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28 de maio de 2020

Ross Halfin divulga foto inédita registrada para a Guitar World de 25 anos


O fotografo Ross Halfin divulgou uma foto inédita feita para a Guitar World, em Los Angeles, em 2004. A sessão tinha o intuito de reunir os grandes guitarristas da nova e da velha geração para comemorar os 25 anos da revista na edição de fevereiro de 2005. Na parte superior da imagem estão John Frusciante, Tom Morello, Jimmy Page, Slash, Joe Perry, Dean DeLeo e Zakk Wylde e no chão Daron Malakian e Munky.




Você pode ler toda a matéria por aqui: A gangue está toda aqui - Fevereiro de 2005







23 de novembro de 2019

Flea posta vídeo em que ele toca trompete e Frusciante toca baixo em 2005


Na madrugada de hoje, Flea recordou através de um vídeo, por meio do Instagram, a apresentação em que ele toca trompete e John Frusciante toca baixo em Las Vegas, em 02 de julho de 2005. Flea descobriu o vídeo após a fã @rhcpmagy ter o postado e marcado o baixista - que a enviou a mensagem "Ei, Maely, essa jam com John no baixo e eu no trompete é tão louco. Obrigado por publicá-lo. Onde posso encontrar isso?". Após isso, o vídeo foi publicado por Flea com a legenda "Eu e John".








Muitos admiradores, famosos e amigos da dupla deixaram emoticons de coração (❤️) nos comentários da publicação - entre eles Cedric Bixler-Zavala (The Mars Volta, At the Drive-In, Antemasque, De Facto e mais), Jon Theodore (Queens of the Stone Age), a dubladora Cree Summer e o fotógrafo Atiba Jefferson. O vídeo também foi publicado no Twitter de Flea.








Uma publicação compartilhada por Flea (@flea333) em


17 de setembro de 2019

"Warlocks": uma das últimas gravações de Billy Preston


Na metade da década de 2000, os Red Hot Chili Peppers estavam terminando de gravar o álbum Stadium Arcadium e o funky "Warlocks" necessitava de uma parte de clavinete para ser finalizada. A banda logo pensou no lendário Billy Preston para a missão, porém, o tecladista estava internado devido as complicações do diabetes e seus problemas com entorpecentes - contudo, isso não impediu que eles o enviasse uma fita com a canção e o convite para que ele adicionasse uma parte de clavinete nela. Preston ficou tão animado com "Warlocks" que ele pulou da cama - literalmente - e gravou a parte de clarinete para canção, voltando para a cama logo depois.



John Frusciante: "Nós conseguimos que o grande Billy Preston tocasse clavinete nessa música, que é um instrumento bem funky, e um cara bem funky para tocá-lo."

Flea: "Que herói ele é. E pelo que eu soube, ele está bem doente, ele levantou da cama, tocou e voltou pra cama."

Anthony Kiedis: "Isso mesmo. Às vezes, quando você é um tecladista funky, você tem que sair da sua cama de hospital, agitar as teclas e voltar pra cama."

Flea: "É, nascido para o funk. Esse cara nasceu para o funk."


Billy Preston faleceu no dia 06 de junho de 2006. "Warlocks" é conhecida como uma das últimas gravações do músico.


28 de abril de 2019

Resistente Demais Para Morrer (Um Tributo a Johnny Ramone) - Final de 2004


Entrevista com John Frusciante, lançada na versão japonesa do documentário “Resistente Demais Para Morrer (Um Tributo a Johnny Ramone)" de 2006, na qual ele fala sobre sua vida, os Ramones e sua relação com Johnny Ramone.



"Eu acho que eu tinha por volta de 9 anos, eu acho, e eu lembro especificamente de ouvir "Beat On The Brat" e soava muito atrativo. E eu ficava imaginando por que soava tão diferente de tudo, era realmente divertido e extremamente simples.

E era muito legal. Então eu fui a uma loja de discos em Santa Monica; eu queria comprar…E eu cheguei lá com um grande pote de moedas que eu estava economizando por que eu queria comprar o álbum que tinha "Beat On The Brat"; mas eles não tinham, então eu comprei Leave Home.

E tive uma conversa legal com as pessoas lá; eles me acharam descolado por que eu tinha nove anos e estava comprando um álbum dos Ramones com um pote de moedas.

E depois eu comprei Rocket To Russia e End Of The Century quando foi lançado.

Eu encontrei com um amigo que trabalhava em uma loja de comida saudável que eu costumava ir todo dia e ele me deu uma copia de It’s Alive, um álbum ao vivo e eu achei muito exótico por que não estava a venda na América, apenas na Inglaterra. E eu achei muito exótico por que eu tinha um importado.

Então eu realmente não quis ter o primeiro álbum até eu ficar mais velho. Era o que eu queria, mas eu não tinha tanto dinheiro para comprar discos e eu tinha a maior parte das musicas no álbum ao vivo. Então eu racionalizei para usar o dinheiro com outra coisa por que eu achava que tinha a maior parte das musicas em It’s Alive.

Eu tenho certeza que não é que eu não gostava deles antes. Eu estava interessado em outros tipos de banda punk, mas eles apareceram como se fossem algo a mais. Agora olhando para trás e obviamente eles estavam em uma banda comercial mas para mim haviam três bandas punks comerciais: The Clash, os Sex Pistols e os Ramones. As outras eram bem underground, mas aqueles estavam nas revistas, na TV, numa loja de discos, coisas do tipo. Mas em termos de musicalidade, eles foram notados por razões similares, por que eles tinham musicas realmente fortes e que realmente cativavam.

Eu ouvia coisas como B-52, que tinham musicas cativantes e ouvia coisas como The Gerns que tinham uma energia mais intensa mas não tinha melodias envolventes. Os Ramones tinham a força de bandas punk hardcore mas eles também tinham um senso melódico de algumas dessas coisas que eu estava ouvindo, que não era tão forte e rápido.

Não é que não tinham bandas que tinham essa combinação. Agora punk virou musica popular de alguma forma, então as duas coisas andam juntas. Mas naquela época punk era uma coisa que pessoas em geral não entendiam e não gostavam e era muito louco para elas. Por exemplo eu colocava punk para tocar para os garotos da escolar e eles paravam de falar comigo, literalmente. Não é engraçado é muito triste. Eu queria alguém para ser meu amigo, ouvir os álbuns que eu gostava e eles paravam de falar comigo, completamente. Mas provavelmente se eu tivesse colocado Ramones para tocar ao invés The Germs, talvez tivesse dado certo. Os Ramones tinham mais aceitação, que agora pensando em retrospecto obviamente vinha do amor deles por musica pop, músicas que os influenciaram.

É verdade que muitas bandas punk tinham aquilo, mas os Ramones definitivamente tinham um senso de como era feita uma boa musica pop. Obviamente eu não estava intelectualizando isso quando era um garoto, eu não ligava se alguma coisa era cativante ou não, não era desse jeito que eu pensava; estou apenas pensando em retrospecto. Na época eles me pareciam muito engraçados. Além das letras serem divertidas e os desenhos e o interior do álbum, era muito divertido o jeito rápido da musica. Eles não pareciam reais para mim, eles pareciam personagens de desenho animado; eles pareciam tão estranhos, não pareciam pessoas de verdade para mim, era difícil imagina-los vivendo suas vidas como pessoas normais.

Eu acho que todas essas coisas contribuíram para o que sinto sobre eles. Muito mais do que serem musicas cativantes, por que estava muito mais interessado na energia da musica do que se eu conseguiria ou não acompanhar.

Eu comecei a tocar guitarra quando eu tinha 11 anos. E eu aprendi musicas dos Ramones e todas as musicas punks, Sex Pistols, Ramones, Germs, Clash

Eu não acho que qualquer guitarrista soa como outro guitarrista. Para mim quando você escuta o som de uma guitarra, você escuta o sistema nervoso, a pele, a carne, a psique daquela pessoa. Eu sinto que tudo em uma pessoa aparece pela sua guitarra e é por isso, você pode ouvir uma nota e tocar, e não é como Jimi Hendrix ou Jimmy Page, no entanto é possível de identificar e Johnny tinha isso. Outros guitarristas tem também mas especificamente esses que lembramos e falamos sobre.

Mas além disso a principal característica do jeito dele tocar é uma arte esquecida, o fato de ser apenas downstrokes (batidas para baixo nas cordas da guitarra). Em geral nos quarto primeiros álbuns dos Ramones ele estava fazendo apenas dois acordes (pega o violão) Era esse acorde ou esse acorde, a não ser que ele estivesse tocando algum tipo de acorde aberto, mas era basicamente esses e movendo para cima ou para baixo (no braço da guitarra). Essa parte do jeito dele tocar é realmente fácil de aprender e isso é verdade para a maioria das musicas punk daquele tempo. Muitas vezes não era sequer o acorde completo, eram apenas as duas notas mais baixas. Mas quanto as batidas para baixo algumas pessoas fazem e outras não. É um som completamente diferente quando a pessoa faz assim. Muitas pessoas não tem força nos pulsos e isso era algo que Johnny tinha naturalmente, ele não tinha que se esforçar para isso, ele tinha a força certa no pulso e ele podia fazer batidas para baixo por um longo tempo e ficar relaxado o tempo todo sem tencionar.

Outros guitarristas na história faziam a mesma coisa: Greg Ginn dos Black Flag, McCain, Fugazzi. A maioria das grandes bandas de punk daquela época faziam apenas batidas para baixo. Isso fazia com que o som parecesse um trem implacável, descendo em sua direção, veloz. É isso que da à musica uma intensidade aguda, como uma metralhadora, implacável. É isso que as bandas que se chamam de punk atualmente não fazem; os guitarristas não fazem apenas batidas para baixo e o som parece fraco para mim. O guitarrista não fazer apenas batidas para baixo não muda apenas o som da guitarra, muda o som da bateria, do baixo, muda tudo. Quando o guitarrista e o baixista fazem apenas batidas para baixo a bateria soa completamente diferente

Todos estavam tocando no mesmo nível de intensidade. E eu penso que não existe outro jeito de ter essa intensidade. E eu acho que muitas pessoas apenas ouvem a musica e não vê ao vivo; houve um grande período de tempo que ninguém ligava para o punk; nos anos 90 as pessoas voltaram a se interessar. E não haviam bandas punk populares como Sex Pistols e os Ramones, como nos anos 80, por que ha muito tempo as pessoas tinham desistido do punk. Mas nos anos 90, por causa do Nirvana, começou a acontecer novamente e todas essas bandas novas estavam aprendendo a musica baseada no que ouviam e não no que viam ao vivo. Então obviamente ninguém sabia que deveria fazer apenas batidas para baixo e consequentemente a musica não tinha toda aquela intensidade. E eu acho que isso era algo que Johnny observava nas pessoas tentando tocar a sua musica, se não fizessem apenas batidas para baixo era sinal de fraqueza para ele.

Eu me lembro especificamente que eu era, eu era fã de End Of The Century, que muita gente pensa que é onde eles começaram a mudar, mas para o mim, como criança parecia a mesma coisa, mesmo que agora eu ouça de maneira completamente diferente, mas ainda assim soa muito bom para mim

E eu ainda acho que é um bom álbum. Pleasant Dreams eu ouvi no radio e naquela época eu lembro de dizer para um amigo que eu ouvira a nova musica dos Ramones, e era heavy metal, eu disse que eles se tornaram heavy metal e eu fiquei muito desapontado; e eu parei de prestar atenção. Então para mim eles acabaram.

Quando eu os vi eu pensava em algo do passado por que eu não achava que eles faziam mais musicas relevantes,

Eu tinha 18 em Palladium.

Eles eram bons mas para mim, eu gosto de ver uma banda quando estão realmente fazendo musica que eu considero que eles são importantes, e eles não estavam. E eu não sinto nenhuma estranheza em dizer isso.

Agora que eu sei o que estava acontecendo no interior da banda, faz sentido para mim que eles não estavam...que a musica não estava vindo realmente do coração mais. Por que eles estavam na banda por que era o jeito de ganhar dinheiro e não por que se amavam, ou amavam fazer musica juntos.

Eu não gosto muito de musica que as pessoas fazem apenas como um trabalho. Não é por ai que meus ouvidos vão. Eu respondo à energia e se a musica está emanando uma boa energia é isso que eu vou ouvir, é nesse sentido que eu vou gravitar.

Mesmo que uma banda seja realmente boa, não é suficiente para mim. Eu tenho que ver o que tem no ar entre os músicos, eu tenho que ver o sentimento que vem de cada pessoa.

Eu tenho que confiar na musica o suficiente para deixa-la entrar.

E se a banda não vem de um lugar puro, eu não sinto confiança o suficiente para deixar a música entrar, e isso sou apenas eu, quem eu sou.

Definitivamente não significa nenhum desrespeito. Eu não acho que existam muitas bandas na história melhores que eles. Eu acho que eles foram tão bons quanto e possível uma banda ser, mas apenas nos quatro primeiros álbuns (Ramones, Leave Home, Rocket to Russia, Road to Ruin).

Ele (Johnny Ramone) gravou uma fita para mim quando nos conhecemos, com as musicas favoritas dele dos Ramones depois do quarto álbum, a partir do ponto onde eu parei de ouvi-los. Ele concordou comigo que os álbuns não era tão bons, ele achava que os primeiros eram quase perfeitos, especialmente os três primeiros.

Mas depois disso ele sentia que tinham algumas musicas boas e outras ruins, ele gravou uma fita cassete com as que ele achava melhores, e tinha boas musicas. Eu posso apreciar uma boa musica. Mas novamente, não é algo que eu fico obcecado, não é algo que eu sinta que veio de um lugar puro.

E também tinham algumas musicas que eu não gostava. Eu prefiro o todo, o álbum todo, pensando nas pessoas naquele momento e eu fico realmente obcecado. E eu nunca senti isso pelas coisas mais recentes dos Ramones. De tempos em tempos ele me perguntava: “você ouviu essa musica, você ouviu aquela música”. Eram boas músicas . Eu pessoalmente nunca gostei de tocar várias e várias vezes no meu player. Eu escuto um álbum de tempos em tempos. Mas para mim são os quatro primeiros álbuns que eu gosto muito, para mim são esses que são melhores que os feito por outra banda qualquer em 20 álbuns. Eu quero dizer, esses álbuns tem um nível de grandiosidade.

Seria difícil, impossível ter ficado melhor que isso e os Ramones poderiam ter ido em uma direção diferente. E eles foram por um segundo e decidiram que era uma ideia ruim, então eles ficaram os mesmos e eu não vejo quão longe é possível ir repetindo o mesmo, a mesma fórmula. Inevitavelmente vai perder a força. Eu não acho que seja possível fazer a mesma coisa.

Se você olhar para a história: Van Halen é uma banda que teve alguns álbuns iniciais muito poderosos, mas foram ficando fracos, e é assim mesmo se você não mudar drasticamente. Alguém como os Beatles obviamente mudaram drasticamente e fizeram vários álbuns diferentes uns dos outros, mas igualmente ótimos. E eu acho que esse é o único jeito de seguir por um longo período de tempo.

O que eu estava dizendo é que não é uma falha dos Ramones, eu respeito. Eu respeito o desejo de continuar o mesmo e seguindo e eu entendo que ele sentia. Muita gente passa a vida toda procurando por um estilo ou pensando em como achar um lugar para si mesmo e a sua musica. Seja no rock, no rap ou no punk. Por um longo período as pessoas pensam: “com eu posso ser parte dessa grande coisa, a historia da musica”. E eles chegaram a um estilo. Por sorte ninguém nunca fez algo como os Ramones, e ninguém tinha feito antes.

Eu não posso dizer que eu consegui chegar a algo do tipo para mim. Eu pratico guitarra um monte, eu sou um bom guitarrista. Mas eu não posso dizer que eu inventei um estilo musical. Os Ramones, em vários sentidos, foram a primeira banda punk. Obviamente tem muitas coisas que levaram eles ate isso, mas basicamente eles são reconhecidos como a primeira banda punk. Sex Pistols, The Clash, todas começaram por causa deles.

Eles inventaram um estilo e isso é algo para se orgulhar. Não tem muita banda na historia da musica que é o centro de um estilo, que deu origem a muitas bandas originais.

Muitas musicas eram sugeridas (aos Red Hot Chilli Peppers), "I Wanna Be Sedated" para mencionar uma, Road To Ruin...eu realmente gosto dessa musica. "Don’t Come Close", apesar que acabamos nunca fazendo essa musica.


Eu sempre gostei do jeito que eles faziam ao vivo, soava mais punk do que na gravação, que era mais uma balada ou qualquer coisa mas ao vivo era mais punk e eu queria fazer a versão punk, como eles faziam ao vivo.

Tinha musicas boas suficientes no álbum Road To Ruin, não apenas as normais, mas todo mundo queria essas, então acabávamos fixando nesse álbum. Acabou sendo um interesse e gradualmente percebemos que era um bom conceito. Por que não todas as musicas de Road To Ruin?.

Eu passo muito tempo tocando junto com as musicas deles e é muito gratificante para mim, em muitos sentidos.

Por ser simples e ritmicamente reto como é. Tem muitas formas e tem muitas curvas e inclinações e muito movimento, movimentos circulares. Muitas dimensões. Simples como é. Se você pedisse para um musico mediano escrever alguma coisa baseado unicamente nisso (cantarola) se você me pedisse para ficar basicamente nesse ritmo e apenas com batidas para baixo na guitarra...a musica ficaria algo como blocos, pareceria como um monte de tijolos caindo no chão ou algo do tipo. Não pareceria algo que flui e se move e inclina e a musica deles estava constantemente fluindo e inclinando e se movendo em vários caminhos. É como encontrar algo inigualável para a musica, tão simples. Eu sou um grande fã de simplicidade, sou fã de espaço. Então quando escuto a musica deles e toco junto e estudo, tem um monte de espaço para eu pensar sobre, para ocupar.

Por que eles estavam fazendo mais com espaço e com simplicidade do que qualquer um já fez. Para mim seria tão bom como algo dos anos 50, que a gente pode pensar como algo simples, eles estavam usando acordes que foram emprestados do jazz. Não é algo tão simples como o que os Ramones estavam fazendo

E para mim, eu não sou dessas pessoas que dizem “é simples mas é bom”. Eu sou mais “é simples por isso é bom”. As vezes é bom deixar mais espaço para a pessoa que está ouvindo ocupar na musica. Mais rotas e mais canais para a musica se manifestar no cérebro da pessoa. Para mim é um desafio tentar fazer musica tão simples quanto possível, somente o suficiente, somente o necessário. E para mim os Ramones são um exemplo disso.

Tem muita qualidade em todas aquelas musicas iniciais. Era sempre o mínimo do que podia ser. Eu acho que é por isso que para mim os primeiros álbuns se destacaram até mais do que Road to Ruin, End Of The Century. Por que em Road To Ruin eles começaram a fazer overdubs com a guitarra acústica ou solos de guitarra. Para mim eu gosto da simplicidade, apenas o ritmo da guitarra, do baixo e da bateria do que uma dúzia de coisas confusas, girando ao redor de outras coisas. Mas a musica dos Ramones circula do mesmo jeito que a de Hendrix: não tem todos os overdubs e não tem efeitos, é tudo seco e colorido como qualquer musica deve ser.

Sim, levamos (Red Hot Chilli Peppers) isso muito a serio. Nós estamos escrevendo um novo disco nos últimos meses. E bem no começo quando começamos a escrever esse algum, estávamos dividindo nosso tempo em escrever novas musicas e tentando chegar a novas ideias. E tentando aprender algumas musicas dos Ramones e ensaiando elas. É um ótimo jeito de começar por que eu acho que meio que eleva a barra de qualidade do que esperamos para nós mesmos. Da mesma forma que seria se começássemos aprendendo músicas dos Beatles por uma semana. Estamos aprendendo musica de extrema qualidade. E não seria suficiente apenas escrever musica, é apenas ok. Você começa tentando entrar nas melhores musicas que já foram escritas.

CJ era muito bom nas batidas para baixo. Eu disse para ele que CJ tinha feito somente batidas para baixo e ele o elogiou. Ele disse que precisava de outras pessoas. É o que ele era. Ele estava feliz que o show tinha sido bom.

Para mim parece óbvio que ele se manteve vivo ate que o show acontecesse. Ele ficou muito triste de não poder ir no show.

E eu acho que ele sabia algumas semanas antes que não seria possível ele ir ao show. Apesar dele ter perdido toda sua vontade de viver, quero dizer ele perdeu a fora e a habilidade de continuar vivo, mas ele se forçou a ficar vivo até o show. Ele morreu três dias depois do show, na verdade dois dias inteiros depois do show.

Foi tempo suficiente apenas para ouvir algumas pessoas. Eu acho que isso significava algo para ele por que era o aniversario de 30 anos do primeiro show (dos Ramones). E eu não acho que dei muitos detalhes sobre o show, falei sobre as coisas que achei boas. E eu acho que ele ficou feliz.

Vincent Gallo, Eu fiquei amigo de Vincent Gallo quando ainda estávamos escrevendo o álbum Californication e estávamos comendo um dia, eu, Benson e Tony. Estávamos falando sobre que musicas eu estava envolvido na época. E Ramones era a principal. Todos os dias eu praticava tocando junto com álbuns dos Ramones. Pelo menos um álbum por dia, todos os dias, enquanto estávamos escrevendo Californication. Era um bom jeito de deixar minha mão direita, meu pulso direito forte de novo por que eu não toquei guitarra por alguns anos. Então esse era meu exercício de guitarra, tocar junto com os Ramones todos os dias.

Então eu estava contando para ele (Vincent) o quanto eu amava dos Ramones.

E eu quase não acreditei quando ele disse que Johnny Ramone era seu melhor amigo. E foi um choque para mim. Eu disse que quando eu era criança os Ramones pareciam personagens de desenhos para mim e eu havia crescido com aquela imagem e eu nem consegui imagina-los como pessoas que eu poderia conhecer. Eu conheci Joey e CJ. Joey não quebrou aquela imagem de cartoon para mim porque ele não parecia real.

Então Vincent me disse que ele iria me levar para visitar Johnny Ramone mas que teríamos um pequeno problema, um pequeno obstáculo a superar por que os Red Hot Chilli Peppers tinham entrado nus no palco durante uma performance dos Ramones em um festival em que ambas bandas estavam tocando.

Isso foi antes de eu entrar na banda. Ainda assim sabíamos que era algo que Johnny ainda não tinha superado e eu teria que responder.

Então Vincent me levou um dia e disse que era melhor eles serem legais com seu novo amigo ou ele nunca mais voltaria. E eles foram muito legais comigo

E conversamos muito sobre The Yardbirds. Eu realmente estava interessado nos Yardbirds na época. E ele me contou do show no Teatro Anderson, em Nova York, que era uma das minhas gravações ao vivo favoritas. Então pedi para ele gravar uma fita para mim com esse show e começamos a ser amigos e conversar no telefone, muito."

Tradução: Eloá Otrenti - Frusciante Brazil


COMUNICADO:
A partir dessa publicação começamos uma parceria que irá render muitos frutos aos fãs brasileiros de John Frusciante, Eloá Otrenti do Instagram Frusciante Brazil irá nos enviar algumas entrevistas que ainda carecem tradução.

Siga a Frusciante Brazil para ter acesso a informação e a pílulas dessas entrevistas.

23 de janeiro de 2018

ENTREVISTA: TONI OSWALD (2005)


Um editor de uma famosa revista musical brasileira (que pediu anonimato) enviou por email para o Universo Frusciante uma incrível entrevista feita em 2005 com Toni Oswald, artista e ex-namorada de John Frusciante durante os anos noventa, período mais difícil da vida dos dois, a entrevista não foi publicada na revista e ficou guardada por anos.

Toni fala sobre seu ótimo trabalho experimental The Diary of Ic Explura, projeto que já contou com a participação de John Frusciante e Josh Klinghoffer, além de seu período junto com John durante a saída dos Chili Peppers e após, sua participação no Niandra Lades and Usually Just a T-Shirt, entre outros assuntos com opiniões muito parecidas com as de John, afinal os dois sempre foram grandes amigos até os dias atuais.




Como a ideia do The Diary of Ic Explura (O Diário de Ic Explura) nasceu? Quais os planos que você tem para a banda e quais são os próximos passos da banda?
Ic Explura inicialmente era o nome de um alter ego que John Frusciante inventou para mim. The Diary of Ic Explura nasceu como uma ideia onde eu iria escrever um álbum inteiro de cartas de amor para Lou Reed (risos) sério! Mas então, uma estória inteira começou a se desenvolver no meu cérebro que ia além de só Lou Reed. Tornou-se uma estória sobre o meu alter ego, Ic Explura, e sua busca por verdade, amor, música e transformação através do tempo e espaço, e a personagem do Transformer (Transformador) é uma aglomeração de Lou Reed, John (na época eu estava com ele), e pedaços de personagens que eu tinha visto em meus sonhos. Inicialmente eu comecei as músicas só com as notas que eu tinha enquanto eu construía a estória na minha cabeça. Eu pedi ao Josh para me ajudar a começar as músicas, já que algumas das coisas que eu estava escutando, eu não conseguia tocar tecnicamente no piano, na bateria e algumas coisas na guitarra. Então, nós começamos no início da estória, com Ic indo para o espaço sideral e levamos daí até o fim da primeira parte da estória, onde a garota Ic está deslizando para o seu primeiro encontro com o Transformer! Então Josh saiu em turnê e nós demos uma pausa, e nesse tempo eu queria continuar trabalhando, então eu levei sete meses criando e desenvolvendo o livro A Loveletter to the Transformer (Uma Carta de Amor para O Transformador), que é um livro manuscrito da estória contada através de cartas de amor, conversas, poesias, tinta, lápis, giz de cera, cabelo, realmente qualquer coisa que eu tivesse, para expressar os sentimentos da estória.

Agora, eu estou prestes a começar a parte 2 (a estória de amor) e a parte 3 (O Vale das Lágrimas) para que eles sejam lançados juntos; o livro e as músicas. Eu planejo lançar as músicas como uma trilogia de CD's, e cada CD será uma colaboração musical com uma pessoa diferente. Eu quero dar a cada seção um sentimento completamente diferente, então uma pessoa diferente a cada vez consegue fazer isso sem nem tentar. Após eu terminar as músicas e lançar tudo, eu quero fazer algumas performances ao vivo.

Quais sons você tem escutado recentemente? Quais são as principais influências de Ic Explura?
Bem, recentemente eu estive escutando Bob Dylan. Eu estou obcecada, na verdade (risos), principalmente com o álbum Desire! Eu tenho um amor obsessivo pelo violino e a rabeca, e isso já diz muita coisa, sem contar que a canção “Sara” é a minha canção de amor favorita de todas... aí sim é uma carta de amor! Eu também estive escutando o box OHM: Early Gurus of Electronic Music, que é bem a ver com Ic. Ic Explura é influenciado por Lou Reed, Brian Eno, Kate Bush, David Bowie, Chopin, música cigana, sons encontrados ao nosso redor e o espaço sideral, eu acho.

Como você conheceu Josh Klinghoffer?
Eu conheci Josh através de Bob Forest. Nos tornamos amigos em 1999 quando ele começou a me dar aulas de violão e nós dividíamos um amor pela cultura inglesa.

Alguma chance de uma colaboração de John Frusciante no primeiro álbum da sua banda? Vocês são amigos?
Bem, como eu disse antes, a ideia são três álbuns cada um com um colaborador diferente. Eu tenho algumas pessoas em mente com quem eu quero trabalhar, então veremos quem está disponível e quem quer, mas eu amaria trabalhar com John se isso se tornasse uma possibilidade e algo que ele quisesse fazer e o inspirasse. Mas não temos planos para isso. Sim, John e eu ainda somos amigos. Nós somos muito como irmão e irmã!





Niandra LaDes and Usually Just a T-Shirt é agora uma menina com onze anos de idade. Um álbum inteiramente concebido em um mundo que não é onde os carros estão tornando-se mais velozes e as pessoas estão apaixonadas por corpos e almas de plástico. Para você, Niandra LaDes and Usually Just a T-Shirt é um produto de que tipo de existência? Me fale sobre as suas experiências durante a criação dessa música.
Bem, durante aquela época nós não pensávamos muito nas coisas, na verdade. Nós só fazíamos, sabe... o que quer que o clima precisasse, nós tentávamos ser e viver aquilo. Quando eu gravei aqueles vocais, era só eu falando algumas palavras enquanto cantava. Era bem espontâneo sem qualquer tipo de preciosidade envolvida. Para mim, Niandra LaDes and Usually Just a T-Shirt é pura magia, isso é tudo que eu posso dizer sobre ele na verdade, porque qualquer outra coisa seria idiotice e minhas palavras estúpidas não tem lugar num mundo onde não existem palavras.

Onde você estava, Toni, quando gravou os vocais para as duas faixas onde você aparece? Fisicamente falando, onde você estava? Você cantou alguma coisa que estava escutando ou foi pura liberdade, moldando sua voz e seu sentimento através da maneira que as canções estavam indo?
Fisicamente falando, eu estava sentada no chão da sala (risos). Foi algo espontâneo, ali mesmo, sem nenhum planejamento. John me pediu para cantar então eu cantei (risos).

Você pode me falar como era a rotina de Toni Oswald e John Frusciante durante a época do Niandra? Você pode descrever um dia comum desse tempo?
Bem, um dia comum seria acordar com café e vários pegas no bong (risos) com nossos colegas de quarto Bill e Mariah, então nós escutávamos música e encontrávamos nosso caminho através do dia, o que quer que fosse. Gostávamos de desenhar e assistir filmes dos irmãos Marx! Geralmente nós gostávamos de ficar curtindo.

A arte se torna pura quando o artista vive as coisas que ele produz, quando o artista é a própria criação. Como você era muito próxima de John Frusciante nesse período, o que você pode falar sobre a relação entre John e suas próprias canções? Qual parte dele estava dentro delas? E onde você estava nessas canções?
Eu não posso falar nada sobre John e suas canções. Essa é a relação dele, não minha. Eu diria que John está no seu melhor em suas músicas. Eu acho que todos estamos; a ideia para mim, na vida, é se alinhar com o cosmos e quando se está criando, se está tocando nisso, deslizando pelo fluxo de todas as coisas. Você tem que estar completamente dentro do momento para criar algo de valor e então, nesses momentos, todos os caminhos são perfeitos e se é realmente o que se é, sem pretensão ou medo, apenas energia. Todo o resto desaparece e você é apenas um canal de alguma expressão dessa coisa chamada vida. E numa observação menos pretensiosa, a arte nos permite, de algum jeito, redimir o que é bagunçado dentro de nós, compreender tudo aquilo, de alguma maneira. Pelo menos, é assim que eu me sinto sobre isso.

Recentemente seu nome foi mencionado na biografia de Anthony Kiedis, "Scar Tissue", quando o assunto é o fim da era Blood Sugar Sex Magik. Como uma observadora de perto, você pode me falar algo sobre a atmosfera durante a última turnê que John Frusciante fez com os Chili Peppers antes de sair da banda? Você esteve com ele durante a turnê, certo?
Eu estava com ele, sim. A única coisa que eu posso dizer é que ele estava infeliz naquela situação. Qualquer outra coisa é muito pessoal, na verdade.

Toni e John no Japão em 1992 (última turnê de John antes de sair do RHCP pela primeira vez)

Você pode me falar sobre o filme? Algum plano de lançamento? Porque você demorou tanto para lançar o vídeo?
O filme que eu fiz se chama Desert in Shape (Deserto em Formas). Foi inspirado e escrito enquanto eu estava em turnê com John na Europa com os Peppers. Eu estava lendo muito de Marcel Duchamp e Luis Bunuel, e tendo uns sonhos estranhos sobre a minha infância. No verão após John sair da banda, nós o fizemos com meu amigo Greg Gibbs, que é tradicionalmente um pintor, tanto quanto cinegrafista. Eu provavelmente irei vendê-lo no website meu e de John, eu acho. Eu não o fiz com a intenção de lançá-lo, era só algo que eu tinha que fazer, e como eles usaram uma fotografia do John do filme, para o Niandra, ele meio que se tornou essa coisa cult. Foi filmado em Super8 e o filme esteve numa gaveta por anos e então quando lançaram o IMovie para Mac eu pensei, “eu devia editar o Desert...” (risos), mas não aconteceu até um cineasta amigo meu, Aza Jacobs, se oferecer para ajudar a editá-lo no equipamento do AFI (American Film Institute) em que eu finalmente o terminei, que foi há alguns anos.

Frusciante considera seus dias de heroína e reclusão como dias de aprendizado. Eu posso entender esse ponto de vista perfeitamente. Estar distante e dentro de si mesmo pode ser uma experiência enorme e positiva, usando drogas ou religião ou qualquer ferramenta de introspecção. Eu não sei se você quer falar sobre isso (estou tentando evitar questões obscuras), mas como você enxerga esse período e como você entende o seu próprio processo de crescimento (não físico)?
Bem, eu sinto muitos dos mesmos sentimentos do John sobre isso. Nós conversamos muito sobre isso juntos. Eu realmente aprendi muitas coisas durante esse período e as vezes aprender pode ser uma jornada muito difícil e dolorosa, sabe. Mas sempre se pode achar valor em qualquer experiência, dependendo da perspectiva que você decide tomar, e na época eu tinha a sensação de estar mergulhando para buscar a pérola mais negra, o que era extremamente doloroso, mas não sem seus momentos de verdadeira alegria e verdadeiro deslumbramento. Eu acho que para realmente entender a luz, deve-se também entender a escuridão, embora eu não defenda o uso de drogas com essa natureza, já que eu sei agora que se pode aprender sobre isso em várias maneiras diferentes se está realmente desejando buscar isso.

O que você acha do álbum Smile From the Streets You Hold? Vocês ainda estavam juntos em 1996/1997? Como uma garota (namorada?), mesmo respeitando suas próprias decisões como você, enxergava a entrada de John naquela espiral descendente?
As canções do Smile foram gravadas em vários períodos diferentes, então eu estava por perto durante a maioria das gravações, com exceção das faixas de quando ele era adolescente, mas nosso relacionamento como casal estava acabando em 1997 quando o Smile estava sendo lançado. Eu saí das drogas primeiro e estava morando em outro lugar quando foi lançado. Eu acho que existem canções incríveis no Smile, a propósito algumas das minhas favoritas, mas não existe nenhuma real estrutura já que John meio que simplesmente as jogou ali juntas. Eu sei que ele adoraria eventualmente editá-lo, reestruturá-lo e lançá-lo. Eu amo essa ideia.

Quanto à espiral descendente, ela já tinha chegado muito antes e foi absolutamente devastadora em todas as maneiras. A única coisa que eu podia fazer na época era segui-lo.  Eu o amava demais e muito desesperadamente para ir embora. O milagre é que nós sobrevivemos àquilo e que permanecemos bem próximos.

Você curte alguma música brasileira? Chico Science, Mutantes, eles estão todos na sua página do MySpace! O que você sabe sobre eles e sobre a música feita aqui no Brasil? Do que você gosta? Você conhece Jorge Ben e Tim Maia?
Esses caras são deuses. Eu não sei nada sobre música brasileira. Eu gosto de Mutantes e algumas canções dos anos 60, mas além disso eu não tenho a mínima ideia!

Mais um agradecimento, obrigado pela sua doçura! Espero que não tenha tomado muito seu tempo. Espero que tenha sido divertido responder.
Obrigada! Beijos.
Toni.

Tradução: Pedro Tavares
Entrevista publicada pelo Universo Frusciante - em 04 de julho de 2016.

28 de agosto de 2017

Técnicas: John Frusciante em Inside Of Emptiness - Janeiro de 2005


TÉCNICAS: JOHN FRUSCIANTE EM INSIDE OF EMPTINESS


"Nos anos 60, as gravações tinham alguns sons ótimos que agora estão praticamente perdidos", diz o Pepper John Frusciante, cujo mais recente disco solo, Inside of Emptiness [Record Collection], é o quarto de uma série de aproximadamente seis álbuns que ele planeja lançar nos próximos meses. "E um dos meus objetivos em fazer álbuns solo é trazer de volta algumas dessas técnicas antigas legais de engenharia e produção que as pessoas esqueceram. Por exemplo, o primeiro som de guitarra do álbum é uma Les Paul 1969 em um Vox AC15. No começo, eu estava com amplificador em uma cabine de isolamento, porque, hoje em dia, todo mundo quer um monte de separação entre os instrumentos. Mas quando abrimos a porta de vidro deslizante da cabine, o ambiente imediatamente deu vida para toda a gravação. Você primeiro ouve o som fechado de um Shure SM57, e então você ouve um pequeno delay do amplificador vazando para todos os microfones de bateria. Há todo tipo de (sinal) sangramento sobre esses álbuns antigos, e eu acho que isso é parte do que deu as gravações uma atmosfera tão boa".

Frusciante - e o multi-instrumentista Josh Klinghoffer - fizeram Inside Of Emptiness ao vivo através de um console Neve 8088 para uma mesa analógica Studer A-800, após substituírem o Studer de 24 faixas com uma versão de 16 faixas.

"Dessa forma, você recebe uma fatia maior de fita e um som mais gordo para cada faixa", explica Frusciante. "É por isso que dou risada quando vejo comentários sobre os álbuns dizendo que eles são um 'lo-fi' de 16 faixas. Eu acho que 16 faixas soa melhor do que 24 faixas!"

Outro benefício da redução do número de faixas disponíveis foi o que forçou Frusciante se comprometer com as idéias desde cedo. "Isso faz parte da arte e parte da diversão - descobrir como fazer as coisas dentro dos limites de recursos limitados e um plano de jogo rigoroso", diz ele. "Eu não gosto de jogar fora um milhão de coisas, e então é um inferno durante a mixagem tentando decidir o que fica e o que vai."

Outro aceno para gravação old-school foi de fazer diferentes performances com um microfone simples, como em "I'm Around", onde Frusciante e Klinghoffer tocam simultaneamente através de apenas um amplificador.

"Isto é o que eu chamo de 'guitarras juntas', e é um som totalmente diferente do que você obtém quando a grava duas guitarras em duas faixas separadas, com dois microfone", diz Frusciante. "Eu gosto de álbuns em que todos os instrumentos parecem ser um grande barulho, quando esses "truques" de método fazem seu ouvido captar apenas um som. Havia um outro benefício, também, porque tocar juntos ajudaram Josh e eu a sermos um só em vez de dois caras tocando sua parte no álbum".

- Matt Blackett


Fonte: Guitar Player - Janeiro de 2005

13 de julho de 2017

A gangue está toda aqui - Fevereiro de 2005


Nós gostaríamos de dizer que eles foram atraídos para nossa foto pois eles quiseram honrar o 25º aniversário da Guitar World mas poderiam estar dando uma palhinha. Verdade seja dita, Daron Malakian, Zakk Wylde, Slash, John Frusciante, Munky, Tom Morello e Dean DeLeo foram escolhidos para essa incrível capa e ficarem na mesma sala com seus heróis, os imortais Jimmy Page e Joe Perry.





"Eu me senti honrado" disse Malakian, guitarrista da banda System Of a Down. "Não há outro jeito que eu possa descrever isso. Quando a Guitar World me chamou para essa foto, tudo que eu pude dizer foi 'Obrigado'. Você olha para Jimmy Page, Joe Perry, Slash, John Frusciante... todas essas pessoas que eu cresci vendo e idolatrando, cara. Então estar na mesma sala com eles, eu fiquei mudo, eu não me senti merecedor de estar ali, honestamente."



Tudo isso começou no inverno passado quando chamamos Jimmy e Joe para se encontrarem em Los Angeles para um bate-papo sobre Blues. Na hora, todo mundo soube que dois dos gigantes da guitarra do rock estavam na cidade, e antes que imaginávamos, toda a nata da comunidade guitarristica da Costa Oeste queria ir vê-los.


A cena era fascinante: Morello ao lado da Les Paul olho-de-touro de Wylde. Page dividindo um cigarro com Slash e conversando com Malakian sobre Aleister Crowley. Perry conversando tranquilamente com Frusciante e DeLeo.




"Eu nunca tinha encontrado Slash antes." disse Malakian "e eu entro na sala e ele está tipo 'E ae cara, como é que tá?' como se ele já me conhecesse antes. Isso é como um sonho louco. Nós estávamos todos dizendo 'Como poderiamos nos encontrarmos assim se fossemos um monte de vocalistas?' Acho que todo mundo tava impressionada de como a vibe estava boa, tão amigável. Eu não senti nenhum sentimento de 'Ei, eu quero ficar na frente'. Todo mundo estava tão humilde e legal.





A festa foi noite adentro, até quando Page, Perry e Slash decidiram ir até a House of Blues ver James Brown. Page, por sua vez, parece ter adorado essa experiência com seus admiradores. "Que grupo de guitarristas talentosos!" disse depois da festa. "Foi uma noite incrível."

12 de julho de 2017

O mago dos Chili Peppers fala sobre o Rock Progressivo - Junho de 2005



Pink Floyd e a história do Rock Progressivo: O mago do Red Hot Chili Peppers fala sobre como o Prog Rock leva-o para outra dimensão...

"Quando eu tinha sete anos de idade, meu pai era um pianista de concerto e eu encontrei algumas coisas na sua coleção de discos que despertou meu interesse. Dois dos primeiros álbuns que eu descobri foram Trilogy do ELP (Emerson, Lake & Palmer) e Fragile do Yes. Eu não tinha nenhuma ideia do que era o rock progressivo, mas os dois álbuns realmente me chamaram a atenção. Era diferente de tudo que eu já tinha ouvido. O que eu sinto sobre eles hoje é a mesma coisa que eu senti sobre eles naquela época: eles me levam para algum lugar. Yes, ELP, King Crimson, Genesis e Pink Floyd, todas oferecem aos ouvintes a oportunidade de se perder.

Para pessoas como eu, que cresceram no sul da Califórnia, a coisa "inglesa" desses álbuns deu a eles um sabor muito exótico, um sabor de outro mundo. As bandas de rock progressivo originais eram todas sobre levar a música pra algum lugar novo. Um dos aspectos mais importantes desta música que as pessoas esquecem é que tudo isso era contra a estagnação. Eles não só queriam repetir a música dos anos sessenta, eles queriam fazer algo diferente. Essa foi a mesma atitude que teve o punk rock, um pouco mais tarde na década de 70: foi tudo sobre a ideia de liberdade e a música como abertura da mente, e essa ideia de que a porta estava aberta para qualquer coisa.

O rock progressivo era ameaçador. Era música feita por pessoas incomuns tendo chance através de bandas. A medida em que essas pessoas iam sendo cada vez mais diferentes, é algo que as pessoas devem ter tempo para perceber. Músicos e fãs hoje estão cada vez mais conscientes dessa época agora. Há muita coisa para ouvir. Essa música ainda pode levá-lo para outra dimensão."


Fonte: Q Magazine - Junho de 2005

26 de fevereiro de 2017

Mike Piscitelli sobre “The Past Recedes"


O diretor Mike Piscitelli comentando em seu blog sobre as gravação do videoclipe de "The Past Recedes" feita na casa de John Frusciante.

"Este vídeo na casa de John foi feito em um único dia. Ele não estava empolgado com uma equipe de filmagem vagando livremente em torno de sua casa. John insistiu que a qualquer momento se alguma coisa tivesse que ser movida, eu devia estar lá para fiscalizar. Após a filmagem, completamente alheia a minha equipe, algo pegou fogo em sua cozinha. John tomou o fogo como um sinal e jurou que nunca seria filmado em sua casa novamente. Quando eu lhe enviei o vídeo editado, ele me disse que era o seu vídeo favorito, em que ele já havia participado... por isso ainda estamos numa boa."




11 de janeiro de 2017

John Frusciante - Shows 2001 e 2005

John Frusciante durante as suas apresentações em 2001 e em 2005 utilizava o delay Digitech PDS-1002 para reproduzir os efeitos de voz de algumas músicas ao vivo. O uso desse efeito pode ser notado nas versões de "So Would Have I" (2001/2005), "Modern Love" (2001) cover de David Bowie e "Country Feedback" (2001) cover do REM.

27 de setembro de 2016

A explosão criativa de John Frusciante - Janeiro de 2005

Por: Paul Tingen
Electronic Musician (01/12/2005)



John Frusciante é um homem de extremos. Na tenra idade de 33 anos, ele já experimentou o melhor e o pior que a vida pode oferecer. O primeiro refere-se à sua prolongada fama e sucesso como guitarrista do Red Hot Chili Peppers. O último envolve as profundezas de depravação na qual ele caiu durante um longo período como viciado em drogas na metade da década de 90. Quando ele ressurgiu após se reabilitar, seu corpo estava tão devastado que ele precisou de novos dentes e enxertos de pele para reconstruir as cicatrizes das seringas em partes da sua pele.


As duas participações de Frusciante no Red Hot Chili Peppers (1988-92 e 1998-atualmente) antecedem e sucedem a sua longa queda. Durante suas duas passagens, ele foi a principal força criativa da banda, adicionando uma forte identidade rítmica e melódica com seu distinto estilo de tocar guitarra e de composição.


Frusciante tem mais capacidade criativa do que ele pode canalizar pelo Red Hot Chili Peppers. Ele também tem uma carreira solo que começou dez anos atrás quando ele lançou seu primeiro álbum, Niandra LaDes and Usually Just a T-Shirt (American Recordings, 1994). Foi gravado em casa num gravador de fita cassete de 4 faixas e um aparelho de som de alta fidelidade. O álbum seguinte, Smile From the Streets You Hold (Birdman, 1997), foi feito com os mesmos equipamentos de baixa tecnologia que os do seu predecessor. Frusciante afirma notoriamente que ele lançou o segundo álbum puramente pelo dinheiro pra comprar drogas.


O disco solo número 3, To Record Only Water for Ten Days (Warner Brothers, 2001), foi gravado na casa de Frusciante num gravador digital de 8 faixas. Ele usou MIDI e sequenciadores de forma elaborada nesse álbum, e em termos de som, arranjo e qualidade de produção, foi um grande avanço. No começo de 2004, Frusciante lançou Shadows Collide With People (Warner Brothers, 2004), seu primeiro disco solo de grande produção. Parte dele foi feito com o engenheiro do Red Hot Chili Peppers, Jim Scott, e a maior parte foi gravada no famoso Cello Studios em Los Angeles. As datas de lançamento desses 4 trabalhos solo fariam qualquer um esperar um quinto álbum pra ser lançado em 2007 ou 2008. Ao invés disso, Frusciante terá lançado seis novos álbuns até o fim de janeiro de 2005.


PRODUÇÃO PRODIGIOSA


Frusciante completou recentemente um planejamento de produção incrivelmente ambicioso. Ele gravou um álbum por mês durante um período de criatividade extrema desde o fim de 2003 até 2004. Os resultados estão sendo lançados agora num ritmo quase mensal pelo selo Record Collection.



FIG. 1: Frusciante lançou Automatic Writing sob o nome da banda Ataxia. O CD também tem participação de Josh Klinghoffer e o baixista do Fugazi, Joe Lally.
O primeiro lançamento (em junho de 2004) se chama The Will to Death, uma coleção de canções tocadas no estúdio por Frusciante e seu atual parceiro musical, o baterista e multi-instrumentista de 22 anos, Josh Klinghoffer. O lançamento seguinte, em agosto de 2004, é um álbum sob o nome da banda Ataxia chamado Automatic Writing e tem participação de Frusciante, Klinghoffer, e o baixista Joe Lally do Fugazi (ver Fig. 1). Automatic Writing é repleto de riffs de baixo circulares e os lamentos de Frusciante na guitarra. Este álbum foi seguido em setembro de 2004 por um álbum curto entitulado DC EP (ver Fig. 2), que foi gravado em Washington, DC, com participação do baterista Jerry Brusher.

O quarto lançamento de Frusciante, Inside of Emptiness, foi lançado em outubro de 2004, seguido um mês depois por A Sphere in the Heart of Silence, em parceria com Klinghoffer. Frusciante lançará Curtains, a qual ele se refere como o seu "álbum acústico", no fim de janeiro de 2005. Além desses seis lançamentos, Frusciante também compôs a trilha sonora do filme de Vincent Gallo, The Brown Bunny.


Seis CD's em sete meses parece algo extremo, e algumas pessoas podem achar que Frusciante tenha caído em outro episódio onde o ênfase esteja no "louco" do seu apelido constantemente aplicado de "gênio louco". Mas durante a longa conversa da qual esse artigo foi criado, o guitarrista foi a personificação de calma e compostura.




Quando perguntado "o que te motiva?", Frusciante riu: "Bem, no momento, nada. Estou em uma fase completamente diferente, dando uma pausa, e me preparando pra gravar o próximo disco do Chili Peppers. Esses seis álbuns foram gravados num período de seis meses após chegar em casa, depois de passar um ano e meio em turnê com o Chili Peppers. Eu fiz uma lista de todas as canções que eu tinha e elas chegaram a umas 70. Meu objetivo era gravar o máximo de canções que eu pudesse durante a pausa que eu tinha. No meio disso, eu estava compondo algumas das minhas melhores canções, então alguns desses álbuns tem tantas canções novas quanto antigas. Definitivamente foi o período mais produtivo da minha vida."


PERFEITA IMPERFEIÇÃO


A velocidade com que Frusciante colocou as canções em fita (analógica) é surpreendente. Mas sua carreira sempre foi de extremos. Seus primeiros dois álbuns foram gravados de forma casual e caótica. Quando a vontade lhe veio, ele gravou o material num gravador de fitas de 4 faixas sem nenhuma demo ou pré-produção - praticamente sem nenhuma produção de nenhum tipo.


Depois, enquanto trabalhava no To Record Only Water for Ten Days e especialmente no Shadows Collide with People (assim como no Californication do Red Hot Chili Peppers), ele foi mordido pelo mosquito da perfeição. Ele explica em seu website, "Eu estava cansado das pessoas dizendo que meus discos eram fodidos e amadores." E assim o Shadows Collide with People foi gravado no Cello, um estúdio de alto nível, com Scott, um engenheiro de alto nível.



"Não há melhor gerador aleatório do que um ser humano."
Mas Frusciante agora fala da sua experiência de gravação do Shadows Collide with People como "frustrante". Embora ele não renegue o álbum, ele fala com mais afeto das demos que ele fez pra o disco com Klinghoffer num gravador de fita Tascam 488 MKII de 8 faixas. (As demos estão disponíveis no website de Frusciante, www.johnfrusciante.com)

Em seu website, o guitarrista escreve que após a gravação do Shadows Collide with People, ele começou "a notar que os álbuns que eu tinha amado a minha vida inteira tinham muitas coisas que eu [na época da gravação do Shadows Collide with People] teria insistido em refazer. Vocais levemente desafinados, instrumentos levemente fora de sincronia com os outros, assim como simples erros - todas essas coisas prevalecem triunfantemente em Velvet Underground, Talking Heads, Rolling Stones, Van Der Graaf Generator, Butthole Surfers, e incontáveis outros - até os Beatles - que eu sempre amei. Eu percebi que eu tinha afiado meu senso de perfeição até o ponto em que, estando eles sob minha supervisão, esses discos teriam sido corrigidos até o ponto de serem inferiores."


Chegando a essa conclusão, Frusciante decidiu mudar radicalmente sua maneira de gravação, principalmente para trabalhar rápido e deixar pra trás muitos dos erros. "Esse disco é uma celebração de falhas," Frusciante diz entusiasmado em seu website sobre o The Will to Death.


LIXO DE BAIXA QUALIDADE


Pouquíssima pré-produção ocorreu para as 12 canções do The Will to Death. Frusciante fez as demos em sua sala de estar, num estilo guitarra e voz, o que permitiu que Klinghoffer preparasse a bateria e que Frusciante melhorasse sua voz. "Escutar você cantar é algo importante antes de ir pra um estúdio e conseguir fazer um bom trabalho," disse Frusciante. Eles também gravaram algumas versões simples com guitarra, vocal e bateria no estúdio de ensaio. "Aquilo foi o mais próximo que chegamos de fazer demos," ele comentou. "Talvez eu as coloque na Internet. Elas fazem parecer que nós estávamos no espaço sideral dentro de uma nave ou algo assim. Nós escutávamos elas e pensávamos em overdubs. Mas nós geralmente fazíamos overdubs no estúdio."



"Eu jurei que não iria gravar mais nada em digital."
Frusciante não estava focado em overdubs mesmo, porque ele queria que The Will to Death soasse amplo e cru, afastando-se dos altos valores de produção do Shadows Collide with People. Junto com Ryan Hewitt - um emergente engenheiro que tomou o lugar de Jim Scott no meio do processo de gravação do Shadows Collide with People e que acabou trabalhando na maioria do seu material subsequente - Frusciante gravou e mixou 12 canções em 5 dias em dois estúdios de alto nível de Los Angeles, Mad Dog e Larrabee. Tendo em vista o fato de que ele tira muita inspiração das gravações do início dos anos 70, não é surpreendente que Frusciante tenha gravado "como se fosse 1971" - isso é, num gravador de16 faixas de fitas de 2 polegadas, mixado em 1/4 polegadas, e sem usar computadores.

"Muitos desses discos foram gravados em um dia," explica Frusciante. "Nós estávamos inspirados de grupos que gravavam rápido porque precisavam. Meus motivos pra trabalhar com rapidez não eram financeiros, mas é um desafio artístico fazer um disco com uma certa quantia de dinheiro. Agora eu faço discos com $10,000 dólares, e como trabalho rápido, eu posso gravar nos melhores estúdios. Quando as pessoas escrevem que o The Will to Death é lo-fi, isso é idiotice. Foi gravado com o melhor equipamento possível. Só não foi gravado na porra de um computador. Um computador não tem qualidade melhor que um gravador de 16 pistas, e só pra todo mundo saber, um 16 pistas com fita de 2 polegadas soa melhor que um de 24 faixas de 2 polegadas porque cada faixa tem mais espaço.


"Você consegue um som mais amplo com um de 16 faixas, e é por isso que eu o uso. Não estou tentando gravar lo-fi, estou tentando gravar rápido, porque esta é a melhor maneira de capturar a empolgação. Se as pessoas conseguirem segurar a pressão, a música sai mais viva quando é criada rapidamente. Se você não aguenta a pressão, ou você desiste ou é forçado a demorar mais. E após a experiência de gravar Shadows Collide with People, Josh e eu nos acostumamos a gravar nos melhores estúdios ao ponto em que não nos sentíamos mais intimidados."


MUSEU DO ROCK


Então qual é o problema de Frusciante com os computadores? Não querendo ser visto como um ludita, o guitarrista oferece a seguinte ressalva: "Eu não vou sentar e ficar falando como uma pessoa anti-computadores, porque muitas músicas que eu realmente gosto são gravadas ou geradas em computadores. Eu acho que muitas pessoas estão fazendo coisas empreendedoras e maravilhosas com computadores."


Frusciante continua dizendo que prefere muito mais a gravação em analógico "pela vibe que eu sinto que minha música deve ter, em termos de calor sônico. Eu quero que minhas gravações encham a sala e sejam reconfortantes, mesmo que seja um som bem distorcido, barulhento e bagunçado. Provavelmente eu sou uma das únicas pessoas que vão na masterização e insistem que nenhum computador seja usado. Eu quero que seja analógico do começo ao fim, até a prensagem em vinil. Para prensagem em CD, eu peço que a música seja masterizada em fita 1630 [U-Matic], que soa muito bem. A mesma equalização é aplicada na masterização do vinil e do CD."


A antipatia de Frusciante com gravação digital foi em parte alimentada pela sua experiência trabalhando com um gravador digital de 8 faixas no To Record Only Water for Ten Days. "Quando fomos mixar esse álbum, eu percebi como ele soava ruim. Após esse álbum, eu jurei pra mim mesmo que não gravaria mais nada em digital. Shadows Collide with People foi gravado numa mesa Neve e num 24 faixas analógico, e nós usamos um velho Scully de 8 faixas para a bateria porque fazia o som ficar mais aquecido. Eu queria que esse álbum soasse o mais caloroso possível.


"Meu amigo Vincent Gallo abriu meus olhos ao que você perde quando está gravando digitalmente e o nível em que equipamentos mais velhos são melhores que os atuais. Meu aparelho de som é a melhor coisa do mundo. Por exemplo, eu tenho alto falantes Western Electric de 1949, e eles são os melhores falantes que eu já escutei, para qualquer tipo de música."


Claramente, Frusciante juntou-se a alguns dos mais célebres engenheiros de som e produtores do mundo, que acreditam que o analógico soa melhor que o digital, e que os equipamentos antigos são, muitas vezes, melhores que os atuais. Como muito dos seus companheiros amantes do analógico, Frusciante decidiu comprar velhos equipamentos de estúdio que estão no mercado enquanto workstations digitais tornam-se a regra e estúdios consagrados fecham as portas. Como resultado, a modesta residência do guitarrista em Hollywood Hills agora se assemelha um pouco à um museu de gravação de rock.


"Eu tenho uma mesa API de 1972 que era do The Record Plant," Frusciante revela. "É a mesa em que Television e Kiss gravaram, e eu acho que até John Lennon trabalhou com ela. Eu também tenho um gravador Ampex de 8 faixas para fitas de 1 polegada de 1970, onde o King Crimson gravou In the Court of the Crimson King. E eu tenho seis compressores 1176 velhos, um Fair-child, três equalizadores Lang [um PEQ4 e dois PEQ2], dois equalizadores Pultec [EQP-IA3], uma placa de reverb EMT, e um reverb digital EMT 250. Eu também tenho um gravador de 24 pistas Studer A800, mas não está aqui porque minha casa não é grande o suficiente para guardá-lo. Estou tentando achar um lugar, separado da minha casa, para um estúdio."


Frusciante cessa repentinamente e fala preocupado, "Estou nervoso em falar disso. Nunca tinha falado sobre isso para uma revista antes."


Embora mais detalhes sobre o conteúdo do seu novo home studio não serão revelados, ele explica as suas razões para começar seu próprio estúdio. "É muito bom ter o equipamento em que eu amo trabalhar em minha própria casa. Também, pela quantidade de dinheiro que eu gastei no Shadows Collide with People, eu poderia ter comprado vários equipamentos de estúdio e tê-los para sempre. E eu também adoro a ideia de poder criar música o tempo todo sem ter que precisar marcar tempo de estúdio. Muitas vezes os melhores estúdios da cidade já estão cheios, e em outros casos, os estúdios que você gosta podem fechar."


COISAS VELHAS


Frusciante afirma com orgulho que seu último CD, Curtains, foi gravado em sua casa. "Nós usamos o Ampex de 8 faixas. Esse álbum soa muito bem. Nós geralmente tínhamos faixas suficiente para os instrumentos que tocamos, que foram principalmente violão, contrabaixo acústico e bateria. Nós usamos apenas um ou dois microfones para gravar as baterias. Eu nunca tinha tido um som de vocal e de violão tão bom quanto nesse álbum. Nós fizemos bounce em faixas quando necessário - por exemplo, com os backing vocals. Nós fazíamos três faixas com harmonias, daí transformávamos tudo em uma única faixa, depois a mesma coisa novamente, colocávamos uma das duas faixas resultantes na direita e a outra na esquerda, deixávamos o vocal principal no meio, e outra harmonia no meio por trás do vocal principal."


A maioria acharia essa restrição de esquerda, direita ou meio muito limitante e prefiririam ajustar os sete ou mais backing vocals espalhados em todas as direções. Mas o panning acentuado é uma das técnicas dos anos 60 que Frusciante acredita terem estado a frente do seu tempo. The Will to Death é especialmente repleto com muito panning. "Nos anos 60, quando o som estéreo surgiu, eles não tinham os "pan pots" - era apenas esquerda, direita, e centro.


"Quando eu fiz o The Will to Death eu não sabia disso, mas eu percebi que eu amava, por exemplo, como a voz do Peter Hammill está toda em apenas um alto falante na sua música "The Birds" do seu álbum Fool's Mate [Charisma/Buddah, 1971]. Aquele único vocal em um alto falante parece maior que qualquer outro vocal do disco, parece ter vindo de uma boca de um metro e meio de altura. Quando você põe uma informação em dois falantes, você a está comprometendo, porque dois falantes nunca são exatamente os mesmos. Sempre haverá uma pequena diferença e um pouco de phasing. Quando você tem a informação saindo de apenas um alto falante, ela não está comprometida. Ela estará lá em sua forma pura e com muita presença."


PERITO EM SINTETIZADOR


Embora seja conhecido como guitarrista, Frusciante é também um entusiástico usuário de sintetizadores. Como era de se esperar, a maioria dos seus sintetizadores datam do fim da década de 60 e do começo da década de 70. Sua coleção inclui um sintetizador modular Doepfer A100, um Mellotron, um Minimoog, e um ARP 2500 de 1970. "Por muito tempo eu estive usando principalmente o Doepfer. Eu estava mais interessado em usar o LFO, os gates e em tratar outros instrumentos através dele. Eu não estava interessado em usar os osciladores do sintetizador. Mas o ARP 2500 renovou completamente o meu interesse em osciladores, porque eles soam incríveis. É a mesma coisa com guitarras e equipamentos de gravação - as coisas velhas soam melhor, mais alto, mais calorosas, e mais suaves.


"No The Will to Death eu usei principalmente o Doepfer. Eu não usei nenhum oscilador. Eu usei um Minimoog para algumas coisas. Foi importante pra mim não usar muitos sintetizadores nesse álbum, porque eu estava pensando mais em termos de quão milagroso o som de uma bateria ou de uma guitarra pode ser. Era mais importante pra mim capturar essas coisas sônicas que por muitos lados é algo simples - por exemplo, a maneira que você escuta o som da bateria dançando ao redor da sala ou como um vocal soa numa sala escura bem tarde da noite. Isso são coisas que me deixam interessados em escutar uma música repetidamente."


Embora tenham alguns usos interessantes de sintetizadores no The Will to Death (veja no fim as "Notas de Produção de Frusciante"), o interesse de Frusciante em sons eletrônicos é mais notado em Shadows Collide with People, que tem um número de faixas instrumentais com sintetizadores com nomes obscuros, como "- 00 Ghost 27" e "Failure 33 Object".


"Como Josh e eu tínhamos feito demos bem elaboradas para esse álbum, quando chegamos no estúdio era apenas uma questão de ligar os pontos e conseguir fazer sons similares às demos", explica Frusciante. "As vezes passávamos meia hora sentados tentando recriar o som do sintetizador que tínhamos feito dois anos atrás. Nós acabávamos dando pausas durante a gravação para gravar rapidamente aquelas composições eletrônicas que havíamos criado ali na hora."


Apesar de sua preferência por sintetizadores modulares antigos, Frusciante não é contrário a samples e sintetizadores mais modernos. Frusciante usou extensivamente o seu Clavia Nord Lead 2, um Casio SK-1, e o Akai MPC3000 no álbum To Record Only Water for Ten Days. Outros instrumentos eletrônicos usados durante o último período de gravação de Frusciante incluem um Chamberlain, um Moog Voyager, um Arp String Ensemble, um Korg MS10, e um sintetizador de bateria analógico Synare do fim dos anos 70.


Embora Frusciante tenha recentemente adquirido um Mellotron genuíno, sampling, sintetizadores modernos e programação claramente não são as suas coisas preferidas. "Existem pessoas fazendo coisas interessantes com programação, como Aphex Twin, Autechre, e Squarepusher," ele observa. "Eles usam coisas que parecem defeitos pra mim. Eu não tenho interesse em programação usada para atingir a perfeição. Do mesmo jeito, um patch interessante não torna a música interessante. Isso não é música. Música é uma variedade de sons acontecendo ao mesmo tempo. E não existe melhor gerador aleatório do que um ser humano, com todas as suas inconsistências, defeitos, e coisas aleatórias que acontecem em sua voz e em seus dedos. Essas são as coisas que lhe dão personalidade, caráter, e uma vibração à música, o que faz você querer escutar certos discos repetidamente."


Talvez Frusciante não seja tão extremo assim.


Paul Tingen é um escritor e músico radicado na Escócia. Ele é o autor de Miles Beyond, The Electric Explorations of Miles Davis, 1967-1991, um livro sobre as primeiras experimentações com o funk. Para mais informações, visite www.tingen.co.uk.


NOTAS DE PRODUÇÃO DE FRUSCIANTE


A seguir estão os comentários de Frusciante em relação à produção de algumas faixas selecionadas de dois de seus CD's solos (veja Fig. A e Fig. B).


SHADOWS COLLIDE WITH PEOPLE


"Carvel" - "A abertura dessa faixa foi criada enquanto eu brincava com o Doepfer A100 e fazendo o que soa como um cueing eletrônico. Eu coloquei o Minimoog por um eco e toquei a melodia que você escuta."



FIG. A: Shadows Collide with People
"- 00 Ghost27" - "Eu estava escutando um álbum eletrônico experimental em casa. Eu não lembro qual era, mas dois segundos dele mexeram com a minha cabeça. Parecia um coro do Mellotron através de um sintetizador bem distorcido, gritante e com feedback. Eu fui ao estúdio no dia seguinte para tentar recriar o que eu pensei ter escutado. Eu tinha o som do coro do Mellotron num módulo E-mu, e eu o passei pelo Doepfer. Você pega um sinal de áudio e usa-o para controlar um filtro e os knobs de uma maneira que crie um feedback gritante. Foi um daqueles momentos em que a música desce sobre você."

"Regret" - "Eu passo minha voz pelo Minimoog nessa canção. É um LFO controlando um filtro no Minimoog. O que nós estamos acostumados a fazer caso eu esteja tratando a minha própria voz, é geralmente gravar o vocal, envio-o da mesa, faço o tratamento, e depois envio de volta pra fita."


"Omission" - "Eu passei a voz do Josh por um VCA e fiz o LFO abrir e fechar esse VCA bem rapidamente no Doepfer."


THE WILL TO DEATH


"A Doubt" - "Aquela guitarra bem distorcida que aparece no final foi passada pela Doepfer. Aquele é o melhor timbre de fuzz que eu já tive. É tão sujo e bagunçado, e é feito passando a guitarra por um sintetizador."



FIG. 2: The Will to Death


"An Exercise" - "O som esmagado, borbulhante, meio feedback no fim da música é um exemplo de como você pode gerar feedback passando o áudio pra fora de um filtro no Doepfer e depois colocá-lo de volta no mesmo filtro. Você consegue o feedback, e você pode controlá-lo com os knobs para deixar do jeito que quer. É um dos meus sons favoritos."


"Loss" - "Josh toca um órgão no fim, que está sendo passado pelo meu Doepfer, fazendo-o soar como um feedback. É como se o órgão tivesse uma alavanca igual da guitarra e estivesse sendo passado por um stack Marshall. Nós fazemos isso muitas vezes: ele toca um instrumento e eu faço algum tratamento com o sintetizador simultaneamente."


"A Loop" - "A caixa da bateria foi passada pelo Doepfer, e também existem algumas guitarras revertidas. Nós colocamos a fita de 2 polegadas ao contrário, e eu solei em cima da faixa duas ou três vezes. Depois nós acertamos a fita de volta, e eu solei por cima daquilo."


Fonte: Electronic Musician

Tradução: Pedro Tavares
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