14 de fevereiro de 2020

A turnê de Stadium Arcadium elucidada pelos Red Hot Chili Peppers


No livro An Oral/Visual History, os Red Hot Chili Peppers explicam o porquê da turnê de Stadium Arcadium não ter acontecido como o planejado e chegou a partir de certo ponto ser desgastante - trazendo consequências maléficas para os integrantes da banda.



"Parecia que a turnê de Stadium Arcadium tinha um ano e meio, os primeiros seis meses foram divertidos, com muito material para escolher. Tornou-se um tipo de cubo mágico de canções, para descobrir quais músicas escolher, entre as antigas e as vinte e cinco novas músicas. Era novidade e estávamos tocando realmente bem - pensei que estávamos no topo do nosso jogo. Tudo estava bem. Quer dizer, existia fome, confusão, insatisfação, o que quer que seja - esses momentos permitiram o surgimento de ressentimento para os mais velhos e novos. Tudo o que sei é que nos primeiros seis meses estávamos arrasando! Tocando muito bem! A energia era fenomenal. E então, tornou-se mais difícil manter esse entusiasmo pelo próximo ano. Flea odeia finais de turnê. Tudo o que ele se lembra é isso, eu acho, no final de um ano e meio em turnê todo desgraçado odeia turnês. Era o fim: éramos torradas queimadas egomaníacas."
- Anthony Kiedis



"Eu me sinto feliz no palco quanto mais fico “dentro de mim mesmo”. Em Stadium [Arcadium] eu pude fazer isso enquanto me conectava com todos. Muitos improvisos entre Flea e eu, muitos momentos de fechar os olhos e me deixar levar pela energia, coisas do tipo. Para mim essas foram as melhores vezes que tocamos juntos, em termos de improviso, e tornar cada show um verdadeiro evento artístico único. Como fazíamos muitos improvisos, tivemos shows ruins e bons. Mas essa era a energia com que trabalhávamos e você aproveita o show ruim - apesar que quando é ruim e seus amigos estão lá, você sente-se mal. Mas de qualquer forma vale a pena. Na maioria das vezes tivemos bons shows nos quais as pessoas podiam dizer o que estava acontecendo no momento - não era planejado ou qualquer coisa do tipo."
- John Frusciante



"Os primeiros seis meses foram explosivamente divertidos. Eu também comecei a fazer essa coisa - primeiro eu usava sapatilhas de ballet de sola fina, para me livrar da canelite - em turnês eu pulo muito e tenho canelite desde 1990 - então esse médico excêntrico me disse para me livrar dessas solas e os pés melhorariam. Funcionou. Nada de canelite. Mas eu comecei a fazer a parada de mão [no bumbo] na bateria de Chad, e me jogava para cima no meio do show, e me amarrei nisso, me jogar no ar, primeiro os pés e mergulhando feito um cisne. Depois de seis ou oito meses eu percebi que estava com dificuldade de andar. Fui ao médico, fiz raios-x e ele disse: “você tem os dois pés quebrados - poupe esses pés por um ano” e eu fiquei tipo “estarei em turnê por seis meses”. Não era somente o fato de doer, mas energeticamente é como fazer um furo num balão. Então eu tive que pensar um jeito de completar a turnê, acabei usando espuma cirúrgica toda noite e depois colocava gelo nos pés, mas basicamente eu ignorei meus pés. E minhas pernas nunca se recuperaram. Eu não posso andar ou correr nenhuma distância por que meu osso cicatrizou errado em meu pé. Então é como andar com uma junta embaixo do pé, como se um osso tocasse a superfície que piso. Eu vou achar uma solução."
- Anthony Kiedis



"Acaba tornando-se brutal. Tocar é ótimo, mas viajar - eu não quero soar chorão. Eu tenho um emprego incrível que amo. O fato é, não temos mais 25 anos. Temos família e ficamos longe de casa muito tempo. E isso é duro. Então saímos novamente por mais seis meses - até o final foi duro - Austrália foi difícil e Anthony tinha machucado o pé. Ele não podia fazer as coisas do jeito dele e isso o chateava. Flea estava adoecendo. A animação saia pela janela. Acabou se tornando um “trabalho”. John não estava curtindo muito, tocava bem mas adicionamos [o guitarrista] Josh [Klinghoffer] para tocar conosco."
- Chad Smith



"John estava desapontado por ter que tocar as mesmas músicas várias vezes. Garanto que fizemos o nosso melhor para garantir oportunidades de improviso toda noite. No começo nossos shows foram apenas em teatros e clubes. Conforme o tempo passava e nos acostumamos com estádios, nossa música passou a ficar mais apropriada para esses locais. Fizemos um show no Troubadour antes de começar a [turnê] de Stadium [Arcadium]. E eu fiquei chocado de ouvir que nossa música não era compatível com um clube! Era muito forte e alta para um espaço tão pequeno. Percebi que todo nosso estilo de tocar na banda - tudo nosso estilo de compor - gradualmente se transformou em algo adequado para locais realmente grandes."
- Anthony Kiedis



"Para a audiência, é uma música importante para ouvir ao vivo, entendemos isso, e tentamos achar amor e alma naquela música toda noite - e por George fazemos, toda vez. Mas ai teve aquela noite, que não estamos fluindo ou sentindo, e uma jam de abertura - que se tornou nossa assinatura. Então, outras músicas surgiram de sessões de jam, mas ainda estávamos tocando “Give It Away” mais uma vez, e em certo momento, eu acho que John estava tendo dificuldades para tirar o máximo proveito daquilo."
- Anthony Kiedis



"Quando começamos, eu achava que éramos uma banda que tocava em clubes, então eu escrevia músicas que soariam bem. Você toca o que está sentindo e é uma performance de merda. Você fica irritado, tipo por que eu tenho que fazer isso mais uma vez? E então colapsos acontecem, todos tivemos momentos que parecia que não era a melhor ideia fazer isso novamente."
- John Frusciante




Tradução: Eloá Otrenti - Frusciante Brasil
Fonte: An Oral/Visual History
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