6 de julho de 2017

Nos bastidores de "Can't Stop" com Frusciante - Dezembro de 2002


Entrevista de John Frusciante com a MCM (França) - durante as filmagens do videoclipe de "Can't Stop" do Red Hot Chili Peppers - em dezembro de 2002.


Oi John, como vai você?
"Bem, estou feliz."

Está feliz? Por quê?
"Minha namorada vai comprar a árvore de natal hoje."

Que legal!
"Sim, eu amo essas pequenas coisas que estão acontecendo na minha vida."

Como andam as filmagens?

"Hum... Estão indo bem. Você sabe, há muito de ficar sentado em filmagens, então estou esperando, sentado no mobile-home que nós temos, escutando Frank Zappa. Qualquer um que fale que gosta de filmar vídeos está mentindo, digo, é tedioso, tem muito disso de ficar sentado pelo mobile-home. É bem melhor se você pode sentar ali e fumar maconha, ou escutar música, ou você sabe... É a única coisa divertida de fazer durante as filmagens. O processo de fazer um filme para atores e músicos, sabe... não temos quase nada para fazer. Nós aparecemos por um segundo e eles dizem "olhe desse jeito" e dizem "ok, volte para o alojamento". É entediante, mas eu acho que dessa vez o resultado vai ser bom, acho que o cara que dirige tem estilo.

As pessoas dizem que parece que eu e minha guitarra somos um só, e eu digo nesse sentido, ela é parte do meu corpo. Enquanto estávamos escrevendo o álbum By The Way, eu ia em clubes que tocavam drum-and-bass para escutar isso e jungle music; dancei muito isso. Fiquei muito confortável em dançar em público sem a guitarra. Eu fico bem sem minha guitarra, mas prefiro com minha guitarra. Guitarra é realmente algo que amo, e definitivamente sinto que é parte de mim.

Experimentei um monte de coisas em casa por mim mesmo, fiz um monte de gravações caseiras, e brinco muito com meu sintetizador e coisas assim. Então, quando chega a hora da gravação (por exemplo o By The Way), algumas dessas experimentações aparecem em minhas idéias. Mas eu nunca experimento no estúdio. Quando tento coisas novas com o Chili Peppers, já tenho a idéia precisa do que vou fazer antes de ir, então qualquer coisa que eu fiz com o sintetizador no estúdio ou com outros instrumentos, já estava claro na minha cabeça antes de fazer. Nunca experimento no estúdio... mas acho que um monte de experimentação que fiz em casa acaba indo para o álbum.

Eu sempre tive muita fé em... huh... Sempre estive envolvido com coisas que as pessoas não podem ver. Acho que há certos 'entertainers' que... o que você ouve quando ouve os seus álbuns são tudo o que eles tem dentro... Para mim, há várias músicas minhas que provavelmente nunca vão ser ouvidas por outras pessoas. Faço muita música que não tenho tempo para gravar. Mas acho que um dia tudo virá a tona em algum álbum que fizermos, ou canções que eu tenha tempo de gravar. É o único modo de me confortar, pois não tenho tempo de gravar tão rápido quanto componho, mas acho que um dia consigo recuperar o tempo perdido. Estou fazendo um álbum agora e trabalhando na trilha sonora do meu amigo. Nesse verão, acho que vou terminar as músicas para o filme do Vincent Gallo e outro álbum solo em que estou trabalhando.

Tento tocar de um jeito simples, e ao mesmo tempo tento me aprofundar no aspecto harmônico, talvez. Eu queria fazer o máximo para apresentar o que os outros fazem para criar um 'rico universo musical'. É minha tendência natural tocar de um jeito mais blues-rock setentista, como os guitarristas que amo, como Jimmy Page, Frank Zappa, Erik Clapton ou Jimi Hendrix e etc. E eu tento não tocar desse jeito, só para fazer do meu próprio jeito, e, sabe... acho que meu jeito é bem original, acho que estou num caminho completamente diferente, estou mais de um jeito como as pessoas que mencionei. Tenho que continuar mudando e... eu tentei manter esse jeito que eu toquei no álbum (para usá-lo) na turnê, mas tocar de um jeito um pouco mais chamativo... tenho feito isso... mas é bem melhor tocar seguindo como você se sente. Digo, não é uma química nova, é a mesma química de antes,, mas acho que nós apreciamos uns aos outros mais, agora. Antes não ligava para a nossa química, mas... acho que os outros caras não ligavam também. Nós estávamos meio que em nossa própria viagem... do nosso próprio jeito. Acho que nós éramos mais egocêntricos, de certa maneira. Achávamos que éramos os mais importantes. Definitivamente não é mais assim. Temos muito respeito pelos outros, cada um faz questão de que o outro se sinta feliz. É o único jeito de uma banda dar certo ― as pessoas podem se sentir confortáveis e felizes, e assim se expressar da melhor maneira possível.

No palco, nossa espontaneidade e habilidade de improvisação tem a ver com o trabalho em equipe. Quatro pessoas que realmente confiam uns nos outros, se escutam e se apoiam.

Tenho boas memórias de estar na França, gosto do ar, das construções, e um dos meus homens favoritos que viveram lá é Marcel Duchamp. (Gosto de muitos artistas franceses). Me faz feliz estar lá."


Tradução: Jonas Mayn
Fonte: MCM (França) - Dezembro de 2002

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