9 de agosto de 2018

Análise: Trovadorismo galego na obra de John Frusciante

 
O uso de elementos do Trovadorismo galego na obra de John Frusciante

Muitas páginas da internet atribuem à obra de John Frusciante como o principal gênero - entre outros - o experimental music, concordo que o gênero seja uma atribuição descente pra um músico a quem não conseguimos designar um gênero ou estilo conciso, talvez poderíamos distinguir de um álbum ou outro. Não há dúvidas que John é um dos artistas mais versátil e genial deste século, a sua capacidade de promover música de diferentes pontos de vista se utilizando de elementos de diferentes gêneros e por cima disso trazendo aos nossos ouvidos algo totalmente inesperado é o que motivou este artigo.

John Frusciante já falou em algumas entrevistas sobre seus ídolos, e baseado em seus covers também dá pra ter ideia de quais são suas influencias, mas algo que eu particularmente percebi foi o apelo da musica medieval em algumas de suas canções, mais propriamente o Trovadorismo Galego que estudamos sobre nas aulas de português no ensino médio. Não tenho como dizer se essa inclinação (musicalmente) ao trovadorismo surgiu de forma consciente por parte dele ou se foi apenas uma convergência dada ao acaso.


As cantigas trovadas eram versos declamados em público por Bardos e Menestréis acompanhados de melodias simples e repetitivas tocadas com harpa, flauta, alaúde, pandeiro, etc. O trovadorismo foi um movimento literário, mas que também tem sua identidade musical, é importante esclarecer que nesta resenha trato apenas de elementos musicais (não levo em consideração letra e temática). Alguns elementos que caracterizam as trovadas e que podemos perceber nas canções de John Frusciante são:

- Versos cantados e seguido à risca pela melodia instrumental.
Ex: Ouça o verso “When we meet again I will not be there” de "Repeating";
“The gods of the city have called my name” de "Anne".

- Melodias fechadas e repetitivas arpejadas com escalas descendentes que obedecem bem à pentatônica. Ex: "I Will Always Be Beat Down" e "The Days Have Turned".

- Finalização de estrofe descendente, que marca de forma dramática o fim de um verso. Ex: "Ascension" e "Chances".

- Calmaria e sussurros após uma estrofe clímax que carrega grande tensão. Ex: "The World's Edge" e "Control".

- Melodia de canto com grandes variações em uma pequena frase preenchida com uma base harmônica simples e repetitiva, comuns nas cantigas de amor. Ex: "How High", "A Doubt" e "Time Tonight".

- Declamação imponente de um verso em um compasso rítmico irregular (diferente de 4x4), comum nas cantigas de herói. Ex: "Leap Your Bar" e "Here, Air".




Texto: Luís Bandeira - Imperatriz, MA - Brasil

2 comentários:

  1. Sinto muito essas influências no álbum Curtains que é um dos meus favoritos, inclusive!

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  2. Bela análise. Sempre entendi determinadas melodias de Curtains como simplesmente "barrocas". Vejo agora que as características delas apontam para coisas mais específicas, até de um pré-barroco.

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