A sorte tem sorrido largamente para o RHCP. Graças a música "Under the Bridge (a mais executada no momento nos EUA), o vocalista Anthony Kiedis, o baterista Chad Smith, o guitarrista John Frusciante e o baixista Michael Balzary - que é mais conhecido por seu velho apelido punk, Flea (pulga) - estão gozando do sucesso que evitou a banda durante nove anos, cinco albuns, um EP e duas gravadoras. Blood Sugar Sex Magik, a estréia da banda na Warner, já ultrapassou a marca de 1 milhão de cópias vendidas e a banda deveria selar essa vitória ao se apresentar como a principal atração do festival viajante Lollapalooza, liderando o time de Ice Cube, Ministry, Jesus and Mary Chain, Soundgarden e Pearl Jam.
Contudo, no dia 07 de maio, no Japão, após quatro shows de uma extensa turnê pelo oriente, Frusciante largou o grupo, forçando a banda a retornar aos EUA. Kiedis estava em seu quarto de hotel, falando por telefone a um repórter neozelandês, quando Flea jogou a bomba. "Flea olhou pra mim com o rosto distorcido, surreal, completamente triste", Kiedis contou poucos dias depois. "Ele disse: 'John quer sair da banda e voltar pra casa imediatamente'. Aquilo me surpreendeu e me arrasou, pois tudo estava indo muito bem".
Os Chili Peppers terão um guitarrista novo até o meio de julho, quando começa o Lollapalooza. “Continuamos pensando de maneira positiva”, diz Kiedis. “John era um grande amigo e um dos guitarristas de alma mais profunda com quem já estivemos conectados. Agora, vamos ter que encontrar essa energia em outro lugar.”
Kiedis concorda que o sucesso do Lollapalooza (o primeiro evento do gênero aconteceu em 91), junto ao de Nirvana, a geração Sub Pop, e ao dos próprios Chili Peppers, simboliza uma vital, saudável e descontente revitalização do rock ‘n’ roll. Mas mesmo pelos padrões da parada pós-Nirvana, o sucesso de “Under The Bridge” é um caso impressionante. Gentilmente ancorada por um riff esquelético de guitarra que evoca “Little Wing” de Jimi Hendrix, a canção é direta em seus detalhes confessionais.
A ficha sex-maníaca desses maluquetes tatuados só torna ainda mais irônico o fato de eles marcarem pontos comerciais com um pedaço de melancolia que fica a ruas de distância dos stage-divers, das sacanagens de quarto e, para alívio de Flea, do comercialismo inóquo dos imitadores de Chili Peppers – como Ugly Kid Joe.
“Nossa música é muito mais pesada que isso”, Flea declara indignado, com seu intenso olhar azul brigando com os cabelos verdes. “Eu sei de onde as músicas deles vem. Vem de copiar RHCP, Faith No More. Nós viemos de audições de Miles Davis, Ornette Coleman, Defunkt, Funkadelic, Meters, James Brown, a coisa de verdade. E viemos de bilhões de horas de músicas tocadas, desenvolvendo o cosmos num quarto escuro e telepatia musical.
“O que me mata” diz Kiedis, sobre o recente sucesso, “é que tem gente ouvindo ‘Under the Bridge’ sem a menor idéia de como o RHCP é. Pegue um grupo de donas de casa do Kansas, que liga o rádio e diz: ‘Oh, eu gosto dessa canção doce e sentimental’. Então elas compram nosso disco e nele há músicas como ‘Sir Psycho Sexy’. Elas vão ter seu mundinho virado pelo avesso.”
Os fãs do ego-sexismo do grupo não precisam temar. Sexo ainda é o tema favorito dos Chili Peppers. “Parece o material perfeito para a arte” diz Kiedis, “como a morte e todos os demais aspectos fundamentais para a existência. Está entre os temas mais importantes que eu posso contar.” Chad Smith se diverte com a obsessão do companheiro. “Isso vai além do clichê do rock star. Anthony realmente se julga um conoisseur de mulheres.”
Agradecimentos: Leo Cassiano
Fonte: Estado de São Paulo - Meados de 1992
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