4 de janeiro de 2018

Faixa a faixa: By The Way - Red Hot Chili Peppers


Os Red Hot Chili Peppers - Anthony Kiedis, John Frusciante, Flea e Chad Smith - comentam as músicas do álbum By The Way, lançado em 09 de julho de 2002.


THROW AWAY YOUR TELEVISION
Anthony: “Throw Away Your Television: outra daquelas jams peculiares, em que Chad e Flea estavam simplesmente se divertindo, e eu escutei palavras na minha cabeça e fui até o microfone e comecei a gritar sobre jogar fora a sua televisão, que é um tipo de hipocrisia, porque eu assisto televisão. Mas as vezes é bom ser hipócrita, as vezes isso funciona. Na verdade, é uma metáfora para jogar fora qualquer coisa em sua vida que está acabando com sua imaginação, ou roubando sua energia, ou te dizendo como se comportar, ao invés de você mesmo descobrir isso sozinho, e decidir como você quer se vestir, como quer agir, quem você quer ser, e você tem esse aparelho de TV decidindo essas coisas por você e isso não é algo legal.
John: ...existe esse efeito de filtro sample and hold que eu uso. Quando eu era criança, era algo que eu costumava ouvir Frank Zappa usar em seus discos. Ele tinha um efeito chamado "filtro de controle de voltagem Oberheim", e eu queria muito um desses, mas não é um efeito muito comum, não é algo que se vê muito. Então, eu lia sobre ele usando um desses em revistas e eu escutava aquilo soando tão incrível, e eu nunca tive um. E recentemente, a Line-6 lançou esse efeito virtual, que simula 15 tipos diferentes de efeitos de filtro, e um desses filtros que ele simula é o filtro de controle de voltagem Oberheim, e eu usei-o nessa canção. Quando eu obtive o efeito, eu voltei a tocar do mesmo modo como tocava quando era adolescente, imitando o Frank Zappa. Simplesmente imitando o modo de tocar dele com a única coisa que eu sabia fazer com aquilo, mas eu decidi que precisava fazer algo com isso, algo novo que eu pudesse usar no nosso disco de alguma maneira que não soasse como uma imitação de Frank Zappa. Eu acabei usando o efeito em "Throw Away Your Television", e todos gostaram muito.



CAN’T STOP
Flea: "Can't Stop" é uma música que faz você querer levantar os joelhos bem alto no ar, e sentir o funk e simplesmente entrar no groove, aquele groove afiado e angular... e Deus abençoe a Gang of Four.
Anthony: "Can't Stop", possivelmente a última canção escrita durante os ensaios, era algo totalmente inacabado que levamos para o estúdio. Acho até que pode ter sido escrita no último dia de ensaios. Foi algo que fez John, Chad e eu enlouquecermos. Eu entrei na sala onde John e Chad estavam só curtindo juntos tocando canções do Van Halen ou algo assim, e eles meio que mudaram para essa improvisação e eu comecei a inventar ritmos que soavam muito legais para todo mundo, e nós tocamos aquilo sem parar, como que em transe, por cerca de vinte minutos até que Flea apareceu e juntou-se à nós, e após a jam, nós nos olhamos e dissemos: "precisamos de algo assim no nosso disco". Então, nós levamos aquilo para o estúdio de gravação, gravamos, e eu criei palavras sem sentido para o processo inicial de gravação, sabendo que eventualmente, junto com as outra trinta ou mais canções, eu acabaria achando as palavras certas. Eu sabia como ela se chamaria, sabia o que ela iria falar, mas eu também sabia que ela tinha muitas palavras, algo no mesmo estilo de “Give It Away”, e que eu precisaria sentar e passar horas forjando palavras até achar cada nota, ritmo, ideia e palavra que precisasse ser dita. Isso demorou mais do que eu pensava, porque não foi até eu estar em Nova York indo pra Roma que eu acabei cantando os vocais dessa música. Foi a última coisa que eu cantei para esse disco, e quase que não aconteceu. Mas eu sabia que iria. Eu sabia que precisava acontecer, e no final de tudo, é uma das minhas músicas favoritas no disco todo.



THIS IS THE PLACE
Anthony: “This Is The Place” é uma música que amamos. Tem uma sensação bem obscura e pesada, bem melancólica, algo que John e Flea tinham muito orgulho durante o começo do processo de composição. Ela lutou pelo seu lugar no disco. No final, a música terminada, depois de mixada, era tão forte que nós decidimos colocá-la como terceira faixa do disco, porque achamos que ela precisava ser ostentada no começo, e não ser algo difícil de se achar, no fim do disco. Nós queríamos que as pessoas soubessem que isso é o que nós somos.
John: “This Is The Place” é outra daquelas canções em que o Flea está tocando a mesma linha de baixo durante a canção inteira, e a única coisa que muda são as guitarras e a bateria. Chad e eu fizemos algumas dinâmicas entre nós enquanto o baixo está tocando a mesma coisa durante a música inteira. Ele liga o pedal de fuzz em algum momento quando nós tocamos bem alto, mas a linha de baixo continua a mesma durante a música inteira, e a guitarra e os vocais, a intensidade das coisas é que muda. É um exercício divertido, eu poderia tocá-la para sempre com o Flea, porque ele tem esse poder ao tocar essas frases de baixo que conseguem ser tão hipnóticas, que te fazem entrar em transe. Eu amo brincar com isso na minha guitarra, virar a linha de baixo ao avesso através da minha guitarra.



DOSED
Flea: “Dosed”. Bem, o que eu posso dizer sobre “Dosed” além de que quando a mostrei para uma amiga minha, ela disse "Oh, as garotas vão gostar muito dessa". E eu tenho que admitir que o meu lado feminino gosta muito dela.
Chad: “Dosed”, que também é... Eu provavelmente não deveria dizer os nomes anteriores das músicas, mas essa música nasceu de um loop que John tocou. Eu chegava no ensaio e algumas vezes, John gostava de chegar cedo. E ele tem essa caixa especial em que ele pisa e que faz ele gravar três guitarras diferentes ao mesmo tempo, e depois tocá-las juntas. Um tipo de overdub mais orgânico. E isso foi o que começou essa faixa, e essa era a ideia por trás dela. E daí surgiu essa linda canção, num estilo Beatles, que é muito divertida de tocar, é uma das minhas músicas favoritas do disco, e deve ser muito interessante tocá-la ao vivo.



MIDNIGHT
Chad: “Midnight”... "Midnight at the oasis, put your camel to bed..." - e aí, como você está? - Eu acho que “Midnight” é realmente uma das minhas favoritas. Por algum motivo, foi muito difícil colocá-la no disco, porque é um vibe diferente, e ela tem uma dinâmica crescente. Mas também é uma linda canção. Eu amo a orquestração dela... adicionamos uma orquestra e cordas no nosso novo álbum e eu acho que somou muito à música, ela tem essas partes fazem ela crescer muito. Eu estou muito orgulhoso dessa faixa especificamente, acho que é algo que todo mundo deve aproveitar, todas as crianças de todas as idades, de seis a sessenta.
John: “Midnight” foi uma das últimas músicas que gravamos. Nós tínhamos gravado 27 músicas ou mais para o álbum, e no último momento, Anthony trouxe essa fita cassete dessa canção que foi uma das últimas coisas que criamos durante os ensaios. E naquele momento, aquela música simplesmente me deixou maravilhado, eu achei que era uma das minhas músicas favoritas, e ainda tinha aquela qualidade à mais: a de que ela não tinha sido tocada muitas vezes. E também, em um certo momento, eu não sabia se ela iria estar no disco, mas, quando as cordas foram gravadas e Anthony fez os vocais, ela simplesmente ganhou algo à mais ao ponto em que ela absolutamente precisava estar no álbum. Nós estávamos gravando a orquestra. Havia uma orquestra de 41 músicos nessa sala gigante, e na maior parte do tempo, eu estava sentado na sala de controle com Rick Rubin e Flea, escutando a orquestra tocar junto com a música, mas durante um take, eu decidi sentar lá na sala e escutar como aquilo soava ali, escutar as 41 pessoas tocando ao mesmo tempo. Quando eu estava sentado ali, eu não escutava a faixa que eles estavam escutando por trás, e quando eu escutei-os tocando junto com o refrão da canção, eu percebi que o que eu estava escutando ali poderia ser uma ótima introdução para a música. Então, eu voltei e disse a todo mundo que eu pensava que seria uma boa ideia, e acabou sendo uma boa ideia.



ON MERCURY
John: ...também foi uma das primeiras coisas que eu compus. Eu tinha acabado de voltar de uma pequena turnê tocando minhas próprias músicas, e eu voltei pronto para dar todo o meu foco e energia para os Chili Peppers. Eu estava escutando muito The Smiths, durante todo o tempo em que estávamos fazendo o disco, e eu me lembro de acordar de manhã e escrever essa música, essa guitarra. Flea adicionou a escaleta enquanto estávamos gravando, e eu achei que isso deu mais dimensão à música.
Anthony: ...Nascida de uma jam, e todos os membros dessa banda tem uma enorme variedade de gostos musicais, nós escutamos de tudo, nós tocamos de tudo. E isso apareceu e ficou guardada, foi uma das primeiras músicas, mas ela passou no teste de tempo. Enquanto outras músicas foram cortadas, essa continuou achando seu lugar, foi uma das últimas músicas que eu cantei no estúdio. Foi a penúltima canção que eu concluí a letra. Obviamente, ela tem um groove bem ska para o Red Hot Chili Peppers. Flea toca escaleta nessa música, o que realmente dá aquele toque extra que ela precisava para soar bem para o disco. É uma das músicas mais alegres do disco, então nós a queríamos também por esse motivo. É isso, é tudo que eu posso dizer sobre “On Mercury”.




THE ZEPHYR SONG
Anthony: ...Uma coisa sobre “The Zephyr Song”: seu título provisório era “Coltrane”, e eu não faço a mínima ideia do motivo. Nós amamos John Coltrane, mas sério, ela não tem muito a ver com John Coltrane. Outra experiência de composição estranha para nós. Só porque... as estrofes têm esse fluxo estranho e melódico, funky e quase sincopado, e o refrão é totalmente aberto, é uma tela aberta enorme. E o que eu queria cantar no refrão chocou Flea. Eu cantei a minha parte quando escutei eles tocando, e ele disse "Uau, você está fazendo algo totalmente diferente ultimamente". E eu disse "É, você gostou?", e ele disse "Eu amei. É só que eu nunca teria esperado isso de você" e eu pensei, "Legal, eu surpreendi o Flea". E para mim, é sobre sonhar, é sobre amar, é um sentimento flutuante, como se estivesse no ventre do amor universal, e ela cria uma imagem. Ela cria uma imagem de como é ser eletrocutado pelo vento num romance.
Chad: “The Zephyr Song” é outra música que começou com uma jam, em que nós estávamos tentando descobrir novas maneiras de se inspirar, novas maneiras de criar música, e John trouxe o seu sampler, e nós improvisamos por cima daquele groove que se escuta bem no começo da música, é um beat sampleado que John tinha em casa e trouxe, e nós começamos a tocar com aquilo. E realmente, foi assim o começo dela. Acho que ela tem uma melodia linda no refrão, e que Anthony fez um ótimo trabalho cantando. Foi um desafio gravá-la, porque nós não gravamos com sequenciadores, click tracks ou samplers ou coisas assim, então como baterista, eu tive que ser muito disciplinado para que ela soasse bem, mas que também estivesse junto com o sampler. Isso é mais um novo elemento que nós adicionamos à nossa pequena mistura chamado Red Hot Chili Peppers.



MINOR THING
Chad: “Minor Thing”. Eu acho que é sobre jogadores de baseball de divisões inferiores, e é sobre as garotas que eles conhecem nas ligas mais baixas e ligas de treinamento. Eles dizem "E aí gata, não é nada demais".
Anthony: ...ele lutou por ela, para que ela chegasse ao disco, e quase não entrou no disco, porque gravamos muitas músicas. Ela é agitada. Também tem uma orquestração bem legal no final. É a canção que o nosso engenheiro assistente, Josh, disse que seria o nosso grande sucesso, o que nos fez rir, porque é tão obscura para nós. Mas fico feliz em tê-la, nós também precisamos desse tipo de energia no disco, porque ela é bem agitada.



TEAR
Anthony: “Tear” era uma canção que estava perdida no espaço. Estava numa fita de alguma jam dos nossos primeiros ensaios que eu estava escutando. Eu estava escutando no meu carro enquanto dirigia por LA, e eu ouvi aquilo e comecei a cantarolar o que viesse à cabeça. Eu gostei da minha parte, do que eu achei. Então, eu fui ao ensaio no dia seguinte e disse "Vocês lembram dessa música?", e eles disseram "Não", e eu falei "Bem, é porque foi gravada há meses junto com outras milhões de jams", e eu coloquei aquela fita arranhada para tocar e disse "É isso que eu quero cantar, quero trabalhar nisso". Então, nós fizemos uma canção por trás daquilo, fomos ao estúdio, tentamos gravar, ficou chato, John largou a guitarra e foi até o órgão, e tocou a parte dele no órgão ao invés de na guitarra, e ficou maravilhoso, então nós gravamos daquele jeito, e depois ele fez alguns overdubs com a guitarra. Foi uma das únicas vezes em que fizemos uma canção e mudamos a instrumentação de última hora. Essa música celebra a vida e a experiência que é se dar enquanto se está nessa vida, e como você deveria fazer isso todos os dias porque nunca se sabe quando essa oportunidade aparecerá novamente.
Chad: “Tear” (lágrima), ou melhor, “Tear” (rasgar). “Tear” é muito empolgante e é uma canção totalmente roqueira, garantida de queimar seu cérebro e torturar seus globos oculares, prepare-se para essa.



VENICE QUEEN
Anthony: ...trazida inicialmente pelo John. Ele veio um dia, meio furioso e focado, com uma energia estranha, bagunçado, como se estivesse passado a noite acordado, e exigiu que ele tocasse para nós o que ele tinha feito. E ele disse "Escutem isso", olhou para o chão e começou a atacar sua guitarra com esses acordes, tocando até que seus dedos estivessem machucados, literalmente. E foi algo tão poderoso e atraente. Eu não sabia muito bem o porquê de ele estar tão irritado, porque era uma música completamente linda, mas alguma coisa possuiu ele, e ele queria mesmo era nos chicotear com essa canção que ele tinha composto. Claro, nós temos muito respeito por ele, como temos por nós mesmos, e fomos trabalhar naquilo. E aquilo se transformou em algo bem incomum, porque ela segue em partes A, B e C. Nessas partes, nada se repete, não existe refrão, não existe estrofe, não existe ponte, não existe introdução, final nem nada disso. São apenas três seções diferentes que colocamos juntas. Ela também fala sobre o ciclo da vida, mas especificamente, é sobre uma amiga nossa, Gloria Scott, que morreu ano passado, e sobre o impacto que ela teve no mundo ao seu redor enquanto esteve por aqui, e é um adeus a ela.
Chad: Originalmente, essa canção se chamava “Epic”, porque ela tinha partes diferentes, é uma música mais longa, que tem umas mudanças dinâmicas bem interessantes. Eu amo o som que John faz no começo com as guitarras, e eu me lembro de gravá-la. Flea e eu temos que entrar no maior dos pianissimos - não é TPM, é "pianmissimo". Não sei... como se diz isso? - Pianissimo. - Isso (Risos). "With a little help from my friends"... - e ir até o forte, que é uma maneira gradual, como a bateria em "My Sweet Lord", e é preciso muita habilidade - honestamente, eu não acredito que eu consegui fazer isso. Essa música tem um clima bem pesado. E no refrão, quando entra o violão, é muito empolgante, é uma linda história que Anthony conta, e é outra música que será um grande sucesso dos Chili Peppers, outra performance ao vivo que será bem empolgante de tocar. John tem que tocar com o violão preso num suporte, como o Steve Howe do Yes, o que eu tenho certeza que ele vai adorar.



I COULD DIE FOR YOU
John: ...para o disco. Eu estava aprendendo um monte de canções do Charles Mingus e dos Beatles, e aprendendo as mudanças de acordes de várias canções desses dois artistas. Eu estava praticamente todos os dias focando nesses dois artistas, por alguns meses. E isso me fez pensar em acordes de uma maneira muito diferente. Eu acho que havia uma outra canção que eu tinha feito para mim mesmo e pensei: "Eu devia compor algo assim para os Chili Peppers" (risos), e foi isso que virou “I Could Die For You”.
Anthony: ...Paris, as perguntas estão vindo do Gayle, e embora pareça que o rádio está perguntando a ele, o assunto é “I Could Die For You”, o expositor desse assunto é Anthony Kiedis, esse sou eu, do Red Hot Chili Peppers. “I Could Die For You” é uma canção que começou como alguns poucos acordes de guitarra, que de forma bem simples, nós demos o nome provisório de "Os Acordes Mais Lindos de Todos os Tempos" ou algo com esse mesmo efeito. "Os Acordes Mais Incrivelmente Maravilhosos Já Compostos" era como Flea e eu a chamávamos. Tudo que eu sabia era que aquilo seria uma canção algum dia. E eu não tinha certeza sobre o que ela seria, sobre quem seria, mas eu sabia que era dolorosamente emocional, e em algum lugar por ali, havia uma melodia vocal e um ritmo, um arranjo para ser achado, e demorou muito tempo para que eu achasse. Eu sempre tinha esse pensamento em segundo plano, "essa vai ser a música mais bonita do disco, essa vai ser a música mais bonita do disco", mas demorou meses até eu achar a letra e saber exatamente o que eu iria cantar. Eu estava cantarolando partes diferentes, mas um dia, tudo aquilo se juntou, e eu sempre falei para o John que eu tinha confiança que iria achar minha parte, e ele dizia "Eu sei, eu sei, eu escuto você cantarolando ela o tempo todo", e eu falei "É, mas estou apenas cantarolando", e ele disse "Bem, é isso, cante o que está cantarolando". E eventualmente, eu cantei. Eu não sei, é uma música muito importante para mim, muito real, é uma música em que todas as vezes que a tocamos até agora, me fez lembrar exatamente de como eu estava me sentindo quando escrevi a letra, e eu acho que é uma boa canção.

DON’T FORGET ME
Flea: “Don't Forget Me” é uma canção... é uma canção! Só achei que você devia saber disso. “Don't Forget Me” é uma música que se movimenta, que anda para frente. É uma canção simples com um tema musical bem básico que leva a música inteira, mas é uma canção bem dinâmica, e Anthony dá uns verdadeiros gritos e balançadas com o mamilo ereto.
John: "Don't Forget Me" é uma canção que se originou do Flea tocando a mesma linha de baixo repetidamente por um longo período de tempo. Eu fazia uma parte de guitarra, depois outra, e depois outra, eu simplesmente fazia várias coisas e mudando a dinâmica da música e tudo ao redor do baixo, ao ponto em que ao escutar aquilo tudo, você nunca percebe que há apenas uma linha de baixo tocando durante a música inteira. Existe aquele álbum do Talking Heads, Remain in Light que, no álbum inteiro, todas as canções são apenas uma linha de baixo e uma bateria na música toda. Mas elas têm tantas mudanças que, a não ser que lhe mostrem, você não percebe que é só uma linha de baixo que se mantém igual na música toda, porque a canção tem refrãos, estrofes, pontes, e vários tipos de partes cantadas. Então nós temos alguns exemplos disso no nosso disco, e esse é um deles.



WARM TAPE
John: "Warm Tape" foi a única canção do álbum que foi escrita durante os ensaios usando o sintetizador. As palavras "fita morna" vem do nome de um dos sons que eu usei para combinar os sons do sintetizador. Originalmente, ela tinha uma parte que era um punk rock que acontecia após a estrofe, do tipo com a guitarra tocada só com ataques para baixo na mão direita, típico do punk. Mas nós não achamos que isso fosse tão bom quanto o resto da música. Eventualmente, eu compus algo que eu achei ser... eu continuei tentando compor partes para essa música na guitarra, todos achavam que seria uma boa ideia ter o sintetizador na estrofe e guitarra no refrão, e eu continuei tentando compor. Finalmente, algo foi feito que parecia ser melhor que a parte punk rock. Mesmo que eu tenha escutado pessoas dizendo que essa música é muito influenciada pelos anos 80 ou algo assim, para mim não parece isso, ela parece ser muito anos 60.



UNIVERSALLY SPEAKING
Anthony: "Universally Speaking"... uma das minhas canções favoritas do disco. É a canção que me faz chorar ao cantar, me faz chorar quando a escutava no estúdio. Eu me sinto totalmente orgulhoso dessa canção. Ela expressa exatamente o que deveria expressar. Faz eu me sentir completamente apaixonado pela vida, e por essa banda, e pela experiência humana. E até agora, ela é uma das minhas duas canções favoritas de se tocar ao vivo. Um bom amigo meu, quando a escutou no estúdio, disse "essa é a melhor canção que você já escreveu", e isso vale alguma coisa. Então, deixa ela rolar.
Chad: ...nós tínhamos por um tempo, e começou da linha de baixo que Flea começou a improvisar no final de um ensaio. E eu me lembro que nós simplesmente - mais uma vez, isso é algo que acontece, nós temos essa telepatia musical, nós todos meio que nos encaixamos e começamos a tocar algo que parecia ser bom, repentinamente. Saiu bem fácil, bem naturalmente. E nós tocamos ela em alguns festivais no verão passado, e nós demos uma polida e ela se transformou no que eu acho que será um futuro clássico do Red Hot Chili Peppers.




CABRON
Anthony: ...França, estou sentado com com Gayle Fine, estamos falando da canção "Cabrón". Uma música lindamente bizarra, que nasceu em um quarto de hotel, o Chateau, onde o John criou essa peça instrumental de violão muito interessante e incomum e me ligou dizendo: "Eu quero que você venha aqui escutar isso". Eu gravei uma fita com aquilo e comecei a cantar por cima desse violão bem estranho e, sei lá, nós dois somos apaixonados por doo-wop e pela alma mexicana que vive em LA, e quando vimos, temos esse doo-wop mexicano maluco com violão. Demorou um pouco para ser formulada no arranjo atual, em termos de instrumentação. É uma canção com muitos significados, é sobre o valentão local, mas também sobre o valentão global, e no final, ela se resume em amar a vida e querer se dar bem até com seus inimigos, para que eles não sejam mais seus inimigos.
Flea: ...que tem um sentimento que eu gosto muito, e eu posso tocar o baixo acústico, mesmo eu não tendo tocado no estúdio, mas é o que eu faço agora. E se você tocar o baixo acústico estando pelado e sentir o baixo gigante de madeira vibrando contra o seu corpo, você fica feliz.



BY THE WAY
Flea: ...é uma canção bem dinâmica, tem várias partes e sentimentos diferentes nela. Se você quiser mesmo, você pode bater sua cabeça como uma melancia selvagem rolando morro abaixo, ou pode ficar silenciosamente num canto escuro.
John: ...essa boate de drum and bass que existe em LA chamada Concrete Jungle enquanto nós estávamos compondo o disco. Várias vezes eu trazia a energia que eu tinha sentido lá na noite anterior ao ensaio, no dia seguinte. Bem, várias dessas jams acabaram sendo só jams, para sempre. "By the Way" foi algo onde eu senti, quando estávamos compondo essa canção, a mesma energia que eu estava experienciando na boate de drum and bass na noite anterior. Foi muito divertido pular e dançar no ensaio, e é isso que essa música me faz lembrar.



Transcrição e tradução: Pedro Tavares
Fonte: Gayle Fine - Q Prime (Paris) - Áudio

Um comentário:

  1. Obrigado por esta postagem! Porém acho que há um erro no ano de lançamento do álbum, 2002 e não 2006. Valeu!!

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