4 de fevereiro de 2020

Josh Klinghoffer detalha a sua saída e seu legado com Red Hot Chili Peppers


Entrevista com Josh Klinghoffer publicada hoje pela Spin e realizada por Daniel Kohn. O guitarrista complementa coisas já ditas em outras conversas, fala sobre o álbum abandonado pelos Red Hot Chili Peppers e sobre seu futuro.



A vida de Josh Klinghoffer mudou para sempre em 15 de dezembro de 2019. Ele foi a um encontro com seus parceiros do Red Hot Chili Peppers, no quintal de Flea e foi imediatamente informado pelo baixista, enquanto o vocalista Anthony Kiedis e o baterista Chad Smith ficaram sentados em silêncio, que ele estava fora da banda.

Apesar de continuar juntando as peças de sua repentina demissão, Klinghoffer não está totalmente perdido. Silenciosamente ele lançou seu álbum solo Pluralone (que foi gravado enquanto ele não estava trabalhando com o Chili Peppers) três semanas antes de sua expulsão. Agora ele vai abrir os shows do Pearl Jam em sua próxima turnê na primavera. Klinghoffer também tem 25 músicas inacabadas à sua disposição, juntamente com as músicas que ele escreveu nas sessões com o Chili Peppers.




Embora as coisas certamente tenham sido melhores para Klinghoffer no passado, poderiam facilmente ter sido muito piores. Se isso tivesse acontecido cinco anos atrás, Klinghoffer diz que teria sido massacrado. Agora? Nem tanto. Klinghoffer se orgulha do que conquistou durante seu período com o Red Hot Chili Peppers.

SPIN se encontrou com Klinghoffer eu seu quintal, em Pasadena, em uma idílica tarde de sexta-feira, para falar de sua saída da banda que está no Rock & Roll Hall of Fame, seus planos futuros e como uma ligação de Eddie Vedder permitiu-lhe seguir em frente mais rápido do que previsto




Você pode dizer que algo aconteceu nas semanas ou meses antes de sua saída?

É a única coisa que eu não consegui nenhum detalhe específico de Flea... embora ele tenha me dito uma coisa: Quando ele começou sua turnê do livro em novembro e a banda ficou um pouco inativa por mais ou menos um mês, ele sentiu que havia algo que ele tinha criado anos atrás com John que não era algo que pudesse ignorar. Eu tenho certeza que ele estava se encontrando - ou até tocando e fazendo jams com John - mas isso não parecia uma certeza [que John voltaria à mistura].

Apesar do que acabou acontecendo, pelo menos você pode olhar para trás e dizer que essa foi uma era forte ao vivo para o Chili Peppers.

Eu sempre achei que sim também. Quando eu comecei com eles ao vivo, eu já tinha tocado com eles no palco, mas não no papel que eu estava assumindo. Eu tinha inerentemente, como um fã da banda, a mesma energia que eles tinham. Eu sempre me senti bem e parecia fazer sentido, mesmo com a diferença de idade, e que eu não era a pessoa que tinha escrito aqueles hinos com eles. Eu sentia uma real conexão entre nós no palco.




E os álbuns?

Eu não odeio ou desprezo as gravações que fizemos juntos, de maneira alguma. Eu ouvi aquelas músicas muitas vezes - especialmente quando estávamos fazendo-as. Eu submergi obsessivamente na música que estava trabalhando e ouvia constantemente. Tenho muito amor pela maioria daquelas músicas. Acho que tem algumas músicas naqueles álbuns que eu abriria mão, apenas para deixar outras entrarem. Eu sempre me impressiono com a habilidade de Anthony escrever letras e melodias para a quantidade de músicas que a banda desenvolve. Diga o que quiser dele como letrista ou cantor - ele tem uma capacidade inacreditável e uma habilidade incrível de criar coisas novas. Assisti-lo foi muito especial.

Considerando que você tocou no Chili Peppers por 10 anos, você já sentiu que essa partida era iminente no sentido de que você tinha que manter a guarda para o caso de algo assim acontecer?

Não, de jeito nenhum. A única razão pela qual, suponho, que não estou mais na banda é por causa do repentino ressurgimento ou disponibilidade ou desejo de John fazê-lo novamente. Durante todo o tempo, eu não tive contato com ele, mas sabia por outras pessoas, que ele não estava interessado em tocar guitarra. Ele não estava interessado em tocar rock ou estar em uma banda. Eu sabia que ele e Flea conversavam de vez em quando, mas mesmo quando eles se reuniam, sempre acabavam discutindo.

Eu nunca pensei que isso iria acontecer até os últimos dois anos. Havia algumas coisas que me faziam pensar: 'Ah, eu imagino', mas abaixei a guarda. Não achei que isso aconteceria porque tínhamos escrito um álbum inteiro e já tínhamos uma pilha de coisas preparadas para dois álbuns e ainda queríamos escrever um pouco mais. Eu não achava que eles gostariam de interromper esse processo e escrever novamente, mas isso não me surpreendeu.




Dito isto, parece que foi a melhor despedida possível, considerando as circunstâncias.

Foi Flea quem me disse isso, cinco dias depois [da demissão] que ele tinha tido uma semana muito emocionante. No final do dia, ele e eu somos amigos e ele gostava de me ter na banda que ele criou. É um pequeno grupo muito unido e eles não abrem as portas e deixam alguém entrar na banda levemente. O fato deles terem feito isso comigo e eu estive junto por tanto tempo, foi especial. Eu penso que que ele me respeita e valoriza como pessoa e amigo. O fato dele não me ter no mesmo voo, sentado à sua frente, como foi por 10 anos provavelmente foi sofrido. Ele disse ‘Nós nunca fizemos uma troca sem uma tragédia ou trauma’. Eu sinto que minha reação às notícias mostra que estou completamente ciente do quanto essa experiência com eles foi especial. Apenas estar na mesma sala que aqueles caras e ouvir suas histórias e eles ouvirem as minhas. Foi como ser parte de um clube incrível por um tempo. Eu realmente não acho que nossa amizade terminou e acredito que nosso relacionamento não precisa mudar muito, além de não os ver tanto.

Com tudo o que eu fiz na minha vida e todos os aprendizados em meus 40 anos, minha reação foi pura gratidão. Como eu disse para Maron [podcast de Marc Maron do dia 23 de janeiro], não é fácil para mim parecer um hippie. Tenho certeza de que haverá momentos em que eu ficarei ‘Serio?’ e ‘É isso mesmo?’. Mas, no geral, estou tão feliz por ter conseguido fazer isso com eles e fazê-lo com sucesso. Não é como eles disseram: 'Obrigado e decidimos ir com essa outra pessoa'. É John, a pessoa que eu cresci pensando que era a melhor. Fico feliz por ele estar tocando e querer fazer música com eles.



Você subiria no palco com eles novamente apesar do que aconteceu?

Eu amo aqueles caras e vê-los tocar seus instrumentos. Eu adoro ouvir Anthony cantar quando ele está trabalhando em algo. Chad e eu não fazemos outra coisa além de rir quando tocamos. A única reclamação que eu poderia ter sobre estar na banda era que não tocávamos tanto quanto eu gostaria. Há algo em pertencer a uma banda desse tamanho e caras dessa idade, é um pouco parecido com negócios. Você ensaia algumas vezes por dia, depois toca por talvez duas ou três horas e então as pessoas vão buscar seus filhos e tudo mais. Como um cara de 40 anos que nunca cresceu, eu sou 'Vamos, vamos tocar o dia todo!'. Então, se eles me pedissem para tocar novamente, eu estaria lá em um segundo. Isso também é ótimo nessa demissão e, felizmente, consigo manter. No final das contas, são quatro caras que tocam música e quando decidem que querem tocar com esse outro cara, agora são esses quatro. Não é como 'Nããão' e advogados e esquisitices. São apenas quatro caras tocando música juntos.

Você ainda tem as músicas que trabalharam juntos? O que vai acontecer com elas?

Eu acho que tem 24 músicas completas. Tem algumas que tem a batida e o refrão. Nós não terminamos. Tinha pelo menos 10 ideias na lista, se não mais. Tinha um monte de coisa. Começamos em setembro ou outubro de 2018 e escrevemos a maior parte de 2019, com exceção de quando estávamos em turnê e Anthony tirou duas semanas para as férias de verão, e Flea se casou e fez uma turnê do livro. É por isso que estivemos em um hiato de escrita. Definitivamente, eles vão começar do zero com John. A única possibilidade [dessas músicas ressurgirem] é se uma ideia que Flea teve, 100% dele, talvez eles a joguem na mistura e deem nova vida a ela. O que foi mais colaborativo provavelmente vai desaparecer.




Você sabe que algum bootleg surgirá dessas sessões em algum momento.

Se alguém me agredir na rua e roubar meu iPod, é lá que elas estão.

Quando você teve tempo de trabalhar em seu álbum solo?

Com a maneira como o Chili Peppers programam os ciclos de seus álbuns, há partes do tempo de inatividade que você pode ver mais adiante. Consegui manter Dot Hacker [a outra banda do Klinghoffer] como uma banda real, mas não fizemos turnê. Gravamos um disco, então o Chili Peppers fiz uma turnê. Por causa disso, pude fazer três álbuns do Dot Hacker durante o tempo de inatividade do Chili Peppers. Sempre que havia tempo de inatividade, eu trabalhava e tentava me manter ocupado. Com o álbum solo, seria o que eu teria feito com Dot Hacker. Dessa vez, decidi deixá-los fazer o esforço e ninguém fez, então fiz o disco por conta própria. Fiquei amigo do [ex-baterista do Chili Peppers] Jack Irons na turnê nos EUA, onde ele abriu o Chili Peppers. Ele sempre foi um dos meus bateristas e músicos favoritos.




Ele está na sua banda?

Eu não tenho uma banda no momento. Na turnê do Pearl Jam serei eu sozinho.

Parece que essa possibilidade surgiu bem rapidamente, apesar de todas as notícias.

A sincronia foi louca. Eu já tinha isso gravado. O convite para fazer a turnê veio pouco depois da demissão da banda. Eu acho que conhecer um pouco melhor Eddie [Vedder] recentemente ajudou. Nós tocamos no Ohana Fest [em setembro] e ele tocou no evento beneficente da escola de Flea [Silverlake Conservatório Musical, em Los Angeles, em novembro]. Eu acho que ele ligou para saber como eu estava. Eu falei praticamente o mesmo que falei para você, como era louco e triste e tudo isso. Eu me sinto feliz com a maneira como as coisas se desenrolaram e com o que eu consegui com elas. Não é como se eu fosse um fracasso. Houve boa vontade e acho que o convite foi estendido para abrir o show. Na semana seguinte a isso, eu estava olhando para um calendário completamente em branco. Jack havia falado sobre fazer uma coisa ao vivo com esse projeto, antes do convite da turnê do Pearl Jam. Era uma coisa boa ter algo para fazer, ou então eu teria enlouquecido. É muito assustador, porque esta é a primeira vez que eu farei um show sozinho.

Com tudo que aconteceu - e ainda é muito recente - como você vê sua experiência como guitarrista principal do Red Hot Chili Peppers?

Eu estou muito orgulhoso do que fiz. Trabalhei duro e não acho que tenho algo para me envergonhar ou me sentir mal. Esse é o jeito demorado de dizer que eu não acho que eu teria sido tão zen e isso tivesse acontecido cinco anos atrás. Eu provavelmente teria enlouquecido [por causa da demissão].



Tradução: Eloá Otrenti - Frusciante Brasil
Fonte: Spin - 04 de fevereiro de 2020
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