmonia funciona, mas foi só depois de terminar a turnê de Californication que eu comecei a realmente pensar em harmonias todo o tempo. Eu fiz algumas em Californication por que Rick quis. Pra mim é apenas logico entender como colocar algumas harmonias na música. Mas transformar harmonias em melodias e como criar uma grande quantidade e colocar sentimentos é algo que demandou esse tipo de estudo para fazer como nesse novo álbum.

Eu estava ouvindo, além das coisas obvias como Beatles e Beach Boys, Doowop dos anos 50 e Phil Spector e coisas como essas, também tem muitos álbuns com harmonias que você pode aprender essas coisas que não são tão obvias, como David Bowie e...provavelmente eu estava ouvindo as obvias (risadas). E aprender com o que você está ouvindo como Freddy Mercury e pessoas como essas."

É muito incrível quando estamos ouvindo esse álbum, tem muitos estilos de guitarra, deve ter sido super divertido para você gravar.

"Foi divertido pensar em que tipos e estilos de guitarra eu queria combinar, e que guitarristas eu queria me influenciando, ou que não me influenciassem."

Por exemplo os que não queria ser influenciado?

"Eu tentei evitar qualquer estilo rock star, heróis da guitarra. Queria novas bases e novos heróis da guitarra. Longe de mim diminuir aquelas pessoas eu as amo, e ficaria feliz imitando Jimmy Page pelo resto da minha vida. Mas eu não acho que seja a coisa mais produtiva a fazer, musicalmente e historicamente. Então eu tentei ficar longe de fazer riffs e runs e coisas como essas que são tradicionais em solos de rock stars, e tentei começar de um lugar novo, nova perspectiva. Algumas das pessoas com quem eu estava aprendendo, a maioria dos guitarristas com quem eu estava aprendendo tinham mais a ver com o estilo de acordes do que tocar melodias. Apesar de ter muitas pessoas que eu gosto que tocam melodias. Você quer ouvir sobre elas ou apenas a que eu não queria me inspirar?"

Eu estava interessada nas que você não queria? Você pode dizer sobre como seu trabalho solo deixa sua cabeça livre para os Chili Peppers?

"É importante para mim ter toda minha música em diferentes perspectivas. As musicas que eu escrevo nos Chili Peppers, é um grande processo para coloca-las juntas e muito esforço por que estou pensando em como quero que o álbum soe como um todo, e lido com pequenos pedaços individuais, como músicas. Esse álbum tem sido quase um ano e meio da minha vida. Então meu trabalho solo flui mais livre, mais naturalmente, a música dita mais onde vou do que eu dito onde quero que a musica vá. Com meu trabalho solo, as músicas acabam surgindo e eu fico “ah essas músicas combinam, e essas combinam entre si” e eu coloco em diferentes categorias.

São três grupos de músicas no último ano e meio: músicas do filme de Vicent Gallo, Brown Bunny que será lançado no próximo ano, que eu fiz todas as musicas; outras músicas que são completamente eletrônica com algumas guitarras e vocais, mas a maior parte é eletrônica; e outras que soam mais humanas que requerem baterias reais que serão gravadas com meu amigo Josh Klinghoffer, um garoto de 21 anos que tem colaborado em alguns projetos. Isso terá um nome mas ainda não sabemos como será então tenho muitas músicas para esse."

Você pode me dizer sobre o que será o filme de Vicent Gallo?

"Não acho que eu possa dizer muito. Sei que chama Brown Bunny, é sobre um motociclista."

As pessoas vão ver de qualquer forma. Já aconteceu de você querer algo no seu trabalho solo e decidir “não os Chili Peppers podem ficar com essa”?

"Não, uma das músicas nesse álbum pode ser algo que eu teria escrito para mim mesmo, com estilo de acordes. Então eu falei para mim mesmo que poderia fazer algo desse tipo para os Chili Peppers. Mas tem uma música que Rick Rubin queria para os Chili Peppers mas era claramente uma música para o filme de Vicent Gallo, provavelmente a música principal no filme, é tão diretamente sobre o filme, sobre o espirito do filme e Rick tentou desesperadamente me convencer a deixar para os Chili Peppers. Não é isso, eu sou abençoado com essa habilidade de saber, eu escrevo muitas músicas e sei para qual projeto cada uma é, eu não vou deixar uma que eu sei de coração que é para uma coisa e deixar em outra."

Eu tenho essa imagem incrível de você com suas músicas e pessoas puxando e pedindo “da essa para mim”, eu te dou muito dinheiro. Você consegue lembrar de algo que te deixou triste ou que ficou muito animado, de maneira positiva.

"Eu geralmente fico animado quando penso em minha namorada, no jeito que ela é. Eu ando por ai animado com isso, os nomes que chamo ela e eu fico muito animado."

Seus olhos começaram a brilhar quando você está falando dela, está funcionando. Muito obrigada.

"Eu não fico muito chateado com as coisas, mas tem sido um sentimento estranho deixar esse álbum sair, eu acho que estou mais triste nesses últimos dias do que no último ano e meio. Por que o sentimento de soltar essa coisa que tenho ficado tão perto e tão focado no último ano é um sentimento estranho. Acho que é como quando as crianças saem de casa. Numa maneira é um alívio mas de outra forma é meio deprimente."

É deprimente por que o trabalho acabou ou por que não pertence a você e terá que dividi-lo?

"Eu nunca senti que pertencia a mim, qual era a primeira opção?"

A primeira opção era deprimente por que o trabalho acabou.

"É mais isso, e mais que eu tinha algo para focar e eu tinha algo que estava constantemente mudando por que meu envolvimento nisso, estava constantemente moldando. Para ser sincero eu ainda acho que eu poderia continuar moldando por mais alguns meses e deixar todo esse processo de finalizar. Ainda temos nove músicas que não tivemos tempo de mixar antes de finalizar o álbum."

São 16 musicas no álbum...

"Gravamos 22."

Seria um álbum triplo. Muito obrigada. Vocês estavam falando de mim no corredor...

"Eu não, mas Anthony sim."

De um tapa nele por mim.

Tradução: Eloá Otrenti - Frusciante Brazil

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