Como a música foi criada? Qual era a ideia inicial e o que mudou até o processo de gravação? Em nossa série "Making Of" músicos e produtores contam a história de uma de suas músicas com suas próprias palavras. Desta vez, John Frusciante dá o seu relato de como ele criou "After Below" do seu novo álbum de acid house sob a alcunha de Trickfinger.
"Eu
tinha uma forte visão de mim mesmo fazendo música eletrônica em 1997 pouco
antes de voltar a minha antiga banda [Red Hot Chili Peppers]. Eu sempre enxerguei todo tipo de música feita com instrumentos elétricos e/ou música gravada como música eletrônica. Mas nunca
tinha imaginado eu mesmo sendo alguém que faria synth
pop, hip hop ou dance/club. Nos anos 80, raramente eu curtia músicas feitas com sintetizadores, samples e drum machines. Quando surgiu todo aquele techno maravilhoso e o jungle na década de 90, eu nem sabia que existiam. Mas quando o meu período de
dependência de drogas dos anos 90 chegou ao fim, eu me tornei obcecado com a
chamada música eletrônica. De repente eu comecei a amar synth pop e industrial music dos anos 80, e achei que minhas composições soariam bem produzidas assim, mas
eu tinha pouco dinheiro, e pensei que esta era uma música muito cara de se
fazer. Voltei para minha antiga banda [Red Hot Chili Peppers], e gradualmente
comecei a comprar sintetizadores, samplers e drum machines. Logo descobri
diferentes tipos de música house, techno, jungle e gravadoras como Rephlex, Warp, React e XL. Também descobri electronic noise music e gravadoras como como Staubgold, Mille Plateaux e Mego.
''A
ideia de que um músico não está qualificado para ser um engenheiro de som é um conceito ignorante do rock"
Assim que comecei a comprar as máquinas antigas da Roland dos anos 80 e outras máquinas semelhantes, me tornei obcecado em ler manuais e aprendi a programar essas coisas. Eu vinha fazendo música eletrônica no meu tempo livre havia cerca de oito anos, mas estava utilizando os instrumentos errados para mim. Agora eu tinha uma visão clara do caminho que queria seguir e tinha encontrado os instrumentos que eu queria usar. Em meio a isso, resolvi sair da banda e dedicar-me inteiramente a me tornar o músico que eu queria ser desde quando voltei para a banda. Assim que terminamos nossa última turnê, em 2007, gravei as músicas deste LP Trickfinger. Fui aprendendo a programar as máquinas em salas de hotéis, aviões e em ônibus por cerca de um ano, e por isso, quando a turnê acabou, eu estava pronto para sair. Eu também estava no meio da gravação do The Empyrean, que eu sabia que seria o último álbum de rock que eu faria, mas o material de acid era a minha prioridade, e eu estava realmente cansado de trabalhar com outras pessoas.
Eu fiz essa música estritamente para aprender, sem qualquer intenção de lançar. Eu queria fazer música como as coisas que eu fiz recentemente em PBX e Enclosure, mas eu não tinha ideia de como fazer isso, e estava com medo de computadores. Senti que acid house era o lugar para começar minha nova educação musical. Eu estava ouvindo um monte de acid de Chicago dos anos 80, e acid da Inglaterra, mas fiquei obcecado com Venetian Snares, Squarepusher e assim por diante, e estava apenas pensando que o que eu estava fazendo eram as medidas adequadas para aprender o vocabulário musical básico dessas pessoas que eu considero ser a maior forma de músico existente no Mundo. Programação por etapas é uma maneira de pensar que acho que beneficiaria qualquer músico, de qualquer tipo.
As músicas do álbum Trickfinger foram gravadas nos últimos quatro meses de 2007, e eu continuei nesse sentido por vários meses depois disso, foi um período de fases, tive uma fase de usar PCP assim como várias outras distrações (como terminar o The Empyrean). Em torno do verão de 2008, eu conheci Aaron Funk [também conhecido como Venetian Snares] e começamos a fazer música juntos. Nós fizemos algo como 60 horas de música gravada juntos até o presente momento. A nossa abordagem tem sido geralmente gravar música ao vivo, então acho que posso dizer que o meu material como Trickfinger leva ao Speed Dealer Moms. Mas quando fiz Trickfinger eu estava sozinho, sentindo-me desconectado de meus amigos do rock e ainda não tinha amigos na música eletrônica. Logo quando eu tinha terminado as músicas de Trickfinger, fiz um monte de amigos do hip hop, mas eu não tinha absolutamente nenhum interesse em fazer hip hop. House music era a minha coisa naquela época, e eu estava desejando um dia fazer música eletrônica abstrata, como finalmente fiz no meu Outsides EP, "Sect in Sgt", e em abundância no Speed Dealer Moms. Eu tinha vários objetivos musicais naquela época, nenhum dos quais envolvendo receptividade do público. De um modo geral, Aaron e eu fizemos um monte de acid básico quando começamos, e, gradualmente, a nossa música ficou mais livre e abstrata.
A maior experiência educacional e enriquecedora que eu já tive foi fazer música com outra pessoa que realmente não dá a mínima para o que qualquer outra pessoa no mundo iria pensar sobre isso, ou se a música um dia será lançada. Na minha opinião, fazer música sem intenção de liberá-la é a melhor coisa que um músico pode fazer para o seu próprio desenvolvimento. Trickfinger foi feito nessa mentalidade, e foi o começo de uma nova vida musical para mim. Quando eu ouço ele, parece que estou abrindo portas para novos mundos, e nunca tive essa sensação ouvindo música que eu fiz com a finalidade de lançar e vender. Após a reunião com Aaron, fiz amigos e conhecidos que cresceram em torno apenas de techno, hip hop, jungle, industrial, etc, e isso foi muito reconfortante e estabilizante para mim, pois eu tinha, e ainda tenho, nojo do pensamento dos músicos modernos de rock e a direção descendente que essa forma de música vem tomando. Além disso, através de Aaron, descobri gravadoras como Suburban Base e Lucky Spin, que tem algumas das minhas músicas favoritas em todos os estilos, da década de 90.
Quando fiz The Empyrean, eu gravava através dos métodos de trabalho tradicionais do rock há um longo tempo, e podia ver o meu conceito de uma música ou um álbum e, logo em seguida, o lançava. Quando fiz Trickfinger, eu não tinha essa habilidade em música eletrônica, e cada faixa terminava da maneira que terminava. Eu não estava nada preocupado com o resultado. Eu estava dedicado ao processo, e permaneço assim até hoje, apesar de que demorei alguns anos para lançar músicas novamente. Meus álbuns PBX, Enclosure e Outsides foram todos feitos depois que eu tinha desenvolvido a capacidade de visualizar um conceito para um álbum e lançá-lo, agora na música eletrônica.
"Iniciar
uma gravação com uma canção pré-escrita é um método antiquado de fazer uma
gravação musical"
"Eu
acho que um sintetizador analógico é uma extensão do mundo natural"
"After Below" foi boa porque eu quase não fiz nada. É minha natureza trabalhar muito duro e me desafiar. Eu gosto de dificuldades e sou atraído por complicações. Mas essa música era apenas eu me deixando levar, e acho que a vibe dela é muito boa, o que é uma sensação agradável."
Fonte: Groove - 01 de maio de 2015
Fonte: Groove - 01 de maio de 2015
quando ele diz PCP, no que ele se refere exatamente?
ResponderExcluirele quer dizer JUAN
ResponderExcluir