13 de janeiro de 2018

Tensões pós-Blood Sugar Sex Magik


"Eu via nosso sucesso como uma benção monumental. Não achava que éramos maiores que antes - éramos os mesmos caras, mas estávamos cantando para muito mais ouvidos, olhos e corações. Eu acreditava que devíamos respeitar esse dom, esse incrível golpe de sorte. Nós não nos vendemos, não mudamos nossos princípios para alcançar mais pessoas, simplesmente aconteceu. John, porém, via nossa nova popularidade como algo ruim. Costumávamos ter enormes discussões nos bastidores.

- Estamos populares demais! Não preciso desse nível de sucesso. Para mim bastaria tocar nossa música em clubes, como vocês faziam anos atrás - John dizia.

- Não é ruim que esses garotos tenham vindo - eu dizia. - Vamos fazer um bom show para eles. Não precisamos nos odiar e ficar loucos com eles porque isso aconteceu.




Ele ficava furioso, se escondia e não queria fazer o que eu queria. Esse foi o meu grande erro, querer que todos reagissem à situação da mesma maneira que eu. John já tinha decidido o que era legal, e tocar para um estádio cheio de garotos deixou de ser legal para ele. Preferia estar em casa escutando Captain Beefherat e pintando. John estava lendo muito William Burroughs na época, e sua idéia, tirada de Burroughs, era que todo verdadeiro artista está em guerra com o mundo.




Ironicamente, quanto mais ele desprezava nosso sucesso, mais populares ficávamos. Qunato mais ele batia os pés, mais discos vendíamos; quanto mais decepcionado ele ficava com o número de pessoas que passavam pela porta, mais pessoasvinham aos shows. Eu achava maravilhoso o fato de termos criado algo especial e o mundo responder assim.




Meus crescentes problemas com John estavam criando enormes tensões na banda, que causavam angústia adicional para Flea. Ele estava se separando da mulher, então tudo isso o fazia tomar alguma coisa para dormir, alguma coisa para acordar e alguma coisa para o meio do dia. A química de seu cérebro estava sendo perfurada por receitas médiacas. O que poderia ter sido a época mais exitante de nossa carreira acabou sendo muito estranho. John estava sombrio e traído. Flea sob influência de todas as medicações prescritas, e eu apesar de sóbrio ainda era aquele maluco exagerado. E Chad era Chad.




Minhas tensões com John chagaram a ponto de ebulição em um show que fizemos em Nova Orleans. A casa estava lotada e John ficou parado num canto, mal tocando a guitarra. Quando saímos do palco, eu disse:

- John não importa o que você esteja pensasando ou onde preferiria estar, mas quando damos um show e há tanta gente que pagou para nos ver e gosta de nós, o mínimo que você pode fazer é aparecer e tocar para elas - gritei.

- Não é assim que eu vejo. Preferia tocar para dez pessoas e... bla-bla-blá....




E a discussão continuou. Flea nos observava, pensando: "Ah, não, aconteceu... A briga entre Anthony, O Maniaco controlador, e John O Cara que odeia isso tudo". John e eu entramos num banheiro para ver se conseguíamos nos entender. Afinal chagamos a um entendimento e concordamos em aceitar a visão diferente um do outro..."
Scar Tissue - págs. 217-218.






Uma entrevista feita com John em 1997 no progama 'Eric Blair Show' com Keith Morris (à direita) do lendário grupo Circle Jerks. Feito um mês antes do lançamento de "Smile From The Streets You Hold".



Então você foi bastante "duro"...

"Talvez alguém possa ter sido ruim, mas se eu tivesse sido uma pessoa que gostasse de dar autografos, eles provavelmente não teriam pensado que eu era interessante, para mim como à realidade, eu os considerava...

Anthony amava dar autógrafos, gastar tempo e energia fazendo coisas que eu não me sentia realizado."




Então dizer que o fato das pessoas se aproximarem para lhe pedir um autógrafo, o fazia se sentir humilhado?

"Não, eu sou modesto... sempre fui desde pequeno, eu sempre tentei permanecer modesto... sabe... Quando se fala com um fã, está falando com alguém que não está falando com você. Estamos falando de uma foto com sua imagem, estamos falando com um cartaz, e ainda se você cometer o erro de pensar que eles estão falando com você, quando dizem que é um gênio ou um merda... Independentemente de sua imagem, se você acredita no verdadeiro ser humano, você morre. E é por isso que muitos rockstars tornam-se uma imagem."

Um comentário:

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