13 de outubro de 2016

O maior visionário da guitarra funk-psicodélica do mundo - Fevereiro de 2007


SEE IN ENGLISH: https://www.rollingstone.com/music/features/the-new-guitar-gods-20070222




John Frusciante, John Mayer e Derek Trucks - os novos deuses da guitarra - conversam durante uma jam para revista Rolling Stone de fevereiro de 2007.

“Quando a parte intelectual de tocar guitarra substitui o espiritual, você não chega a alturas extremas", diz John Frusciante dos Red Hot Chili Peppers.




Então ele dá um exemplo de quão alto ele fica com seis cordas e eletricidade: seus cabelos voam no solo de uma recente b-side dos Chili Peppers “Lyon 6.06.06”, gravada ao vivo na França no ano passado.

"Lembro-me de meu cérebro completamente desligado. A energia flui de tal forma que não há nenhuma razão para pensar"
. Mas Frusciante, que completa 37 anos em 5 de março, é também um dos guitarristas com técnicas mais avançadas no rock,vibrante, com um estilo camaleônico cuja a precisão melódica e criatividade foram cruciais para o sucesso comercial dos Chili Peppers em Blood Sugar Sex Magik de 1991.




Nascido em Nova York e criado no sul da Califórnia, Frusciante praticava obsessivamente guitarra em seu quarto, tocando junto com os álbuns, até que ele se juntou aos Chili Peppers em 1989, substituindo o falecido guitarrista Hillel Slovak. Frusciante inesperadamente saiu da banda em 1992, iniciando uma caída de sete anos em um isolamento alimentado por drogas.

Mas desde o seu retorno para o álbum Californication de 1999, a fusão de Frusciante da energia punk e a grandeza exploratória de Jimi Hendrix trouxe a originalidade colorida e explosiva, que é o mais recente álbum duplo dos Chili Peppers, Stadium Arcadium.




Quem são seus heróis da guitarra?

Eu sempre senti que estava me limitando ficando apenas com guitarristas para a minha inspiração. Eu também me inspiro no que você pode chamar de “anti-heróis da guitarra” pessoas com uma originalidade que vai além da estética do “guitar-hero”.


OK, quem são os seus “ anti-heróis da guitarra”?

Lou Reed e Sterling Morrison do Velvet Underground. Nos anos setenta, Keith Levene da Public Image Ltd. e John McGeoch da Magazine inventaram estilos interessantes. Eu sou um grande fã de Matthew Ashman do Bow Wow Wow. Não tenho nada contra os flashes. Mas eu cresci em uma época em que heroísmo e flashes foram ultrapassando o desejo de fazer uma bela música. Kurt Cobain levou a forma de tocar guitarra mais longe do que qualquer um com mais técnica teria feito até então.

Quem fez você querer tocar guitarra?

Foram Ace Frehley, Jimmy Page e Joe Perry. Mas isto foi antes de alguém me comprar uma guitarra elétrica. Até então, eu estava em Greg Ginn [Black Flag], Pat Smear [The Germs], Joe Strummer e Mick Jones [The Clash].




Mas o ponto do punk foi que você não precisa ser um grande guitarrista para expor suas angustias.

Isto foi a um longo tempo antes de eu pensar que técnica significa absolutamente nada. Mas Pat tem um estilo de guitarra rítmica incrível. A maioria dos guitarristas do punk baseiam seu ritmo em toques para baixo. Pat tem uma interessante combinação de toques para cima e para baixo. Eu não consigo descrevê-lo. Mas as cores e os sentimentos no que ele fez foram significativos para mim como uma criança. Elas falaram com o meu cérebro.




Qual é o seu papel nos Chili Peppers? Você tem um grande espaço para passear em meio aos vocais de Anthony Kiedis, o baixo de Flea e a bateria de Chad Smith.

Antes de eu entrar, os Chili Peppers tinham todos os estilos. O som não era sobre o movimento harmônico ou a textura musical. Era pura energia. o jeito de Hillel tocar era muito mais simples do que outros guitarristas, por causa do quão ocupado o Flea estava no baixo. Uma vez que eu senti e consegui entender a simplicidade, deixei de lado a minha ideia de uma guitarra totalmente original na banda. Eu não estava apenas escrevendo coisas que me faziam lembrar dos Chili Peppers. "Under The Bridge" [em Blood Sugar Sex Magik] foi uma tentativa de fazer uma música no estilo das canções mais bonitas de Jimi Hendrix - "Castles Made Of Sand", "Bold as Love".




Como você escreveu a parte de guitarra para "Under The Bridge"?


Anthony escreveu a letra e a melodia vocal. Eu fui até sua casa, e nos colocamos esta melodia na forma de acordes que eu pensei que seriam bons por trás disso tudo. Eu peguei a idéia para o refrão a partir de uma música do Joe Jackson, "In Every Dream Home (a Nightmare)" [de 1980 Beat Crazy]. Tem esta pausa da bateria antes do refrão, então a música começa sem a batida. Em "Under the Bridge", eu fiz a mesma coisa.

O acorde que eu toco antes do intervalo da bateria - Eu peguei de "Rip Off", do T. Rex. Eu literalmente ‘‘rip-off” [risos]. Você apenas segura o acorde maior com a setima menor. nesta música, é um Cmaj7 . No meu, é um Emaj7 .




Quanto de um solo é improvisação – e quanto é planejado antecipadamente?

Na maioria das vezes é sentir o momento. Mas eu faço disso um ponto para chegar a uma maneira de começar muitos deles. Em Stadium Arcadium, eu tenho alguns solos escritos em "Dani California" e "Make You Feel Better”. Os solos em "Hey" e "She's Only 18" eram sempre diferentes de tomada em tomada. Em "Hey", o solo que eu toquei foi sobre a faixa base, só que era de uma tomada diferente. Por isso, nos editamos esta parte do solo.

Você tocou ou praticou musica nestes sete anos que estava fora dos Chili Peppers?


Eu praticamente larguei a guitarra neste tempo todo.




Você estava tecnicamente perfeito quando você voltou?

Eu não estava perfeito em tudo. Mas eu vim a entender profundamente que isso não importa. Eu poderia ter sido um derrotista: "Eu me lembro quando minha mão esquerda costumava ser forte como a de Jimi Hendrix". Isso é um sinal de que alguém tem força como guitarrista - o som da força da sua mão esquerda. Mas tudo o que aprendi como pessoa nesse período, e tudo o que eu tinha sido como alma – isso tudo foi para a música. Estou mais feliz com meu jeito de tocar em Californication do que com meu jeito de tocar em Blood Sugar Sex Magik. Mesmo que eu tivesse de alguma maneira menos capacidade, eu me vejo fazendo o melhor que pude e tudo isso vindo dos lugares certos. Em Blood Sugar, eu ainda estava vendo tudo em relação ao Hillel. Em Californication, é "O que nos podemos fazer? É quatro amigos tocando música. Nós podemos fazer qualquer coisa."




Você tem um álbum favorito do Hendrix?


Eu sou um cara do “Electric Ladyland”. Sua música sempre soa perfeita para mim, porque ele está espalhando o som, cuidando da música em todas as dimensões. Quando a maioria das pessoas pensam em duas dimensões, ele está pensando em quatro.

Eu não acho que há um melhor guitarrista na história. Ele não tem algo que pode ser melhorado. Este é o espírito que vai para ele. Ele cria um lugar onde você pode ser alto, sair e perder-se. Ele trouxe aspectos do som que não sabíamos que estavam lá. Sinto que há pessoas que se deslocam nesta direção, mas não tantos guitarristas – Aphex Twin e Squarepusher [artistas eletrônicos]. Eles continuam o trabalho que Jimi Hendrix começou, mas não na guitarra.




Você já perguntou-se, depois de meio século de guitarra no rock, não há mais nada para descobrir?

Felizmente, eu sempre pensei em mim como um músico mais do que como um guitarrista. Desde que eu estou sempre mudando como pessoa e meus gostos estão sempre mudando também, isso se reflete nas formas que eu me aproximo do meu instrumento. Eu nunca sinto que estou ficando sem idéias, porque é claro para mim - a música é infinita.





Fonte: Rolling Stone (EUA) - Fevereiro de 2007
Tradução: Ygor Almeida de Oliveira

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