27 de setembro de 2016

A explosão criativa de John Frusciante - Janeiro de 2005

Por: Paul Tingen
Electronic Musician (01/12/2005)



John Frusciante é um homem de extremos. Na tenra idade de 33 anos, ele já experimentou o melhor e o pior que a vida pode oferecer. O primeiro refere-se à sua prolongada fama e sucesso como guitarrista do Red Hot Chili Peppers. O último envolve as profundezas de depravação na qual ele caiu durante um longo período como viciado em drogas na metade da década de 90. Quando ele ressurgiu após se reabilitar, seu corpo estava tão devastado que ele precisou de novos dentes e enxertos de pele para reconstruir as cicatrizes das seringas em partes da sua pele.


As duas participações de Frusciante no Red Hot Chili Peppers (1988-92 e 1998-atualmente) antecedem e sucedem a sua longa queda. Durante suas duas passagens, ele foi a principal força criativa da banda, adicionando uma forte identidade rítmica e melódica com seu distinto estilo de tocar guitarra e de composição.


Frusciante tem mais capacidade criativa do que ele pode canalizar pelo Red Hot Chili Peppers. Ele também tem uma carreira solo que começou dez anos atrás quando ele lançou seu primeiro álbum, Niandra LaDes and Usually Just a T-Shirt (American Recordings, 1994). Foi gravado em casa num gravador de fita cassete de 4 faixas e um aparelho de som de alta fidelidade. O álbum seguinte, Smile From the Streets You Hold (Birdman, 1997), foi feito com os mesmos equipamentos de baixa tecnologia que os do seu predecessor. Frusciante afirma notoriamente que ele lançou o segundo álbum puramente pelo dinheiro pra comprar drogas.


O disco solo número 3, To Record Only Water for Ten Days (Warner Brothers, 2001), foi gravado na casa de Frusciante num gravador digital de 8 faixas. Ele usou MIDI e sequenciadores de forma elaborada nesse álbum, e em termos de som, arranjo e qualidade de produção, foi um grande avanço. No começo de 2004, Frusciante lançou Shadows Collide With People (Warner Brothers, 2004), seu primeiro disco solo de grande produção. Parte dele foi feito com o engenheiro do Red Hot Chili Peppers, Jim Scott, e a maior parte foi gravada no famoso Cello Studios em Los Angeles. As datas de lançamento desses 4 trabalhos solo fariam qualquer um esperar um quinto álbum pra ser lançado em 2007 ou 2008. Ao invés disso, Frusciante terá lançado seis novos álbuns até o fim de janeiro de 2005.


PRODUÇÃO PRODIGIOSA


Frusciante completou recentemente um planejamento de produção incrivelmente ambicioso. Ele gravou um álbum por mês durante um período de criatividade extrema desde o fim de 2003 até 2004. Os resultados estão sendo lançados agora num ritmo quase mensal pelo selo Record Collection.



FIG. 1: Frusciante lançou Automatic Writing sob o nome da banda Ataxia. O CD também tem participação de Josh Klinghoffer e o baixista do Fugazi, Joe Lally.
O primeiro lançamento (em junho de 2004) se chama The Will to Death, uma coleção de canções tocadas no estúdio por Frusciante e seu atual parceiro musical, o baterista e multi-instrumentista de 22 anos, Josh Klinghoffer. O lançamento seguinte, em agosto de 2004, é um álbum sob o nome da banda Ataxia chamado Automatic Writing e tem participação de Frusciante, Klinghoffer, e o baixista Joe Lally do Fugazi (ver Fig. 1). Automatic Writing é repleto de riffs de baixo circulares e os lamentos de Frusciante na guitarra. Este álbum foi seguido em setembro de 2004 por um álbum curto entitulado DC EP (ver Fig. 2), que foi gravado em Washington, DC, com participação do baterista Jerry Brusher.

O quarto lançamento de Frusciante, Inside of Emptiness, foi lançado em outubro de 2004, seguido um mês depois por A Sphere in the Heart of Silence, em parceria com Klinghoffer. Frusciante lançará Curtains, a qual ele se refere como o seu "álbum acústico", no fim de janeiro de 2005. Além desses seis lançamentos, Frusciante também compôs a trilha sonora do filme de Vincent Gallo, The Brown Bunny.


Seis CD's em sete meses parece algo extremo, e algumas pessoas podem achar que Frusciante tenha caído em outro episódio onde o ênfase esteja no "louco" do seu apelido constantemente aplicado de "gênio louco". Mas durante a longa conversa da qual esse artigo foi criado, o guitarrista foi a personificação de calma e compostura.




Quando perguntado "o que te motiva?", Frusciante riu: "Bem, no momento, nada. Estou em uma fase completamente diferente, dando uma pausa, e me preparando pra gravar o próximo disco do Chili Peppers. Esses seis álbuns foram gravados num período de seis meses após chegar em casa, depois de passar um ano e meio em turnê com o Chili Peppers. Eu fiz uma lista de todas as canções que eu tinha e elas chegaram a umas 70. Meu objetivo era gravar o máximo de canções que eu pudesse durante a pausa que eu tinha. No meio disso, eu estava compondo algumas das minhas melhores canções, então alguns desses álbuns tem tantas canções novas quanto antigas. Definitivamente foi o período mais produtivo da minha vida."


PERFEITA IMPERFEIÇÃO


A velocidade com que Frusciante colocou as canções em fita (analógica) é surpreendente. Mas sua carreira sempre foi de extremos. Seus primeiros dois álbuns foram gravados de forma casual e caótica. Quando a vontade lhe veio, ele gravou o material num gravador de fitas de 4 faixas sem nenhuma demo ou pré-produção - praticamente sem nenhuma produção de nenhum tipo.


Depois, enquanto trabalhava no To Record Only Water for Ten Days e especialmente no Shadows Collide with People (assim como no Californication do Red Hot Chili Peppers), ele foi mordido pelo mosquito da perfeição. Ele explica em seu website, "Eu estava cansado das pessoas dizendo que meus discos eram fodidos e amadores." E assim o Shadows Collide with People foi gravado no Cello, um estúdio de alto nível, com Scott, um engenheiro de alto nível.



"Não há melhor gerador aleatório do que um ser humano."
Mas Frusciante agora fala da sua experiência de gravação do Shadows Collide with People como "frustrante". Embora ele não renegue o álbum, ele fala com mais afeto das demos que ele fez pra o disco com Klinghoffer num gravador de fita Tascam 488 MKII de 8 faixas. (As demos estão disponíveis no website de Frusciante, www.johnfrusciante.com)

Em seu website, o guitarrista escreve que após a gravação do Shadows Collide with People, ele começou "a notar que os álbuns que eu tinha amado a minha vida inteira tinham muitas coisas que eu [na época da gravação do Shadows Collide with People] teria insistido em refazer. Vocais levemente desafinados, instrumentos levemente fora de sincronia com os outros, assim como simples erros - todas essas coisas prevalecem triunfantemente em Velvet Underground, Talking Heads, Rolling Stones, Van Der Graaf Generator, Butthole Surfers, e incontáveis outros - até os Beatles - que eu sempre amei. Eu percebi que eu tinha afiado meu senso de perfeição até o ponto em que, estando eles sob minha supervisão, esses discos teriam sido corrigidos até o ponto de serem inferiores."


Chegando a essa conclusão, Frusciante decidiu mudar radicalmente sua maneira de gravação, principalmente para trabalhar rápido e deixar pra trás muitos dos erros. "Esse disco é uma celebração de falhas," Frusciante diz entusiasmado em seu website sobre o The Will to Death.


LIXO DE BAIXA QUALIDADE


Pouquíssima pré-produção ocorreu para as 12 canções do The Will to Death. Frusciante fez as demos em sua sala de estar, num estilo guitarra e voz, o que permitiu que Klinghoffer preparasse a bateria e que Frusciante melhorasse sua voz. "Escutar você cantar é algo importante antes de ir pra um estúdio e conseguir fazer um bom trabalho," disse Frusciante. Eles também gravaram algumas versões simples com guitarra, vocal e bateria no estúdio de ensaio. "Aquilo foi o mais próximo que chegamos de fazer demos," ele comentou. "Talvez eu as coloque na Internet. Elas fazem parecer que nós estávamos no espaço sideral dentro de uma nave ou algo assim. Nós escutávamos elas e pensávamos em overdubs. Mas nós geralmente fazíamos overdubs no estúdio."



"Eu jurei que não iria gravar mais nada em digital."
Frusciante não estava focado em overdubs mesmo, porque ele queria que The Will to Death soasse amplo e cru, afastando-se dos altos valores de produção do Shadows Collide with People. Junto com Ryan Hewitt - um emergente engenheiro que tomou o lugar de Jim Scott no meio do processo de gravação do Shadows Collide with People e que acabou trabalhando na maioria do seu material subsequente - Frusciante gravou e mixou 12 canções em 5 dias em dois estúdios de alto nível de Los Angeles, Mad Dog e Larrabee. Tendo em vista o fato de que ele tira muita inspiração das gravações do início dos anos 70, não é surpreendente que Frusciante tenha gravado "como se fosse 1971" - isso é, num gravador de16 faixas de fitas de 2 polegadas, mixado em 1/4 polegadas, e sem usar computadores.

"Muitos desses discos foram gravados em um dia," explica Frusciante. "Nós estávamos inspirados de grupos que gravavam rápido porque precisavam. Meus motivos pra trabalhar com rapidez não eram financeiros, mas é um desafio artístico fazer um disco com uma certa quantia de dinheiro. Agora eu faço discos com $10,000 dólares, e como trabalho rápido, eu posso gravar nos melhores estúdios. Quando as pessoas escrevem que o The Will to Death é lo-fi, isso é idiotice. Foi gravado com o melhor equipamento possível. Só não foi gravado na porra de um computador. Um computador não tem qualidade melhor que um gravador de 16 pistas, e só pra todo mundo saber, um 16 pistas com fita de 2 polegadas soa melhor que um de 24 faixas de 2 polegadas porque cada faixa tem mais espaço.


"Você consegue um som mais amplo com um de 16 faixas, e é por isso que eu o uso. Não estou tentando gravar lo-fi, estou tentando gravar rápido, porque esta é a melhor maneira de capturar a empolgação. Se as pessoas conseguirem segurar a pressão, a música sai mais viva quando é criada rapidamente. Se você não aguenta a pressão, ou você desiste ou é forçado a demorar mais. E após a experiência de gravar Shadows Collide with People, Josh e eu nos acostumamos a gravar nos melhores estúdios ao ponto em que não nos sentíamos mais intimidados."


MUSEU DO ROCK


Então qual é o problema de Frusciante com os computadores? Não querendo ser visto como um ludita, o guitarrista oferece a seguinte ressalva: "Eu não vou sentar e ficar falando como uma pessoa anti-computadores, porque muitas músicas que eu realmente gosto são gravadas ou geradas em computadores. Eu acho que muitas pessoas estão fazendo coisas empreendedoras e maravilhosas com computadores."


Frusciante continua dizendo que prefere muito mais a gravação em analógico "pela vibe que eu sinto que minha música deve ter, em termos de calor sônico. Eu quero que minhas gravações encham a sala e sejam reconfortantes, mesmo que seja um som bem distorcido, barulhento e bagunçado. Provavelmente eu sou uma das únicas pessoas que vão na masterização e insistem que nenhum computador seja usado. Eu quero que seja analógico do começo ao fim, até a prensagem em vinil. Para prensagem em CD, eu peço que a música seja masterizada em fita 1630 [U-Matic], que soa muito bem. A mesma equalização é aplicada na masterização do vinil e do CD."


A antipatia de Frusciante com gravação digital foi em parte alimentada pela sua experiência trabalhando com um gravador digital de 8 faixas no To Record Only Water for Ten Days. "Quando fomos mixar esse álbum, eu percebi como ele soava ruim. Após esse álbum, eu jurei pra mim mesmo que não gravaria mais nada em digital. Shadows Collide with People foi gravado numa mesa Neve e num 24 faixas analógico, e nós usamos um velho Scully de 8 faixas para a bateria porque fazia o som ficar mais aquecido. Eu queria que esse álbum soasse o mais caloroso possível.


"Meu amigo Vincent Gallo abriu meus olhos ao que você perde quando está gravando digitalmente e o nível em que equipamentos mais velhos são melhores que os atuais. Meu aparelho de som é a melhor coisa do mundo. Por exemplo, eu tenho alto falantes Western Electric de 1949, e eles são os melhores falantes que eu já escutei, para qualquer tipo de música."


Claramente, Frusciante juntou-se a alguns dos mais célebres engenheiros de som e produtores do mundo, que acreditam que o analógico soa melhor que o digital, e que os equipamentos antigos são, muitas vezes, melhores que os atuais. Como muito dos seus companheiros amantes do analógico, Frusciante decidiu comprar velhos equipamentos de estúdio que estão no mercado enquanto workstations digitais tornam-se a regra e estúdios consagrados fecham as portas. Como resultado, a modesta residência do guitarrista em Hollywood Hills agora se assemelha um pouco à um museu de gravação de rock.


"Eu tenho uma mesa API de 1972 que era do The Record Plant," Frusciante revela. "É a mesa em que Television e Kiss gravaram, e eu acho que até John Lennon trabalhou com ela. Eu também tenho um gravador Ampex de 8 faixas para fitas de 1 polegada de 1970, onde o King Crimson gravou In the Court of the Crimson King. E eu tenho seis compressores 1176 velhos, um Fair-child, três equalizadores Lang [um PEQ4 e dois PEQ2], dois equalizadores Pultec [EQP-IA3], uma placa de reverb EMT, e um reverb digital EMT 250. Eu também tenho um gravador de 24 pistas Studer A800, mas não está aqui porque minha casa não é grande o suficiente para guardá-lo. Estou tentando achar um lugar, separado da minha casa, para um estúdio."


Frusciante cessa repentinamente e fala preocupado, "Estou nervoso em falar disso. Nunca tinha falado sobre isso para uma revista antes."


Embora mais detalhes sobre o conteúdo do seu novo home studio não serão revelados, ele explica as suas razões para começar seu próprio estúdio. "É muito bom ter o equipamento em que eu amo trabalhar em minha própria casa. Também, pela quantidade de dinheiro que eu gastei no Shadows Collide with People, eu poderia ter comprado vários equipamentos de estúdio e tê-los para sempre. E eu também adoro a ideia de poder criar música o tempo todo sem ter que precisar marcar tempo de estúdio. Muitas vezes os melhores estúdios da cidade já estão cheios, e em outros casos, os estúdios que você gosta podem fechar."


COISAS VELHAS


Frusciante afirma com orgulho que seu último CD, Curtains, foi gravado em sua casa. "Nós usamos o Ampex de 8 faixas. Esse álbum soa muito bem. Nós geralmente tínhamos faixas suficiente para os instrumentos que tocamos, que foram principalmente violão, contrabaixo acústico e bateria. Nós usamos apenas um ou dois microfones para gravar as baterias. Eu nunca tinha tido um som de vocal e de violão tão bom quanto nesse álbum. Nós fizemos bounce em faixas quando necessário - por exemplo, com os backing vocals. Nós fazíamos três faixas com harmonias, daí transformávamos tudo em uma única faixa, depois a mesma coisa novamente, colocávamos uma das duas faixas resultantes na direita e a outra na esquerda, deixávamos o vocal principal no meio, e outra harmonia no meio por trás do vocal principal."


A maioria acharia essa restrição de esquerda, direita ou meio muito limitante e prefiririam ajustar os sete ou mais backing vocals espalhados em todas as direções. Mas o panning acentuado é uma das técnicas dos anos 60 que Frusciante acredita terem estado a frente do seu tempo. The Will to Death é especialmente repleto com muito panning. "Nos anos 60, quando o som estéreo surgiu, eles não tinham os "pan pots" - era apenas esquerda, direita, e centro.


"Quando eu fiz o The Will to Death eu não sabia disso, mas eu percebi que eu amava, por exemplo, como a voz do Peter Hammill está toda em apenas um alto falante na sua música "The Birds" do seu álbum Fool's Mate [Charisma/Buddah, 1971]. Aquele único vocal em um alto falante parece maior que qualquer outro vocal do disco, parece ter vindo de uma boca de um metro e meio de altura. Quando você põe uma informação em dois falantes, você a está comprometendo, porque dois falantes nunca são exatamente os mesmos. Sempre haverá uma pequena diferença e um pouco de phasing. Quando você tem a informação saindo de apenas um alto falante, ela não está comprometida. Ela estará lá em sua forma pura e com muita presença."


PERITO EM SINTETIZADOR


Embora seja conhecido como guitarrista, Frusciante é também um entusiástico usuário de sintetizadores. Como era de se esperar, a maioria dos seus sintetizadores datam do fim da década de 60 e do começo da década de 70. Sua coleção inclui um sintetizador modular Doepfer A100, um Mellotron, um Minimoog, e um ARP 2500 de 1970. "Por muito tempo eu estive usando principalmente o Doepfer. Eu estava mais interessado em usar o LFO, os gates e em tratar outros instrumentos através dele. Eu não estava interessado em usar os osciladores do sintetizador. Mas o ARP 2500 renovou completamente o meu interesse em osciladores, porque eles soam incríveis. É a mesma coisa com guitarras e equipamentos de gravação - as coisas velhas soam melhor, mais alto, mais calorosas, e mais suaves.


"No The Will to Death eu usei principalmente o Doepfer. Eu não usei nenhum oscilador. Eu usei um Minimoog para algumas coisas. Foi importante pra mim não usar muitos sintetizadores nesse álbum, porque eu estava pensando mais em termos de quão milagroso o som de uma bateria ou de uma guitarra pode ser. Era mais importante pra mim capturar essas coisas sônicas que por muitos lados é algo simples - por exemplo, a maneira que você escuta o som da bateria dançando ao redor da sala ou como um vocal soa numa sala escura bem tarde da noite. Isso são coisas que me deixam interessados em escutar uma música repetidamente."


Embora tenham alguns usos interessantes de sintetizadores no The Will to Death (veja no fim as "Notas de Produção de Frusciante"), o interesse de Frusciante em sons eletrônicos é mais notado em Shadows Collide with People, que tem um número de faixas instrumentais com sintetizadores com nomes obscuros, como "- 00 Ghost 27" e "Failure 33 Object".


"Como Josh e eu tínhamos feito demos bem elaboradas para esse álbum, quando chegamos no estúdio era apenas uma questão de ligar os pontos e conseguir fazer sons similares às demos", explica Frusciante. "As vezes passávamos meia hora sentados tentando recriar o som do sintetizador que tínhamos feito dois anos atrás. Nós acabávamos dando pausas durante a gravação para gravar rapidamente aquelas composições eletrônicas que havíamos criado ali na hora."


Apesar de sua preferência por sintetizadores modulares antigos, Frusciante não é contrário a samples e sintetizadores mais modernos. Frusciante usou extensivamente o seu Clavia Nord Lead 2, um Casio SK-1, e o Akai MPC3000 no álbum To Record Only Water for Ten Days. Outros instrumentos eletrônicos usados durante o último período de gravação de Frusciante incluem um Chamberlain, um Moog Voyager, um Arp String Ensemble, um Korg MS10, e um sintetizador de bateria analógico Synare do fim dos anos 70.


Embora Frusciante tenha recentemente adquirido um Mellotron genuíno, sampling, sintetizadores modernos e programação claramente não são as suas coisas preferidas. "Existem pessoas fazendo coisas interessantes com programação, como Aphex Twin, Autechre, e Squarepusher," ele observa. "Eles usam coisas que parecem defeitos pra mim. Eu não tenho interesse em programação usada para atingir a perfeição. Do mesmo jeito, um patch interessante não torna a música interessante. Isso não é música. Música é uma variedade de sons acontecendo ao mesmo tempo. E não existe melhor gerador aleatório do que um ser humano, com todas as suas inconsistências, defeitos, e coisas aleatórias que acontecem em sua voz e em seus dedos. Essas são as coisas que lhe dão personalidade, caráter, e uma vibração à música, o que faz você querer escutar certos discos repetidamente."


Talvez Frusciante não seja tão extremo assim.


Paul Tingen é um escritor e músico radicado na Escócia. Ele é o autor de Miles Beyond, The Electric Explorations of Miles Davis, 1967-1991, um livro sobre as primeiras experimentações com o funk. Para mais informações, visite www.tingen.co.uk.


NOTAS DE PRODUÇÃO DE FRUSCIANTE


A seguir estão os comentários de Frusciante em relação à produção de algumas faixas selecionadas de dois de seus CD's solos (veja Fig. A e Fig. B).


SHADOWS COLLIDE WITH PEOPLE


"Carvel" - "A abertura dessa faixa foi criada enquanto eu brincava com o Doepfer A100 e fazendo o que soa como um cueing eletrônico. Eu coloquei o Minimoog por um eco e toquei a melodia que você escuta."



FIG. A: Shadows Collide with People
"- 00 Ghost27" - "Eu estava escutando um álbum eletrônico experimental em casa. Eu não lembro qual era, mas dois segundos dele mexeram com a minha cabeça. Parecia um coro do Mellotron através de um sintetizador bem distorcido, gritante e com feedback. Eu fui ao estúdio no dia seguinte para tentar recriar o que eu pensei ter escutado. Eu tinha o som do coro do Mellotron num módulo E-mu, e eu o passei pelo Doepfer. Você pega um sinal de áudio e usa-o para controlar um filtro e os knobs de uma maneira que crie um feedback gritante. Foi um daqueles momentos em que a música desce sobre você."

"Regret" - "Eu passo minha voz pelo Minimoog nessa canção. É um LFO controlando um filtro no Minimoog. O que nós estamos acostumados a fazer caso eu esteja tratando a minha própria voz, é geralmente gravar o vocal, envio-o da mesa, faço o tratamento, e depois envio de volta pra fita."


"Omission" - "Eu passei a voz do Josh por um VCA e fiz o LFO abrir e fechar esse VCA bem rapidamente no Doepfer."


THE WILL TO DEATH


"A Doubt" - "Aquela guitarra bem distorcida que aparece no final foi passada pela Doepfer. Aquele é o melhor timbre de fuzz que eu já tive. É tão sujo e bagunçado, e é feito passando a guitarra por um sintetizador."



FIG. 2: The Will to Death


"An Exercise" - "O som esmagado, borbulhante, meio feedback no fim da música é um exemplo de como você pode gerar feedback passando o áudio pra fora de um filtro no Doepfer e depois colocá-lo de volta no mesmo filtro. Você consegue o feedback, e você pode controlá-lo com os knobs para deixar do jeito que quer. É um dos meus sons favoritos."


"Loss" - "Josh toca um órgão no fim, que está sendo passado pelo meu Doepfer, fazendo-o soar como um feedback. É como se o órgão tivesse uma alavanca igual da guitarra e estivesse sendo passado por um stack Marshall. Nós fazemos isso muitas vezes: ele toca um instrumento e eu faço algum tratamento com o sintetizador simultaneamente."


"A Loop" - "A caixa da bateria foi passada pelo Doepfer, e também existem algumas guitarras revertidas. Nós colocamos a fita de 2 polegadas ao contrário, e eu solei em cima da faixa duas ou três vezes. Depois nós acertamos a fita de volta, e eu solei por cima daquilo."


Fonte: Electronic Musician

Tradução: Pedro Tavares

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