15 de abril de 2021

John Frusciante: Grandes Guitarristas - SiriusXM - Abril de 2021


A SiriusXM criou a série Guitar Greats para celebrar o Mês Internacional da Guitarra comemorado em abril. Para a série, a rádio convidou John Frusciante para comentar e mostrar as suas músicas favoritas de guitarristas influentes e inovadores do mundo - o músico falou por quase 30 minutos e escolheu 13 músicas para o programa. Além de Frusciante, participaram desse projeto Dave Navarro (que em suas escolhas citou Frusciante), Nancy Wilson, Peter Framptom, Keb 'Mo' e Dave Davies.  


"Bem vindo a Guitar Greats da SiriusXM. Sou John Frusciante, DJ convidado, compartilhando músicas de meus guitarristas favoritos."

 

"Minha relação com a guitarra começou com Pat Smear, do Germs. Foi meu ponto de virada entre não ser guitarrista e ser guitarrista. Aprendi a tocar algumas músicas de Germicide Live at the Whiskey, tinha uma gravação que tocava na rádio quando eu era criança, eu tinha 9 ou 10 anos de idade, tocava isso o tempo todo. Eu tinha essa ideia, eu tentei tocar guitarra quando curtia outras músicas - tipo Led Zeppelin -, mas eu me frustrava por não conseguir, eu queria distorção e não conseguia, então desisti. Ai tive um estalo que eu podia aprender as músicas em um violão que eu tinha guardado, mesmo sem a distorção que eu queria. "Forming", "Suicide Machine", "Victim", essas músicas. Eles mal conseguiam tocar na época também. E para mim era uma música bonita, eu adorava o som.

  

Por alguma razão essas foram as primeiras músicas que eu comecei a aprender sozinho, e esse ainda é o jeito que pratico, com músicas de álbuns e CDs. Pat Smear definitivamente era meu guitarrista favorito na época, Germs era minha banda favorita. Os sons que saiam da guitarra dele me davam a impressão que eu poderia tocar também, que eu poderia usar para me expressar. Essa é uma música chamada "The Slave", Germs, com Pat Smear tocando guitarra."

- Toca "The Slave" do Germs.

"Minha segunda banda favorita quando tinha 10 anos e comecei a tocar guitarra era Black Flag. Greg Ginn era muito bom, desde o inicio até My War que saiu depois, o estilo dele se desenvolveu muito, ele parecia mais inspirado pelo jazz, teve um desenvolvimento muito interessante de acompanhar. Na época o punk era muito criticado em LA, os discos chegavam quase um ano depois de sair na Inglaterra. Mas LA é o berço do hardcore punk, o que hoje entendemos por punk, com alguém gritando, ritmos específicos e batidas de guitarra. LA estava a frente da maior parte do mundo, porque muito do que acontecia fora, como em DC ou na Suécia foi influenciado pelo hardcore punk daqui, não tinha nada que soava como aquilo, era muito empolgante. Uma banda que colocava tanta intensidade na sua música e no seu sofrimento. Era difícil explicar para as pessoas porque eu gostava tanto daquilo na época, existiam poucas músicas desse tipo. "Police Story" tem uma guitarra incrível, fluida e o vocal de Dez Cadena."

- Toca "Police Story" do Black Flag.


"Quando eu estava curtindo punk tinha um garoto na escola e nós dois levávamos cassetes. Ele sempre levava Jimi Hendrix e eu levava punk, Sex Pistols. E tinha garota de 19, 20 anos, que morava no apartamento ao lado e tinha uma ótima coleção de discos com Talking Heads, Sex Pistols, coisas que eu adorava. E ela deixava eu entrar no apartamento mesmo quando ela não estava lá, ela me deu a chave e eu podia entrar e gravar. Então eu gravei Never Mind The Bollocks e levei para a escola. O garoto e eu discutimos porque eu dizia que Sex Pistols eram mais importantes para a música que Jimi Hendrix. E ele ficava muito bravo.

Quando mudei para o vale fiquei muito envolvido com Jimi Hendrix, foi um ponto de virada para mim. Parecia fora do meu alcance, nesse ponto punk já era confortável para mim. E tinha muito mistério em volta do som de Hendrix. Eu achava que "Little Wing" tinha três ou quatro guitarras, ou que soava assim.

Eu fui até uma reserva indígena e tinha uma banda lá, o cara estava tocando "Little Wing" e até então eu pensava que nunca ninguém saberia tocar "Little Wing", foi monumental o que eu presenciei, ele tinha decifrado o código. São momentos como esses que me fizeram lutar para descobrir os segredos. Também me lembro de tocar "Star Spangled Banner" como em Woodstock para meu professor de guitarra, como você ouve Hendrix aumentando - indo e voltando - subitamente as notas parecem uma oitava mais alta , e então ele move a alavanca um pouco e as notas se tornam uma ou ate duas oitavas mais elevadas. São coisas assim no jeito dele tocar, como seu vibrato e como ele dobra as notas. Eu me esforçava para deixar meus dedos mais fortes para poder fazer aqueles sons. Naqueles primeiros anos, depois do punk, ele foi a pessoa que me esforcei para copiar. Algumas de suas técnicas eu utilizei com a banda, em "Under The Bridge" e "Snow ((Hey Oh))", mas muitas outras pessoas usaram e algumas outras fizeram antes dele. Curtis Mayfield, por exemplo, e outros. Mas definitivamente Hendrix levou isso a outro nível. E já que falamos de "Little Wing" e mencionei Never Mind The Bollocks, com as guitarras maravilhosas de Steve Jones."

- Toca "Under The Bridge" do Red Hot Chili Peppers; "Little Wing" e "Star Spangled Banner" do Jimi Hendrix e; "Submission" dos Sex Pistols.

"Outro momento marcante para mim foi gradualmente descobrir Jeff Beck, mais ou menos na mesma época que Jimi Hendrix. Minha mãe saia com um cara que fumava maconha e gostava muito de Blow By Blow e Wired que eram muito populares na época, 1977 ou 1976. Ela comprou esses discos de presente para mim e foi muito empolgante. Depois descobri Truth, que parecia com o as coisas mais antigas de Jimi Hendrix - e Jimi Hendrix era fã desse disco. E a guitarra não parece nada com Blow By Blow ou Wired, ambos fantásticos, mas ele faz todos aqueles sons que, de novo, eu não sabia de onde vinham, ele fazia isso numa Les Paul, e não tinha alavanca. Ele usou alavanca um pouco em Wired e Blow By Blow, mas em Truth não, mas ainda assim você ouve truques e sons que eu não entendia de onde vinham e gradualmente passei a entender. Eu adorava tocar "Let Me Love You" de Jeff Beck do álbum Truth."

- Toca "Let Me Love You" de Jeff Beck.


"Depois da minha obsessão por guitarristas dos anos 60 eu comecei a descobrir rock progressivo, e é todo um outro nível, porque diferente de ser baseado somente no blues, como boa parte dos guitarristas dos anos 60 que eu gostava, essas pessoas estavam de começando um território musical que eu sentia uma conexão com música clássica. Meu pai era um pianista clássico então eu tinha um ouvido para isso, diferente do jazz que eu desenvolvi gradualmente. Música clássica está dentro de mim desde que era um bebê. Então quando comecei a ouvir Fragile de Yes, Close To The Edge, foi muito animador. Era uma música muito emotiva para mim, parecia que estavam criando atmosferas e sentimentos na composição que iam além do rock dos anos 60 que eu gostava. Eu achei uma cópia de Fragile do meu pai quando minha mãe e eu nos mudamos para Los Angeles, quando eu estava na segunda série. Mas quando eu comecei a tocar guitarra eu comecei a ouvi-lo de novo e fiquei chocado com a guitarra, com a banda toda, com a bateria, com os teclados. Todos tocavam lindamente."

- Toca "Roundabout" do Yes.

"Outra banda progressiva que eu amo é Genesis, na formação com Phil Collins, Steve Hackett, Tony Banks, Mike Rutherford e Peter Gabriel. O jeito de Steve Hackett tocar guitarra era excepcional, a forma como ele se encaixava com a banda ou fazia a banda tocar de uma determinada forma, seja tocando guitarra líder, ou criando uma atmosfera, sem chamar atenção somente para si. Ele podia criar pequenos mundos com a guitarra e fazer a guitarra assumir vários papeis na música, dependendo do que a música pedia.

Ele também foi a primeira pessoa que fez tapping com as duas mãos que depois ficou popular com Eddie Van Halen. Ouvi uma historia de que Van Halen foi no camarim deles e disse que o viu tocar ao vivo em 1974 e desde então começou a fazer isso e contou para Steve. Ele era um guitarrista muito criativo e um de meus solos favoritos é do álbum ao vivo do Genesis, "The Knife"."

- Toca "The Knife" do Genesis.


"Quando eu tinha 12 anos vi uma entrevista em uma revista chamada Musician, que era uma ótima revista, tinha um artigo sobre Adrian Belew e a maneira como ele falava do instrumento parecia diferente de qualquer outra pessoa. Agora temos Jonny Greenwood do Radiohead que faz sons criativos com a guitarra que não soa necessariamente como guitarra. Mas Adrian Belew foi a primeira pessoa que ouvi na época, isso em 1982, que estava focado em usar efeitos de maneira criativa, e executar técnicas pouco ortodoxas no instrumento, fazer a guitarra soar como outra coisa, como um sintetizador, ou um elefante, ou gaivota, ele fazia essas coisas que eu nunca ouviria outra pessoa fazer.

Imediatamente comprei o seu primeiro álbum solo, Lone Rhino, é um álbum muito importante para mim. Jimi Hendrix continuava sendo meu favorito, mas Adrian Belew se tornou meu favorito na época. Eu gostava tanto dele queria ter o cabelo como o dele. Queria raspar minhas sobrancelhas. As pessoas me fizeram mudar de ideia, mas eu queria ser Adrian Belew quando tinha 13 anos. O primeiro show dele que eu fui foi no Beverly Theater. Foi a primeira vez que descobri que alguém que eu gostava tocaria, comprei ingressos e fui ao show, eu tinha ido em outros antes. Foi o momento mais feliz, parecia que todos estavam o mais feliz possível, e ele irradiava alegria, fazia todos aqueles sons na guitarra. Naquele momento era meu momento mais feliz da vida."

- Toca "The Greave Curve" do Talking Heads.

"Comecei a curtir Frank Zappa não muito depois de conhecer Adrian Belew. Acho que a primeira música que gostei, porque eu não gostei de Frank Zappa no inicio, foi no disco Just Another Band from L.A. dos Mothers e essa música chamava "Dog Breath", com um solo de guitarra incrível. E assim começou minha obsessão com a música dele. Acho que li entrevistas dele antes, na Guitar Magazine, e ele parecia interessante, falando de como tocar guitarra em um determinado ângulo, aumentar ou diminuir o ritmo. E ele tinha um jeito estranho de tocar, ele não tocava as notas rapidamente. O instrumento parecia muito significativo. As pessoas tiram sarro de mim, mas quando eu tinha 15 anos tive um amigo e usávamos a expressão "sick" [que em tradução ao pé da letra significa algo como 'doente' ou 'doentio'] para algo bom e as pessoas não usavam na época, em 1985. E nós falávamos "esse cara é sick" querendo dizer que ele era ótimo. Frank Zappa era o cara de quem mais falávamos isso."

- Toca "Dog Breath In The Year Of The Plague" - The Mothers Of Ivention.


"Saiu um artigo na Guitar Play, em 1982, com Frank Zappa na capa segurando uma guitarra minúscula, e tinha uma entrevista extra sobre o guitarrista em sua banda, Steve Vai; o artigo chamava "O pequeno virtuoso italiano de Zappa". Eu como italiano ou com qualquer outro aspecto que pode haver entre a alma dele e a minha, me senti muito conectado com essa pessoa. E adorei a forma como ele falava do instrumento e sua pratica. Ele parecia mais envolvido com o instrumento e parecia mais importante para ele ter métodos eficientes de praticar. Parecia que ele estava forçando o instrumento o máximo que podia, dentro da natureza de infinitas possibilidades do instrumento, fazendo coisas que outros nunca fizeram. Considerando que Frank Zappa as vezes chamava ele de guitarrista "duble" porque ele tocava coisas que nenhum outro podia fazer na banda.

Foi um desafio para mim, eu considerei aquilo o máximo de complexidade que poderia atingir. Eu estudei muito para chegar naquilo. Eu comprava tudo que saia e ficava super animado. Uma música que eu adorava tocar era "Ease" do Album do Public Image. Eu colocava essa música no mesmo nível de Adrian Belew, não tinha nada como aquilo para mim."

- Toca "Ease" do Public Image Ltd.

"Viver os anos 80  foi ouvir tudo isso, tinham vários guitarristas que faziam uma imitação ruim de Eddie Van Halen e tinham outros que mencionei como Adrian Belew, Andy Summers, Steve Vai e outras pessoas que estavam usando as técnicas que Van Halen trouxe e Jeff Beck trouxe, mas estavam fazendo algo completamente diferente com isso. Eu estava interessado em guitarristas que estavam fazendo algo novo no contexto da música popular da época. Warren Cuccurullo tocou com Zappa por um tempo e com alguns outros membros formou a banda Missing Persons e eu era um grande fã deles.

Na adolescência eu queria ser uma versão guitarrista de Terry Bozzio, eu adorava o estilo dele; eu li uma entrevista dele e ele parecia ir tão fundo na música e se importar com cada nuance de tocar. Ele queria levar o instrumento a possibilidades que nunca tinham sido executadas. Eu adorava o que ele fazia com bateria eletrônica. De alguma forma Warren Cuccurullo era a versão guitarrista de Terry Bozzio. Warren Cuccurullo entrou no Duran Duran depois disso e tocou no álbum Notorious e alguns outros, mas para mim quando esse primeiro citado saiu em 1985 ou 1986, eu fiquei muito animado.

Eu gostaria de escolher "American Science" do Duran Duran. E de novo você pode ouvir alguém tocando algumas técnicas que estavam na moda na época, mas de um jeito que ninguém fazia, não parecia uma tentativa de copiar Eddie Van Hallen, era alguém que tinha sua própria voz. Ele foi um dos poucos modelos completos que eu tive na época, fazendo música muito popular mas que era muito inovadora com a guitarra."

- Toca "American Science" do Duran Duran.

"Obrigado por me deixar falar sobre todos esses guitarristas. Foi divertido reviver essas memórias."






Tradução: Eloá Otrenti - Frusciante Brasil
Fonte: SiriusXM - 14 de abril de 2021

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