1 de março de 2017

John Frusciante e Black Knights na Heavyweights Radio - Janeiro de 2014

Em 29 de janeiro de 2014, John Frusciante e o Black Knights participaram de uma entrevista transmitida ao vivo na internet no programa Heavyweights Radio do site breal.tv. Além de apresentarem o álbum do grupo, Medieval Chamber, vários assuntos foram comentados, desde o Wu-Tang Clan até as influências de Frusciante. Confira o vídeo legendado e a transcrição da entrevista abaixo:




Transcrição:

John Frusciante está na área! Selo novo! Com esses artistas que precisam se espremer um pouco, caras, para que possamos ver todo mundo aí!

Rugged Monk: "É isso aí! Estamos na área! Black Knights na área!"

LBC!

Rugged Monk: "Compton!"

É isso aí! Compton! Cara, antes de tudo, temos que começar com você, obviamente. Você fez tanta coisa incrível. Sucesso após sucesso. Você foi um dos guitarristas mais influentes para muita gente, fez muita coisa com isso, cara, digo, com os Chili Peppers, Mars Volta, até no seu próprio selo, sabe? Obrigado por ter vindo, antes de tudo, cara. Foi muito foda. Eu quero falar disso primeiro, a guitarra...Você quer o microfone, você quer tirar?

John: "Não, essa distância está boa?"


Sim, espero que sim. Você começou novo e se juntou aos Chili Peppers e tudo. E Rick Rubin acompanhou vocês depois de vocês fazerem umas paradas maneiras. Rick Rubin é uma grande influência para o que fazemos aqui, sabe? Ele é um dos meus ídolos em tudo. Alguma história maneira que você pode contar com Rick Rubin? Bad vibes?

John: "Não, sem bad vibes. Nesse período da minha vida eu acho interessante eu ter tido essa relação próxima com ele e ele ser um dos pioneiros do hip-hop, essas coisas. Eu comecei a fazer esse tipo de música não para estar num caminho igual ao de Rick, sabe?"

Sim, você estudou os melhores guitarristas.

John: "Sim, mas o que me guiou a fazer isso foi fazer música eletrônica, música avant-garde eletrônica, que não é muito popular ou comercial. De repente, eu fiz por muito tempo e pensei “Oh, agora eu posso fazer hip hop”. Não foi algo que eu estava planejando. Eu realmente peguei um caminho não-comercial, isso me desconecta de Rick, mas comecei a fazer hip hop, o que é interessante, porque ouvi o álbum do LL Cool J que ele fez. Eu me ligo não só no que ele oferece como produtor, usamos os mesmos equipamentos, como o 707, então poder ouvir as coisas que ele fazia no 707 em, sei lá, 1985 é divertido pra mim. Ter trabalhado com ele por tanto tempo...Muito do que ele deu pra minha banda foram idéias de batidas, idéias de vocais, então tive essa experiência de trabalhar com ele, um dos pioneiros do hip hop. O que eu ouvia não era apenas a música dele, mas também como a mente dele trabalha. É uma interessante circunstância do destino essa pessoa que trabalhei por tanto tempo ter outra conexão comigo além do que eu fiz e eu mesmo acabar sendo um produtor de hip hop."

Sim, e no caminho desenvolver um selo e tal.

John: "Sim, eu penso muito nele."


Tenho certeza. Tenho certeza que você tira influência de vários lugares. Quem são suas influências?

John: "Eu sou o oposto de muitas pessoas nessa questão. Eu tento ouvir coisas que são similares a coisas que eu estou fazendo, não sou muito de ouvir uma coisa e fazer algo parecido, mas...No hip hop, você diz? Eu gosto do jeito que era nos anos 80 e no início dos 90, como Marley Marl, que é um dos meus produtores favoritos. Eu gosto quando as pessoas são bem experimentais e tal, quando eles ainda não sabem muito o que estão fazendo é aonde eu mais aprendo como músico, sabe?"

Apenas falar de Marley Marl já diz muita coisa. Muita gente não ia falar isso. Eles falariam coisas óbvias, mas você...

John: "Sim, eu vejo as produções dele como algo imaculado, sabe?"

Sim, sagrados pra nossa época. Eu também quero te parabenizar pelo seu Rock n Roll Hall of Fame, isso é definitivamente...qual é, vamo lá pessoal! Tem tanta coisa pra falar com você, mas...você tem um selo agora, você pode...

John: "Como assim eu tenho um selo?"


Eu ouvi que você...você põe discos pra vender agora. Não? Você está trabalhando com esses caras...

John: "Não, meus discos saem pela gravadora Record Collection e é o mesmo selo que esse álbum está saindo. Eu tenho lançado discos por essa gravadora por, tipo, dez anos."

Ah, ok. Como você se ligou nesses caras, os Black Knights? Eu sei que você fez alguns trabalhos com RZA, você os conheceu através dele?

John: "Eu conheço Monk desde a época que conheci RZA, acho que isso faz seis anos ou mais..."


Rugged Monk: "É, faz seis anos. RZA nos juntou e a gente começou a conversar. Era eu e John, a gente construiu uma relação, ele estava fazendo alguns pequenos projetos, EPs, eu tinha ouvido o Empyrean, que é um bom álbum, eu realmente curti. RZA o colocou no seu filme chamado The Man with Iron Fists, mas aí o próximo projeto de John foi com meu parceiro Kinect do Killarmy, e aí ele me pediu pra participar e eu disse “Beleza, vamos ver”. Então nós gravamos e isso levou a outra gravação no álbum que foi...a primeira que fizemos foi “FM”, depois fizemos Letur-Lefr?"

John: "Letur-Lefr é o álbum que “FM” está."

Rugged Monk: "Ah, “FM” está nele, ok. Então a gente desenvolveu a amizade assim. A gente construiu uma vibe legal e ele me chamou pra gravar mais, a gente ficava mais junto e tal, RZA e eu também, sabe? A gente curte ver lutas de boxe e tal, juntos na casa do John. Então ele me pediu pra chamar Crisis The Sharpshooter, que é meu parceiro do Black Knights, que é nosso grupo filiado ao Wu-Tang, sabe? Em 1998, a gente estreou no The Swarm, assim como nos projetos solo de RZA, no Bobby Digital e tal..."


A Loud assinou com vocês...

Rugged Monk: "Sim, assinamos com a Loud, fizemos um acordo com a Loud, mas aí a Loud foi comprada pela Sony. A Sony não selecionava grupos de hip hop, então a Loud perdeu seu selo de discos, assim foi como Mobb Deep do Free Agents, os projetos de Fat Joe e Big Pun foram todos colocados dentro do Wu-Tang, que lançou Iron Flag, porque eles eram a última parada acontecendo. Nós estávamos no Wu-Tang/Loud, mas assim que ela foi comprada pela Sony e eles não pegavam hip hop, meio que deixou a gente na mão, sabe?"

Crisis: "Foi assim que surgiu Every Night is a Black Knight."

Rugged Monk: "Every Night is a Black Knight foi independente, sabe? E a gente vendeu dez mil cópias independentemente. RZA estava lançando esse álbum enquanto ele tinha muita coisa rolando, foi quando ele voltou ao entretenimento, a atuar e tal...Ao mesmo tempo nós continuamos nos movendo musicamente. Então nós lançamos Every Night is a Black Knight, deu certo e tal. Depois de um tempo voltamos ao estúdio com RZA e começamos o projeto All Skills No Luck, mas devido ao fato dele estar fazendo mais coisas com o Wu-Tang, esse projeto foi mais colocado nas mãos da gravadora e aí..."


Saiu de novo...

Rugged Monk: "É, muitos fatos levaram até ser eu e John ainda trabalhando juntos, começamos a fazer mais gravações, fizemos nossa primeira música que está no álbum, que se chama “Keys to the Chastity Belt”, essa foi a primeira música que gravamos como Black Knights e John Frusciante, então fomos para mais uma faixa...Mas, mais ou menos, não tivemos a pretensão de fazer um álbum, mas John aparecia com mais músicas e já tínhamos seis, sete. Ele mandava músicas pro meu email e dizia “Dá uma olhada” e eu respondia “John, parece que a gente tem uma coisa aí”, depois a gente fez mais algumas gravações. Ele me mandava algumas de volta, mas aí já tinha alguns samples, algumas introduções, e eu dizia “Oh, temos uma coisa aí”. Nessa hora já estávamos no fluxo de fazer música organizadamente e já tínhamos, tipo, vinte músicas. Então vimos todas essas coisas e falamos “vamos ver o que temos”. Ouvimos aquilo e não só tínhamos o Medieval Chamber que nós lançamos e que estou feliz que ele tenha participado tão profissionalmente como ele fez, mas sabíamos que tínhamos mais material pra três álbuns..."

John: "Gravamos quarenta e cinco músicas nos últimos um ano e meio."


Quarenta e cinco músicas em um ano e meio? Aí, como é a vibe de trabalhar com John no estúdio?

Rugged Monk: "Quer responder essa pergunta?"

Crisis: "Sim, nós curtimos. Não tem pressão, todo mundo faz o que faz, só adiciona para a música."

Porque parece assim...Vocês trabalham com um dos melhores guitarristas da nossa era, vocês devem sentir muita pressão, saca?

Crisis: "É um desafio. Definitivamente um desafio, porque ele conhece todos os gêneros de música."

Rugged Monk: "Temos que lembrar que nós somos ligados a um grupo lendário de hip hop, que é o Wu-Tang. Eles tem vários caras bons, tem RZA como produtor. Trabalhar com John é uma parada diferente porque ele é do rock n’ roll e é musicalmente muito respeitado. Quando a gente senta, ele sabe muito de música. Ele me apresentou Jane’s Addiction. Ele me colocou nessas coisas, ou Depeche Mode, também Barry Brown, tudo isso dos anos 70, Donna Summer, essas coisas. Aí ele toca um Ice Cube, sabe? Tem várias coisas maneiras, adoro as coisas que Ice fez. Aí vem Beethoven, Mozart, o conhecimento musical dele é tipo infinito. Vai de A a Z e volta de A a Z de novo."


Você tem feito música eletrônica agora. Como é lançar isso depois de tanto tempo fazendo coisas lendárias no rock?

John: "Eu apenas sigo a direção que me interessa na música. Eu gosto de instrumentos eletrônicos porque você não depende de outras pessoas. Alguém que aprende a engenhar tudo sozinho ou programar todos aqueles instrumentos não tem que estar em uma banda com alguém que você não gosta só porque eles tocam a bateria ou o baixo, ou cantam... Você escolhe com quem vai trabalhar. Então foi assim que veio naturalmente o trabalho com o Black Knights. Todas as parcerias que fiz nos últimos 5 ou 6 anos, desde que saí da banda... A relação musical veio da genuína relação humana."

Tudo começa numa relação orgânica, você falou disso.

John: "Desse jeito eu tenho autonomia porque eu não tenho que interagir com ninguém, a não ser que eu sinta que essa interação é importante para a música... Que eu sinta que irá adicionar algo. Quando esses caras vão pro microfone, vão com total confiança, cheios de crença em si mesmos. Eles acreditam no próprio senso de criação, e não estão preocupados com o que eu penso sobre algo, eles acreditam no que estão cantando, acreditam no próprio estilo deles e isso funciona bem comigo. Porque é exatamente como eu sou. Eu acredito no que estou fazendo e estou pouco me fodendo sobre o que os outros pensam sobre isso. Eles acreditam em si de uma maneira similar. Funciona totalmente, não tem ninguém te falando o que fazer, ninguém tendo que guiar o outro. É uma prazerosa relação musical, não é como estar em uma banda com eles... Onde todo mundo briga, todo mundo acha que tem que criticar um ao outro toda hora, moldando um ao outro todo instante. Nossa parceria é assim: Eu não tento mudá-los e eles não tentam me mudar, e nós gostamos de curtir juntos, ouvir músicas, assistir lutas ou que seja... E a relação musical apenas vem através disso tudo, naturalmente nas nossas sessões. Não é como entrar em um estúdio com uma banda de rock onde todo mundo se preocupa em parecer bom, agradar a todo mundo que tem diferentes ideias sobre o que é realmente bom... Você sofre muita pressão para terminar algo. “Como eu chego ao ponto de saber que eu não tenho mais nada pra fazer?”. Comigo nunca termina até a música estar realmente terminada. Eu gosto de estar no processo da criação da música. Esse é o objetivo pra mim. Se eu pudesse apertar um botão e terminar a música, eu não o faria. Porque eu gosto do processo criativo. E nesse caso, eles curtem estar no processo criativo comigo. Quando estamos gravando, estamos curtindo, fumando, bebendo e curtindo a atmosfera. Nós gostamos de estar nessa zona de criação, o fato de chegar ao final de uma música e você ter um produto comprável não é nada do que eu quero, eu gosto de cada passo do processo da criação de um disco. "


Isso é foda, muito foda. Eu tenho que perguntar antes que eu me esqueça: George Clinton. Anos atrás ele foi até vocês e tal...

Rugged Monk: "Sim, RZA estava trabalhando no Bobby Digital...no álbum Digital Bullet, assim como também com Shavo, do System of a Down. Não, era o álbum Digi Snacks. E ao mesmo tempo estava trabalhando com Shavo, do System of a Down, o baixista. Eles tem um grupo chamado Achozen. Eles levaram George Clinton para fazer algumas gravações nesses projetos, a gente também tava junto, ficamos com George e tudo, foi maneiro. Essa é outra coisa que RZA...RZA é o cara, mas ele ainda traz vários desses bons músicos por aí e junta as coisas. É um compositor muito bom também. Ele não só trabalha com as pessoas sabe? O relacionamento é muito forte, é assim que funciona. Ele chama as pessoas que ele está perto, é muito bom, por isso que eu o respeito."

John: "George está nesse álbum?"

Rugged Monk: "Sim, George está no Digi Snacks. Fizemos num estúdio. Ele trabalhou no Achozen, mas o Digi Snacks é do RZA, foi o último projeto que ele lançou, ele fez tour. Foram duas gravações eu acho, mas George também fez o último álbum dele, 8 Diagrams. Depois de gravar, George ficou exatamente pra gravar o último projeto do Wu-Tang, 8 Diagrams, a última gravação de estúdio que o Wu-Tang fez. Então ele fez uns projetos e foi bom ele aparecer."


Você trabalhou com George, como foi...

John: "Não, ele produziu o segundo álbum do Red Hot Chili Peppers..."

Ah, você já tinha saído?

John: "Não, eu ainda não estava na banda. Eu tinha apenas 15 ou 16 anos quando eles fizeram esse álbum. Eles fizeram três álbuns antes de eu entrar. E George produziu o segundo. Mas acho que a última coisa que fiz com Flea e Anthony foi um cover de George. Ele estava fazendo um álbum de covers e me pediu pra fazer isso e eu chamei Flea e Anthony. Então, sim, acabou saindo uma música com esses caras."

John, obrigado por terem vindo, cara. Tenho muito respeito por você, cara. Você trazer essa galera, é só amor, cara. Só adicionou ao programa.

Rugged Monk: "Espera aí! Antes da gente ir, se você não sacou, dá uma olhada no Medieval Chamber: www.blackknightsmusic.com. Ache a gente no Twitter, Instagram e Facebook."



Agradecimento: Universo Frusciante

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