24 de setembro de 2020

O centro de tudo: a música eletrônica favorita de John Frusciante - Setembro de 2020


A música eletrônica não é uma aventura casual para o guitarrista do Red Hot Chili Peppers. De synth-pop e ghetto house a rave e hardcore da velha guarda do Reino Unido, há muito tempo é uma grande ocupação. Enquanto ele se prepara para lançar seu novo LP emocionante e inspirado no jungle, Maya, ele guia Brian Coney por 13 títulos indispensáveis de sua coleção. 


Comentários sobre a segunda volta de John Frusciante estão longe de serem novidade. Seguindo o lançamento do aclamado Blood Sugar Sex Magik, Frusciante abandonou o Red Hot Chili Peppers apenas para ser levado ao extremo graças a um período extenso e recluso de abuso com drogas. Seu ressurgimento subsequente foi um testamento pleno do poder de recuperação de uma alma através da música.

Embora não seja do conhecimento de todos, Frusciante embarcou no capítulo mais fascinante de sua carreira ao sair do Red Hot Chili Peppers pela segunda vez – sem desavenças – em 2009. Permitindo que tivesse tempo livre e cabeça para perseguir uma fixação que aos poucos foi tornando-se prioridade: a música eletrônica. Após onze anos e um punhado de lançamentos sob a alcunha Trickfinger, seu novo álbum Maya é um lançamento arrebatador e que torna legítimo seu status como um criador de música eletrônica.

Lançado através do selo Timesig, de seu grande amigo e colaborador Aaron Funk (conhecido como Venetian Snares), Maya é um tributo duplo aos estilos musicais de breakbeat hardcore e jungle presentes no início da década de noventa no Reino Unido e nomeado pela sua falecida gata, uma “companheira de viagem” nas solitárias sessões de composição de John. Como suas escolhas aqui atestam, John tece sua vocação conectando suas diversas epifanias pessoais: descobrir o synth-pop britânico, dançar por horas em clubes de Los Angeles, ter sua cabeça “explodida” por Venetian Snares no ATP (All Tomorrow’s Parties) organizado pela dupla Autechre, o que levou à incontáveis horas de colaborações com Aaron Funk, construir uma enorme coleção de música jungle, e além.

Embora John tenha retornado a uma das maiores bandas de rock do mundo, seu trabalho solo continua sendo uma prioridade. “Eu nunca teria retornado ao Red Hot Chili Peppers se tivesse passado por minha cabeça que eu teria que parar de fazer música eletrônica”, ele diz. “Estou na banda e estamos escrevendo um disco, mas é um cronograma tranquilo. Sempre foi”. Lançar Maya sob seu próprio nome, então, é algo oportuno. “Antigamente, enquanto eu fazia esse tipo de música, guardava tudo para mim pois não parecia tão relevante para os fãs da banda”, ele acrescenta. “Mas isso (música eletrônica) tem sido o centro de tudo o que fiz com o Chili Peppers desde 1998, apesar de não admitir. É legal ser capaz de compartilhar esse trabalho com pessoas que se importam e valorizam tanto minha música.”

Maya será lançado pela Timesig dia 23 de outubro de 2020.



Depeche Mode – “Master And Servant” (Um clássico dançante de ficção científica On-U Sound - Adrian Sherwood Mix)

Sou um grande fã do Depeche Mode. Quando o Red Hot Chili Peppers começou a escrever Californication em 1998, eu tinha 28 anos e havia acabado de recomeçar minha vida. Ela meio que terminou quando eu tinha 22 anos e tive muitas experiências de quase morte nos cinco anos seguintes. Então, quando voltei ao mundo, eu era uma pessoa realmente diferente, Depeche Mode se tornou minha banda favorita, e eu comprei todos 12” deles em um lugar próximo chamado Vinyl Fetish que tinha muitos produtos importados do Reino Unido.

Naquela época, eu podia tocar todas as melodias de sintetizador de suas músicas na guitarra. Seus 12” são tão incríveis porque eles têm sido uma grande influência não apenas obviamente no synth-pop, mas em quase todos os estilos de música eletrônica que significam alguma coisa. É algo incomum para um grupo pop ter uma influência tão grande no underground. E não sutilmente. Esse single é um dos mais estranhos. Eu acho que esses remixes de Adrian Sherwood os inspiraram a ficar mais estranhos com seus próprios remixes, então eu vejo isso como um ponto crucial para eles em sua carreira de remix. Também sou um grande fã dele - coisas como Tackhead e o álbum Twitch do Ministry. Como meu amigo Danny Lohner do Nine Inch Nails diz, o último é como Depeche Mode sob influencia de ácido. 



The Human League - Reproduction

Eu também ouvi muito esse álbum quando estávamos escrevendo Californication. Se eu tivesse dinheiro no bolso quando saía dos ensaios, eu parava no Vinyl Fetish e comprava discos de synth-pop importados do Reino Unido, trip-hop e qualquer música eletrônica que eu estivesse descobrindo. Eu sabia que The Human League era um dos nomes respeitáveis, e me lembro de voltar para casa com Reproduction e Travelogue. No segundo em que comecei a ouvir, simplesmente entendi. Acho que estava procurando o equivalente punk do synth-pop ou algo assim.

Eu tenho muitas memórias associadas com a Human League, especialmente na época em que o Red Hot Chili Peppers estava escrevendo o segundo álbum depois que eu me juntei novamente, By The Way. Eu colocava Reproduction no ensaio todos os dias. O empresário da turnê da banda nos últimos 20 anos foi meu motorista naquela época. Eu não acho que era exatamente o estilo dele, mas ele ainda se lembra disso. Lembro-me de Martin Ware da Human League querendo ir a um show nosso na Itália e eu estava muito animado. Eu perguntei ao nosso gerente de turnê, “Lembra quando você costumava dirigir para mim e ouvíamos Human League?” e ele disse, “Oh sim, eu me lembro.” Eu me beneficiei muito como ser humano por ter todas aquelas letras memorizadas por todos esses anos. 



The Prodigy – “Everybody In The Place”

Eu estava na Inglaterra quando comprei “Everybody In The Place”, na Tower Records de Londres. Embora seja um dos meus estilos de música favoritos há muito tempo, quando descobri The Prodigy, eu não sabia sobre o breakbeat hardcore ou a cena a que eles estavam ligados naquela época. Simplesmente soou como nada que eu já tinha ouvido antes, e foi tão emocionante. Algumas das minhas músicas favoritas de todos os tempos são da época em que eles ainda estavam na cena rave. Sei muito mais sobre o breakbeat hardcore e sou um colecionador, mas em termos de som, qualidade do som, melodias, produção e avanço de seu tempo, realmente sinto que essas coisas se destacam.

Sempre gostei de aprender melodias de sintetizador. As coisas que as pessoas inventam nos sequenciadores não são nada parecidas com as que as pessoas inventam nos teclados, ou guitarras, ou em qualquer coisa assim. Essa foi uma grande parte do desenvolvimento da minha musicalidade ao longo dos anos: saber tocar guitarra. Lembro-me de Aaron Funk dizendo que me viu sentado lá, tocando junto com faixas do Prodigy na guitarra, e ele disse, “As pessoas sempre insultam esse tipo de música eletrônica por ser simples, mas quando você vê alguém tocando na guitarra, não é nada simples” Ele estava certo. Eu aprendi todas as músicas do Experience e seus primeiros 12” na guitarra e é uma das coisas mais desafiadoras que já fiz.




AFX – Analord Complete Set

Posso dizer honestamente que amo todas as músicas de Richard D James igualmente, mas Analord foi um grande ponto de virada para mim. De repente, tudo fez sentido. Eu acreditei imediatamente que seria capaz de fazer música com máquinas. Eu podia ver na minha cabeça o que estava acontecendo, o que ainda era um mistério para mim antes disso. De alguma forma, isso me fez ver na minha cabeça como seria ter uma configuração de estúdio baseada em um monte de máquinas conectadas e todas tocando ao mesmo tempo. É basicamente o que tenho passado a maior parte da minha vida fazendo desde aquela época.

Aaron Funk e eu nos encontramos muitas vezes ao longo dos anos, muitas vezes fazendo música por pelo menos oito horas por vez. Os Red Hot Chili Peppers nunca funcionaram assim. A música que ele e eu fizemos, somos nós, do nosso jeito, fazendo algo no estilo do Analord. É ao vivo, usando muito equipamento ao mesmo tempo, não é sobre saber como serão os arranjos, mas sim como você avança. Quando o Analord foi lançado, era como o Sgt. Pepper's foi em 1967. Para mim, é um grande ponto de virada. Antes eu não sabia o que era Din Sync. Eu descobri e fiz meu próprio cabo com o cara do som dos Chili Peppers em turnê. Em seguida, conectei um 303 a um 606 e minha vida nunca mais foi a mesma.


Armando ‎– Trax Classix

Analord foi certamente um ponto de virada para mim, mas foi intimidante. Mas quando ouvi Chicago acid, era concebível que eu pudesse fazer isso, porque parecia bastante simples. Frequentemente, é apenas uma bateria eletrônica, um sample e um 303, no máximo. Às vezes, há apenas uma bateria eletrônica, um mixer e um pouco de reverb. Então eu realmente comecei com o Din Sync inspirado por esse tipo de música. Acho que a primeira coisa que ouvi que foi basicamente “o som ácido'” foi um disco do Komakino, um grupo alemão que fez shows com o The Prodigy no início. Eu comprei o álbum deles, Sector Two, porque eles tinham o mesmo nome de uma música do Joy Division. Tem uma faixa chamada “Drill”, que é basicamente uma faixa de acid. Não é Chicago, é alemão, mas eu ouvi e levei para a loja de discos e disse, “Eu realmente amo esse disco. Você pode me dizer o que mais parece com isso?”

Na época em que Analord saiu e aprendi sobre 303s e outras coisas, eu peguei uma ótima compilação de acid Soul Jazz chamada Acid: Can You Jack? Armando tem uma faixa lá, então eu imediatamente procurei ver se eu poderia comprar outros lançamentos de algum de seus artistas e comprei Trax Classix no Japão. Para mim, ele se destacou como sendo único, pois sinto que muitas de suas ideias abriram caminho para a música do futuro. Acid, e particularmente Armando, mostram o quão profundo o funk pode ser com uma batida de quatro na bateria. Ele se destaca pela originalidade.



DJ Deeon – “Modo Freak”

Minha parceira, Marci, conhecida como Aura-T09, gosta muito ghetto house desde que a conheço. Ela sempre esteve muito por dentro do que estava acontecendo no underground de Chicago e, a certa altura, estava super ciente das coisas quando elas estavam surgindo, quando ainda não tinham circulado muito. Ela me apresentou à música do DJ Rashad quando ninguém sabia quem ele era fora de Chicago. A origem do acid que se desenvolveu em ghetto house, depois em juke e depois em footwork é uma das mais belas progressões da música. Algumas formas de música estão ficando diluídas, mas aquela cena em Chicago, continuou crescendo sobre o que a geração anterior tinha feito de uma forma que não vejo outras formas de música se desenvolvendo. Marcie e eu éramos amigos por cerca de doze anos, e ela me mostrou um monte de coisas desde o início. Mas quando nos encontramos pela primeira vez, há cerca de cinco anos, ela ouvia muito ghetto house. A certa altura, algo clicou em mim e ouvi a emoção disso. Eu vi a conexão com nomes como DJ Rashad. Percebi, meu Deus, que essa música é tão boa quanto qualquer outra. Gosto quando a música tem uma inocência. Ser capaz de fazer isso com o mínimo de equipamentos e colocar tanta expressão nisso é muito inspirador para mim.

À medida que me desenvolvi como músico eletrônico, fiquei fascinado por pessoas que podem dizer mais com menos. Quando eu vou para o ensaio, muitas vezes nossas jams começam com uma linha de baixo, e eu penso em uma parte de guitarra imediatamente. Muitas vezes, a primeira coisa que eu começo a tocar soa bem o suficiente para repetir isso pelos próximos dez minutos. Eu não me importo com o instrumento que você toca, estudar ghetto house e acid é uma ótima maneira de ficar bom e ser capaz de inventar algo que valha a pena ouvir continuamente. 


Splash - “Babylon” Remixes (DJ Trace e DJ SS) 

Eu sou um grande colecionador de hardcore e jungle de 1991 a 1996. Eu acabei de encontrar o White label original disso no Discogs um dia. Eu não conhecia a música “Babylon” original, embora conhecesse muito jungle. Quando se trata de jungle e hardcore, eu não necessariamente busco os hits. Na maior parte do tempo eu gosto de coisas que soam mais estranhas e originais, mas “Babylon” é tão contundente e a produção é tão perfeita - é uma daquelas músicas que dominam, e esses remixes são totalmente únicos. DJ SS também é um dos meus produtores de jungle favoritos. Se eu tivesse que escolher objetivamente um disco para tocar para alguém que não tinha ouvido, para mostrar a eles como o jungle é ótimo, eu tocaria o remix dele. Eu adoro como, quando está prestes a cair, há um preenchimento que você esperaria ver antes de cair, com um som totalmente diferente surge atrás dele. É muito bonito. Eu fiz um falso snare rush na faixa “Zillion” do Maya que foi inspirado nele.

Pensando bem, a música “By The Way” do Red Hot Chili Peppers foi definitivamente inspirada por eu ter estado em um clube na noite anterior, e tentar fazer Chad tocar drum and bass ou jungle beat. Depois de colocar acordes e melodias, não é a mesma coisa, mas foi definitivamente de onde veio aquela música. O principal lugar que eu costumava dançar era em Silverlake, um lugar que então se chamava Spaceland. Eu bebia muito kava e valeriana naquela época - você compra na loja de alimentos naturais. Eu não estava bebendo álcool, mas muito chapado com aquilo. No início, a principal comunicação que eu teria era se visse um grupo de pessoas fumando um baseado, eu iria até eles e diria: “Ei, eu vou te dar vinte dólares se eu puder dar um trago nisso”. Eles pegavam os $ 20, e eu dava um trago e continuava dançando. Foi só em 2008 que comecei a ter amigos que realmente queriam estar na cena e fazer raves e festas ilegais. 



TDK e Bizzy B – “Warp Factor One”

A primeira música eletrônica que eu realmente gostei foi synth-pop. Muito do que me atraiu inicialmente foi a melodia. À medida que meus gostos foram se tornando mais refinados com o passar dos anos, desenvolvi uma espécie de aversão à melodia. Então, quando encontro coisas no jungle que falam muito sem depender da melodia, é o que eu prefiro. Aaron Funk me colocou no Bizzy B e no Remarc quando nos tornamos amigos. Em termos de estar do lado realmente experimental de um tipo de música que já é uma das formas mais experimentais de dance music de todos os tempos, eles são artistas que se destacam.

Essa colaboração TDK não é tão conhecida, não está em nenhuma das compilações que surgiram, e é muito rápida e estranha. O sample do Captain Kirk me conquistou, a bateria chega tão forte e rápido, mais rápido do que o jungle seria normalmente. Alguns jungles, especialmente quando fica um pouco mais drum & bass, pode soar como muitas outras coisas. Mas em “Warp Factor One”, é sua própria coisa. Comprei há cerca de um ano no Discogs. Tenho um amigo que tem 10.000 álbuns de jungle e hardcore, lançados entre 1991 e 1996. Ele disse que calcula que só tem 60% ou algo do que existe, então tenho um longo caminho pela frente. 


DJ Fokus – “I Want” / “Pulse”

Lucky Spin é um dos meus selos favoritos. Tenho quase tudo que eles lançaram, assim como Dee Jay, que era subsidiária deles. Eu descobri alguns anos atrás que muitas dessas coisas da Lucky Spin - talvez a maior parte delas - foram projetadas por um cara chamado Pete Parsons. Por anos, ouvia e pensava: “Por que a engenharia desse selo soa tão diferente de qualquer outro selo, e tão consistente e exuberante?” Pete Parsons veio de uma formação rock e não ia a raves quando estava fazendo essas coisas. Os DJs iam até ele e falavam sobre os raves e do tipo de coisa que as pessoas gostavam, e ele os ajudava a realizar suas ideias.

Quando fui dançar pela primeira vez em LA, eles tocavam principalmente drum & bass porque era no início dos anos 2000, mas me lembro que de vez em quando algum DJ vinha e tocava jungle e eu ia até lá e ficava tipo, “Que porra foi essa? Eu amei isso.” Ou porque eu estava bêbado demais para reter informações que as pessoas estavam me dando, ou porque eles não se conheciam, havia ocasiões em que alguém tocava esse tipo de música, mas eu não conseguia identificar ainda.



DJ Rashad - Just A Taste Vol 1

Por volta de 2009, antes de Marcie e eu ficarmos juntos, ela me enviou uma pasta enorme do DJ Rashad. Eu conhecia a música dele bem antes dele estar no Planet Mu ou algo parecido. Ela foi a primeira pessoa a trazê-lo para LA para fazer shows aqui. Na verdade, ele não apareceu em nenhum dos shows, então ele se redimiu tocando na sala de estar dela na noite seguinte para 300 pessoas. Ela era sua boa amiga e uma daquelas pessoas que, especialmente naquela época, costumava mandar muita música para pessoas que ela sabia que amavam música. Ela me enviou um monte de coisas. Foi difícil acompanhar porque havia milhares de faixas, mas o DJ Rashad simplesmente se destacou imediatamente.

Percebi que nunca tinha ouvido nada parecido em minha vida. Foi um ritmo que tinha uma abordagem totalmente nova. Nunca tinha ouvido batidas como essa. De uma forma que nada soava como Jimi Hendrix antes dele aparecer e fazer o que fazia com a guitarra, para mim é assim com o DJ Rashad e qualquer MPC que ele estivesse usando. Mesmo que haja algumas outras pessoas que são pioneiras nesse estilo de juke e footwork e outras coisas, é tudo sobre a emoção que ele transmite. Não se trata apenas de ter um novo som. Eu fiz música que não parecia com nada que tinha feito antes, mas isso não significa que as pessoas gostaram. Isso soa tão abstrato quanto qualquer coisa que Autechre já fez, mas não foi feito para ser abstrato. É para fazer as pessoas dançarem. Eu nunca tinha ouvido nada parecido antes e mudou completamente como eu pensava sobre ritmo para sempre.

DJ Rashad também era um mestre em usar samples reconhecíveis e transformá-los em algo completamente diferente. Só sinto que isso em si é uma forma de arte que merece respirar e crescer tanto quanto qualquer outra forma de arte deveria ter a liberdade, em uma sociedade livre, de crescer. É reconhecível, mas não tem nada a ver com o original. É a música dele. Não pertence a ninguém além dele. 


Autechre - Confield

Descobri o Autechre em 1998, então eu já estava realmente interessado neles quando lançaram o Confield em 2001. Eu os vi pela primeira vez na turnê desse álbum em LA. Foi um show superexcitaste e que mudou minha vida. Eles estavam ficando realmente abstratos. Eu cresci sendo fã de pessoas como Edgard Varèse e Iannis Xenakis e coisas assim. Para mim, parecia que eu estava no equivalente moderno disso. Olhei ao redor da plateia e vi pessoas tentando dançar, mas não tinha certeza de onde estava a batida. Havia pessoas sentadas no chão com a cabeça apoiada nas mãos. Outros estavam apenas olhando para eles. E vi algumas pessoas fechando os olhos e tendo sua própria experiência. Não era como a música clássica, onde você poderia se sentar e apenas apreciar a música. Todo mundo foi capaz de ter um tipo diferente de reação a isso que estávamos ouvindo. Eu relacionei com a música clássica da época. Era como se eles tivessem realmente ultrapassado o limite. Não era mais necessariamente dance music.

Às vezes, como músico, tenho medo de ser uma pessoa muito estranha e alienada, especialmente em 2001. Mas quando vi isso fiquei tipo, “Uau. Esses caras não estão nem um pouco assustados.” Para mim, eles são a versão moderna do que na era vitoriana eles chamariam de coragem ou bravura ou algo do tipo. Eles vão na direção que seu espírito os conduz e não se preocupam se as pessoas vão entender ou não, e colocam muito sentimento no que fazem, e a abstração nunca atrapalha o sentimento. Eles são os músicos que mais admiro. Onde você vê os músicos de rock ficarem cada vez piores, ou apenas ficarem mais destilados, Autechre continua cada vez melhor. É o tipo de coisa que ouço e penso: “Deus, adoraria ser capaz de fazer isso.” Aaron e eu fizemos muitas músicas que satisfizeram essa parte de mim, onde é nesse sentido, mas cara, não há como imitar Autechre. Não tenho admiração maior por mais ninguém.



Venetian Snares - Cavalcade Of Glee And Dadaist Happy Hardcore Pom Poms

Eu amo todas as músicas de Aaron igualmente, mas quando esse álbum foi lançado, quando estávamos fazendo o Stadium Arcadium, eu ficava chapado e o ouvia e ficava tipo, “Que porra é essa?” Nunca tinha ouvido melodias como essa. Eu nunca tinha ouvido batidas tão rápidas. Onde, em muitos aspectos, a música eletrônica era um mistério para mim em termos de como era feita, isso soava como... uau. Eu o conheço bem e aprendi muito com ele, mas ouço isso e ainda não sei como é que isso acontece. O que ele é capaz de fazer com o sintetizador, ou uma bateria eletrônica, ou um computador, isso desafia a compreensão.

Eu sinto que seu álbum é um bom exemplo completo de sua habilidade de criar lindas melodias e ritmos que são mais rápidos e loucos do que qualquer outra coisa, mas de uma forma que complementa as melodias perfeitamente. Eu sei que apesar do quão feliz aquele álbum é, ele estava em um período triste de sua vida quando o fez. Há uma beleza nisso porque é um dos álbuns mais felizes que ele já fez. É como se ele estivesse tentando se animar fazendo música para se sentir melhor. Depois que desenvolvi o gosto por aquele disco, nada mais poderia me deixar tão feliz. Não havia nenhuma outra música que fosse tão comemorativa. Considerando que eu estava destinada a trabalhar muito com ele, algo sobre a abordagem melódica disso realmente me conectou e me fez começar a ficar animado em me transferir para esse tipo de música.

Eu vi o Ventian Snares pela primeira vez no Autechre ATP em Camber em 2003. Foi uma verdadeira mudança de vida. Eu já conhecia alguns dos artistas que tocavam lá, mas poder ter essa experiência de estar em um ambiente tipo rave na Inglaterra, com ecstasy, foi uma loucura. O set de Venetian Snares foi como um show punk. Todo mundo estava pulando e esbarrando uns nos outros em um círculo, em uma roda punk. Foi a melhor experiência de festival que eu poderia imaginar.

Aaron e eu nos tornamos bons amigos e fizemos muitas músicas juntos fora da grade. Eu precisava dessa experiência naquela época. Ele era a única pessoa que eu poderia imaginar fazendo música sem levar em consideração a possibilidade de ser lançado eventualmente. Para fazer música especificamente com a ideia de que não nos importamos se algum dia serão lançada. Só nos preocupávamos em estar 100% no momento. Tudo o que eu fiz como artista solo durante aquele tempo, era como algo paralelo, e as coisas principais eu estava fazendo com Aaron. Não consigo imaginar ter feito isso com outra pessoa e continuamos a fazer isso até hoje. 


Plug - Drum 'n' Bass For Papa

Quando ganhei este LP, eu já conhecia um pouco da música de Plug aka Luke Vibert, mas não essa. Autechre que acabei de mencioná-lo nesta entrevista, então eu descobri o que era e os assisti em uma turnê. Luke Vibert é agora um dos meus músicos favoritos. Ele fez uma grande variedade de coisas e este álbum em particular é tão incomum. Não soa como outra coisa. Você nunca sabe o que vai acontecer a seguir. Parece alguém que está em um estado perpétuo de descoberta; como se ele não soubesse o que deveria ser. E parece que ele não se importa com o que deveria ser.

Vibert está constantemente melhorando e sempre encontrando coisas novas para fazer, digamos, o amen break. Esse é o verdadeiro teste de originalidade. É como quando toco com o Red Hot Chili Peppers. É tipo, em quantas coisas diferentes eu posso transformar essa guitarra? Quantas coisas diferentes posso fazê-la dizer? Para mim, é isso que ele faz com o amen break. Isso apenas mostra que não é a música de outra pessoa. É uma Stratocaster, ou uma Les Paul, ou o que você quiser pensar.


Tradução: Eloá Otrenti, João Pedro Barbosa e Jonathan Paes
Fonte: The Quietus (por Brian Coney) - 23 de setembro de 2020

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