3 de junho de 2019

John Frusciante fala sobre By The Way - Maio de 2002


Entrevista concedida por John Frusciante ao programa AOL Sessions durante um ensaio do Red Hot Chili Peppers para a turnê de By The Way, em 16 de maio de 2002. Christa Rios faz perguntas a Frusciante sobre o novo álbum dos Red Hot Chili Peppers, sua relação com a banda e as suas influências.



Christa Rios com John Frusciante dos Red Hot Chili Peppers.

"Olá 550 milhões de pessoas."

Nós estamos no local de ensaio onde vocês estão aquecendo para a turnê do novo álbum By The Way, que é a propósito fantástico. Eu ouvi ontem. Deve ser estranho por que vocês estão finalizado o álbum, mixando agora e a turnê já está marcada para as próximas semanas. Você pode explicar esse sentimento de estar soltando as músicas para o mundo em algumas semanas?

"Bem, o público está atrás de nós o tempo todo e o fato de chegar até as pessoas não determina o que decidimos tocar. A partir do momento que a música nasce, passa por nossas cabeças como será toca-la para as pessoas, alguém de fora da banda, alguém que recebe essa música em casa como um presente. É um bom sentimento mas geralmente eu foco na gravação, na mixagem, isso que é realmente excitante para mim.

Os três álbuns que fiz com a banda foram muito divertidos, os três mais recentes, foram os momentos mais felizes da minha vida que me lembro. Por que é uma coisa simples, todos os seus propósitos... quando meu propósito é ser criativo, escrever canções, tocar guitarra, pensar sobre o estilo, que direção que quero para o que vou tocar, é muito natural para mim.

Quando é liberada [a música] eu não penso muito em como isso chega à tantas pessoas, já não me anima tanto quando é liberado, o que me anima é o que temos feito no último ano, o que temos escrito e gravado.

Lançar eu sei que é o que precisa ser feito e eu desejo tocar para as pessoas, mas o fato do disco não ser mais algo que eu, Rick Rubin, ou outra pessoa escuta, mas algo que está em todas as lojas de disco é um pensamento esmagador e em não tenho muito entendimento sobre."

A conexão faz o ciclo completo quando vocês saem em turnê e estão tocando para o publico e os fãs e eu imagino que é uma nova fase para vocês, aprender as músicas para performance ao vivo e ensaiar para a turnê, é um novo período de adaptação. Por que as musicas ainda estão se modificando.

"Sim, eu tenho clareza que elas vão mudar ao longo da turnê, elas mudam o tempo todo e se ficarmos em turnê pelos próximos anos elas terão que mudar para continuar interessante para nós. Quando você está no palco tocando para o público tem que ser excitante, não pode ser algo que fizemos um ano atrás por que não é suficiente para nós, tem que ser espontâneo, tem que ter aquela animação do momento pra valer a pena continuar fazendo aquilo.

Mas agora as músicas estão em um “estado infantil” por que no álbum têm muitos overdubs e outras coisas e para tocar com uma banda de quatro membros eu preciso pensar em jeitos de simplificar os backing vocals e escolher apenas uma parte da guitarra, esse tipo de coisa. É algo que ainda estou pensando em como fazer, as vezes a guitarra tem um loop que precisaria de cinco guitarras. Tem um jeito de fazer ao vivo eu só não sei como é ainda."

Vamos falar sobre algo que deve estar te ocupando: nesse álbum suas harmonias e sua presença vocal é muito mais aparente do que antes, você aparece nesse álbum de um modo que nunca apareceu antes.

"Certo, eu acho que na época de Blood Sugar eu não tinha muito interesse de cantar, eu cantava eventualmente quando era ideia de Anthony ou outra pessoa. A mesma coisa para Californication, foi Rick que praticamente me forçou a fazer backing vocal."

Por que você relutava em cantar ou não estava interessado em cantar?

"Eu não sei, não é bem isso. Eu nunca tinha ouvido, obvio que todos ouvimos muitas músicas com backing vocal mas eu não focava nisso. Eu sempre fui o tipo de pessoa que escuta mais a guitarra."

Dá uma doçura na musica, eu não sei, tem uma boa vibração, parece que você tem se expandido como vocalista.

"Quando eu escuto as gravação, não que eu tenha ouvido por que não está pronta ainda, mas quando penso sobre as musicas do álbum elas parecem ter sido influenciadas igualmente por musicas dos anos 50, 60, 70, 80, 90 e os últimos anos por que álbuns muito bons foram lançados enquanto gravávamos."



O que vocês estavam ouvindo durante a gravação?

"Para mim o novo álbum de Aphex [Drukqs de 2001], Boards of Canada é ótimo também [Geogaddi de 2002]."

Ambiente progressivo, coisas eletrônicas...

"Eu gosto também de Modest Mouse [Sad Sappy Sucker de 2001], o álbum que foi lançado é ótimo e muito inspirador para mim como guitarrista por que gosto de algumas influências do surf no meu jeito de tocar guitarra. O álbum de Stereolab [Sound-Dust de 2001] foi muito inspirador, especialmente nos vocais."

Alguma inspiração de guitarra em particular, além do que acho que você mencionou, uma ou duas coisas, mas além disso, o que estamos ouvindo no álbum?

"The Argument [2001] é o nome do álbum de Fugazi. Alguma inspiração para os sons da guitarra? Os guitarristas que de alguma forma eu tinha em mente quando começamos a escrever o álbum e que eu gostaria de incorporar os estilos e focar... por que eu sempre estudo guitarristas, aprendo todas as músicas, e tento entender os lugares de onde eles vieram, o por que pensam o que pensam e outras coisas. Eu sempre fiz isso para qualquer álbum que eu esteja trabalhando, é como eu pratico guitarra, eu aprendo de outros guitarristas. Os guitarristas que eu estava atento são John John McGeoch de Siouxsie and the Banshees e Magazine. Também John Valentine Carruthers que também tocou em Siouxsie and the Banshees, Johnny Marr do The Smiths e também Vini Reilly de The Durutti Column. Essas pessoas todas tem como um portal colorido de estilos de guitarra e é assim que eu quero que o meu som seja, com acordes mais densos, e menos que você saiba dizer exatamente o que estou fazendo em determinado momento, mais um tipo colorido e aquarelado, menos distinto, eu quero mais reverb e coisas do tipo, mais textura."

É fascinante para mim como você cria essas atribuições para si mesmo durante a criação, isso é algo que surge na banda ou é algo que você faz individualmente?

"Isso é meu, constantemente tento mudar como guitarrista. Eu não sei mas provavelmente eu sou o único na banda que faz desse jeito. Eu acho que os outros caras são, e isso é algo que precisamos na banda, mais levar um dia de cada vez e deixar a música se apresentar ao invés de se forçar na música. Mas é apenas o meu jeito de pensar.

Mesmo se nem todas as minhas ideias façam parte do álbum, para mim é importante ter muitas ideias. Várias ideias que eu tive no começo, antes mesmo de escrever uma nota de música acabaram sendo muito do que o álbum é hoje, mas por outro lado tem um monte de ideias que eu tive que não fazem parte do álbum. Tem muitas coisas, as outras pessoas na banda, o produtor Rick Rubin, que podem fazer as coisas acontecerem ou jogar no lixo."

Esse é o quarto disco que você faz com a banda, Mother’s Milk, Blood Sugar Sex Magik, Californication e By The Way. Teve um outro disco no meio One Hot Minute, que você não estava. Então foram dois discos, um sem você e agora mais dois discos com você. E agora sinto que a banda está chegando em outro nível, vocês devem sentir isso também.

"Sim, eu me sinto mais forte."

E me faz pensar, a banda está junta a 18 anos mas não teve uma formação sólida, consecutiva por mais de dois discos, não tiveram a chance de se consolidar como uma banda, um quarteto por um período maior que dois álbuns.

"Eu particularmente não considero aquele álbum na história da banda, por que eu nunca ouvi. Para mim tem uma conexão entre Blood Sugar e Californication, mas por outro lado começamos novamente. Eu certamente perdi todo o momentum que tinha como músico no período após Blood Sugar. Quando começamos Californication eu comecei arranhando a guitarra, minha técnica estava frágil, e eu fiz o melhor que pude e tenho orgulho disso. Eu acho que fui em outra direção em Californication, ao invés de me inspirar em Jimi Hendrix, naquela época eu não tinha força em meus dedos para tocar como Jimi Hendrix. Em Blood Sugar meus dedos estavam muito fortes e ele é uma das pessoas de onde tiro muita inspiração. Em Californication eu escolhi focar em guitarristas como Matthew Ashman de Bow Wow Wow e Bernard Summer de Joy Division, por que eram estilos adequados a minha técnica na época e são iguais a Jimi Hendrix por que eu não penso em alguém como sendo o grande deus da guitarra, eu penso em todos os guitarristas que amo como iguais.

Eu pensei que eu podia fazer algo tão bonito com meu jeito de tocar inspirado por pessoas que tinham menos técnica a sua disposição, e de várias maneiras eu gosto do que fiz em Californication, por que eu fiz o melhor que eu podia. Em Blood Sugar eu acho que pelo que eu tinha capacidade de fazer na época eu fiz o pior que eu podia."

Muito obrigado, John.



Tradução: Eloá Otrenti - Frusciante Brazil

Siga a Frusciante Brazil para ter acesso a informação e a pílulas dessas entrevistas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...