1 de julho de 2020

GUITARLOAD ENTREVISTA: RAPHAEL ROMANELLI (JFEFFECTS) (2020)



JOHN FRUSCIANTE - GUITARLOAD #106 - MAIO DE 2020




Um dos grandes guitarristas do rock das décadas de 1990 e 2000, John Frusciante inspirou muitos músicos a deixarem de focar na técnica no instrumento para trabalhar outras virtudes, como a boa timbragem e a construção de ambientes musicais com pedais de efeito.

De volta à banda que o consagrou, o Red Hot Chili Peppers, Frusciante é tema desta reportagem que busca dissecar seus equipamentos, sejam guitarras, pedais ou amplificadores, em diversos momentos de sua carreira. Para isso, entrevistamos Raphael Romanelli, editor do site John Frusciante effects (JFeffects) e autoridade no assunto.

John Frusciante está de volta ao Red Hot Chili Peppers. Após ficar uma década fora da banda, sendo substituído por Josh Klinghoffer, o guitarrista que ajudou a moldar o som de um dos grupos de maior sucesso do rock, retomou seu posto, conforme anunciado em dezembro de 2019, e já trabalha em um novo álbum ao lado dos colegas: o vocalista Anthony Kiedis, o baixista Flea e o baterista Chad Smith.

Os fãs mais casuais podem não saber, mas John Frusciante não é o guitarrista original do Red Hot Chili Peppers. O primeiro responsável pela função era Hillel Slovak, que compôs os três primeiros álbuns do grupo, mas faleceu em 1988, em decorrência de uma overdose. Consideravelmente mais novo que seus colegas de banda, Frusciante era fã de Slovak e acabou entrando para o projeto quando tinha apenas 18 anos.

O primeiro álbum com Frusciante, “Mother’s Milk” (1989), não resume tão bem seu estilo. As credenciais foram melhor apresentadas em “Blood Sugar Sex Magik” (1991), que tem hits como “Under The Bridge” e “Give it Away”. Descontente com a fama e mergulhado nos vícios – inclusive em crack –, o guitarrista saiu da banda em 1992 e chegou ao fundo do poço nos anos seguintes, quase morrendo após uma infecção oral.

Os problemas ficaram de lado após 1998, quando John Frusciante entrou em reabilitação e foi convidado a reintegrar o Red Hot Chili Peppers. Com a retomada de sua formação clássica, a banda se reinventou e gravou outros três álbuns de sucesso: “Californication” (1999), “By The Way” (2002) e “Stadium Arcadium” (2006).

Contudo, Frusciante se cansou novamente do ritmo extenuante da estrada e, em 2009, confirmou sua saída. O substituto de John Frusciante foi Josh Klinghoffer, que tocava nos álbuns solo do guitarrista e até excursionava com a banda, como músico de apoio. Com Klinghoffer, foram gravados dois álbuns, “I’m With You” (2011) e “The Getaway” (2016), além do compilado “I’m Beside You” (2013), que reúne sobras de “I’m With You”. Já Frusciante mergulhou em uma carreira solo que explorou diversos gêneros musicais, com destaque ao eletrônico.




VOLTA INESPERADA

A essa altura, ninguém esperava por um retorno de John Frusciante ao Red Hot Chili Peppers. Nem mesmo Raphael Romanelli (ver box 1), fundador do site John Frusciante effects – maior referência virtual sobre o guitarrista no Brasil –, entrevistado desta edição da Guitarload.

“Fiquei sem acreditar”, relatou Romanelli. “A banda estava compondo um novo álbum com Klinghoffer naquele momento. Nesses 10 anos fora, Frusciante nunca deu indícios de que voltaria, mas em novembro de 2019, ele e Dave Lee, seu técnico de guitarra entre 1998 e 2008, se encontraram após anos sem se verem. Naquele dia, Lee nos mandou uma mensagem sobre o encontro. Mais tarde, contou que ele havia pedido uma revisão em suas Fender Stratocaster – desde a saída do Red Hot Chili Peppers, essas guitarras estavam de lado, pois ele só estava tocando as Yamaha SG e modelos exóticos. Isso, de alguma maneira, indicou um possível retorno.”

Para retomar a química conquistada em seus anos de ouro, o Red Hot Chili Peppers precisaria ter John Frusciante de volta, nem que fosse para uma turnê de despedida. O próprio Josh Klinghoffer reconhece isso em entrevistas, ao dizer: “ninguém consegue bater a magia de Frusciante e Flea juntos”.

Além de fatores inexplicáveis, como a química entre os músicos, a volta de John Frusciante gera expectativa nos fãs de guitarra e, especialmente, efeitos. Em ambas as passagens pelo Red Hot, o músico sempre demonstrou criatividade para construir não só arranjos e solos, como, também, timbres e ambientações – não à toa, Frusciante é referência quando se fala, por exemplo, de pedais de efeito.




EXPECTATIVA

O primeiro show da volta de John Frusciante ao Red Hot Chili Peppers já aconteceu, mas foi curto, de três músicas, em um evento fechado nos Estados Unidos, no dia 8 de fevereiro. Nem Chad Smith estava com a banda – Stephen Perkins, do Jane’s Addiction, o substituiu.

Provavelmente, os fãs terão que esperar um pouco para conferir o verdadeiro retorno de John Frusciante ao Red Hot Chili Peppers. A banda adiou seus primeiros shows de 2020 devido à pandemia do novo coronavírus. Porém, como bom especialista que é, Raphael Romanelli já antecipou o que dá para esperar dessa volta de Frusciante.

“Nesses 10 anos, Frusciante evoluiu como músico e abriu a cabeça: gravou pelo computador usando o Renoise; estudou música eletrônica, ritmos e programação; abandonou as guitarras vintage para criar nova abordagem com as Yamaha SG dos anos 1980; produziu um grupo de rap e fez música sem ter um público-alvo. Acho que isso tudo será somado ao seu retorno. Não há como desprezar toda essa evolução – ele não é o mesmo músico que encerrou a turnê em 2007”, comenta Romanelli sobre os recentes trabalhos dele.

Em termos de equipamentos usados, as guitarras devem ser algumas das mesmas, mas a parte de pedais, provavelmente, terá mudanças. “Dave Lee confirmou que revisou quatro guitarras Fender Stratocaster para Frusciante – a Sunburst 1962, a Sunburst em dois tons de 1955, a Olympic White 1963 e a Red Fiesta 1961, todas já usadas por ele na banda. As três primeiras, inclusive, foram usadas na primeira apresentação de volta. A Telecaster de 1959, a Les Paul de 1969 e a Gretsch 6136 White Falcon de 1958 devem retornar – junto à Jaguar de 1962 para aquecimento no camarim. Ele também pode trazer algumas Yamaha SG para determinada abordagem. Os violões Martin 0-15 eram os favoritos e isso deve continuar”, afirma, sobre os instrumentos em si.

A respeito dos pedais e amplificadores, Romanelli pontua: “É o campo que deve ter mais mudança, com base na primeira apresentação. Apesar do setlist pequeno, entre os pedais que ele usava antes, só o Boss CE-1 Chorus Ensemble e o Electro-Harmonix Holy Grail estavam presentes. Os demais foram: um Xotic XW-1 Limited Edition com wah-wah e o que pareciam ser um Boss TU-3 Chromatic Turner, Boss SD-1 Super Over Drive, MXR Micro Amp e dois pedais que não identificamos, mas um era fuzz. Os amplificadores não devem mudar tanto, já que ele usou o Marshall Silver Jubilee 25/55 fora da banda e nesse primeiro show”.




SEGREDOS DO SOM DE FRUSCIANTE

Se você chegou até aqui para aprender a soar como John Frusciante, a recomendação inicial é seguir para a seção de Lições da Guitarload, pois não é possível emular completamente outro músico e um arsenal de equipamentos não te fará evoluir como guitarrista – já a prática e o estudo, sim. O próprio Dave Lee, que trabalhou tanto com Frusciante, é quem diz isso, conforme relatado por Raphael Romanelli.

“Certa vez, Dave Lee disse que montou o equipamento de Frusciante para a turnê. Ao testar, parecia que estava errado, mas bastou Frusciante tocar que beirou a perfeição. A maior parte do som estava nas mãos dele”, comenta Romanelli.

Ciente disso, as valiosas dicas de Raphael e Dave podem ajudar a construir uma sonoridade semelhante à de John Frusciante no Red Hot Chili Peppers. O técnico de guitarra do músico cita, em trecho transcrito pelo JFeffects, o equipamento essencial: “O mais importante é o pedal de chorus Boss CE-1. Aquele knob de level tem seu próprio tipo de estrutura de ganho. Aquele pedal, um Mesa Boogie Triple Rectifier (no canal limpo) o mais alto e limpo possível, uma Stratocaster com captador do braço, explorando o knob de level no CE-1, com muito ataque nas cordas... aí é possível”.

Como alternativa ao Boss CE-1, Raphael Romanelli comenta que há alternativas handmades que copiam o pré-amp desse pedal. “Além disso, cito o Boss DS-2 e o Ibanez WH-10, companheiros de toda a carreira de Frusciante”, destaca o editor do JFeffects.

Já sobre os amplificadores, Romanelli completa: “Como ele usava o Marshall Major e o Silver Jubilee no rig principal, Dave Lee nos disse que entre os dois, o mais importante para o timbre dele era o Major. Como estamos no Brasil, Marshall e Mesa Boogie são inacessíveis para grande parte das pessoas, então, vale a pena investir nas opções nacionais, considerando os principais aspectos: limpo, alto e agressivo”.

Conforme aponta Romanelli, o timbre limpo da guitarra através dos amplificadores é a prioridade, já que muitas gravações em estúdio desde “Stadium Arcadium” foram feitas só com guitarra e amplis, sendo tratadas posteriormente com equipamentos, especialmente o Doepter A-100. Por outro lado, os pedais ganham suma importância ao vivo.

“Nas turnês com o Red Hot Chili Peppers, a prioridade era a cadeia de pedais com o Boss CE-1 dividindo o sinal entre o Marshall Major e o Marshall Silver Jubilee. O Electro-Harmonix Holy Gail Reverb foi tirado da cadeia principal e colocado apenas no Silver Jubilee no meio da turnê de ‘Stadium Arcadium’, o que resultava no efeito de reverb quando ativado em apenas em um dos lados – o que aconteceu por pedido de Dave Rat, engenheiro de áudio da tour, para que pudesse controlá-lo na mixagem”, afirma Raphael.

O box 2, com os pedais usados por John Frusciante nos álbuns “Californication”, “By The Way” e “Stadium Arcadium”, trazem uma visão mais completa sobre o que constrói a sonoridade do músico no que tange aos efeitos.




GUITARRAS

A sonoridade clássica de John Frusciante no Chili Peppers passa muito pelas guitarras. Na maior parte do tempo, o músico usava Fender Stratocaster, mas gravações icônicas, como os solos de “Scar Tissue” e o hit “Otherside”, foram feitas com outros instrumentos – sendo mais específico, Fender Telecaster e Gretsch, respectivamente.

Embora seja marcado pelo uso das guitarras Fender, John Frusciante era, inicialmente, fã das Ibanez. De acordo com Raphael Romanelli, o músico começou usando um modelo fabricado pela Performance Guitar que muitos confundem com Kramer, mas se diferencia, especialmente, pelo braço em maple e alguns detalhes de acabamento. Frusciante curtia a marca por causa de dois músicos que usavam instrumentos dela: Frank Zappa e Steve Vai, nos tempos da David Lee Roth Band.

Depois, Frusciante migrou para Ibanez, mas Anthony Kiedis, Flea e Michael Beinhorn (produtor de “Mother’s Milk”) não gostavam, então, foi feita nova mudança para Fender – embora o pedal Ibanez WH-10 tenha sido mantido desde aqueles tempos.

Segundo Romanelli, nos tempos de “Blood Sugar Sex Magik”, as principais guitarras eram as Fender Stratocasters, algumas originais e outras reissues das décadas de 1950, 1960 e 1970, e uma Gibson Les Paul Custom de algum momento dos anos 1970.

A partir de seu primeiro retorno para o Red Hot, em 1998, John Frusciante passou a experimentar um pouco mais, ampliando bastante sua gama de guitarras e equipamentos. Porém, a Fender Stratocaster 1962 Sunburst que ele ganhou de presente de Anthony Kiedis, no ano de sua volta, seguiu como seu principal instrumento na banda.




FENDER STRATOCASTER 1962 SUNBURST

“Essa guitarra é quase toda original, com algumas exceções. O escudo original foi substituído por um característico das Stratocaster pós-1970. Dave Lee instalou tarraxas Kluson e straplock Schaller. Além disso, os captadores originais foram substituídos entre 1998 e 1999. Frusciante achava que os novos eram Seymour Duncan SSL1 (inspirado pela descoberta do uso deles na sua Fender Stratocaster 1955), mas Dave Lee revelou à John Frusciante effects que, na verdade, eram captadores Fender, os mesmos das guitarras American da época”, revelou Raphael Romanelli.

Quanto a guitarras de outros modelos, há de se destacar alguns modelos de Frusciante, seja ao usar em gravações e turnês ou como “colecionador”, título que ele mesmo rejeita:

- Duas Fender Telecaster, sendo uma de 1960 (com um “F” no escudo) e outra de 1965 ou 1967 (que foi dada de presente a Josh Klinghoffer), usadas em músicas como “Easily” e nos solos de “Scar Tissue”, além de turnês e até os álbuns que Klingohffer gravou com o Red Hot Chili Peppers;
- Fender Jaguar Fiesta Red 1962;
- Fender Jaguar Olympic White 1966 (com Roland Guitar Synthesizer GR-300 acoplado);
- Gibson Les Paul Custom 1969
- Gibson Les Paul SG Custom 1961 (dos tempos em que SG era um modelo de Les Paul);
- Fender Stratocaster Sunburst 1959 (com braço fretless de vidro);
- Fender Stratocaster Olympic White 1961 (que acabou sendo dada de presente para Zach Irons, filho do baterista Jack Irons, ex-Red Hot Chili Peppers);
- Gretsch 6136 White Falcon 1958 (com captadores Filter’Tron e encordoamento 0.12, mais grosso que o das outras).




PEDAIS

No box 2 desta matéria, há uma listagem completa de pedais que John Frusciante usou nos álbuns “Californication”, “By The Way” e “Stadium Arcadium”. Em termos de destaque, Raphael Romanelli cita a tríade principal: Boss DS-2 Turbo Distortion, Ibanez WH-10 V1 e Boss CE-1 Chorus Enseamble.

O wah Ibanez WH-10 V1, inclusive, merece ser citado à parte, pois é o pedal favorito de John Frusciante. O motivo, segundo ele, é a preservação da sonoridade grande do wah, diferente de outros, que pareciam cortar o volume pela metade e tinham timbres magros. Raphael Romanelli pontua que esse pedal tem diferentes versões, como a fabricada entre 1993 e 1996 (apelidada de V1/2) e usada nos tempos de “Californication”, a V2 e a recente V3, mas é a V1 que conquistou o coração de Frusciante.

O editor do JFeffects pontua que para gravar seu primeiro álbum com a banda, “Mother’s Milk”, John Frusciante manteve essa tríade e acrescentou apenas um Dunlop Fuzz Face e um MXR Phase 90. Na turnê desse disco, foram adicionados o Boss RV-2 Digital Reverb e o DOD FX-55B Supra distorção, mas o Boss CE-1 foi substituído na metade da tour pelo DOD FX-65 Stereo Chorus – mantido até sua primeira saída, em 1992.

Em “Blood Sugar Sex Magik”, além do já mencionado DOD FX-65, Romanelli relata que Frusciante utilizou um MXR Dyna Comp e um Electro-Harmonix Big Muff PI, além dos sempre presentes Boss DS-2 e Ibanez WH-10.

O Boss CE-1 foi retomado na volta de Frusciante, recompondo a tríade clássica a partir de “Californication” (embora o modelo de Ibanez WH-10 seja o 1/2). Nesse álbum, há de se destacar, ainda, pedais como MXR Phase 90 e 100, Tremolo Stereo Pan M159 e, - possivelmente, o Blue Box -, Boss DS-1 Distortion, Dunlop Uni-Vibe UV1SC Stereo Chorus, entre outros.

No disco seguinte, “By The Way”, a dinâmica mudou um pouco ao adotar pedais de delay, como Digitech PDS-1002 Digital Delay e Line 6 DL4, além de três Electro-Harmonix: Big Muff PI, Electric Mistress Deluxe e Holy Grail (este último, nos overdubs), entre outros. O sintetizador modular Doepfer A-100 aparece, ainda, para processar faixas como “Throw Away Your Television” e “Don’t Forget Me”.

Mais experimental (e longo, por ser um disco duplo), “Stadium Arcadium” expande muito a gama de pedais usados por John Frusciante. Repetiram-se vários produtos de “By The Way”, com acréscimo de outros efeitos pontuais. Porém, o Doepfer A-100 ganhou importância, já que, segundo Raphael Romanelli, grande parte das guitarras eram gravadas sem efeitos e tratadas com esse equipamento.

A lista completa de pedais usados nos três últimos álbuns de John Frusciante com o Red Hot Chili Peppers está presente no box 2.




AMPLIFICADORES

Com guitarras tão específicas e pedais tão bem escolhidos, há quem pense que a parte dos amplificadores não é tão importante para John Frusciante. Quem imaginou isso, errou – conforme já apontado anteriormente, é necessário ter um ampli “alto, limpo e agressivo” para chegar a esse tipo de timbragem.

De acordo com Raphael Romanelli, Frusciante começou sua passagem pelo Red Hot Chili Peppers com Mesa Boogie, provavelmente o modelo power amp Strategy 400 Stereo. A gravação de “Mother's Milk” deu início à transição para os Marshall, como o Marshall 25/50 (um Silver Jubilee de 50W com as cores tradicionais da marca) e o Major, dando origem ao par de amplificadores que seria usado posteriormente em turnê.

Já na gravação de “Blood Sugar Sex Magik”, conta Romanelli, foi usado, também, um amplificador transistorizado de baixo custo e de 12W da Fender para boa parte dos overdubs. “Em outras ocasiões, ele apenas ligava a guitarra diretamente na mesa de gravação, como no solo de ‘Suck My Kiss’, dizendo que muito da distorção do álbum vinha do overdrive dessa mesa. Ele também empregou um Coral Electric Sitar na música ‘Blood Sugar Sex Magik’, e um antigo lap steel da Gibson para o solo no início de ‘The Righteous and The Wicked’”, relembra.

O editor do site JFeffects aponta que na primeira volta para o Red Hot Chili Peppers, a partir de 1998, John Frusciante adotou, principalmente, um Marshall Major de 200W (com válvulas KT88) e um Marshall Silver Jubilee 25/55 de 100W, ligados simultaneamente através de um Boss Chorus CE-1 (usado para as Stratocasters, Telecasters, Jaguars e a Gretsch após 2003). Contudo, um Fender Silverface Dual Showman também apareceu junto da guitarra Gretsch White Falcon de 1958 na turnê de “Californication”, sendo substituído de vez, em 2001, por um segundo Silver Jubilee 25/55, em 2001.

Nos álbuns, John Frusciante sempre usou muitos amplificadores, variando entre os Marshall, Fender e Vox, com os dois Marshall já citados como principais – eles, inclusive, foram os únicos presentes no álbum “Stadium Arcadium”.

Raphael Romanelli conta: “Da Marshall, além desses dois, Frusciante chegou a usar o JTM-45 de 1965 (até queria levá-lo para os shows de ‘Californication’, mas o gerente de turnê o fez desistir, por ser uma peça frágil), o Super Bass (em ‘Californication’, junto ao JTM-45 e uma Jaguar na gravação de ‘Around The World’; e em ‘By The Way’, junto ao Major ou ao Fender Blackface Showman em grande parte do álbum) e um JCM-800 (no talo nos overdubs de ‘Otherside’ com uma Gibson SG Custom de 1961). Ele usou o Vox A30 em algumas partes dos seus álbuns solos, com o supergrupo Ataxia, e no canal de vibrato junto a um Marshall na gravação de ‘Porcelain’”.

O editor do JFeffects aponta, ainda, que o Fender Blackface Showman foi usado para gravar, com sua Fender Stratocaster 1955, as partes principais e os solos de “Scar Tissue”. Já com a Gretsch White Falcon, o amplificador aparece em “Otherside”.



TRABALHOS DE DESTAQUE

John Frusciante preza muito pelos timbres e texturas, seja em shows ou gravações, segundo Raphael Romanelli. “Em estúdio, Frusciante usa uma enorme gama de pedais e outras formas de modificar o som. Na turnê, ele tenta chegar o mais próximo do que fez em estúdio, por isso, leva alguns desses pedais e vai mudando de acordo com a experiência”, afirmou.

O grande trunfo, porém, está na própria criatividade. Nesse sentido, além dos trabalhos de Frusciante com o Chili Peppers, Romanelli destaca um disco solo do músico: “The Empyrean” (2009), que tem Josh Klinghoffer em todas as faixas e participações de Flea e Johnny Marr (Smiths). “É o ápice, não existe para onde ir após esse disco. Do início ao fim, é o mais complexo e mais bem trabalhado dele. É uma obra completa”, afirma.

Da obra com o Red Hot, o editor do JFeffects destaca o álbum “Stadium Arcadium” no que diz respeito às guitarras, “pelas linhas e texturas bem trabalhadas”. Porém, registros como “Blood Sugar Sex Magik”, “Californication” e “By The Way”, com seus caminhões de hits, não devem ser esquecidos.




BOX 1 – RAPHAEL ROMANELLI E JFEFFECTS

Não é exagero dizer que Raphael Romanelli é uma das grandes referências sobre John Frusciante no Brasil e, talvez, no mundo. Natural de Ilícinea (MG), o estudante de Medicina tem o site John Frusciante effects, que, desde 2016, traz mais de mil publicações sobre o guitarrista do Red Hot Chili Peppers.

Como você se aproximou da guitarra e do Red Hot Chili Peppers?

"Nasci em uma família que a música sempre foi um pilar muito importante. Entre meus ascendentes, existem muitos radialistas e músicos. Minha paixão pela guitarra e pelo Red Hot começou simultaneamente em 2009. Apesar de ter começado no violão, meu objetivo era conseguir reproduzir os 2 minutos de introdução de “Californication” feitos por John Frusciante no show de Slane Castle – e assim o fiz. Depois, passei para a guitarra e, desde então, tem sido ótimo, mesmo eu não me considerando um bom guitarrista. Também me arrisco em outros instrumentos de corda."

No site JFeffects, você realmente desbrava todos os equipamentos que Frusciante usa. Como é o seu método de pesquisa para descobrir os equipamentos? E você já teve a oportunidade de testar alguns desses equipamentos para conferir como eles soam em suas mãos?

"Leio muitas entrevistas de John Frusciante e das pessoas em volta dele. Com a JFeffects, entrevistamos e temos contato com Dave Lee, técnico de guitarra e equipamentos de Frusciante de 1998 até 2008 que responde à série “Dave Mail” no site. Também entrevistamos Robbie “Rule” Allen, técnico de guitarra de Frusciante na primeira passagem pelo Chili Peppers. Mas a observação é um pilar importante. Fiz bons amigos que colaboram com o site. Em nossos grupos, sempre circulam imagens, áudios e vídeos dos shows, com isso, sempre existe análise e discussão do que ele teria usado nesses determinados momentos.

Experiência é outro ponto importante. Poder testar os equipamentos colabora para entender como eles reagiam ao vivo. Com o tempo, acumulei alguns equipamentos, sobretudo pedais, semelhantes aos dele."




PUBLICAÇÕES DE DESTAQUE DA JFEFFECTS:

- Dave Mail, em que Dave Lee responde dúvidas de fãs www.jfeffects.com.br/p/dave-mail.html
- A história da Fender Duo Sonic ‘65, sobrevivente do incêndio na casa de Frusciante www.jfeffects.com.br/2018/01/a-incrivel-historia-da-duo-sonic-65.html
- Todos os pedais usados por John Frusciante no Red Hot Chili Peppers www.jfeffects.com.br/2016/07/1988-turne-pre-mothers-milk-boss-ds-2.html
- Fender Stratocaster 1962: a principal guitarra de Frusciante www.jfeffects.com.br/2020/01/fender-stratocaster-1962-principal.html
- Ibanez WH-10: o pedal favorito de Frusciante www.jfeffects.com.br/2016/07/a-historia-do-ibanez-wh-10.html
- Boss CE-1: o pedal indispensável de Frusciante www.jfeffects.com.br/2017/04/o-segredo-contido-no-boss-ce-1.html
- Os equipamentos usados no álbum “Californication” www.jfeffects.com.br/2016/07/gear-californication.html
- Os equipamentos usados no álbum “By The Way” www.jfeffects.com.br/2016/07/gear-by-way-red-hot-chili-peppers.html
- Os equipamentos usados no álbum “Stadium Arcadium” www.jfeffects.com.br/2016/07/o-meu-conceito-para-o-disco-era-fazer.html




BOX 2 – OS PEDAIS DE JOHN FRUSCIANTE NOS ÚLTIMOS TRÊS ÁLBUNS COM O RED HOT CHILI PEPPERS

“Californication”

- Boss DS-1 Distortion;
- Boss DS-2 Turbo Distortion;
- Boss CE-1 Chorus Ensemble (em todos os efeitos de chorus do álbum e sempre dividindo o sinal entre dois amplificadores);
- Boss FZ-3 Fuzz (nos solos de “Scar Tissue”);
- Dunlop Uni-Vibe UV1SC Stereo Chorus;
- Ibanez WH-10 V1/2 (em “Get On Top” e “I Like Dirt”);
- MXR Phase 90;
- MXR Phase 100 (no solo de “Parallel Universe”);
- Electro-Harmonix 16 Second Delay (em “Savior”);
- Electro-Harmonix Micro Synthesizer (em “Savior”).
- MXR Tremolo Stereo Pan M159
- MXR Blue Box


“By The Way”

- Ibanez WH-10 V1;
- Electro-Harmonix Electric Mistress Deluxe;
- Electro-Harmonix Big Muff PI;
- Digitech PDS-1002 Digital Delay (em “Don't Forget Me”);
- Line 6 DL4 (delay analógico em “Don’t Forget Me” e para compor “Dosed”);
- Line 6 FM4 (filtro em “Don’t Forget Me” e obi-wah em “Throw Away Your Television”);
- Boss FV-50 Volume;
- Electro-Harmonix Holy Grail (nos overdubs);
- Sintetizador modular Doepfer A-100 (para processar “Throw Away Your Television” e “Don’t Forget Me”).


“Stadium Arcadium”

- Sintetizador modular Doepfer A-100 (grande parte das guitarras eram gravadas sem efeitos e tratadas nele);
- Boss CE-1 Chorus Ensemble (dividia o sinal para o Marshall Major e o Marshall Silver Jubilee, e em "Animal Bar");
- Boss DS-1 Distortion;
- Boss DS-2 Turbo Distortion (refrão de “Dani California”);
- Electro-Harmonix English Muff'n (“Especially in Michigan”, “C'mon Girl”, “She Looks To Me” e “We Believe”);
- Electro-Harmonix Big Muff Pi (solo de “Strip My Mind”);
- Electro-Harmonix Holy Grail Reverb (solo de “Strip My Mind”, “Hey” e no modo spring em “Animal Bar”);
- Electro-Harmonix POG Polyphonic Octave Generator;
- Electro-Harmonix Electric Mistress Deluxe;
- DOD 680 Analog Delay (solo final de “We Believe”);
- Ibanez WH-10 V1;
- Dunlop Cry Baby DB-02 Dime Custom.

Pedais da Moogfooger em “Stadium Arcadium”
Em estúdio, os pedais da Moogfooger foram usados em “Stadium Arcadium”, mas na turnê, eles simulavam o que o Doepfer A-100 fez em estúdio. São eles:

- MF-105 MuRF;
- MF-105B Bass MuRF;
- MF-101 Low-Pass Filter;
- MF-103 12-Stage Phaser (emulava o Analogue Systems Phase Shifter);
- Controle: dois CP-51 Control Processors, com dois pedais de expressão.
Outros tratamentos em “Stadium Arcadium”
- Leslie (trechos de “Death of a Martian” e “Wet Sand”);
- Delta Labs Effectron II Delay Digital (fim de “Dani California” e “She's Only 18”);
- EMT 250 Reverb Digital (a guitarra era gravada, a fita era invertida, o reverb era adicionado e a fita voltava ao normal, assim, o reverb acontecia antes da nota soar).



Redator e editor: Igor Miranda
Fonte: Guitarload #106 - Maio de 2020


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